Posts de RODRIGO LUCIANO CABRAL (234)

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NA SOMBRA DA MONTANHA

Na sombra da montanha vicejam flores selvagens
Pétalas amarelas e vivas na sombra vespertina
Por ali também gorjeiam os pássaros
Quem canta La tão distante?
Quem canta neste lugar onde ninguém vai ouvir?
Pois eu digo... Cantam os pássaros
No jardim que não é jardim a vida cresce
A relva nascida pra cobrir... a tudo cobre
O besouro vagueia
E faz todas as outras coisas de besouro que tem que fazer
Na sombra da montanha o céu é o mesmo
E o sol é uma vizita vespertina
Posso ver roedores correndo entre as plantas
Uma colônia nos arbustos mais fechados e rasteiros
Que mundo é este onde não ouço as buzinas?
Nem vozes...
Nem prantos...
Na sombra desta montanha o outono e quase eterno
Há sempre certo frio a pairar no vento
A sempre certo rumor a envolver a vida
Na sombra desta montanha há vida e morte
E tudo é perfeitamente natural
Extasiado sentei-me feliz a fitar o micro mundo da sombra
Vi coisas que se moviam
Ouvi zumbidos... trinados, chiados
E depois silencio
Alguma coisa não ia mais bem à sombra da montanha
Algum desequilíbrio
Entediado parti
Demorei a entender que o desequilíbrio fui eu.

RODRIGO CABRAL

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ELA TEM


Ela tem um perfume que detesto!
Cheira a flores eu acho...
Alguma rosa bruta de cor carmim
Talvez um lírio caído sobre jazigos...
Ela tem um cabelo que detesto!
Uma cor qualquer entre o raio de sol e o brilho da lua
Com fios que dançam carregados pelo vento
Ela tem um olhar que me incomoda!
Nenhuma sombra naqueles olhos
Nada triste habita ali...
Sem maquiagem sem pintura
Pupilas vividas a me fitar
Ela tem um andar que me exaspera!
Toda sinuosa em estradas nuas
Altiva e confiante entre os outros
Dona de tudo me parece...
Ela tem um sorriso que me irrita!
Só alvura e beleza resplandecentes
Só candura...
Ela tem...
Ela...
Tem...
Tudo o que preciso!

RODRIGO CABRAL

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NINGUÉM SABE.

 
Tenho eu sorrisos que escondi
Adequado o lugar nas sombras que reservei pra eles
Fé na humanidade me faz sorrir...
É como crer em fadas...
Tenho bons sentimentos que aviltei ...
Engessei,imobilizei,atrofiei , e os quero assim
Em algum lugar em mim reside a fraca fé num ser humano melhor...
Morre só...morre aos poucos,morre a míngua sem cuidados
E é assim que deve ser...
Eu já tive simpatias e gestos corteses que não mais uso
Já usei de compaixão em tempos idos...
Falei de amor...
Não falo mais...
Existe em mim ainda uma voz tênue e teimosa que acha que pode me dizer pra ter esperança...
Eu a sufoco sem piedade...Esperar o que ? pergunto embrutecido...Esperar pra que?
Eu guardo em fossos esquecidos e sujos a generosidade
Nada mais perigoso ser generoso neste mundo de lobos
Escondo a alma,contenho os afetos...
Trago só o esgar...
Mostro só as garras...
Eu acreditei em antigas coisas que não mais acredito
Mas ninguém sabe...
Ninguém vê...
As vezes em noites longas elas vem me assombrar.
RODRIGO CABRAL
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A POESIA MIGROU PRA INTERNET

