O Canto da Liberdade

O Canto da Liberdade

 

Naquela manhã de primavera, o som dos passarinhos ecoava pelos campos, uma melodia que parecia vir do próprio coração da natureza. Dona Aurora, que cuidava de seu pequeno jardim com mãos experientes e olhar atento, olhou para a gaiola esquecida no canto do alpendre. Ali, antes, habitava um canarinho, seu companheiro de solidão. Mas algo mudou quando ela viu a cena que inspiraria sua reflexão mais profunda.

Era um dia de céu claro e brisa leve. Aurora ouviu o canto dos pássaros livres na copa das árvores. Eles voavam em revoada, exibindo suas cores e liberdade como um quadro vivo. Seu pequeno canário, preso na gaiola, respondia com um canto melancólico, como quem sonha com algo que nunca teve.

Um sentimento de culpa começou a pesar no peito de Aurora. Ela, que acreditava estar cuidando do passarinho, começou a perceber que aquele cuidado era uma prisão. Então, numa manhã de coragem, abriu a porta da gaiola. O canário hesitou, mas logo alçou voo, desaparecendo no horizonte. Aurora chorou, mas não de tristeza; era como se algo maior a tivesse libertado também.

Dias depois, enquanto regava as plantas, viu o canário no galho de uma árvore próxima. Ele estava ali, com outros passarinhos, cantando em uníssono. A música parecia mais viva, mais cheia de alma. Aurora sentiu-se pequena diante daquela cena, mas em paz.

O soneto que ela leu, mais tarde,  em um site de escritores de uma poetisa que gostava de ser  chamada  de Vovó Onça, parecia traduzir seus pensamentos:

"Lugar de Passarinhos"

 

Que triste é ver o voo aprisionado,

Cantigas mudas sob um céu de grades,

O sonho azul do livre ser roubado,

E o sol negado em suas liberdades.

 

Os campos chamam com perfume e cor,

As matas sussurram doces melodias,

E o vento dança em louvor ao amor,

Que em asas livres faz suas poesias.

 

Lugar de pássaros é o céu sem fim,

Entre os ramos, no afago do luar,

Onde a natureza os abraça assim,

 

Livres, cantando ao mundo seu pulsar.

Pois vida é feita pra ser liberdade,

Não pra viver em cruel saudade.

 

Ela recitava esses versos em voz baixa, enquanto olhava para a antiga gaiola agora transformada em um vaso de flores. Os passarinhos cantavam ao longe, livres como deveriam ser, e ela sabia que aquele era o lugar deles, não em grades, mas no infinito azul do céu.

Afinal, como a poeta dizia:

"Pois vida é feita pra ser liberdade,

Não pra viver em cruel saudade."

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Helena Bernardes

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Comentários

  • Ave contista!!!! Ave! Um mimo a tua história!  Viajei num mundo que, desde menino, penso existir em algum lugar do universo, e que alcançarei! Que assim seja.

  • Como a vovó Bernardes já escreveu:

    "Que a chuva abraça a terra",

    os teus versos e parágrafos abraça meu coração!

    E digo mais, aqui encontrei uma verdadeira tempestade de emoções.

    O seu "cantinho",

    realmente, é um canto encantado.

    1000s aplausos, 100 cessar!👏👏👏👏👏👏👏.

    Um abraço carinhoso Vovó Bernardes!

    #JoaoCarreiraPoeta.

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