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Lançamento de quatro antologias

Na próxima Bienal do Livro no Rio de Janeiro a Editora Autografia estará lançando quatro antologias de contos, a saber:3426155487?profile=RESIZE_710x3426156643?profile=RESIZE_710x

Dia 2: "Meia-Noite" (contos sobrenaturais) e "Psicopatas" (suspense), 13.30.
Dia 4: "Evolução" (ficção científica) e "Reino Fantástico" (fantasia), 15.30 (horário anterior alterado).

Participo de todas elas, com os seguintes contos:

Em Meia-Noite: "Segredo mortal" (sobre vampiros).
Em "Psicopatas": "Lapso de memória" (introduz o ciclo da Porta de Cristal).
Em "Evolução": "Dias piores virão" (sobre mundo em catástrofe).
Em "Reino Fantástico": "A aula interrompida" (história com elfos).

Como diz o Sílvio Brito, "Estão todos convidados!"

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E AGORA???

 

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Miguel Carqueija

 

Quando o Vesúvio rugir

e a Esfinge despencar,

e o Godzilla surgir

e o Super-Homem falhar,

 

Mandrake se aposentar,

o Fantasma se esconder,

e a nascente secar,

e o Amazonas ferver,

 

e o Coringa fugir,

o Astroboy se estrepar,

Tony Stark desistir,

o Sherlock embatucar,

 

E o Gastão se azarar,

Patinhas empobrecer,

o Mancha Negra escapar,

e o Zorro falecer, 

 

A Torre Eifell ruir,

o Batman fracassar,

e o Fantomas sumir,

o Náutilus naufragar,

 

e a Mulher Maravilha

 de Alzheimer vir a sofrer,

e o Tarzan numa ilha

de tudo o mais se esquecer,

 

e Mônica e sua turma

esqueçam o ideal,

com tal barulho se durma,

e o Mickey se torne mau,

 

e numa reviravolta

Bafodeonça se eleja

e aí já não tenha volta

e o povo no ora veja,

 

quando o cometa cair

e nem o Hulk puder,

a Casa Branca explodir

e a Sailor Moon não vier,

 

e o James Bond morrer,

e o Arquivo X fechar,

nenhum herói mais se ver,

Chapolin se evaporar,

 

e se o mundo de repente

a Esperança perder

me fala então, minha gente,

o que é que eu devo fazer???

 

Rio de Janeiro, 24 de julho de 2019.

 

imagem pixabay

 

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O que foi que aconteceu naquele dia?

O QUE FOI QUE ACONTECEU NAQUELE DIA?

Miguel Carqueija

 

O que de fato sucedeu naquele dia

que fez cessar a alegria,

que acabou com a folia?

 

O que foi que aconteceu,

que o elefante correu,

que a criança se escondeu?

 

Que a mariposa morreu,

que o riacho ferveu

e o prejuízo foi meu?

 

Que o vento norte cessou,

que a nascente secou,

que a cidade esvaziou?

 

Que a inflação disparou,3267513491?profile=RESIZE_710x

que o jumento zurrou

e o meu negócio fechou?

 

 

Que o meteoro caiu,

que o dilúvio subiu

e o meu dinheiro sumiu?

 

 

Rio de Janeiro, 10 de junho de 2019.

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CUIDADO AO FORMULAR PEDIDOS, ELES PODEM SER ATENDIDOS

Miguel Carqueija

“Súplica cearense”, de Gordurinha e Nelinho, com gravação original do primeiro (1960) e depois com Luiz Gonzaga, Elba Ramalho e outros artistas, é uma curiosa canção onde o sertanejo lamenta que sua oração tenha sido atendida ao pé da letra pelo Criador. Revoltado com a seca que lhe exterminava plantação e criação ele fez um pedido enfezado:

“Oh! Deus, perdoe este pobre coitado

Que de joelhos rezou um bocado

Pedindo pra chuva cair sem parar”

E foi atendido, e choveu tanto que a chuva arrasou com o resto. Arrependido, ele tenta consertar:

“Eu acho que a culpa foi

Desse pobre que nem sabe fazer oração”

Lembram-se da história do Rei Midas, que queria transformar tudo o que tocasse em ouro e tendo seu desejo atendido não conseguia mais comer? Pois bem, existe uma história ainda mais assustadora, “A mão do macaco”, publicada pela primeira vez em 1902 e assinada pelo autor inglês W.W. Jacobs.

Moravam numa pequena cidade um casal e o filho já crescido. Um dia um viajante deixa com a família a mão mumificada de um macaco, trazida da Índia e que teria o poder de atender três desejos. O sujeito em questão já fizera os seus e constatara que havia risco nisso, sem entrar em maiores detalhes.

Um dia, por força de aperto financeiro, o casal resolve pedir 200 libras à mão do macaco. Resultado: o filho morre acidentalmente na fábrica onde trabalhava e os pais recebem 200 libras a titulo de indenização...

É inimaginável a dor dos personagens, que ficam arrasados por algum tempo... até que a mãe tem a “brilhante” ideia de fazer um segundo pedido à “coisa”: que o filho volte para casa, mesmo estando morto.

Não vou contar o restante desse notável conto de terror. Deixo à sua imaginação. Mas fica a lição de moral: cuidado com os pedidos que você faz, principalmente se não for a Deus e aos santos, mas a entidades misteriosas e provavelmente malignas. Poderá ser muito pior se o pedido vier a ser atendido...

 

Rio de Janeiro, 9 de junho de 2019.

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ICAMIABA

ICAMIABA

Miguel Carqueija

 

Eu sou filha da floresta,

forte, formosa e leal;

e no espaço que me resta

levo a vida na jangal!

 

Das Amazonas eu sou

a guerreira destemida;

pra guerra também eu vou

corajosa e atrevida!

 

Minha raça é milenar

e hoje se oculta no seio

de uma selva sem lugar

para os homens no seu meio!

