RAPAZ POBRE DE GRANDE CORAÇÃO 

Houve um tempo em que trabalhei no Uruguai (1994), mais especificamente nas cidades do interior: Mercedes, Dolores, Cardona, Frybentos, Colonia. 

Éramos um grupo e nos dividimos nestas cinco cidades, e eu fiquei com Frybentos. A nossa missão foi implantar centrais telefônicas CPA. 

Cidades de gente simples e humilde, onde os carros ficavam estacionados nas ruas com as trancas abertas, e ninguém ousava invadir: – Surpreendente – pensou eu. – Vai fazer isso no Brasil... 

Além de nós, foram contratados uruguaios temporários para auxiliar na implantação das centrais, afinal era uma empreitada e tanto, muito trabalho. 

Quando cheguei ao Uruguai, as obras já haviam sido iniciadas, ou seja, peguei o bonde andando, e em Frybentos ficou comigo um camarada uruguaio. Gente boa, simples, humilde, mas que às vezes não comparecia ao trabalho por razões médicas. Ele tinha complicações estomacais, por isso, relevei. 

Na hora do almoço eu o chamava para almoçar, mas ele sempre argumentava: - Estou sem fome; ou, eu já comi; ou, agora não, mais tarde – coisas assim. 

Certa vez, eu o chamei novamente para almoçar, então ele retirou um pedaço de bolo da sua mochila e disse: - Obrigado, amigo. Vou comer por aqui mesmo. 

Foi aí que a minha ficha caiu. Apesar de que ele deveria estar morrendo de vontade de comer algo decente, todavia, não teria recurso para tal. Portanto, o que eu fiz: - Vamos lá, eu pago. 

Fomos almoçar juntos, e sentados à mesa ele me contou a sua história triste e sofrida. Não me importei com o horário de retorno ao trabalho, apenas em ouvir sua trajetória enquanto ser humano e combatente da vida. Comemos, trocamos ideias e experiências, foi muito bom. Paguei o preço satisfatoriamente pelo bom papo. 

Depois desse dia, nunca mais vi o amigo. Passou o tempo e logo descobri que ele ficou internado há dias por causa das suas complicações estomacais; não tinha mais condições de voltar ao trabalho, então, foi desligado do contrato. 

A partir desse momento, tornei a meditar sobre sua história por um bom tempo, e até hoje vem à lembrança esse episódio do rapaz pobre de grande coração. O porquê dessas complicações? Não sei ao certo; provavelmente por não se alimentar adequadamente por conta da dificuldade financeira; pode ser. 

O que eu sei é: sem saúde, somos nada para esse mundo terreno. Saúde é primordial, fundamental, o resto são felizes consequências. 

Alcebíades Júnior – 07/03/2019.

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Comentários

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    • Olá, caro João Carreira!

      Grato por sua visita e apreço.

      Abraço!

  • Sim meu irmão lindo... muitas vezes vemos somente o exterior e cada um sabe o que se passa lá no fundo.... e realmente, saúde é tudo!!! 

    Parabéns pelo teu relato!! Uma ótima reflexão!!! 

    • Oi mana!

      Grato por sua visita e apreço.

      Abraço!

  • Aplausos aplausos abraço 

    • Grato, poetisa Meire, por sua visita e apreço. Abraço!

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    • Sim, querida amiga Margarida, ainda mais quando se trata de um país, embora muito rico Culturalmente, é pobre e sofrido economicamente. Para se ter uma ideia, a minha ajuda de custo mensal, naquela época (1994), era bem mais do que o salário mensal de um engenheiro uruguaio; fiquei chocado por tanta desigualdade. Isso que você escreveu é também muito Fato aqui no Brasil, visto que doença torna-se sinônimo de Descarte para o mercado de trabalho. Mas estamos em período de promover a Humanização no meio empresarial, justamente para defender a dignidade da pessoa humana, tanto pessoal quanto profissional. Muito obrigado por sua visita e comentário, amiga. Grande Abraço!

  • Bela crônica! Aplausos!

    • Olá, amiga Marsoalex. Muito obrigado por sua visita e apreço. Grande Abraço!

  • Com toda certeza deste mundo, sem saúde não chegamos em lugar algum. Mas para ter saúde é preciso ter uma boa e básica alimentação, mas para ter uma boa e básica alimentação, é preciso ter condições economicas mínimas para isto e, para este pormenor é preciso ter um trabalho. Eis o grande e grave problema de milhões de brasileiros.

    Parabéns pela crônica, Alcebíades.

    • De fato, amiga Edith, é tudo isso que você escreveu. Fica aí uma amostra do que se deve evitar para preservar a saúde, preservar a vida. Muito Grato por sua visita e apreço. Grande Abraço!

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