Sou um mercador de sementes
Não somente um semeador ou reles sementeiro.
Sou eu a verdadeira pureza
Que deteriora o fruto, arrebata o bago
Estala a vagem, decompõe a polpa
Resseca o talo, carcome a carne
E oferece aos homens, ventos e pássaros
As chances cruas da refloresta
A oportunidade de novas mudas
O reinicio dos ciclos
A perene teia que peneira.
Independo que tuas mãos sintam
A repentina ou comprometida fiança em plantar.
Os meus amigos passam pelo pórtico da Cidadela
Arrebatam jardins e pomares
Sentem as rosas, colhem mangas maduras
Descansam sob os pequenos arbustos
Conversam com as cigarras ciganas
Que adivinham as manhãs e temerosos
Entreolham nos olhos da venenosa esperança.
Simplesmente trabalham, comem, engendram
Regeneram, recuperam as forças tamanhas.
Ao invés, sou essa incólome presença
Porque trago a teimosia resoluta dos amanhãs.
PSRosseto
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E tudo se passa nesse tempo que permanece, que nunca envelhece. Ciclos chegam, findam e tornam a voltar.
Belíssimo poema, cheio de reflexões existênciais.
Parabéns!