 

Nós somos a reação

à opressão da mulher;

com a força de nossa mão

enfrentamos quem vier!

 

 

Com arco, flecha, punhal

e a minha agilidade

eu sou a mulher fatal

pra quem vier com maldade!

 

Homem branco, no recesso

mais secreto da Amazônia

não terás aqui sucesso;

seremos a tua insônia!

 

Não pensem que sabem tudo,

se mancharem nossa mata

com minhas irmãs acudo,

viremos em tua cata!

 

Nosso destino é a guerra

com quem nos desafiar;

pois esta é a nossa terra,

por ela vamos lutar!

 

 

Rio de Janeiro, 29 de abril de 2019

 

imagem pixabay

 

 

 

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KAGURA, tragédia e morte

"Um encontro predestinado entre duas pessoas que carregam o fardo do destino."
(frase do seriado "Garei-Zero")


Se Deus me pôs no Japão
foi com grande objetivo:
pra cumprir séria missão
e é pra isso que eu vivo!

Eu era simples criança
quando a minha mãe morreu,
quase perdi a esperança
pois o meu pai me esqueceu!

Ele, guerreiro exorcista
que invocava o Ga-Rei;
dragão-cobra, fera mista,
o grande Biakuei!

Fui pra família Isayama
rejeitada por meu pai;
tendo um coração que ama
não consegui dar um ai...

Eu estava deprimida,
uma inocente menina;
com a mente oprimida
não entendi minha sina!

Porém lá estava Yomi,
adolescente gentil,
cozinhou, matou-me a fome,
e me fez afagos mil!

Com ela eu recuperei
a perdida auto-estima;
então Yomi eu amei,
ela me botou pra cima!

Ela era uma exorcista
que lutava contra o Mal;
com a espada era uma artista,
a guerreira sem igual!

Com ela tudo aprendi,
fui exorcista também;
os seus passos eu segui,
lutando a favor do Bem!

Demônios, monstros, zumbis,
enfrentávamos com garra;
esse o caminho que eu quis,
que seguíamos na marra!

Nossa amizade era linda,
chegamos a imaginar
que felicidade infinda
não poderia acabar!

Porém o Mal com perfídia
uma peça nos pregou:
Yomi caiu na insídia,
pro lado negro passou!

Infame conspiração
de família assassinou
o pai de Yomi e então
seu caráter se abalou!

Foi então que o tentador
e espírito do Mal
aproveitou sua dor
com a sedução fatal:

E matando a assassina
aprendeu a odiar:
o ódio também fascina,
pode a alma dominar!

Yomi deixou de ser
a irmã, a grande amiga,
então eu passei a ter
na irmã uma inimiga!

Comandando legião
de monstros, exterminou
muitas pessoas, e então
até meu pai trucidou!

 

Sou Tsuchimiya Kagura,
assim puseram meu nome;
e por ter a alma pura
a Justiça me consome!

Ó fados, eu só reclamo
da tragédia a me cercar;
minha irmã, que eu tanto amo...
hoje eu tenho que matar!

O meu destino aceitei
e assim meu pranto se estanca;
e pra sempre então serei
a Sacerdotisa Branca!

Rio de Janeiro, 31 de março de 2019

 

 

 

NOTAS
“Ga-rei zero” é uma mini-série japonesa de animação do Estúdio AIC Spirits, produzida em 2008 e baseada no mangá de Hajime Segawa, em 12 volumes (publicado pela Kadokawa Shoten do Japão entre 2005 e 2010 e no Brasil, posteriormente, pela JBC). É uma fantasia sobrenatural com toques de terror e passada num fantástico Japão contemporâneo, onde ocorrem com frequência ataques de seres infernais e, em consequência, o governo criou uma agência de defesa mística, com guerreiros exorcistas. O enredo tem aspectos xintoístas, sendo o Xintoísmo a principal religião japonesa.
A série de animação tem 12 episódios e não é na verdade uma adaptação do mangá, mas uma prequela, ou sequência anterior, que narra os acontecimentos que levam à situação do mangá. É basicamente a história de Tsuchimiya Kagura e Isayama Yomi (que um dia seriam chamadas a Sacerdotisa Branca e a Sacerdotisa Negra), duas meninas, irmãs de criação, como elas se tornaram guerreiras exorcistas de grande poder, a profunda e singela amizade que as uniu e os trágicos acontecimentos que as levaram a tomar caminhos diferentes e a lutarem entre si. Uma infame conspiração familiar que resultou no assassinato do pai de Yomi foi aproveitada por um mensageiro das trevas que tendo despertado o ódio no coração de Yomi logrou cooptá-la em troca do poder. Como diz na Bíblia, "o ótimo quando se corrompe torna-se péssimo". Kagura representa a obstinação pelo Bem em qualquer circunstância, e com o coração esmagado pela dor, mas em cumprimento ao seu dever moral e senso de justiça, ela terá de combater Yomi.
Kagura sempre aparece de branco e Yomi em traje escuro. As imagens de cima refletem o tempo da amizade. Na última imagem reparem como Kagura hesita diante do ataque de Yomi, quase não acreditando que aquilo está acontecendo.

 

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O segredo

 

O SEGREDO

 

 

Miguel Carqueija

 

 

       Ao se aproximar da porta do quarto Lucília escutou o tropel dos pés de Joyce, ainda que pouco audível. Não era a primeira vez que percebia isso, mas ao abrir e entrar encontrou a menina ajoelhada, apoiada nos tornozelos, diante da banquetazinha de brinquedos. Ali estavam, enfileirados lado a lado, o soldadinho de chumbo, a dançarina, o Dumbo e os diversos monstrinhos e alienígenas.

       “Engraçado”, pensou a moça. “O que será que ela está aprontando e não quer que eu veja?”

       — Oi, Joyce. O que é que você está fazendo?

       — Estou passando a tropa em revista — disse a menina de oito anos. — Coloco todo mundo alinhadinho...

