NA SOMBRA DA MONTANHA

Na sombra da montanha vicejam flores selvagens
Pétalas amarelas e vivas na sombra vespertina
Por ali também gorjeiam os pássaros
Quem canta La tão distante?
Quem canta neste lugar onde ninguém vai ouvir?
Pois eu digo... Cantam os pássaros
No jardim que não é jardim a vida cresce
A relva nascida pra cobrir... a tudo cobre
O besouro vagueia
E faz todas as outras coisas de besouro que tem que fazer
Na sombra da montanha o céu é o mesmo
E o sol é uma vizita vespertina
Posso ver roedores correndo entre as plantas
Uma colônia nos arbustos mais fechados e rasteiros
Que mundo é este onde não ouço as buzinas?
Nem vozes...
Nem prantos...
Na sombra desta montanha o outono e quase eterno
Há sempre certo frio a pairar no vento
A sempre certo rumor a envolver a vida
Na sombra desta montanha há vida e morte
E tudo é perfeitamente natural
Extasiado sentei-me feliz a fitar o micro mundo da sombra
Vi coisas que se moviam
Ouvi zumbidos... trinados, chiados
E depois silencio
Alguma coisa não ia mais bem à sombra da montanha
Algum desequilíbrio
Entediado parti
Demorei a entender que o desequilíbrio fui eu.

RODRIGO CABRAL

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Comentários

  • O homem, na ânsia de produzir o espaço de sua morada, esquece de tomar as precauções devidas e, a natureza se recente.

    Belo versar. Parabéns, Rodrigo.

  • Belo momento de reflexão. Este é o desafio de todo o poeta

    levar outros à reflexão profunda do nosso ser e de tudo o que nos rodeia

    Aplausos

    FC

  • Cumprimentos pela repartição desse medicamento que reconstrói a nossa poética.

  • A poesia é show, o desequilíbrio ambiental e humano é lamentável. 

  • O homem é sempre o desequilíbrio de tudo. Tua sensibilidade emociona que te lê. Magnífico! Bjs

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