Eu perdi um poema vazio neste crepúsculo estúpido
Esta cidade estoica não sabe guardar segredos ou bênçãos
Pra que saber tantas metáforas se o que funciona é o palavrão?
É este o mundo do foda-se não sabia?
São estes os tempos dos gritos insanos
A poesia migrou pra internet
Oh estranho reduto o nosso agora poesia
Versos que são teclados não mais escritos
Paginas que são clicadas e não mais viradas
A poesia agora respira por aparelhos...
Será verdade?
Não... creio que não!
Mas este é o mundo onde os protestos de rua levam a novos votos nos mesmos nas próximas eleições
É nesta terra de fome que todos vagamos
É aqui que você pode fingir não ter medo
É aqui que você pode ate mesmo não conhecer o próprio medo
Mas teu medo criança... teu medo conhece você
Nas cidades as rachaduras nos prédios sussurram segredos
Quem viu quem ouviu quem sabe... quem soube?
Os becos são ainda tão antigos e escuros como antes
Aceite isso!
No mundo a lugares que simplesmente não foram feitos para a luz
E existem corações assim também
A civilização Nasceu de matar você sabe não sabe?
Espoliar destruir escravizar, dividir e conquistar.
Tão simples...
Descer da caravela já de arma em punho e cabeça feita
Incansável o bravo desbravador
Há sempre um golpe pro índio
Pro negro
Pro diferente
Pra todos
Eu perdi realmente um poema vazio no crepúsculo
Alguma coisa que não diria nada de nada
Algo tão leve de relevância que o vento débil levou
Então também “teclei” meu poema
Este que restou
E vou deixa-lo a deriva no mar sem lei do novo mundo
Ao sabor dos mares da internet
Talvez tão fútil
Tão gutural
Inútil
Mais nenhuma pagina a virar.

RODRIGO CABRAL

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SÓ CANSADO

As vezes você esta apenas cansado!
Não quer espiar pelas janelas do mundo...
Não quer nem que o mundo tenha janelas
Não quer noticias ,não quer economia
Politica? Não você não quer.
As vezes você esta apenas cansado
O caminho parece longo demais
A chuva não veio
O sorriso faltou
Não quer palavras amigas
Não quer humor pueril
Não quer conversar
Nada de ombro amigo
Nada de conselhos
Nada de pessoas...
Esta cansado
Só cansado.
RODRIGO CABRAL
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DIALOGANDO

-Por que você não começa uma dieta em 2017?
-Por que não quero.
-Mas é bom pra tua saúde hoje em dia todo mundo ta se cuidando.
-Bom pra eles...
-Então?
-Então o que?
-Vamos iniciar este ano diferente já? Focados neste objetivo...DIETA!
-Vamos? Você também vai fazer dieta ?
-Não...to falando de você...
-Ha tá...pensei que ia aproveitar já...
-Não tô precisando tô magra...né?...Não tô?...
-Era bom aproveita já...
-Pra que?
-É bom pra tua saúde hoje em dia todo mundo ta se cuidando...
-TA...esquece...
-OK
-Sorvete?
-Tô nessa.
 
RODRIGO CABRAL
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COISAS SÃO ASSIM

Quem atravessa o deserto... tem sede
Quem conhece a miséria... Tem fome
Quem enfrentou o horror... tem medo
Quem esteve com vigaristas... Foi enganado
Quem esta fugindo... Tem pressa
O leão que esta rugindo... Tem fúria
O lobo que uiva... Tem noticias
O velho sentado no parque... tem memória
A moça debruçada na janela... tem pretendentes
Os pretendentes da moça... tem intenções
A beata no altar... tem fé
A mulher que vai as compras... quer promoções
O senhor que vai a lotérica... tem esperança
O pai que espera o filho... Tem preocupações
A mãe que embala seu pequenino... Tem amor
O jovem que sai para a noite... quer diversão
A cidade que o acolhe... quer lucro
O comerciante que anuncia... quer clientes
O eleitor que vai votar... quer melhorias
E precisa de fé...
E de esperança...
O político que pede seus votos... tem interesses
E talvez... também conheça vigaristas
O sol que hoje nasce... quer calor
A lua que vira... quer poesia
O poeta que tudo isto escreve... quer versos
Quer noite...
Quer sol...
Quer amor...
E esperança...
Quer tudo...
Tem tudo...
Não tem nada...
E senhor e rei...
E servo é vassalo
É pretendente...
Já foi pretendido?
Temi desertos e conhece sede
E humano...
Fala demais...
E agora se cala...
Pois quem escreve poesia... também pontua finais.