       Lucília olhou o alienígena de anteninhas e grandes bochechas, gordo como um Buda, que parecia de porcelana e tinha um olhar muito maroto.

       — Sempre acho tão engraçado esse que você ganhou da colega...

       — Ah, é... — e a menina sorriu amarelo.

       — Eu vim te chamar para lanchar, não está com fome?

       — Tou sim, eu já vou...

       — Não demore — e Lucília deu as costas e saiu do quarto.

       Joyce fez um ligeiro afago ao pequeno alienígena de louça, correu para a porta, escutou os passos da mãe se afastando e retornou para junto dos bonecos:

       — Foi por pouco, Itar. Eu vou ter que lanchar, você me espera, tá bem?

       — Não demore! Estou cansado de ficar sozinho!

       — Eu volto daqui a pouco!

       Ao deixar o quarto, Joyce não pôde deixar de pensar na sorte de seu amigo alienígena perdido na Terra: não se alimentava de sólidos, líquidos ou pastosos mas apenas de ar. O seu metabolismo dependia exclusivamente da expiração e da inspiração. Com isso, a sua manutenção ficava muito simples. E ele também podia disfarçar-se de inanimado, adquirir a textura da porcelana.

       Há quinze dias o uranídeo morava no quarto da criança. Ela o encontrara no jardim e, embora ele se fingisse de estátua, não pudera enganá-la; até porque Capiau, o gato vira-lata, xerimbabo da menina, o rebolara pela terra, desconfiadíssimo. Joyce pensara tratar-se de um gnomo caseiro e levara-o para o quarto, fazendo-lhe um ultimato:

       — Vamos, fale comigo, eu sei que você é vivo! Se não falar eu te entrego aos meus pais!

       Itar então falara, revelando sua origem num distante sistema solar, que a menina não tinha como identificar com seus conhecimentos infantis. Ela o protegera, fingindo tratar-se de uma estatuazinha, mas não pudera fazer mais nada: a nave que trouxera o visitante fôra obrigada a se evadir da Terra, acossada pela Força Aérea e com a fuselagem danificada. Antes de doze anos terrestres não poderiam voltar, explicara Itar tristemente.

       — Mas não tem outros de vocês? Tem tanto disco voador na atmosfera...

       — Não é tão simples assim, da minha raça era só aquela nave na Terra, e meu comunicador está inutilizado, por causa daquela fera que o mordeu...

       (Referia-se ao buldogue dos vizinhos)

       Naquela noite, depois de rezar pelos pais e pelo irmão mais velho, pelo Capiau e agora também pelo Itar, deitada sob a colcha, ela pôs-se a refletir, com seu cerebrozinho de oito anos, na imensa responsabilidade que pesava sobre todo o seu futuro: ocultar e proteger uma pessoa de outro mundo, obrigada a viver escondida no seu. Sua própria infância comprometida por aquela armadilha do destino. E adormeceu com a certeza de estar sendo uma menina boazinha.       

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A menina que preservou a paz

Foi num futuro distante
que chegou a acontecer
essa história apaixonante
que você vai ler pra crer.

Em Helvetia, certo dia,
chega a um forte distante
jovem cheia de alegria
e sorriso aconchegante.

O mundo foi destruído
e aos poucos se reconstrói;
que o ódio seja esquecido
pois só o amor constrói.

Comandadas por Felícia,
quatro meninas soldadas
aguardam certa notícia,
e da vila são amadas.

Sorami Kanata é meiga,
é alegre e prestativa;
tem coração de manteiga,
é risonha e muito ativa.

Sua corneta tocando
a “Graça Maravilhosa”
ela a vida vai levando
inocente e buliçosa.

Com caráter de criança
espalha a felicidade,
transbordante de esperança
com quinze anos de idade.

Porém sinistros eventos
perturbam aquela paz:
agora sopram maus ventos
e é um coronel quem os traz.

Ele quer forçar a guerra
contra o Império Romano;
ensanguentar a Terra
num desígnio insano.

A guerra traz o progresso,
diz o torpe coronel;
parece mais um possesso,
da sua boca sai fel.

Mas Felícia se rebela,
decidida e altaneira;
e as meninas vão com ela,

inclusive a corneteira.





Com o tanque especial
que tem patas de aranha
tratam de enfrentar o mal
numa histórica façanha.

E se interpõem aos lados
que irão se guerrear,
e diante dos soldados
Sorami vai assomar.

E a pequena corneteira
sobre o tanque, graciosa,
vai tocando bem faceira
a “Graça Maravilhosa!”

O tema belo e pungente
lembrando a graça divina
penetra naquele gente
pelos lábios da menina.

Nesse momento ela está
de todo desprotegida,
por amor entregará
se preciso a própria vida.

Facilmente poderiam
matar aquela heroína;
porém todos se fascinam
pela graça da menina.

E o milagre se produz!
A guerra não acontece;
pela ação de um ser de luz
é a paz que prevalece.

E assim tomamos ciência
de que existe majestade
na pureza e na inocência
de quem cultiva a bondade.



NOTA: "Sora no woto" (A música que veio do Céu) é um dos mais belos seriados de animação já feitos, tendo 13 episódios. É uma ficção científica produzida no Japão em 2010-2011 por Aniplex, com direção de Mamoru Kombe. Num futuro indeterminado, após a destruição de nossa atual civilização chamada de "Era passada") duas nações européias tentam reconstruir o mundo: a Federação Helvetia (Suíça) e o Império Romano. A história se passa num forte nos confins de Helvétia, guardado por um pequeno batalhão feminino (a Comandante Felícia e mais Rio, Noel, Kureha e Kanata). Apesar das tensões que ocorrem entre as duas potências remanescentes, há esperança em torno das misteriosas negociações secretas entre os governos  (e o tratado de paz é uma notícia aguardada no batalhão de Felícia). Quando um coronel psicopata assola a região e se encaminha para a fronteira com o Império Romano, para forçar a eclosão da guerra, elas se levantam para salvar a paz, utilizando um tanque da "Era Passada" (tecnologia não mais existente) que estava encostado no forte, enguiçado, e que conseguem reativar, dotado de patas tipo aranha que permitem uma grande mobilidade e é com ele que elas passam por cima de outros tanques e se colocam no meio do potencial conflito, quando Sorami Kanata faz a sua antológica performance com a corneta. Após o acontecimento referido no poema, as duas nações estabelecem a paz em definitivo.
"Amazing Grace" (Graça Maravilhosa) é uma melodia religiosa extremamente tocante, composta por John Newton em 1779.
Imagem da série: Sorami Kanata e a corneta com a qual salvará o mundo de uma nova guerra.

