Convite ao Cristiano
Por me sentir comovido com a situação,
Convidei Cristiano, engenheiro formado,
Mas em situação de rua, sem outra opção,
A ver se almoçava lá em casa na terça feira
Ou qualquer outro dia, talvez num feriado.
Ele ripostou, sem pensar, assim de primeira:
- Tenho que ver a agenda. Mas, diz pra mim:
- Terei vinho do Porto e caviar na entrada?
- Casquinha de siri, lagosta, talvez lagostim,
E na sobremesa torta de apfelstrudel assada?
Tossi. E, ante minha cara tonta de espanto,
Aduziu num sorriso: - Que é isso, doutor?
- Não vê que gracejo – é só brincadeira?
- Eu topo sim. Agradeço. Pode secar o pranto.
- Na verdade, comeria uma melancia inteira
Com a fome que me acode, eu garanto,
Ou ainda uma dúzia de pastéis lá da feira.
- Mas me contento com um só sanduiche,
- Ou se há fartura, feijão e arroz agulhinha,
Com colorau, cebola e um prato de maxixe.
- Quem sabe, humm, uma mandioquinha
Temperada, se puder, com uma farofinha
E uma malagueta, sabe, aquela pimentinha,
E os finalmentes numa boa cachacinha?
- Mas, me avisa a tempo, doutor, viu? Faz isso,
Pra que eu desmarque outro compromisso!
pedroavellar – julho 2022
Comentários
Parabéns pela criatividade Poética e pelo tema que é por demais atual.
Muita gente de boa formação acadêmica em situação de rua ou outra situação difícil de vida
Cristiano em minha parca visão mostrou certa soberba na discussão do convite
Leva-nos a crer que podemos ter outros segredos no tema
Abraços de Antonio
Olá Pedro.eu li sobre o convite nos comentarios abaixo.
Vai que o gracejo cola, ou rola como dizem hoje em dia. Fiquei aqui pensando, se você tivesse confirmado, será que esse engenheiro desmarcaria o compromisso e iria para o "boca livre"?
Parabéns!
Eu gostei muito de ler.
Aplausos!
Pois é, Edith. De fato, seria interessante ver-se isso. Penso que o Cristiano venha de fato almoçar aqui, ou talvez a gente combine num restaurante,
se nos deixam entrar, porque você sabe como fazem, não é?
Parabéns, Pedro!
Maravilhoso convite em versos.
Abraços
Na verdade, não é a primeira pessoa e história que me ocorrem nessas circunstâncias.
Mas aqui se cuida de um rapaz de cerca de 35 anos, que de fato se formou em engenharia (acho que da área agrícola),
mas por questões de desacerto familiar acabou se afastando de tudo e foi viver em situação de rua. Eu romanceei um
pouco a resposta dele, mas o convite é real e creio que qualquer dia ele venha almoçar aqui em casa. Claro que não
terei as iguarias referidas. De fato, a mandioquinha ou o maxixe já estarão de bom sabor.
Grato pelo comentário.
O Zeka Feliz é meu irmão...
Mesmo nascido no sertão,
Tem uma fértil imaginação....
É dele essa saborosa edição!