RODRIGO CABRAL

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TUDO EM UMA NOITE

Na terra das brumas a noite chegou
Dona fada porque me negas teus segredos?
A corte de Avalon não vai cumprir suas promessas
Fortins e castelos ameaçados esta noite
Nas fendas do desfiladeiro movem-se as tropas
Corações negros sorriem em expectativa
A magia vibra no éter do mundo
Dragões e gnomos
Ogros e reis
Nesta noite não há heróis
Não existe excalibur
O retinir das espadas é musica
O sofrer dos feridos é musica
A morte no conto de fadas é o preço
Os homens choram
O velho livro não será aberto
A canção de ninar não será entoada
Esta noite não há princesas na torre
Nem cavaleiros andantes
Don Quixote não vaga mais pelas estradas
Nada de moinhos de vento pra ele
A serpente não se esconde
E onde esta Merlin?
O velho mago esta cansado
Esta senil...
E quem esta noite viu Arthur?
O rei refugiou-se às pressas
Uma luz covarde brilhando em seu olhar
Esta noite caiu a Inglaterra
Esta noite o sonho acabou
Esta noite o conto encontrou seu crepúsculo
A magia feneceu em corações descrentes
A nova era chegou
Esta noite... A criança cresceu.

RODRIGO CABRAL

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VEM VILÃO

Estou trazendo presentes
Ideias no álcool para os poetas que bebem
Por que se escondem assim?
Achando que terão visões nos fundos dos copos
Às vezes o mundo parece tão surdo quanto os tijolos das casas
E eu rezo quieto por nada
Estamos todos loucos
Enfiados em fantasmagóricos aventais brancos
Olhos mortiços
Como os dele naquela cadeira antiga
A porta de seu quarto no hospital
A que reflexões mortas ou antigas lembranças se entregava?
Talvez só estivesse com medo
Como todos os outros sentados nas fileiras desalinhadas das salas de aula
Sonhando senas eróticas e amorosas com a professora loira
Escrevendo poesia perdida durante as aulas
Só ela não liga o bastante
Melhor cheirar solvente e mentir para parecer rebelde
Falar de demônios e vozes sentir-se Aleister
Delirar
Eu também deliro e viajo preso as maquinas
Vida de operário
Um salário qualquer e dividas
Estou sofrendo
Mas trago presentes
Por que de alguma forma tocamos violão no quartinho dos fundos
De alguma forma isto nos parece arte
A se pudéssemos correr pelas avenidas com nossos carrões caríssimos
E recitar poemas pagos nos tele jornais do meio dia
Mas isso e só aqui
Sonhos de Porto Alegre só estão aqui comigo
Não posso alcansalos ainda
Talvez nunca possa
As coisas começam e vem carregadas no minuano
Pelo menos e o que esperamos
Aborrecidos manhãs a fora
Em direção ao ônibus ao trabalho a rotina
Sentindo nos presos
Há como e grande o desejo de ficar
Como urge a necessidade de mudanças
Mas não mudamos, não por fora.
Não para os outros pelo menos
Apenas para-nos mesmos, apenas por dentro.
Num labirinto no castelo da alma
Tentando desistir e falhando
Tentando uivar em papel xerocado
Tudo e tão irremediável
Para que tantas ideias?
Tantas criações?
Nossas mentes se perdendo, achando que seria bom se tocássemos em bares.
Ou em festas a cinquenta centavos no boné