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UNIVERSO FEMININO

UNIVERSO FEMININO

Miguel Carqueija

 

Vivemos em alegria

como em eterno Natal;

e assim vamos, cada dia,

fazendo o bem, nunca o mal!

 

Com um sorriso na face

mantemos um alto astral;

sempre prontas pro enlace

de um abraço fraternal!

 

Dos nossos filhos cuidamos

com carinho extremoso;

deles nunca descuidamos

nesse amor maravilhoso!

 

Que o marido não reclame

de uma esposa dadivosa;

que seu coração se inflame,

pode ficar todo prosa! 

 

Desde a voz melodiosa

ao sorriso envolvente

e ao seu porte, tão garbosa,

a Mulher é diferente!

 

E a nossa amizade

é mais pura e verdadeira,

não se cultiva a maldade,

nem se é interesseira!

 

Se uma mulher se cuidar

e não ficar estragada

será sempre exemplar

e sempre será amada!

 

E em qualquer ambiente

se lhe faltar a mulher

tudo se torna pesado;

pois a mulher tem em mente

e é isso que ela quer,

um mundo bem melhorado! 

 

É típico feminino

comunhão com a natureza,

apoiar o masculino

sem descuidar da beleza...

 

E ter sensibilidade

para música e arte,

ser amiga da verdade,

fazer sempre a sua parte!

 

A alegria feminina

chega a ser esfuziante,

como se fosse menina

fica alegre num instante!

 

E dos cabelos aos pés

toda ela é harmonia,

ela tira nota dez

de noite como de dia!

 

Que dizer de seu olhar,

por vezes tão penetrante

que chega a impressionar,

torna a expressão marcante!

 

Há num’alma feminina

um solene compromisso

com o amor, que a anima

e que mantém o seu viço!

 

 

 

É capaz de sacrifício

por aqueles a quem ama,

não cultivar nenhum vício

e santificar a cama!

 

A Mulher, Deus reservou

pra fechar a Criação,

tanto que não inventou

nada novo desde então!

 

 

Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 2018

 

 

 

 

 

 

 

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A vespa e a zarabatana

A VESPA E A ZARABATANA

Miguel Carqueija

 

Resenha do romance “Morte nas nuvens”, de Agatha Christie. L&PM Pocket, Porto Alegre-RS, 2012. Volume 1090 da coleção da editora. Título original: “Death in the clouds”, copyright 1935 de Agatha Christie. Capa: ðesignedbydavid.co.uk”.

 

Mais um caso de Hercule Poirot, policial belga aposentado que se tornou detetive particular com trânsito livre na Scotland Yard (Inglaterra) como na Suretè (França). Poirot é conhecido pelo grande público por sua imensa vaidade, seus bigodes imensos e a constante referência às “pequeninas células cinzentas”, pois orgulha-se de sua inteligência. É o típico investigador cerebral, dedutivo, na tradição iniciada por C.August Dupin, de Edgar Allan Poe.

“Morte nas nuvens” é um caso algo atípico, onde uma mulher é assassinada com veneno a bordo de um avião que seguia de Paris para Londres. Poirot, porém, seguia na aeronave e chega a ser apontado como um dos suspeitos. O caso é desconcertante, pois parece que Giselle foi morta por um dardo embebido em veneno de cobra e disparado de uma zarabatana, que por sinal é encontrada. Tanto o policial inglês, Japp, como seu colega francês Fournier, baseiam-se nisso, embora seja quase impossível utilizar uma zarabatana a bordo de um avião de passageiros sem que ninguém perceba. Por outro lado o jovem arqueólogo matou uma vespa, só que o único a se interessar por esse detalhe é Poirot.

E não me acusem de estar fazendo uma revelação de enredo — um dos tais famosos “spoilers”. A culpa é da própria editora, que colocou na capa a figura de uma vespa. A pista está escancarada e praticamente qualquer leitor pode enxergar que a vespa tem a ver com a solução do caso. No mais é aguentar Poirot, um chato de galocha, até o fim, o que às vezes não é fácil nem para os leitores....

 

Rio de Janeiro, 14 de outubro de 2018.

 

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Estrada solitária

ESTRADA SOLITÁRIA

Miguel Carqueija

 

Pela trilha da desdita

o meu mundo desabou;

no peito o coração grita,

só a saudade ficou.

 

Um dia amei de verdade

porém meus pais me induziram,

perdi a felicidade

e eles nada sentiram.

 

Um casamento arranjado

foi o meu triste destino:

um homem rico, aprumado,

e eu não soube ter tino.

 

Mas o arrependimento

veio de avião a jato;

a vida foi um tormento,

um desengano de fato.

 

 

Mulher, não deixe ninguém

controlar a sua vida;

passei por isso também

e assim acabei traída.

 

Filhos ele não queria

mas soube fazer na rua;

e pra sair da agonia

parti em noite de Lua...

 

Recomeçar minha vida

foi o maior sacrifício;

até me senti perdida

mas livrei-me do estropício!

 

E não suponha você

que os meus me deram abrigo;

como em drama de tevê

fiquei só, sem um amigo!

 

Enfrentei o preconceito

contra a mulher separada;

trabalhei, dei o meu jeito

e mesmo contrariada

 

aprendi a viver só;

não quero ouvir um lamento

ou que de mim tenham dó;

e mesmo no desalento

 

eu sigo por essa estrada

tão escura e poeirenta

solitária, sem mais nada,

ouço a coruja agourenta...

