Posts de Cristina Maria Afonso Ivens Duar (295)

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Um Grito

Num acto de desespero incontido

com um grito espantei o meu medo

que à muito num silêncio gemido

dormia comigo em segredo.

.......

Sem nenhum sinal de complacência

vinquei a minha autoridade adormecida

aticei o meu sangue em efervescência

e dei a tristeza como vencida.

.......

Venci os meus medos e complexos

enfrento a escuridão com bravura

os meus porquês têm agora nexo

tornei-me numa mulher mais madura.

.......

Alcanço os céus com as minhas mãos

mesmo com a minha fraca aparência

os meus objetivos não são tão vãos

e aumentei a minha inteligência.

.......

Cristina Maria Afonso Ivens Duarte

 

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Os reveses da minha vida

Suguei toda a minha placenta

ainda semente num ventre às escuras

prisioneira em águas lamacentas

já nasci com nós e fissuras.

Fecundada num descuido de prazer

sem o intuito de um dia ser amada

o meu sorriso morreu logo ao nascer

era um feto, pouco mais...ou mesmo nada.

Nem me lembro sequer de ser embalada

nas cordas vocais de minha Mãe

na minha memória só guardo a almofada

a cor das lágrimas que ela contém.

Salgada é a minha recordação

análoga a um balão de soro

cravado para uma longa transfusão

confundido com o soluço do meu choro.

Todo o amor que lhe fora conferido

Mãe que é Mãe... abraça seu filho com ternura

sempre deixou o meu coração tão sofrido

pelo desprezo e a sua amarga secura.

O tempo construiu a sua própria mortalha

deixando-a na solidão de uma beata

deitada no chão de uma muralha

rodeada unicamente de nada... nada.

Cristina Maria Afonso Ivens Duarte

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De tão especial

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Mil olhos diferentes

São mil olhos diferentes


azuis, castanhos e pretos


incolores e até cinzentos.


São olhos que gritam


apertados na multidão


cabeças de gado, ermitas


que lutam por uma côdea de pão.


Providos de uma alma poética


o sangue corre como lava


nem mesmo a rima simétrica

o ronco do estômago apaga.


Todos diferentes, todos iguais


são crianças descontentes


com presentes artificiais.


O sangue é lágrima que corre


sobre um corpo enfraquecido


eles são ouro, eles são cobre


eles são povo destemido.


Entupidos na multidão


afogados nas incertezas


de uma mina de carvão


inspiram as tristezas.

¨¨¨¨

Cristina Maria Afonso Ivens Duarte

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O que resta de mim!!!

O que resta de mim!!!!

Permaneceu o meu sonho inquieto,

com a chegada do Outono,

os frutos foram o meu tecto,

esses!! eu nunca abandono.

O que resta de mim é pouco,

sorveram toda a minha polpa,

sou um pau seco e oco,

secou toda a minha boca..

O que me cobre é pesadelo,

olhares delinquentes,

passou por mim um flagelo,

nua, exposta aos ventos.

Tento cobrir os meus seios,

que mirram com a friagem,

soluciono com escassos meios,

escondendo-me da paisagem.

Um pássaro tentou poisar,

em meu ombro descarnado,

ouviu o meu gritar,

com o peso do coitado.

Nem uma sombra provoco,

com o meu triste esqueleto,

nem em mim, eu própria toco,

com a tristeza que meto.
¨¨¨¨¨¨

Cristina Maria Afonso Ivens Duarte

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Noites de Lisboa

Noites de Lisboa

A noite veste um lindo vestido

cheio de luzes psicadélicas

espalha a cor em tom sofrido

a sua alma esquizofrênica.

Apanha o barco para a margem sul

o Tejo cobre toda a planície

a maré enche de água azul

o cheiro a Lisboa fica à superfície.

Bêbeda com as suas tristezas

espreita as pernas nocturnas

solta piropos à sua beleza

é o seu álcool, suas prosas difusas.

Ainda a noite é pequenina

franzina, a cheirar a leite

Lisboa é concertina

sardinha com muito azeite.

Amante da vida nocturna

a noite não pede descanso

retorna à vida diurna

espanta o galo, esvoaça o ganso.

Cristina Maria Afonso Ivens Duarte

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