Posts de Marco Aurélio (17)

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SABIÁ LARANJEIRA

Sabiá tá cantando
No ipê do quintal
Sem saber que adoro
O seu canto legal.
Sabiá tá solteira,
Elegante e faceira;
Sabiá-laranjeira,
Sonhadora e feliz;
Sabiá tá fazendo
O seu ninho de amor
No galho florido
Do meu pé de ipê.

Sabiá, minha linda,
Se eu soubesse voar
Ou soubesse cantar
E pudesse pousar
Na pontinha do galho
Do ipê amarelo,
Eu queria imitar
Teu gorjeio bonito,
Explodir de alegria
E fazer poesia
Pra você me querer.

Sabiá, quem me dera
Eu pudesse agora
Ir nas asas contigo,
Aprender o teu canto
E morar no teu ninho;
Eu te dava um beijo
E casava contigo
Se eu soubesse voar.

Marco Aurélio Rodrigues Dias
Juiz de Fora, MG, 31/01/2022

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POEMA BEM RIMADO

Se eu fosse fazer um poema
Com versos bem rimados
Rimaria carinho com vinho,
Rimaria beijos com desejos.
Ainda que sonho e cama
Não rimem diretamente,
São dois conceitos afins,
Pois sonho tem tudo a ver
Com sono e com lençol.
Vamos ver outro caso:
Pé não rima com sapato,
Mas vai rimar com chulé,
Embora qualquer poesia
Ficaria sem romantismo,
Mesmo que fosse verdade,
Se o poeta disser
No ouvido da namorada:
Oh, querida, te amo,
Sabe por que, meu amor;
Porque os dedos do teu pé
Exalam um doce chulé
Que perfuma o nosso chalé.
Acho que neste caso
A donzela responderia
Ao irreverente namorado:
Seu babaca zé mané,
Vira essa bunda pra cá;
Vou te dar um pontapé
Que vai doer muito mais
Que o cheiro do meu chulé!
Agora pega o teu boné
E sai do meu cafuné!
Pois é, rima é perigosa,
E quem tem namorada
Se não rimar bem as palavras
Pode perder a mulher.

Marco Aurélio Rodrigues Dias
Juiz de Fora, MG, 30/01/2022.

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ME DIZ, MANUEL BANDEIRA

Minha poesia é rebelde
Como foi Marielle Franco.
Mas ela não é socialista
Nem faz rimas e métricas;
Ela não morre de pesar
Por amores do passado.
Me diz, Manuel Bandeira,
O que faço com essa Musa
Que me vem despenteada
E vestida de qualquer jeito?
Sabe com quem se parece
A minha inspiração aldeã?
Com Dulcinéa del Toboso
Que o louco Dom Quixote
Convertia em dama nobre.
Se não lhe abro a porta
A Musa esmurra a janela
E não sai da minha casa
Até que eu aceite os versos
Que me veio entregar.
Quando olho no passado
Vejo as Musas d’Itália,
Cada uma mais talentosa,
Inspirando o gênio Dante,
Sumo poeta florentino,
Autor da Divina Comédia,
E as propostas humanistas
De Pico Della Mirandola
No Renascimento italiano!
Me diz, Manuel Bandeira,
O que faço com essa Musa
Sem modos de madame
Que grita na minha janela
Quando não lhe abro a porta?

Marco Aurélio Rodrigues Dias
Juiz de Fora, 29/01/2022.

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TIA LAURA E VOLTAIRE

Se me ponho a pensar
No que é a filosofia,
Acho que ela se parece
Com minha tia Laura
Que lava a louça da casa
Com saudade de Portugal!
Vejo muita semelhança
Entre o filósofo Voltaire
E titia, lá na cozinha,
Polindo a louça do almoço.
Vou explicar essa imagem
Com dialética profunda:
Se o filósofo desfaz mitos
E busca o saber na razão,
Tia Laura, sentimental,
Lava os talheres de prata
Que usamos no almoço.
Talvez você me pergunte:
E daí, meu caro poeta,
Não deu pra entender
Qual o ponto de encontro
Entre louça e filosofia?
Calma! Eu posso explicar!
Se Voltaire preconizava
O prazer como meta
Dessa nossa existência,
Tia Laura filosofava
Com seus talheres e pratos
Porque, à noite, na sala,
A mesa estava posta
Para o prazer do jantar!

Marco Aurélio Rodrigues Dias
Juiz de Fora, 20/01/2022.

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DIZIA GILBERTO FREIRE

Lá vai o Amarildo
Entrar naquele mato
Com a Maria Branca.
Tonta essa menina
Que deixa aquele safado
Pegar seus peitos duros
E tirar a sua roupa.
Dizia Gilberto Freire
Que o povo brasileiro
Nasceu nos canaviais
E nos terrenos baldios.
Tá vendo aquele menino
Jogando bola na rua?
É filho da Maria Branca;
Nove meses depois
Da brincadeira no mato
Ele nasceu num barraco.
Ninguém viu Amarildo
Nas ruas daquele bairro
Depois que Maria Branca
Apareceu de barriga.
A história virou ditado
Que as mães repetiam
Pra alertar suas filhas:
Quando a barriga cresce,
Amarildo desaparece!