 

Mas um dia, em Deus espero

chegar a um porto feliz,

rencontrar quem eu quero,

aquele amor que eu quis!

 

 

 

 

Rio de Janeiro, 8 de outubro de 2018.

 

 

imagem pixabay

 

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Mala sem alça

MALA SEM ALÇA

Miguel Carqueija

 

 

Sou uma mala sem alça

mas eu quero pra valer:

passar a vida descalça

e amar a mais não poder.

 

Eu sou cheia de ternura,

busco um amor de verdade;

respeita a minha postura,

não vem a mim com maldade.

 

Eu adoro a natureza,

cada animal e criança;

procuro sempre a beleza,

vivo plena de esperança.

 

Mas se algum dia traída

eu vier muito a sofrer,

da flor surge a agulha escondida

e aí é que ele vai ver.

 

Porque eu sou tão boazinha

se meus calos não pisar;

não subestime a mocinha,

não vá com fogo brincar.

 

 

imagem pinterest

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Castelo de Magellan

CASTELO DE MAGELLAN

Miguel Carqueija

 

Ó passado glorioso,

tempo que não volta mais

do castelo tão formoso

no espaço a flutuar!

 

Orbitava sobre Vênus

onde eu, mística guerreira,

nunca fazia por menos,

era valente e faceira!

 

Onde estás, ó Magellan,

que eu te deixei no passado,

acordo a cada manhã

de coração magoado!

 

Meu povo já não existe,

ó velha raiz de Adão;

em Vênus não subsiste

mais a vida em profusão!

 

 

A missão que eu abracei

só ela meu pranto estanca!

Por ti a Vênus deixei,

Princesa da Lua Branca!

 

A tragédia se abateu

em meu planeta natal;

com o poder que Deus me deu

agora combato o Mal!

 

Sailor Vênus, Sailor Marte,

mais Júpiter e Mercúrio,

nós quatro com engenho e arte

somos todas bom augúrio!

 

Guardiães de Sailor Moon,

a mais sublime princesa,

transbordante de amor;

e não é pra qualquer um

missão de tanta nobreza,

que abraçamos com fervor!

 

 

 

Mas quando vem a saudade

rola a lágrima sentida

por Magellan esquecido:

eu lembro daquela idade

naquela era perdida,

e o meu castelo querido!

 

Eu era admirada,

com meu semblante tão belo,

pelo povo era amada,

a guerreira do castelo!

 

Porém o Mal atacou,

quase tudo destruiu

e tivemos de lutar:

foi assim que se formou,

com amizade se uniu

pelo Sistema Solar

 

com o poder do Cristal

a nossa equipe coesa:

as Sailors contra o Mal,

pelo Amor, pela Beleza,

 

pela Justiça e Bondade,

por um futuro de Luz

prenunciado em verdade

pela vinda de Jesus!

 

Somos antigas, é certo,

milênios já se passaram

e até saíram da História!

Porém a Paz está perto,

muitos males se findaram,

e o futuro é de Glória!

 

Amigas, venham comigo

só pra matar a saudade

que ainda existe tão belo

conservado e tão amigo

desde aquela velha Idade

o meu amado Castelo!

  

Onde meus sonhos findaram

e impávido, sobre nuvens

nem sequer se desgastou;

e nuvens que flutuaram

qual delicadas penugens

que a Guerreira contemplou

 

testemunham o abandono

do que foi minha morada

num passado tão distante;

por ele perco o meu sono,

vamos lá, Princesa amada,

chegamos lá num instante

 

com o poder do teleporte,

vem conhecer Magellan!

Ele está como eu deixei,

e com um pouco de sorte

eu reativo amanhã

o castelo que eu selei!

 

Rio de Janeiro, 18 de junho de 2018

 

 NOTA: a história original de Sailor Moon e demais guerreiras "sailors", tal como contada no admirável mangá de Naoko Takeushi, apresenta pontos obscuros no passado das personagens. Sailor Vênus era a guerreira mística que representava o planeta Vênus e morava no castelo flutuante de Magellan, mas a necessidade de lutar em torno da Rainha da Lua (Serenity) e proteger a Princesa (a futura Sailor Moon) levou-a a se mudar para o Castelo Lunar, abandonando Magellan. Pouco mais é revelado. Há quem diga que se formou na época (dezenas de milhares de anos atrás) a "Aliança de Prata" (em torno do Milênio de Prata ou Reino Lunar) contra o Mal reunindo as guerreiras místicas que representavam os planetas. A origem das guerreiras lunares é milenar, mas a maior parte da saga passa-se nos tempos modernos.

 

 

 

 

 

 

 

Saiba mais…

Aqueles que a ecologia esqueceu

                     AQUELES  QUE  A  ECOLOGIA  ESQUECEU

 

                                          (poema-manifesto)

 

 

                                                           Miguel  Carqueija

 

 

 

                                   É a Vós que nos dirigimos, ó Ecologistas:

                                    a todos Vós que falais em Verde e Vida.

                                    Nós somos aqueles a quem abafastes em vossas consciências.

                                    Aqueles, cuja morte não vos importa

                                    E cujo extermínio chegais a defender, e ainda falais em Ecologia.

                                    Somos as crianças de ventre.

                                   

 

                                    Nós somos o que vós já fostes e vos esquecestes.

                                    Somos vida. Temos sangue e células.

  Não somos uma doença. Somos o Futuro e também o Presente, porque

                                           já existimos.

  E embora mortos fisicamente, assassinados com vosso consentimento, nossas                                 

          almas estarão vivas para reclamar a Deus por justiça.

  Uma justiça que se fará também contra vós, quando menos por vossa omissão e    

                                             conivência, senão por vossa participação direta.

