O desejo
De muita sílica anônima
Seria transformar-se
Em venerável vidro
Deixar de ser puramente
Cálcio e sódio
Soldar-se mansa
À ponta de um cadinho
Moldar-se em multiformes cores surreais
Ser para-brisa de carro
Copo americano, litro de cachaça
Travessa resistente, vitral de igreja
Janela de prédio, porta giratória
Gude de cristal, jarra para sucos
Tampa de farol, pote de geleia
Lente para óculos de grau
Depois de frágil massa
Transparente e dura
Cometer o risco
De mudar-se em farelo
Quebrada em mil caquinhos
Pela própria criatura
E se não conseguir voltar a ser óxido
Ao menos um átomo em algum milênio
De pó de mico levada pelo vento num sopro
De poeira sobre um móvel no quintal
PSRosseto
Comentários
Que magnífica reflexão poética!
Assim o homem quando fica idoso, quantos estão amargando em asilos, esquecidos pelos próprios filhos.
Aplausos!