Efêmeras ao vento

Efêmeras ao vento

J. A. Medeiros da Luz

 

Nem plumas, nem paina, nem besouros ou morcegos,

Ou os buliçosos periquitos altivolantes:

Somente dezenas de efêmeras ao vento!

Voo não alçam para além das altifrondosas

Castanheiras excelsas, majestáticas, 

Mantendo-se à fimbria dos regatos, nos baixios.

 

E que durar breve esse voejo com membranas de vidro

Perpassadas dos tentáculos da brisa e dos segundos!

As bolhas que à tona do pântano se inflam

Serão as únicas a com elas ousarem disputar

A brevitude da vida, o finar dos desejos,

O depositar da essência sobre a lousa,

Gélida lousa da entropia da morte.

 

Mas, em que pese a efemeridade dos esquivadiços

Arabescos rápidos do voo,

Persiste, a quem nas contemple,

Uma duradoura mensagem, uma

Espécie mesmo de reconforto:

 

— Esse lerdo primata ostenta igual destino;

O sopro do existir, para esse tonto,

Não superará em muito o nosso próprio;

Mero toco de vela, feita da cera da vaidade,

Bruxuleando na penumbra do universo,

Através de transitório perdurar... e só.

 

 Ouro Preto, 14 de julho de 2024.

[Comentos também podem ser dirigidos a: jaurelio@ufop.edu.br; © J. A. M. Luz]

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J. A. M. da Luz

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Comentários

  • Gestores

    Com demora ou sem demora, toda vez que você aparece J.A., você resplandece o ambiente da poesia.

    • Cara Madruga, obrigado me sinto por sua amabilidade! Verdade é que estou a pegar no tranco, velho Studebaker do cinema mudo, sonhando em, ao menos, chegar a Maverick ou Dodge Dart, ostentando aquelas buzinas com música da Jovem Guarda...

      Abraço do Jota.

       

  • Bom dia trovador Medeiros.

    Que bom que de repente.

    Pow!

    Apareceste.

    Tenho uma queda pelo teu jeito peculiar de escrever.

    Infelizmente, és como um cometa literário.

    Efemeramente passa.

    Mesmo passando teus versos ficam dançando como estrelas no firmamento poético.

    Parabéns.👏👏👏👏👏.

    Um forte abraço.

    #JoãoCarreiraPoeta.

    • Gracias mil, mi caro Carrera:

      O meu  pálido luciluzir nesses cosmos da literatura é, em parte, devido à tibieza da fonte luminosa e em parte devido às brumas dos quefazeres diuturnos, vulgo tarefas a cumprir.  Mas vai-se levando, com alacridade e com pachorra, como a dos tardos bois que param por um instante o carro-de-bois, para mascar umas tenras ervazinhas, nascidas por acaso ao lado do trilheiro.
      Abraço do J. A.

    • Estou me deliciando com teus riquíssimos livros literários. Mais uma vez gratidão.

       

    • É uma honra e um prazer contentar tão ilustrado leitor, caro Dr. Carreira!

  • Parabéns a esse texto maravilhoso com ricas palavras 

    Um abraço 

    • Muito agradecido, cara amiga Márcia, pelas palavras carinhosas.
       
      Com efeito, espero que não sejam as derradeiras, essas minhas palavras de atavio, com presunção literária. Ando com pendências mais prolíficas que casais de porquinhos-da-índia, em idade reprodutiva: durmo com duas delas e — dali a pouco — já se ampliam para quatro! Amanhã mesmo, dou aula às 7:30 h,  fechando a batelada às 19:10 h (com interregnos generosos, felizmente)...
       
      Desejo a você e aos demais amigos de nossa casa virtual uma semana luminosa, plena de serenidade e de joie de vivre,  como lá dizem nossos irmãos da Gália...
  • Após séculos de outras labutas, distanciadas do fazer (ou mesmo ler) poético, retomo a pena virtual. Sem exageradas — para minha contrariedade — esperanças de constância! Abraços do J. A.

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