                                     

 

 

                                     Oponde-vos à derrubada das matas, à caça às baleias, às instalações nucleares, ao                                              

                                                massacre dos passarinhos. Sim, até aí fazeis bem. Reuni-vos em         

                                                associações, fundais partidos e movimentos, apareceis em programas de

                                                 televisão, cantais bonitas canções, tudo fazeis enfim para que todos

                                                 saibam que defendeis a Ecologia.

                                      E nós, os bebês de ventre, não temos lugar em vossa doutrina, porque sois a

                                                 favor do aborto.

 

 

 

                                      Por que não temos espaço para nós, em vossa alegada compaixão pela Vida?     

 

 

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A FADISTA

FADISTA

Miguel Carqueija

 

Cantar é coisa que afasta

do coração todo o mal!

Recostada na pilastra

eu canto o meu Portugal!

 

E canto para o meu rio,

este Tejo deslumbrante,

meu cantar tem muito brio,

sou fadista a cada instante!

 

Amália tu és minha musa

e como és inesquecível,

e nesta era confusa

és meu farol imperdível.

 

Francisco José também

é um notável fadista;

vamos ouvi-lo, meu bem:

ele foi um grande artista!

 

 

Tenho público fiel

e sempre a casa eu repleto!

E me acompanha o Miguel,

um guitarrista completo!

 

Que é o Fado afinal,

é a canção que retrata

a vida, o bem e o mal

e o sofrimento que mata!

 

Eu creio que não existe

nenhum gênero com a dor

que consegue ser tão triste

mesmo falando em amor!

 

E eu canto as noites em claro

nas amarguras do amor;

e toda angústia declaro,

todo amargo dissabor!

 

Sou herdeira da Severa

e espero, não na tragédia;

pois na minha canção vera

tem um pouco de comédia!

 

Sei que a minha voz é boa

mas capricho quando canto

minha querida Lisboa

num fado que é puro encanto!

 

E Mouraria e Alfama

em versos tão regionais

que nosso fado proclama

entre suspiros e ais!

 

E a casa tão portuguesa

e por isso hospitaleira,

pão e vinho sobre a mesa,

venha, senta na cadeira

 

que assim é meu Portugal:

triste mas encantador,

mesmo o destino fatal

não lhe arrebata o amor!

 

Tomando um vinho do porto

pra afogar a secura

assim eu busco um conforto

calando a minha amargura!

 

Pois nem tudo o que eu canto

é fantasia afinal:

a fadista no seu canto

também sofre do seu mal!

 

A Deus e à Virgem recorro

pra curar o meu desgosto

e ao Céu eu peço um socorro

mas continuo em meu posto!

 

 

(8/2/2016)

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BEN-HUR

BEN-HUR

Miguel Carqueija

 

A primeira vez em que assisti “Ben-Hur” foi no cinema, em companhia de minha mãe. Eu era criança, o épico estava chegando ao Brasil e causando grande sensação. Era um daqueles filmes de longuíssima duração, com intervalo na projeção para que as pessoas pudessem ir ao banheiro. Ele também tinha a “overture” (abertura) com a imagem parada e o tema musical em audição.

Lembro bem do impacto causado pela história arrebatadora do príncipe judeu Judah Ben-Hur, que era amigo de infância do tribuno romano Messala, e foi por ele traído. A cruel separação de Miriam e Tirzah (mãe e irmã de Ben-Hur), jogadas na masmorra onde pegariam lepra; os quatro  anos de sofrimento nas galés (e o sofrimento dos escravos das galés é mostrado com bastante realismo), a perda de seus bens e desonra de seu nome, tudo isso faz de Ben-Hur um homem revoltado, ainda que mantendo a integridade do seu caráter. A chance de refazer a vida surge quando ele salva o tribuno Quintus Arrius de morrer afogado, durante uma batalha naval com adversários do Império Romano. A trama se encaminha para o acerto de contas com o cruel Messala.

“Ben-Hur” é um romance dos tempos de Cristo, escrito pelo General Lew Wallace, autor norte-americano; esta versão cinematográfica apresenta imagens muito expressivas. O próprio Cristo aparece, visto em geral de costas; seu rosto nunca é mostrado. O amor entre Ben-Hur e Esther tem pouca importância na trama. A corrida de bigas, pelo seu aspecto espetaculoso, é geralmente considerado o clímax antológico da película, mas talvez o verdadeiro clímax seja a cena da cruz e a cura milagrosa de Tirzah e Miriam. A direção de William Wyler mostrou-se altamente competente.

Obra póstuma do grande produtor Sam Zimbalist (o memso de outro épico bíblico, “Quo vadis?”), foi finalizada em 1959; ele morreu de ataque cardíaco em novembro de 1958.

É de primeira a interpretação de Charlton Heston como Judah Ben-Hur. Foi o ponto alto da sua fecunda carreira de ator.

Épicos assim espetaculares nos fazem por vezes passar por cima de falhas, pontas soltas. Nem sempre os diálogos são brilhantes e Messala parece um sujeito largado na vida, sem família, é simplesmente o vilão que o público irá detestar. Contudo, eventuais falhas são inevitáveis e não tiram de “Ben-Hur” o caráter de obra-prima do cinema, tendo inclusive recebido o absurdo de 11 “Oscars”! Entre eles, melhor filme e melhor ator (Heston).

BEN-HUR — Metro-Goldwyin-Mayer, Estados Unidos, 1959. Produção: Sam Zimbalist. Direção: William Wyler. Roteiro de Karl Tunberg, com base no livro de General Lewis (Lew) Wallace. Música: Miklos Rozsa. Direção de fotografia: Robert L. Surtees.

 

ELENCO:

Judah Ben-Hur.......................Charlton Heston

Messala..................................Stephen Boyd

Quintus Arrius........................Jack Hawkins

Esther.....................................Haya Harareet

Sheik Ilderim..........................Hugh Griffith

Miriam...................................Martha Scott

Tirzah.....................................Cathy O’Donnell

Simonides..............................Sam Jaffe

 

Rio de Janeiro, 8 de maio de 2018.

