NEFELIBATA
NEFELIBATA
É assim que gosto de me sentir: bem, sobre o mar de nuvens! Sinto-me Senhor dos Mares, Senhor dos Cerros, Senhor dos píncaros agudos de agulhas e penhascos!
Sem ser Alpinista o sou! Sem ser Navegador o sou! Sem ser Rei o sou!
Ah! Este poder dominador do dominante, quando nos toma nos transforma, sem, no entanto, nos sentirmos armadilhados! Mas como nos armadilha!
Chamam-me Nefelibata! Chamam-me Louco! Ingénuo! Sonhador! Eu permito todos os títulos com que me vêm brindando! Enquanto se detiverem no mundo idealista, na espuma dos dias, sem limites nem fronteiras cilindradas, eu sinto-me bem com todos esses títulos, com que enfeitam minha pessoa e meus passos.
Sou caçador! Oh não não! Descansem! Não mato animais! Esses, prosseguem seu caminho de liberdade, sossegados no seu pacato mas tão inseguro, ciclo de vida!!
Não! Eu caço imagens, com meu olhar e meus pincéis! ponho-lhe as cores que quero e transformo o meu mundo, quando me apraz, virando-o ao contrario!
Nos tapetes de nuvens, imagino minaretes e palácios orientais dos tórridos areais, despontando nelas, ou sereias acostando sobre rochas, enquanto fitam com doçura esperançosa, um qualquer palácio, se calhar, tambem ele imaginário.
Gosto de assim sentir, meu olhar poisado sobre este imenso mar diáfano de espuma pura, e vê-lo dissolver-se a pouco e pouco, sob os raios de Sol que mesmo ténues, como num sopro de Deus - só assim se entende tamanha beleza subtil! - em fiapos, soltam-se as gotículas. Transparecem então, do meio da nebelina irisada e algodoada, os dourados da leve, tremeluzente e húmida folhagem, carregada de nimbos e de sonhos ainda por acordarem.
Tudo fica irreal e feérico! Quase poderia dizer teatral! Mas não! A Natureza ultrapassa toda a nossa pequena e grotesca grandiosidade!
Com um pouco de sorte, é-me permitido ir, em busca do meu pote de ouro, caminhante inefável, da ponte colorida e etérica de Iris desenhada!
Sou Nefelibata! Pelas nuvens acolchoadas caminho, fingindo-me ignorante da mesquinhez humana, que sob elas habita. Mas nunca ignorada...
Chantal Fournet
Portugal
31 Março 2015
antologia imagem e literatura Nº4o PEAPAZ 1º