Anjos de verão
Anjos de verão
A rua tem memórias que se
assentam como uma névoa que
perdura muito depois de ter sido
soprada ao tempo.
Vozes do passado fincaram raízes
em sua antiga fundação.
São sussurros que descem como
musgo nas calçadas e paredes
das casas antigas.
Há uma cafeteria na esquina.
Uma casa estilo Déco com portas
almofadadas e floreira apinhada
de crisântemos coloridos
Uma igreja de nome Santa Luzia
triste como de costume.
O antiquário do outro lado da rua
fechou e uma placa na vitrine escura
informa; Aluga-se.
O sol bate em cores na calçada: formando
um halo vermelho azul, púrpura com o dia
criando vida com as mãos estendidas.
Janelas abertas vibram em lembranças
desatando recordações que dançam
vaporosas ao ritmo das cortinas rendadas.
O ar quente do verão levanta pedaços
de papel que se elevam delicados,
rodopiando rasteiros e graciosos na calçada.
Pássaros voam acompanhando o vento numa
espécie de ritual ao encontro do horizonte
Nesse instante sinto o amor que eleva os homens
a altura dos anjos.
Essa é minha rua que está sempre guardada no
silêncio entre portas e janelas que se fecham
arrematadas por bordas de sonhos e nostalgia.
Sublimação
Com suavidade movimentam-se
em volta um do outro brincando
de amar extasiados com o colorido
da primavera...
Velhos pecados florescem novamente;
levando suas essências a se unirem
como seda tecida em milhões de teares...
Juntos, ouvem flores desabrochando
no campo; deitadas pelo vento
em suave despertar flutuando
em um abismo luminoso e profundo.
A respiração torna-se leve cantante
como a voz dos anjos levando
o amor florescer suave, amante uno;
um hino encantado singrando
delicado e sedutor no canto do vento.
Marcia Portella_Go
Imagem _Lauri Blank
escorrendo em gotas mudas
de natureza chorada.
Brilhante gelada e doce
desceu do santuário em
nuvens dissolvidas pingando
...germinando vidas.
Terra molhada onde um dia
repousarei meu corpo liberto
alma libélula leve livre
no espelho das águas.
Marcia Portella_Go
Imagem_Pintereste
Rosa mudou de casa para levar suas poesias para os anjos cantarem. Siga em paz
Ele viaja por minha casa
como se fosse sua.
Traz a paixão ardendo
entre os vãos da noite...
Bebe meu vinho,
Ouve minhas músicas,
Revira minhas gavetas,
Esconde seu retrato,
Abraça meu silêncio,
Vai embora deixando
uma dor avassaladora_
uma sombra, que
deslocou do corpo
deixando uma mancha
Na parede....
Marcia Portella_Go
Imagem_Pintereste
O céu está cinzento: uma chuvinha de verão pinga das árvores,
das calhas dos telhados.
Lá fora o vento em pequenos soluços, um quebrar de ondas distantes.
A mulher na sala olha para as pequenas galáxias que vão
se formando na vidraça desmanchando contra a luz do sol.
Acende uma vela perfumada e uma corrente de ar atravessa
na sala como um fantasma fazendo a chama do pavio tombar.
Pega o copo de vinho aperta entre os dedos leva até os lábios
observando a dança das sombras na parede à sua frente.
Ouve a respiração profunda da cidade onde milhões de sonhos
se entrelaçam para formar uma bola gigantesca que sobe
lentamente para o céu pronta para estourar a qualquer momento
no mundo de ...sonhos antigos.
Marcia Portella_Go
Paiting_Francine hove
partiu silenciosamente sem que
seus olhos vissem minha dor.
Meus cabelos bastos rarearam,
...e muitos anos atravessaram a estrada
do meu corpo que trava uma guerra
dentro de mim.
Meus sentimentos investem em batalhas
violentas e bravamente sonhos
morrem deixando suas tumbas tatuadas
em dores em minha pele.
Sinto-me frágil, cansada e perdida
...arrastando minha alma que afoga em um
poço de dor onde continuo vivendo
amando e ao mesmo tempo ...morrendo.
Marcia Portella_Go_
(30/08/2018)
Art_Zzzele Paper
Notas ressoam em pálida
vibração audível
deslizando nos sentidos em
leve roçar de murmúrios...