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A SINGELA MENSAGEM DE “O GAROTO”

A SINGELA MENSAGEM DE “O GAROTO”

 

Miguel Carqueija

 

Resenha do filme “O garoto” (The kid) — First National, Estados Unidos, 1921. Produção, direção, roteiro e montagem: Charles Chaplin. Fotografia: Roland Totheroh. Direção de arte: Charles D. Hall. Música (acrescentada em 1971): Charles Chaplin. Elenco: Charles Chaplin (o vagabundo), Jackie Coogan (o garoto), Edna Purviance (a mãe), Carl Miller (o pai), Tom Wilson (policial), Jules Hanft (médico), Jack Coogan, pai (batedor de carteiras e demônio do sonho). Preto-e-branco, 68 minutos (no relançamento de 1971 Chaplin condensou par auma versão de 50 minutos).

 

Segundo longa-metragem de Chaplin (o primeiro, algo obscuro, foi “Tillie’s punctured romance”, de 1914), “The kid” é quase um drama, na verdade uma comédia dramática e, curiosamente, os personagens nem nome têm. Fala da triste situação de uma mulher, “cujo pecado foi amar’, que deu à luz uma criança sem pai, pois este não assumiu; e desprovida de recursos acaba abandonando o recém-nascido dentro de um carro, junto com um bilhete. Uma estranha contingência levará o bebê às mãos de Carlitos, o vagabundo. O carro é roubado e quando os dois ladrões percebem o bebê, largam-no num beco miserável por onde o vagabundo faz o seu passeio matinal. Relutante a princípio, após descobrir o bilhete da mãe o vagabundo acaba se entusiasmando pela ideia de criar aquela criança, apesar dos seus poucos recursos. E o fará ao longo de cinco anos com relativo sucesso, no cortiço onde mora, até a interferência da Lei, que surge com toda a frieza e impiedade, desrespeitando os direitos do pai adotivo e o sentimento do menino. Isto gera sequências antológicas. Aliás, a interpretação infantil de Jackie Coogan é sensacional.

É interessante notar que o vagabundo ensina o menino a rezar para comer e dormir, o que desmente a história de que Chaplin fosse ateu. E de forma indireta o filme depõe contra o aborto — mesmo desamparada pelo pai da criança a mulher não abortou e, levada pelo desespero, abandonou o bebê porém, num carro de qualidade, com um bilhete, para que aquele pequeno ser tivesse uma chance de sobrevivência. Não um gesto aceitável mas que pode ser compreendido. Chaplin encaminhou a história para um final feliz para os três principais personagens. Acho uma pena que essa obra admirável tenha sido afinal cortada pelo próprio Chaplin, que lhe retirou 18 minutos e portanto tornou-a uma média-metragem.

 

Rio de Janeiro, 17/4/2017.

 

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Balada do endividado

BALADA DO ENDIVIDADO

Miguel Carqueija

 

 

Tanta dívida que eu tenho,

que não tem um vagabundo:

e eu vivo nesse perrenho,

devendo a Deus e ao mundo!

 

Muito empréstimo eu fiz

pra pagar quem vinha atrás;

fui vivendo por um triz,

me endividando inda mais!

 

Por que é que tudo é tão caro

com excessão do meu salário?

Ah, mas que destino amaro,

me sinto como um otário!

 

O sistema financeiro

diz que esse é todo o mal:

se você deve dinheiro

isso é pecado mortal!

 

Já não suporto essa lida,

nem tenho sangue na artéria:

trabalhar por toda a vida

e terminar na miséria!

 

Tive de criar família,

não pude evitar despesa:

pois seguir por essa trilha

não é minha natureza!

 

Amigo, tenha cuidado

que o destino é horroroso:

ficar todo endividado

num círculo vicioso!

 

Pior que não acreditam

e acham que não é nada:

isso ocorre com os que ficam

na pobreza envergonhada!

 

Já nem entro num cinema,

roupa é difícil comprar:

e eu vivo nesse dilema:

o meu dinheiro entregar!

 

Isso é um caminho sem volta

depois da primeira légua:

e até me dá uma revolta

pois nunca nos darão trégua!

 

Enfim é duro viver

a vida na contramão:

apertado conviver

com a monstruosa inflação!

 

O que é que eu fiz afinal

pra merecer essa sina?

Procurei não agir mal,

muita gente me estima!

 

Trabalho, vivo cansado,

e não tenho recompensa:

e me sinto um condenado:

é muito difícil, pensa!

 

Quando vem o contra-cheque

e a tiracolo o estrato

os descontos fazem leque

e eu sempre pagando o pato!

 

Ó anjo da guarda, ajuda!

Me livra desta sangria!

Ó Virgem Santa, me acuda!

Me tira enfim desta via!

 

Quando será que o dinheiro

vai ter por mim amizade?

O meu desce pro bueiro,

quem fica é a necessidade!

 

Com minha blusa esgarçada

e meu sapato furado,

minha saúde abalada,

meu humor que é só enfado,

 

vou seguindo este caminho

sem do fim o túnel ver:

endividado e sozinho,

trabalhando até morrer!

 

 

(9/3/2016)

 

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A mulher que derrotou o machismo

A mulher que derrotou o machismo

"A flor que desabrocha na adversidade é a mais bela flor que existe."
(adágio chinês)



Resenha de "Mulan" - produção dos Estúdios Disney (Walt Disney Pictures), EUA, 1998. Produção de Pam Coats. Direção de Tony Bancroft e Barry Cook. Roteiro de Robert D. San Souci (história), Rita Hsias, Chris Sanders, Philip La Zebnik, Raymond Singer, Eugenio Bostwick-Singer. Música: Jerry Goldsmith. Canções: Matthew Wilder e David Zippel.
Vozes: Ming-Na (Mulan), Eddie Murphy (Mushu), B.D. Wong (Capitão Li Chang), Lea Salonga (Mulan, nas canções), Donny Osmond (Lee Shang, canções), Miguel Ferrer (Shan-Yu), Harvey Fierstein (Yao), Jackie Chan (Shan-Yu, em mandarim), Gedde Watemabe (Ling), Jerry Tondo (Chién-Po), Soon-Tek Oh (Fa Zhu), Freda Foh Shen (Fa Lee), June Forey (Avó Hua, diálogos), Marni Nixon (Avó Hua, canções), James Hong (Chi Fu), Pat Morita (Imperador), James Shigeta (General Lee), George Takei.

