Homem Puro

Homem puro

 

Chiquinho não estranhou ver o seu pai à conversa com aquele homem com um aspecto pouco cuidado, e não o estranhou porque conhecia muito bem seu pai e sabia que ele não avaliava as pessoas pelas roupas que traziam vestidas, ou pelo seu aspecto. Abriu o portão, subiu as escadas e entrou em casa.

Quando deu pela chegada do pai, perguntou-lhe:

- Pai, quem era aquele homem com quem estava a falar?

- É um pobre homem que hoje dorme na rua e que no entanto já foi um homem com tudo na vida, até chegou a participar em alguns filmes, depois as circunstâncias da vida atiraram-no para a miséria, para a rua.

- Ora Chiquinho, não faças caso dos disparates do teu pai. Ele pensa que é toda a gente como ele, sem maldade alguma, acredita em tudo o que lhe dizem, aquilo é mas é um maltês qualquer, se calhar já com um copito a mais e que vive a contar loucuras. Só mesmo o teu pai para dar conversa a toda a gente.

Martinho não respondeu à provocação da mulher, sentia pena daquele homem, tinha uma história de vida tão rica e agora via-se a viver debaixo desse tecto universal que é o céu.

O tempo foi passando até que um dia, estavam eles sentados à mesa a jantar, quando ouviram o jornalista anunciar:

“Não percam a seguir ao telejornal mais uma história de vida, a história de alguém que já viveu a fama e hoje vive na rua.”

Continuaram a jantar, o telejornal terminou e lá veio a repórter com a sua história de vida:

“Hoje vamos conhecer um homem que já viveu no auge da fama, chegou mesmo a participar em vários filmes da época de ouro do cinema Português, e que hoje vive as agruras da vida, dormindo ao relento e alimentando-se da caridade alheia.”

Chiquinho recordou-se daquele dia em que o pai lhe contara uma história parecida, desistiu da sua ideia de ir sair com os amigos. Sentou-se no sofá e aguardou pela apresentação da reportagem.

- Mãe! Mãe! é aquele homem que estava a falar com o pai na outra tarde.

Martinho trocou um olhar com a mulher, mas nem um comentário fez, sempre fora assim. Nunca se vangloriava por ter razão, preferia sentir o seu coração a palpitar de felicidade por ter acreditado naquele homem e o ter escutado como escutaria a um outro qualquer que não tivesse história nenhuma de fama para lhe contar, porque, para ele, toda a gente tem sempre uma história de vida, pode é ser mais ou menos famosa.

Era assim o senhor meu pai e esta história é verídica.

 

Moral: “ Acredita sempre no teu semelhante, principalmente quando todos duvidarem dele.”

 

Francis Raposo Ferreira

14/11/2019

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Comentários

  • Parabéns pelo lindo texto, Francisco!

    Abraço

  • Nos tempso de hoje é necessário ter um olho aberto, smepre vigilante.

    Aplausos!

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    • Amiga Mararida Maria Madruga, o importante é continuarmos a acreditar no ser humano, desilusões, todos nós sofremos. Beijinhos.

       

       

  • 1378802274?profile=RESIZE_710x

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CPP