Um couvert artístico
Achando que da pra viver de poesia
Um rosto qualquer na capa de um livro
Recitando para os outros, para os leigos.
Como ilhas cercadas, nos sufocando num mar idiotamente azul.
E mudo
Por que e só o que somos
Entregues aos longos banquetes da sanidade furtiva
Não temos medo da sombra
Somos o abismo
Comprando refrigerantes baratos em lanchonetes vazias
Escutando os ciganos vendo o tempo passar
Como pedra nas águas de um riu
Ouvindo musicas barulhentas de CDs emprestados
Uma vida de empréstimos compulsórios
Uma multidão de amigos viciados, carecendo de ritmo e magia.
Espalhando-se em fugas do atlântico, e do humor do jovem selvagem de hoje.
Jovem que nos somos, e escondemos no armário do quarto.
Por traz da pilha antiga de roupas
Só o que e bonito esta ai para mostrar
Só o que e bonito
Noites de outrora e jovens e belas promessas
Mostre a eles o que eles querem ver
Pode ser divertido fingir o tempo todo e enganar enquanto se espera a própria vez
O momento de ser enganado
Como se não pudéssemos fugir da noite
Ficando sempre a espera
Às vezes e fácil deixar para La
Ficar em casa olhando fotos velhas, reconhecendo rostos toda uma viça desfilando diante dos olhos.
Revendo antigos fantasmas
Espectros antigos, mas atuantes.
A garota gorda do colegial, com suas lentes grossas e coloridos desenhos.
Um horror nos punhos fechados de um inimigo maior
Medo, terra, chuva e vento como um presente indesejado.
Vem vilão que já não o tememos
Temos canetas e blocos e xícaras de café fumegante
Tem os o vinho e a poesia
Somos outros agora
Sim somos outros
Ainda que imolados em ódios disformes e lembranças
Pra podermos luzir nos caminhos da vida, na batalha sem trégua do dia a dia.
Você ainda acha que pode fugir?
Eu conheci alguém que tentou amigo
E ate hoje não conseguimos encontrar todos os seus pedaços
Pobre Queli onde andara perdendo pedaços seus agora?
Em quais bares estará esquecendo sua própria vida?
A que caralhos estará tentando agradar por mais uma dose?
Suas fugas nunca foram longas minha amiga, jamais foste a qualquer lugar.
Não e que estivesse errada, não e que não devesse ter tentado.
E só o seu caminho garota
Só o método e que te condena
Queli bebendo cerveja pra ficar alta e distante entre os vagabundos do bairro
Queli fungando carreiras perto das mesas de sinuca
O pó sobe rápido, eu a vejo pobre Queli você já esta longe, mas logo volta, logo cai pesada como chumbo.
E tudo ainda esta La
Tudo ainda esperando por ela
Silenciosa sentindo medo
Um gosto de morte na boca a má sorte grudada nela
Ela nunca mais será a mesma meu amigo
Nunca mais
Esta perdida
Agarre se a seus panfletos musicais e CDs
Você não pode fugir
Vem vilão por que não podemos fugir
Por que estamos cansados e tristes
Às vezes impacientes
Eu me pergunto
Quanto tempo mais?
E um ciclo que se fecha
Um grito que termina como devia terminar
Debatendo-nos no escuro
Debatendo-nos no escuro
Ate o fim
Futuro adentro
Debatendo-nos no escuro
No escuro.

RODRIGO CABRAL

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CONHECE UM NOVO LUGAR?

