uma incerta lua todo dia
atira-se do semáforo
entre avenida e rua
vestida de alizarina
travestida de heroína e anjo
surge dentre os prédios
e descalça perambula
onde nenhum olhar alcança
junto a poças de células vivas
sobreviventes do asfalto
em meio a ocre via de fumaça
sai recolhendo o caráter sintético
dos obituários por falência múltipla
desperdiçados como tantos passantes
insertos e perplexos suburbanos
provisórios habitantes da rotina
dessa contemporânea falácia
clamando por misericórdia
assusta-se unicamente
quando ouve claros rumores
de que a todo momento morrem
eternos amores e sentimentos
antes da hora ou passados do ponto
explica-me então que esses abissais incidentes
dependem da ilusória sorte
e que além da cobiça e mais
haverá sempre por certo
entre as faces duplas dessas veias
possíveis acelerados desacertos
pois enquanto alguns fenecem
abrem outros triviais sinais
em outros tantos cruzamentos
PSRosseto
Comentários
Poema reflexivo e lindo! Parabéns!
Brilhante... Profundo... Parabéns, caro poeta!
Um belo e reflexivo escrito.
Sò faltou sua autoria abaixo do texto.
Texto profundo e emerado.
Parabéns!