Marco Aurélio Rodrigues Dias
São Paulo, SP, 2016.

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MEU VASO DE ANTÚRIO

Minha sala é silenciosa,
Tem um vaso de antúrio,
Florido e viçoso, bonito,
Que trato com carinho;
Tem poltronas, almofadas
E uma robusta mesa
De peroba rosa, antiga,
Que herdei de meus pais.
Na escrivaninha vetusta
Guardo meus segredos:
Vários papéis rabiscados
Com poemas, recordações,
Pensamentos e sabedoria,
Só pra passar o tempo.
Mas o destaque da sala
É o antúrio quarentão,
Idoso mas muito esbelto!
Ah! Você quer saber
Se converso com a planta?
Temos longas palestras;
O antúrio é meu Platão,
Meu amigo de filosofia,
Com ele aprendo de tudo
Sobre a voz do silêncio
E o que ela ensina.

Marco Aurélio Rodrigues Dias
Juiz de Fora, MG, 16/01/2022

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VAI PENTEAR MACACO

Eu achava tão bonito
quando mamãe dizia:
Meu filho, brinca lá fora,
Me deixa fazer a comida
E vai catar coquinhos!
Eu ria e obedecia,
Voltava pro quintal
Onde não tinha coqueiro
que eu pudesse subir!
Mas lá estava meu pai
Consertando uma cerca
Que a chuva derrubou.
Chegando bem pertinho
Peguei o martelo pesado,
Encantado com os pregos,
Mas logo meu pai falou:
- Meu filho, deixa isso aí
E vai pentear macaco!
Eu ria da expressão,
Voltava lá pra cozinha
E rodeava mamãe
Até ela gritar comigo:
Vê se me deixa em paz!

Marco Aurélio Rodrigues Dias
São Lourenço, MG, 2013

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RUA DO SOBE E DESCE

Quando a paixão voltar
Trazendo a falsa ilusão
Não vai me achar perdido
Nem vai me fazer chorar
Porque mudei de casa
E moro bem escondido
Na Rua Do Sobe Desce,
Número desaparece,
Esquina Ninguém Conhece,
Bairro Não Me Estresse,
Cidade Vê Se Me Esquece.
Também mudei de nome
E não sou mais o babaca
José Joguete da Paixão;
Agora, com muita honra,
Na rua Do Sobe E Desce
Pode perguntar onde mora
O João Vai Plantar Batatas,
Pois lá deixei um recado
Pra todo amor passageiro
Que vier me procurar:
Casei com a vida real!

Marco Aurélio Rodrigues Dias

Rio de Janeiro, 2014

 

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ANA PAULA QUER CASAR

Achar feio ou o bonito
O rosto do namorado
É uma questão de gostar.
Por isso vou te contar
A história de Ana Paula,
A moça apaixonada
Que debruça na janela
E passa o dia a sonhar
Com um noivo no altar.
Ela acha o nariz torto
Do colega de trabalho
Um detalhe sensual
Que a deixa arrepiada.
O “zoião” esbugalhado
Do vizinho solteirão
Mete medo nas crianças,
Mas Ana Paula adora
E ama seu jeito de olhar!
A.beleza está nos olhos;
Neles estão os defeitos.
Como Ana quer casar
E ter um lar, doce lar,
Não precisa ser bonito
O noivo que lá passar,
Basta chegar na janela
E dizer que quer noivar.

Marco Aurélio Rodrigues Dias
São Lourenço, MG, 2017.

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QUANDO O MEU DIA CHEGAR

Eu deixo pra descansar
Quando a morte surgir,
Faminta, sem compaixão,
E me levar deste mundo,
Mais cedo ou mais tarde!
Não reclamo do trabalho
E da fadiga das crenças,
Pois na lógica da filosofia
Não se nasce para dormir
À sombra dos arvoredos
Ou para passar os dias
Ajoelhado nas igrejas
Rezando uma Ave Maria.
Vou terminar em nada,
Me diz a lei do desgaste
E a biologia de Darwin.
Não me exaspero em vão,
Nem fujo do meu destino:
Tudo irá por água abaixo
Quando o meu dia chegar!

Marco Aurélio Rodrigues Dias
Juiz de Fora, MG, 10/01/2021

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A RUIVA QUE ME ESCAPOU

Escapou-me, absoluta,
Pelos vãos do meu abraço
Que eu não soube apertar,
A mais bela das mulheres
Que passou na minha vida!
Mas tenho que agradecer
Os anos que os lábios dela
Disseram que me amavam
Antes de beijarem os meus!
Fui muito privilegiado
Por ter conhecido a paixão
Com essa moça especial
Que conheci na escola.
Fugiu-me, aos poucos,
A ruiva de olhos verdes,
Deixando uma saudade boa
E a certeza de que ela foi
Um grande amor da minha vida!