Procurou distâncias quando a proximidade se mostrou falsa
Conhece um novo lugar?
Você...conhece?
Quando é a dor é tanta que o foco é curto ...
Quando a dor é tanta que você vive na sombra...
Você anceia a sombra...
Existe o novo caminho?
Vales floridos onde canta o pássaro mítico dos sonhos
Onde a água rumoreja em regatos cândidos e antigos
Conhece um novo lugar?
Pra onde você foge quando não quer ser alcançada ?
O esconderijo perfeito que escapa ao pesadelo
Onde ha luz...
Onde ha tempo...
Você pode esperar...
Conhece um novo lugar?
Pra onde ir quando tudo é tédio e mofo ?
Quando o caminho pro tumulo vai ficando curto
A esperança é uma tolice que lhe diz fique e aceite...
Conhece um novo lugar?
Conhece?
Então sabe pra onde ir.
RODRIGO CABRAL
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ACORDOU NA SOMBRA

Acordou com medo e temeu a floresta
Seus sons ,seus rumores...
Sentiu a umidade que enrola os cabelos
Lugar vil ...lugar de medo
Acordou com medo e temeu a solidão
Vácuo opressivo...
Nenhuma voz ,nenhum brado
Acordou com medo e não pode esperar
Partiu na noite,cambaleou
Claudicou
Mas foi...
Acordou com medo da selva em que nasceu
Sem Tarzan ,sem Jane ...
Sem ninguém
Acordou na sombra de um crepúsculo novo
Só predadores ali !
Só risadas gélidas !
Só olhares famintos !
Acordou com medo e caminhou sem rumo
É esta a floresta...
É este seu mundo...
Caminhou pra esquecer.
RODRIGO CABRAL
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O DIA EM QUE ME DESCOBRI BEAT

Sentado entre ilhas de outras pessoas
Vigiado por restos de mulheres decadentes e jovens e futuras putas
Eu sinto toda a imundície superficial e alastrada do mundo que me cerca
Suas lanchonetes estreitas e acanhadas e meus olhos doloridos da visão da duvida constroem um quadro sem nexo do passar e do tempo
Eu prossigo ouvindo as historias do ‘narrador’ de Hozorio e acompanhando o passar da vida que ainda é capaz de trazer surpresas
E de fato trouxe Ana que ainda não sei de quando até quando e por quanto, mas nesta altura dos picos da vida tudo e tempo ganho.
Adulado pelas vontades e tentado pela propaganda marketing  social de vender almas e corpos eu ostento e sustento pornografias repletas de pudores fictícios e vagos
Como viagens sem acido e estimulantes, mas a óleo diesel sobre rodas e bancos.
Dezenas de olhares a espera
E trocadilhos silenciosos
Palavrões silenciosos
Desculpas silenciosas
E cantadas silenciosas
Sem que, no entanto haja frutos para colher desta arvore que se amiúda e seca.
Inúmeras as revoluções e por que não revelações estereotipadas do comportamento de cada um
Exposto a praga nojenta da multidão
São todas florestas e espadas sacrossantas  na guerra do nenhum sentido contra a fauna do saber
Como se ligássemos para compaixões ou dogmas
Livre arbítrio ou loucura
Ideias criaturas e criações distanciadas
Como se ligássemos uns para os outros
Como se nos importássemos...
Como se isto fosse escrito em boa caligrafia
Como se fosse um poema
Jogados as jangadas de metal
Flutuantes no mar de asfalto retorcido  esburacado
Redemoinhos de vento onde habitam os peixes cor ocre do oceano de infortúnios
Como se quiséssemos conversa nestes barcos
Como se importasse o companheiro do lado e o que ele tem para dizer...
Como se tudo não fosse meramente questão de chegar de atingir nosso próprio porto
Indiferentes aos outros
Sentados esperando falando de empregos e família
Como se não imaginássemos e sonhássemos  e ate desejássemos ‘putaria’ a mesma ‘putaria’ que esta ai ao alcance de todos
Nas paginas multicoloridas das revistas e nas pelancas caídas das putas da rodoviária
Como se não houvesse os pederastas e não existissem desejos proibidos e sujos
Povoados de crianças  nuas em plena felação ou sodomia com velhos e velhas nojentas sexagenários
Gente maldita e abjeta que não merece menos que uma morte longa e muito dolorosa que todos sabem existir, mas muitos preferem não ver.
Ali paralisados pela força da espera não ligamos para o fim de toda a inocência
E para as mortes a nossa volta
Fingindo...
Fingindo não desejar o rabo gostoso da boazuda que passa
 Nem os peitos salientes e visíveis sob a blusinha transparente da moça
Fingindo não notar o olhar sacana e desejoso das senhoras de quarenta ou mais...
Que ainda bastante conservadas fantasiam tórridas senas de sexo de todas as formas e jeitos possíveis num amalgama ciclonico de anal, horal e masoquismo com os mais diversos garotos super bem dotados...
Fantasias nunca satisfeitas que ficam apenas em suas mentes já tão cansadas e infelizes
Aguardando incrustados ao bando simulando não perceber os guardas discretamente carregando prostitutas  para suas salas no primeiro andar sequiosos por uma rapidinha...
E crianças por ali com olhares cruéis e maldosas tão novas e já tão brutalizadas
Embora não todas...
Nem ainda de todo...
Fingindo sinicamente respeitar mulheres casadas ou acompanhadas
Como se não olhássemos seus decotes e coxas a mostra nas saias curtas
Uma torrente impossível de sentimentos abundando na demora do transporte e nos pensamentos divididos
Durante o processo da viagem que faz parte do relacionamento
Como se tudo pudesse terminar com a chegada
Como se ficassem para traz os problemas...
Os personagens...
Os pensamentos...
As ideias...
Os bêbados...
As drogas...
Os pervertidos...
Os tarados...
As putas...
Eles não ficam
Por que aguardam comigo
Por que esperam e embarcam em minha mente (também na tua mente) numa carona não autorizada, mas necessária e partem conosco.
Partem parte de mim
Me acompanham
E partem...
Na estrada das léguas sem fim e sem destino
Nas madrugadas sem sono
Por esta vida perdida.

