Na vila esquecida entre colinas e árvores centenárias, todos conheciam a lenda do Santo dos Pássaros. Diziam que ele era um antigo eremita que, em tempos passados, havia escolhido viver em solidão, morando em uma pequena cabana no alto do morro, perto da nascente do rio. No entanto, nunca estava realmente só. Os pássaros vinham de toda parte para visitá-lo, como se carregassem uma mensagem especial, uma sinfonia que só ele podia compreender.
O santo passava dias em silêncio, caminhando pela floresta, distribuindo migalhas e sementes, murmurando orações ao vento. Quando a noite caía, ele erguia as mãos e chamava por seus "pequenos irmãos", e então centenas de pássaros pousavam ao redor dele, formando uma roda de penas e canto que ecoava pela mata, como uma bênção viva.
Contam que um dia, ele viu algo que ninguém poderia explicar. Um pássaro negro, de plumagem reluzente e olhos profundos, pousou em seu ombro. O santo olhou nos olhos da ave como quem encontra uma alma irmã. Sentiu uma mensagem vibrar em seu coração: "Prepare-se, pois ao amanhecer será tempo de partir."
Naquela noite, a vila dormiu num silêncio profundo, como se o próprio ar estivesse em espera. Na madrugada, a jovem Inês que sempre acordava antes do sol, foi a primeira a notar o espetáculo. Ao abrir a janela, viu uma procissão de pássaros – corvos, rouxinóis, beija-flores, andorinhas – voando em silêncio na direção do morro. E, curiosa, decidiu seguir.
Chegando ao topo, encontrou uma cena que jamais esqueceria. O santo estava ali, cercado por milhares de pássaros em um silêncio reverente. Ele estava de olhos fechados, uma leveza tão serena no rosto que parecia já não pertencer a este mundo. Quando o primeiro raio de sol tocou o horizonte, os pássaros ergueram um canto poderoso, uma sinfonia única que fez o vento estremecer e as folhas vibrarem. O santo então sorriu, como se aquele canto fosse a passagem para outra vida, e seu espírito, leve como uma pluma, partiu.
Desde aquele dia, o morro foi chamado de Colina do Santo dos Pássaros. E a cada amanhecer, os pássaros voltavam para cantar, como em reverência àquele que, em vida, os compreendia tão bem. A vila, antes tão esquecida, passou a receber visitantes, pessoas que subiam a colina em busca de paz e sabedoria, esperando ouvir, ao menos uma vez, o canto do Santo dos Pássaros ecoando na brisa, ainda vivo na memória do amanhecer.
Helena BernardesM
úsica baseada neste conto: 2024https://youtu.be/5RmM7fg8DL8
Comentários
Lindo conto! O seu texto é inspirador! Parabéns!
Editt, bom dia amiga!
Que tenhamos um final de semana abençoado!
Abraço!
Salve, grandiosa escritora! Teu conto me emocionou. Ele, pra mim, está perfeito. O personagem é cativante, o ambiente descrito me transportou para o mundo das histórias, onde, quando criança habitava minha alma. Não há excesso de palavras. Cada frase teve um propósito, e, o final se não foi impactante, foi sereno e Divino. Parabéns! Grande abraço
Nelson, bom dia! Muito obrigada pelo carinhoso comentário!
Bom final de semana, com Paz e Saúde!
Abraço fraterno!
Simplesmente linnnndo!
Um conto…
Uma fábula sensacional!
Prenhe de singeleza, o retrato da beleza.
Uma obra que enche a alma e faz a gente flutuar.
É de arrepiar.
Congratulações.
Um abraço carinhoso.
#JoaoCarreiraPoeta.
Bom dia João! Bom final de semana!
Saudações chuvosas aqui do meu Goiás!
Abraço no netinho!
Oi Vovó, Helena!
Já mostrei sua foto (caricatura) para ele e disse:
Essa aqui é a Vovó Onça.
Ele sorriu e repetiu!
Onça vovô.
Eu amo ser avô!!!
Aceita um carinhoso abraço.
P.S. Somos de Campinas — SP.
#JoaoCarreiraPoeta.