RECORDAÇÕES DE VILA RICA...
Desponta longe alvissareira a Vila Rica,
a Vila Rica dos garimpos, das quimeras...
E sinto bem que toda a angústia que me fica,
nada mais é que só lembrança de outras eras...
E ganho as ruas muito estreitas, muito antigas,
tão bem ao gosto dos poetas melancólicos,
e cada casa, cada pedra são cantigas,
a ressoarem dentro d!Alma em sons bucólicos...
E vejo bem o antigo Paço iluminado,
o atropelar de mil cavalos portentosos,
e sinto n!Alma aquele impulso inusitado,
de mergulhar naqueles tempos tão ditosos...
Se me depara de repente antiga fonte,
qual sombra linda, da saudade a própria filha,
e me ressurge, alcandorada, em meio à ponte,
o porte esbelto da figura de Marília...
Em sua fronte resplandece imaculado,
halo doirado, emoldurando um camafeu,
e dentro dele, qual brilhante lapidado,
eis ressurgida a nova imagem de Dirceu...
Vou prosseguindo na viagem fascinante,
qual navegante que se lança mar a frente,
e num instante, eis que me sinto num levante,
qual fosse mesmo um valoroso inconfidente...
Revejo em sonho os companheiros que se ufanam,
E quais heróis buscando louros que os consagrem,
Soltam do peito o grito ardente em que reclamam:
Oh! Pátria amada, “Libertas quae sera tamen”...
E num lampejo sinto então que a praça antiga
é bem a mesma de mil cores reluzentes,
e num esforço é bem provável que eu consiga,
rever garboso o legendário Tiradentes...
Vejo moçoilas em vestidos de brocado,
que alvinitentes, sob a luz dos lampiões,
trazem de volta os cancioneiros do passado,
os candeeiros, as varandas e balcões...
E torno tonto mergulhado do passado,
a rebuscar um tempo antigo tão presente,
e a nostalgia que me envolve é meu legado,
daquele tempo com meu tempo condizente...
Mas quem me escuta? Quem me entende? Quem me sente?
Quem me acompanha nestes doces devaneios?
Somente a Musa que assenhora a minha mente,
Somente os Vates nos seus versos sem receios...
Nelson de Medeiros