RODRIGO CABRAL

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SER

O sol esta se pondo de vergonha rubra
Nesta terra onde os chacais tomam de assalto às ruas
Nada e mais importante à noite
Tudo e medo ate onde a sombra nos alcança
Uma falha enorme entre os dentes da verdade doente
Prefiro chuva a lagrimas
Prefiro vento à passividade
E prefiro não ser
Quando teria destruído se tivesse sido.

RODRIGO CABRAL

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FALE A ELE

Eu soube que a vida nasceu de você
O pequeno desabrochar de humanidade surgido de tua essência
Uma mágica tão terrena e tão carnal que chamamos apenas de nossa natureza
A natureza instintiva que vai guiar os passos deste pequeno ser nos caminhos insalubres da vida
E você terá que fazer a diferença
Fácil ver que estas assustado
Uma difícil missão para o garoto que um dia falou de pássaros
E de longas e escuras cavernas
Lembra das cavernas?
Eu recordo você diante delas
Pouco mais que fendas nas faces da montanha
Mas a você pareciam imensas
Insondáveis
Aqueles mistérios ainda estão La
Que outros olhos infantis estarão os perscrutando agora?
Mas a vida muda
O garoto deu lugar a um homem sóbrio
Que vive na floresta real das obrigações consumos e boletos a pagar
Uma vida na mesmice do ritmo de todos
Poucas saídas agora
Raros paraísos onde se refugiar
No entanto há trevas
Circundando, seguindo perseguindo.
Observando
Você cresceu
Eu também
A vida nos trouxe presentes estranhos
A intrigante liberdade adulta de poder fazer tudo
E ainda assim fazer tão pouco
Liberdade que dura ate encontrarmos as grades da nossa existência
Mas seguimos
Eu encontrei o amor
A docilidade sonhada nos braços dela
Também conheceste o mesmo
Juntos fizemos planos
Sonhamos vidas simples
Casinhas aconchegantes e gramados
Terei mesmo pensado isto a serio?
Não sei...
Mas você desejou isto
Quis muito uma vida comum
E eu torci por você
Fiquei feliz por você
Há velho amigo tão estranhos os roteiros que o destino cria
Eu parti
Apenas isto apenas fui
Fazer a vida em terras catarinenses
Era preciso
Mas fiquei sabendo de você
O contato não se rompeu
O que nos liga e mais real que as rochas das ruas
É amizade
E agora você deu um passo que jamais pensei dar
Tão incrível pensar em você pai
Pensar na vida que deste origem
Mas você esta assustado
Alegremente assustado
E hilariantemente me pede conselhos
Amigo... meu bom amigo que tenho eu a dizer?
Digo apenas seja feliz
Velho amigo fale a seu filho de você
O ensine a sonhar
Sempre a lugar pra sonhos não esqueça
E fale de cavernas
E sobre a natureza?
Aquela natureza humana de que sempre falamos?
Mostre a ele como modera La.