Originalmente, Mulan é uma personagem lendária que teria existido na China no século V da nossa era e é cantada em poemas épicos daquele país. Reconhecida como heroína nacional, Fa Mulan (ou Hua Mulan) ganhou da Disney, em 1998, esta versão animada que a popularizou no Ocidente e levou quatro anos em produção.
A equipe da produtora Pam Coats (Pam provavelmente é diminutivo de Pamela) esteve na China e visitou a Grande Muralha, que é um elemento importante da lenda.
Invasores mongóis (chamados de hunos no filme; segundo a Wikipedia seriam os xiongnu) ultrapassaram a muralha e ameaçam o Império Chinês. O Imperador (cujo nome não é revelado), para reforçar o exército diante da ameaça, resolve convocar novos soldados, ordenando que cada família forneça um homem. Ele sabe que os mongóis são hordas bárbaras e que seu atual líder, Shan-Yu, é cruel e perigoso.
Shan-Yu é, aliás, um vilão perfeito e assustador: sinistro, mau, corpulento e de porte gigantesco, ele odeia o soberano da China e deseja subjugar aquele povo. Contra ele é mobilizado o General Li cujo filho, o Capitão Li Shang, irá receber e treinar os novos recrutas.
Enquanto isso, Mulan, jovem com uns 18 anos presumíveis, mora com o pai, a mãe e a avó, e não se sente muito inclinada para o casamento para o qual é treinada. Parece-lhe que o seu destino não pode ser uma coisa comum. Ela tem, porém, um grande amor para com a família, inclusive o pai, homem estropiado, que anda de muletas e já serviu ao exército no passado.
Quando chega a convocação, porém, Fa Zhu larga a muleta e vai treinar com a velha espada, disposto a ir para a guerra "pela honra da família". Numa sociedade engessada por tradições que colocam as mulheres em plano secundário Zhu considera que não tem outra opção, mesmo caindo, mesmo andando com dificuldade. Mulan tenta convencê-lo a não ir, só para receber uma reprimenda.
Sabendo que o pai iria partir para a morte inevitável no dia seguinte, Mulan toma a resolução heróica e generosa: na calada da noite ela se veste de homem, corta os cabelos, pega a espada e a armadura do pai, e a carta de convocação, monta em seu cavalo e parte...
Assim, a garota vai para a guerra no lugar do pai.
Começa aí a extraordinária jornada de Mulan, que vai ao encontro do seu destino brilhante: será um dia reconhecida como heroína da nação, reverenciada pelo próprio imperador, aclamada pelo povo e lembrada por todas as gerações futuras. Porém, tudo ela fará sendo humilde e simples, movida por motivações nobres e generosas: honrar o pai, a quem ama profundamente; servir à China; defender o Imperador.
Mesmo com o contraponto humorístico do dragãozinho Mushu, ligado aos antepassados e que procura ajudar secretamente a jovem guerreira, "Mulan" tem uma linha principal muito profunda. No início os esforços desajeitados da moça em se passar por um homem durão resultam quase em desastre. Aos poucos ela pega o jeito e vai se tornando uma excelente guerreira, impondo-se aos companheiros de tropa. Ao mesmo tempo sente-se enamorada pelo Capitão Shang, homem rígido mas que procura ser justo.
A comicidade dá lugar a uma grande dramaticidade a partir da descoberta horripilante de toda uma companhia dizimada pelos tártaros, inclusive o General Li, pai do Capitão Shang. A sequência da avalanche de neve, que Mulan provoca e que sepulta a maior parte das hordas invasoras, longa e elaborada, é sensacional e antecede a batalha decisiva já na capital do Império.
Os roteiristas de "Mulan" conseguiram amarrar muito bem os acontecimentos e levá-los à conclusão lógica e sábia, sobretudo na maneira como são dispostos os acontecimentos-chave. A figura ominosa de Shan-Yu - tipo perfeito do conquistador bárbaro e desprovido de piedade - já muito bem delineada no pórtico da história - cresce de importância à proporção que se aproxima o final do drama. A luta corpo-a-corpo entre Li Shang e Shan-Yu é sensacional; entretanto, mesmo sendo um "expert" em artes marciais, Shang acaba sendo derrotado pelo tamanho gigantesco e potência física do arquivilão e é posto fora de combate. Shan-Yu, porém, não consegue matar o capitão, porque Mulan surge a tempo de defender o seu amado. O combate mortal entre Mulan e Shan-Yu é o clímax desta saga grandiosa.
Há em toda a obra um grande equilíbrio na maneira como a heroína é mostrada. Mulan não tem antecedentes que apontem a grandeza do seu destino; ela é apenas uma garota que entende vagamente não ter sido feita para uma existência banal, conforme as rígidas limitações impostas às mulheres em sua época. Seus grandes atributos começam a se manifestar quando do heróico gesto de seguir para a guerra no lugar do pai. Desajeitada a princípio, ela irá evoluir e consolidar a confiança em si própria. A nobreza do caráter de Mulan perpassa o filme inteiro. E o duelo final com Shan-Yu... isto é algo que só mesmo assistindo.

 

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NAVAJO

NAVAJO

Miguel Carqueija

 

 

Este traje nós amamos,

o poncho que nos recobre,

e pelo mundo eu viajo,

eu e as manas mostramos

o que temos de mais nobre,

a nossa herança navajo!

  

(Rio de Janeiro, 16 de março de 2018)

 

 

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