O real do surreal
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Do quarto em que estou ouço tudo que acontece pelos corredores; até parece um hotel mas é mais um hospital.
Vejo vidas que vão e vem, perdidas no lado surrealista de suas mentes e pais que tentanto entender o que e como aconteceu? O que desengatilhou, o que fez com que seus filhos e filhas adentrassem um mundo a parte, como se houvessem dois mundos paralelos?
Como saber? Até onde o surreal se torna real ou vice versa?
Vagamos pela vida, seguimos regras que nos são impostas desde o nascimento: como nos vestir, o que falar, como ser aceito numa sociedade hipócrita que, ao menor sinal de "desvio de conduta" se perdem e ficam a deriva, tentando encontrar o caminho de volta à realidade.
Qual é o limite da sanidade?
Nos preocupamos tanto com o ter: um bom carro, um bom emprego etc e nos esquecemos de ser: amigo, bons pais e mães, zelosos pelo bem estar emocional de nossos entes queridos. Então nos vemos diante de uma situação surreal que foge aos padrões estabelecidos e como não sabemos o que fazer, fingimos que está tudo bem e nos fechamos numa concha...É mais cômodo ignorar e culpar os outros do que encarar de frente o problema. E nesse ínterim perdemos, pouco a pouco, a real certeza de quem somos.
E assim, reclusos, nos internamos em nossas vidas fúteis, escondendo o "ser bizarro" para que não sejamos julgados por essa sociedade fútil onde não se admitem rótulos.
Infelizmente, para o ente que passa por esse processo só restam as infinidades de medicamentos, internações e terapias. São renegados a "doentes mentais". Deixam de ser pessoas para se tornarem " excessão à regra" . Uma geração que pagará um preço alto pela total falta de informação numa sociedade "moderna" , que se gaba de suas conquistas tecnológicas e se esquecem do "ser humano". E quando mais precisam receber amor e apoio dos seus, se vêm à margem da família e o significado de "especial" torna-se tosco e motivo de ser deixado de lado na vida social.
"Palmas" mais uma vez para nossa sociedade medíocre e burlesca.
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Maria Angélica de Oliveira - 04/03/18
in Liga dos 7
Comentários
Belíssima reflexão, poetisa amiga, esta nossa sociedade carente de valores, onde valoriza-se o ter e não o ser, é fonte de grandes tragédias. Onde queremos chegar? O que almejamos deixar para a posteridade? (como sociedade). Eis as perguntas de um milhão de dólares. KKKKKK Sou seu fã. Abraços, paz e Luz!!!
Obrigado Ilario por seu carinho.
O que fez com que o caos imperasse e a loucura tomasse conta de tudo foi e é a inversão de valores. Hipocrisia sempre vai haver porque somos seres humanos cheios de falhas e defeitos. Mas está visto que não estávamos preperados para sair do cerco patriarcal. Quando os pais deixaram de ter "autoridade" sobre os filhos e os jovens, sem limites e sem controle,tomaram as rédeas da própria vida, o resultado é esse que temos aí, uma juventude completamente perdida e os pais, desnorteados, tão perdidos quanto os filhos perguntando-se onde foi que erraram. Informação todos têm, mas não fazem bom uso dela. Hoje, é fácil chamar desvio de caráter de loucura, criança mal educada de hiperativa, pessoas destemperadas de bipolares,enfim, patologizaram tudo. Se os paisnão educam os filhos e temos leis que protegem jovens que praticam os mais hediondos crimes, o futuro das próximas gerações está comprometido desde agora. Infelizmente, estamos caminhando para um caminho sem volta.
Mesmo que tenhamos opiniões diferentes, gostei muito do texto. É um belo escrito!
Obrigada Marso querida...concordo também com você: onde não hà respeito e valores na educação só podemos ter o caos.
A nossas sociedade ele é covarde onde os sentido verdadeiro de seu papel não é feito, poi, usa -se de uma hideologia para esconder a veracidade
Obrigada JoseCarlos por seu comentario!
Amiga, a sociedade mergulhada em hipocrizia e valores vazios e sem sentimentos aniquila e avilta as almas , adoece os mais fracos, enloquece os mais sensíveis. Mas o linear da loucura e da sanidade,... quem determina? Do certo e do errado? Do real e do surreal?... Temos um caos na humanidade e os valores se deterioram e os hipócritas fingem-se cegos para não admitir que falhamos, sim,... falhamos... As máscaras apertam e machucam nossas faces e ainda assim insistimos em usá-las, pois enfrentar o espelho da realidade sem as máscaras seria doloroso ou libertador demais...
Beijos!
Nina
Obrigada Nina querida por teu comentario!!!