RODRIGO CABRAL

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SOB O CÉU

Ando sob o céu a mais de 30 anos
Vi fatos
Ouvi relatos
Contei historias
Ando sob o céu com o peso do meu tempo comigo
Carrego falhas
Trago culpas
Arrasto medos
Caminho sob este céu sem pensar em glorias
Sem sede de conquistas
Não busco guerras
Sob este céu aprendi que a bagagem às vezes é andrajosa
A alegria vem... mas também se vai
A vitoria é momento
O poder é efêmero
A fama... perecível
As coisas boas cultivamos quando da sob este céu inclemente
Mas não vão conosco na caminhada
Tem que ser deixadas
São pesos mortos
Os outros não as veem
Como baterias tem que ser trocadas
Gloria antiga por nova
Felicidade que se foi por outra
Vitoria passada por outra
Conosco queiramos ou não só vêm os erros
É a bagagem que nos permitem
É o que todos querem ver.

RODRIGO CABRAL

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DE CERTO

Duvidoso e o vento que assombra meus cabelos
Duvidosa e minha sombra furtiva que sempre se esconde na escuridão da noite
Incerto é o tom com que canta o pássaro preso
Haverá alguma verdade na sua alegria de prisioneiro na gaiola?
Inseguro é o céu que se contorce em negras e gordas nuvens
Temeroso é o pobre barraco que abriga os desvalidos
Inconsequente é a forma com que se lança a vida mais e mais crianças incautas
Temeroso é o destino que não as acolhe nem abraça
Duvidoso é o motivo que gera poemas nas noites perdidas
De certo... só mesmo a noite
E a morte...

RODRIGO CABRAL

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NUNCA RIMEI

É não tenho mais rimas
Só palavras amargas
Só o fel
Sou um velho e amargo limoeiro
De meus frutos ácidos nenhuma doçura se faz
Nem com açúcar
Nem com mel
É... hoje é dia de calar
De olhares silenciosos
Contemplação que nada percebe
Dia de apenas existir sob o céu
É... Ninguém me entende hoje
Posso ver as indagações em seus olhares levemente incomodados
Terei visto piedade neles?
Rogo que não...
Espero que se piedade eles tem todos saibam cala-la
Oculta La...
Afoga-la
Se a mim vierem piedosos eu revidarei com implacável frieza
Piedade é um sentimento terrível
É como o rebotalho da alma
Ter pena é para cães
É por cães
É para cães
E eu... eu amigos...
Ainda não sei latir
Embora possa rosnar...
E até morder
Sou feroz e mordaz quando preciso
Quando quero
Em meu peito existe selvagem e primitivo um feroz homem Neandertal
Uma força que se espraia em meu cérebro em dias difusos
Que afasta o poeta em mim
Rosna pra ele?
Amedronta meu poeta?
Talvez...
Ou apenas troca com ele de domínio...
Apenas cede a vez
E no fim de tudo
Com todas as coisas claras e expostas
Hoje ainda é dia de calar
É dia de não rimar
Que eu me recorde...
Nunca rimei.

RODRIGO CABRAL

Saiba mais…
CPP