Acordes fogem da harmonia.
Sons crescem descompassados
Ecoando desejos em...
fôlegos esparsos.
Notas suaves serpenteiam
arpejos embriagando sentidos.
corpo canta, sibila prazer
soando em ritmo afinado.
É música noite adentro.
No descanso...
um jazz sonolento.
Marcia Portella_Go
Lady jazz_Loles Romero
http://marciaportellago.blogspot.com
.
Ser página em branco
Colher lágrimas para que
Seja tinta, imprimir no papel
Para que leias.
Serão letras delicadas, matizadas
De violeta para um poema
Melancólico que seduza a mente
Para cobrir de pele e erotismo.
Estarei à espera desenhando sonhos
Em doces suspiros de saudade que
Irão estender-se como o deserto.
Talvez sejam versos de tempo vencido
De quem amou demais e cantou esse
Amor como há muito não se via
...Nas entrelinhas de um poema.
Marcia Portella_Go
Imagem_Ewa Huauton
Cansada de ficar solitária ante tantos desditos, saiu em uma tarde
como uma deusa louca.
Despenteada em gritos roucos rasgou sua roupa e na desdita sina de ser
sombra que escorria nos muros,entrou nos bares à procura dos boêmios
onde o aroma de tristeza pairava no ar em perpétuo luto.
Riu de forma escandalosa e ninguém ouviu ou sentiu sua presença.
Cantou sua música preferida, dançou e chorou.
Saiu fazendo reverência a plateia muda e de repente na porta, um sorriso
flutua na sombra de um rosto.
Todos os ossos iluminados, e os olhos melancólicos em perene solidão.
Ele a viu e acalentando seus dissabores, amores, dores e solidão escreveu
seu mais belo poema para a deusa louca de nome...Poesia.
Marcia Portella_Go
Imagem_Ewa Hauton
Somos libélulas livres do casulo
Alcançando voo, fugindo da escuridão.
Temos asas frágeis e transparentes
Que explodem em energia
Somos magia, mistério e fascinação.
Nossas asas enfraquecem com
O peso da realidade.
Temos alma mística e compaixão.
Nos comunicamos com o mundo
Transcendental com a leveza
Impregnada em nossa composição.
Viemos em busca da comunicação
Onde possa haver intimidade,
Cumplicidade e transformação.
Na boca da noite, somos atraídos
Pelo brilho fictício da luminosidade
E na busca incansável da
Imortalidade, nos debatemos em
chamas agonizantes.
Marcia Portella_Go
Imagem_Marina Podgaevskay
http://marciaportellago.blogspot.com
A senhora na janela tem a pele branca que destoa de todo o mobiliário antigo do salão, parece uma personagem saída de um filme noir dos anos quarenta.
Sua sombra se estende no carpete como se quisesse se libertar.
Tem sete meses que ela vê o mundo por sua janela ouvindo lamentos das perdas através das paredes.
Às vezes se sente aprisionada como uma matrioska aquelas bonecas russas onde uma, esconde dentro da outra. Olha a praça vendo os contornos do salgueiro inclinando-se sobre a água de uma pequena fonte lembrando uma linda pintura pontilhista.
Ao longo da rua as sibipirunas enfileiradas parecem uma procissão de flores amarelas.
O céu de um azul luminoso tem pequenas nuvens brancas que logo somem dando a impressão que de repente um aspirador de pó passou e fez a limpeza matinal. A cidade desperta aos poucos: a rua estaria vazia se não fossem os gatos-pingados que passeiam com seus cachorros e o dono da delicatéssen que abre um fardo de jornal.
Alguém toca um fado antigo que corta sua carne, deixando uma cicatriz de nostalgia jamais satisfeita quase uma ferida à espera que
alguém venha para abrir as portas como se fosse afastar uma pedra de uma sepultura.
Uma sirene passa, uivando aflita invadindo a luz vermelha do semáforo que parece com o olho de uma criatura malévola.
Tudo é uma fúria de cores, um tumulto de sons amenizado pela chuva que chega com seus fios lavanda e prata com o vento farfalhando as cortinas ali dentro.
Ela, com seu encantador descontentamento de harém, seus véus de infortúnios e olhos brilhando ironicamente, fecha a janela e volta a sentir-se uma matrioska.
Marcia Portella_Go
07/11/2020
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