Tão vagamente
me dispersei pelo tempo
entre vácuos e margens que
a solidão tece em silêncios
- Tão vagamente
roí cada sílaba que habita
o palato dos sabores
que deixaste num beijo
tão sorrateiramente
- Tão vagamente
juntei todos os remendos
da saudade
soprando na existência
do dia que declina
uma confissão que pranteia
genuinamente
- Tão vagamente
asfixiei todo o ar do teu ser
feito restolho na alma cremada
recheada de pétalas de lucidez
onde me perfumo irremediavelmente
- Tão vagamente
te lambuzo com palavras
embaladas na minha voracidade
até que a luz não mais apavorada
te consuma tão farta de cumplicidade
- Tão vagamente
encontro-te qualquer dia
escoltada nos meus braços
abençoando até os silêncios insólitos
onde acontecemos numa desgarrada
de beijos ecoando tão furtivamente
e em debandada
- Tão vagamente
te aconchego entre as margens
do meu riacho te ondulando
freneticamente
Encanto o eco de tuas gargalhadas
rompendo o horizonte onde
nos inventamos definitivamente
- Tão vagamente
circunscrevo o leito onde
pernoitamos até o dia
romper efusivamente
deixando no apeadeiro da saudade
um cálice apetecível de luz
onde sôfrego penetro numa fatia
de suspiros cambaleando de felicidade
- Tão vagamente
avisto-te entre a multidão
dos meus silêncios velejando
pela silhueta da madrugada
aguardando colher a faúlha de tempo
onde recriamos este poema fervilhando
no reflexo da tua peugada
…assim que te vi no rastilho da vida
me devorando tão repentina
e embriagada
Frederico de Castro
Comentários
Tiro meu chapéu, maravilhosa poesia. Imagens lindas. Aplausos!! Abraço, Frederico.
E para colher esta infima fauna de tempo é preciso está atento ao tempo para não deixar escapar nenhum segundo. Maravilhoso!
Caro amigo, saudações poéticas: Receba os meus humildes cumprimentos.