Marco Aurélio Rodrigues Dias
Rio de Janeiro, 28/06/2012

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AINDA SINTO SAUDADE

Eu tenho uma coleção
Dos teus belos sorrisos!
Desde o primeiro olhar,
E foi o melhor de todos,
Quando nos vimos na rua
Você sorriu com os olhos
E eu me apaixonei.
Ainda sinto saudades
Do tempo maravilhoso
Que você não me largava
E dizia que me amava.
Como se eu fosse uma jóia
Que você pudesse perder
Ou que pudessem roubar,
Sua mão apertava a minha
E a minha apertava a sua.
Eu me sentia protegido,
Amava e me sentia amado.
Seus olhos me vigiavam,
Seus cuidados me cercavam,
E a vida era perfeita!
Foi tanto amor, tanta paixão,
Que ainda sinto saudade!

Marco Aurélio Rodrigues Dias
Juiz de Fora, MG, 23/05/2020

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Eu Amo São Lourenço

Quando não há mais nada
Pro idoso fazer na vida
Ele se apega ao bairro
E caminha no seu quintal
Com a mesma curiosidade
Que o turista visita Paris!
Ele vê encanto nas plantas,
Apieda-se das formiguinhas,
Das joaninhas pintadas
E das sementinhas de feijão
Que brotam depois da chuva!
Se amar a terra natal
É sintoma de velhice,
Eu acho que estou velho
Pois amo na Mantiqueira
A cidade de São Lourenço!
Mais que as estrelas do céu,
Mais que o Colosso de Roma,
Eu amo Minas Gerais!
As cidades que me desculpem
Por esta confissão egoísta,
Mas nenhuma é mais bonita
Que as águas de São Lourenço!

Marco Aurélio Rodrigues Dias
São Lourenço, 10/01/2022

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A AVE DO AMOR

O grande amor chega em nossa vida
Como uma ave inquieta e cansada
Que precisa de socorro e proteção.
Então a gente alimenta a avezinha,
Dá carinho, atenção e moradia.
Ela pode ter uma asa quebrada
Ou um pé ferido na paixão,
E vai ficando, se recompondo,
Curando as dores de onde veio,
Sempre inquieta e ensaiando vôo.
Um dia, e não se sabe quando,
A ave começa a ensaiar viagens,
Bate as asas em revoadas curtas,
Sente saudade de outros prados.
Pois é! Ela não veio para ficar!
Numa das revoadas que ensaia,
O amor voa sem olhar pra trás
E desaparece no horizonte triste.

Marco Aurélio Rodrigues Dias
São Lourenço, MG, 2017

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O AMOR NA PONTA DO LÁPIS

Quando o amor acaba
Parece um lápis sem ponta:
Não mais escreve elogios
Nem palavras de carinho.
Os braços, que abraçavam,
Cruzam-se em protesto.
A mão, que escrevia beijos,
Nem mesmo escreve: Querido!
O amor, no começo,
É um lápis apontado
Escrevendo belas palavras;
Mas, no fim da relação,
Além do silêncio mortal,
Dois lápis desapontados
Escrevem a palavra adeus!

Marco Aurélio Rodrigues Dias
São Lourenço, MG, 2015

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Vai Amolar o Boi, Filosofia!

Dane-se quem sou e de onde vim!
Eu sou o que me cansei de ser:
Algumas aventuras malfadadas,
Tentativas de ser o que não sou,
Rascunhos de sonhos inacabados
E projetos de amor eterno...
Minha mãe, cansada, protestava,
Sempre que eu a perturbava:
- Vai amolar o boi, meu filho,
E vê se me deixa em paz
Pois tenho mais o que fazer
E a comida está atrasada!
O mesmo digo ao pensamento:
Quem sou e de onde vim?
Ah! Vai amolar o boi, Filosofia!

Marco Aurélio Rodrigues Dias
São Lourenço, MG, 2012.

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AMOR SEM GARANTIA

A vida, o amor e a felicidade
Não dão certificado de garantia!
Aquele olhar de paixão fatal
Da pessoa que te fascina
Tem um prazo de validade
Não revelado nas confissões
De que sempre vai te amar!
O beijo úmido, estonteante,
E o arrepio do abraço cálido
Podem estar com data vencida
E ser apenas o teatro triste
De quem vai te dar o adeus
No Dia dos Namorados!
A paixão começa e termina
Porque o amor que sonhamos
Não dá garantia de eternidade!

São Lourenço, MG, 14/09/2010
Marco Auréllio Rodrigues Dias

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