O poeta acorda em uma manhã ensolarada, a luz filtrando-se pelas cortinas, criando um mosaico de sombras e reflexos. O aroma do café fresco permeia o ar, e ele se senta à mesa, caneta em punho, caderno aberto, pronto para dar vida a novas palavras. Mas, para sua surpresa, a página permanece em branco. O silêncio que o rodeia é ensurdecedor, e a mente, antes fértil em ideias, agora parece um deserto árido.
Nos momentos de crise criativa, é fácil se deixar levar pela frustração. O poeta, no entanto, decide que a inspiração não virá à força. Ele se levanta e abre a janela, deixando que a brisa suave entre e acaricie seu rosto. O mundo lá fora está vivo: o canto dos pássaros, o farfalhar das folhas, o riso de crianças brincando. Ele respira fundo e, por um instante, apenas observa.
Então, o poeta tem uma ideia. Em vez de lutar contra a falta de inspiração, ele decide se permitir sentir. Pega seu caderno e uma caneta e sai pela porta, buscando histórias nas esquinas da vida. Caminha pelas ruas, atento aos detalhes que normalmente passaria despercebido. Nota a velha árvore que, apesar do tempo, ainda floresce, e a mulher que alimenta os pássaros na praça, seus gestos delicados como poesia em movimento.
Ele observa os rostos das pessoas, cada um com sua própria história, suas próprias dores e alegrias. O poeta começa a anotar frases soltas, sentimentos que afloram, como pequenas sementes que brotam em seu caderno. Não se trata mais de escrever um poema, mas de capturar a essência do que é estar vivo. A ausência de inspiração dá lugar à observação, e ele percebe que a vida em si é uma fonte inesgotável de palavras.
À medida que avança por sua caminhada, a mente que antes estava vazia começa a preencher-se com imagens e sons. Um verso surge aqui, uma estrofe ali, e a página em branco começa a ganhar vida. O poeta, agora, entende que a inspiração não é um facho de luz que desce do céu, mas uma dança, um diálogo constante com o mundo.
Ao retornar para casa, já não é o mesmo. Ele senta-se novamente à mesa, e as palavras fluem como um rio caudaloso. O poeta sorri, sabendo que, às vezes, tudo o que é preciso é abrir a janela da alma e permitir que a vida entre. A falta de inspiração se transforma em um convite à descoberta, e assim, a página em branco se torna um campo fértil para novas criações.
Helena Bernardes,out 2024
Comentários
Lindo conto. A inspiração está em casa ser, símbolo, nota e ato da vida. Parabéns 👏
Parabéns! Adorei o seu texto!
Sensacional!!!
Vovó Onça tu és uma "fera"!!!
O caminho foi descrito poeticamente,
de um jeito sublime.
E assim, o fantasma da
"página"
em branco se agita como uma fera ferida.
Cambaleia no ar, agoniza, morre, mas não ressuscita.
Parabéns!!!
#JoaoCarreiraPoeta.