Quando eu era criança, era sonhador (e talvez o seja um pouco ainda). Ia à estação dos trens de ferro da NOB – Noroeste do Brasil, àquela época muito movimentada. E me debruçava junto à velha e enorme mangueira que por ali reinava, vendo o trem a sair lentamente da estação. E ele resfolegava, lançando as longas espirais da escura fumaça, vinda da incandescente fornalha. E, apitando, sumia-se na curva da fábrica da Anderson Clayton. Eu dizia-me: Ainda “monto” neste trem, no banco da segunda classe, e vou pra Bauru. E depois pra São Paulo. Quem sabe mais longe ainda. Vou conhecer o mundo. Bem, na verdade não fui tão longe, mas dentre os destinos até onde cheguei estava Aparecida, a terra da Padroeira. Não fui com o trem de ferro, que na Central do Brasil já fora substituído pela locomotiva a diesel. Fui “de Pássaro Marron”. Fiquei pouco tempo por lá, mas o suficiente pra ajudar – num pouquinho, um mínimo que seja – na construção do Santuário. E, ante as torres ainda inacabadas, eu me via da mesma forma que em Birigui, defronte à estação do trem de ferro, a sonhar e, enlevado, exclamar baixinho: até onde, Mãezinha de Aparecida, me levarão meus sonhos?
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Comentários
Tocante seu texto e pertinente ao contexto. Abraços
Muito grato, Lilian.
Pedrão poeta!
Um verdadeiro sonhador, aliás,
um poeta que não sonha deve ter uma "asa" machucada.
Vai ter dificuldade de por um pé no passado,
um no presente e um no futuro!
Parabéns bardo.
#JoãoCarreiraPoeta.
Muito grato, caríssimo amigo.