A SINGELA MENSAGEM DE “O GAROTO”

A SINGELA MENSAGEM DE “O GAROTO”

 

Miguel Carqueija

 

Resenha do filme “O garoto” (The kid) — First National, Estados Unidos, 1921. Produção, direção, roteiro e montagem: Charles Chaplin. Fotografia: Roland Totheroh. Direção de arte: Charles D. Hall. Música (acrescentada em 1971): Charles Chaplin. Elenco: Charles Chaplin (o vagabundo), Jackie Coogan (o garoto), Edna Purviance (a mãe), Carl Miller (o pai), Tom Wilson (policial), Jules Hanft (médico), Jack Coogan, pai (batedor de carteiras e demônio do sonho). Preto-e-branco, 68 minutos (no relançamento de 1971 Chaplin condensou par auma versão de 50 minutos).

 

Segundo longa-metragem de Chaplin (o primeiro, algo obscuro, foi “Tillie’s punctured romance”, de 1914), “The kid” é quase um drama, na verdade uma comédia dramática e, curiosamente, os personagens nem nome têm. Fala da triste situação de uma mulher, “cujo pecado foi amar’, que deu à luz uma criança sem pai, pois este não assumiu; e desprovida de recursos acaba abandonando o recém-nascido dentro de um carro, junto com um bilhete. Uma estranha contingência levará o bebê às mãos de Carlitos, o vagabundo. O carro é roubado e quando os dois ladrões percebem o bebê, largam-no num beco miserável por onde o vagabundo faz o seu passeio matinal. Relutante a princípio, após descobrir o bilhete da mãe o vagabundo acaba se entusiasmando pela ideia de criar aquela criança, apesar dos seus poucos recursos. E o fará ao longo de cinco anos com relativo sucesso, no cortiço onde mora, até a interferência da Lei, que surge com toda a frieza e impiedade, desrespeitando os direitos do pai adotivo e o sentimento do menino. Isto gera sequências antológicas. Aliás, a interpretação infantil de Jackie Coogan é sensacional.

É interessante notar que o vagabundo ensina o menino a rezar para comer e dormir, o que desmente a história de que Chaplin fosse ateu. E de forma indireta o filme depõe contra o aborto — mesmo desamparada pelo pai da criança a mulher não abortou e, levada pelo desespero, abandonou o bebê porém, num carro de qualidade, com um bilhete, para que aquele pequeno ser tivesse uma chance de sobrevivência. Não um gesto aceitável mas que pode ser compreendido. Chaplin encaminhou a história para um final feliz para os três principais personagens. Acho uma pena que essa obra admirável tenha sido afinal cortada pelo próprio Chaplin, que lhe retirou 18 minutos e portanto tornou-a uma média-metragem.

 

Rio de Janeiro, 17/4/2017.

 

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Comentários

  • Aplausos pelo eximio trabalho, Miguel.

    Obrigada por compartilhar conosco.

    Bela noite.

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