Velhices

Velhices

 

O velho homem, sentou-se no sofá coçado de velho, recostou-se, estendeu a perna direita sobre as almofadas, já gastas de velhas, que serviam de assento, esticou o braço e agarrou no velho livro que vinha lendo desde há anos. Tantos anos que já nem se lembrava de quando o começara a ler.

Deixou-se ficar a folhear, página a página, aquele velho livro que o acompanhava desde os tempos em que se recordava de ser gente. Há tantos anos a ler o mesmo livro e, ainda tinha tanto para ler. Sentiu a vista cansada, procurou os óculos quase tão velhos como ele, colocou-os sobre o nariz, olhou melhor para o livro, não, não era impressão sua, aquele livro sem palavra alguma, tinha tanta coisa escrita.

Tirou os óculos, afinal não precisava deles, encostou o livro ao peito, recostou-se, melhor, no braço do velho sofá, fechou os olhos e continuou a ler aquele seu adorado livro.

Nunca se cansava de ler o livro que era a sua própria vida e sentia que enquanto se sentisse feliz a lê-lo, se manteria vivo.

 

Francis Rapposo Ferreira

19/11/2019

Enviar-me um e-mail quando as pessoas deixarem os seus comentários –

Para adicionar comentários, você deve ser membro de Casa dos Poetas e da Poesia.

Join Casa dos Poetas e da Poesia

Comentários

  • 2307145181?profile=RESIZE_710x

  • Refletir e analisar a prórpria vida é tarefa diária.

    Aplausos, Francis.

This reply was deleted.
CPP