Parece ter todo o tempo do mundo. Melhor ainda, intrigantemente, e como se fosse possível, parece controlar o tempo... E assim observa sozinho, mas sem estar só, as luzes que dissimuladamente brilham, no propósito de lhe serem companhia.
Cúmplices, ouvintes, ou tão somente espectadores das vicissitudes do existir, inspiram contemplação.
E ele ali, sentado, insistentemente sozinho, mas nunca solitário, testemunhando a vida, no piscar do tempo que se esvai, absoluto, indiferente a qualquer criação, enquanto a noite reluzente sonha acordada...
Suzete Palitos
Contemplação
Parece ter todo o tempo do mundo. Melhor ainda, intrigantemente, e como se fosse possível, parece controlar o tempo... E assim observa sozinho, mas s…
Aprisionada pelos medos que me perseguem, sigo ainda os anseios que ás vezes me veem.
Percorro um caminho torpe que me leva ao mesmo lugar de outrora onde vivi momentos de terno amor.
As estrelas minhas cúmplices ficavam ali a festejar e a me fazer companhia até você chegar.
Brilhavam e brincavam á minha frente, as luzes da cidade, lá embaixo, fazendo graças até eu sorrir.
Seu brilho tantas vezes me ofuscava o olhar, que me confundia a visão e eu o chamava ...ao ouvir seus passos
Por mim já tão conhecidos.
Você respondia e logo se achegava me abraçando e beijando-me ardentemente.
Ali naquele banco ficávamos horas a conversar, fazendo planos e falando do futuro. Íamos para casa, nossa casa aconchegante e cheirosa de um perfume de um jantar aprimorado e bom. Lá acontecia de tudo, carinho, amor, conversa, risos, alegria...todos sabiam, a felicidade morava ali.
Lembranças, puras lembranças, ali no mesmo lugar, onde no banco hoje, somente eu.
As estrelas estão lá brilhando, fazendo as brincadeiras, desenhos de luzes que me retornam ao passado.
Vejo uma imagem que se aproxima....firmo o olhar.
Mas qual o quê, aquela imagem logo desaparece e fica somente a lembrança de você.
Essa ausência que fere a alma, me faz voltar para casa, onde reina o silêncio. Não há mais riso, nem alegria, nem amor, nem conversa.
O banco, as estrelas, as luzes, eu, somente o que restou.
Sin darme cuenta, me había cansado de hablar en singular. Creí por un momento que de esa manera estaría protegido, por así decirlo, de esas guerras sin argumentos, sin sentido, que se libraban en mí. Después de un rato con los ojos abiertos, parece que la luz ya no me ciega tanto. Comienzo a definir -todavía entre lágrimas, no lágrimas tristes sino de alegría o emoción-, una silueta.
¡Y resulta que esa silueta no es como la imaginaba! Es aún más intrigante, misteriosa y atractiva, aunque ya de oídas sea conocida y uno se haga una pequeña idea.
Espero poder conseguirlo sin confundirme a mí mismo. No sé por qué querría hacer éso, poder llegar a verla, al completo, con sus luces y sus sombras, sus colores, sus errores. Deseo también que no todo sea una vez más producto de mi mente (¿inconciente?) traicionera.
Passei noites e noites seguidas da minha infância, dependurada na janela do meu quarto, espiando aquele homem misterioso que só eu via, sentado num banco de madeira, de costas para mim.
Minha mãe, meu pai e meus irmãos diziam que além da minha janela havia só uma mata fechada, e papai recomendava que eu nunca me atrevesse a ir até lá, pois poderia ser atacada por algum animal feroz ou picada por uma cobra. Reafirmava que não havia homem nenhum sentado ali, e que se alguém quisesse passar uma noite lá teria que fazer uma fogueira para espantar os animais e também se aquecer do frio que fazia ali no topo daquele morro.
Eu não me conformava, aquele homem já fazia parte da minha vida, esperava anciosa a chegada da noite e assim que escurecia, me enrolava nas cobertas, subia numa cadeira e ficava lá dependurada, observando-o e esperando que pelo menos ele virasse o rosto e me visse, e quem sabe até acenasse para mim, até que mamãe entrava no quarto, me dava uma boa bronca, me colocava em minha cama, acariciava meus cabelos, me ensinava a rezar, me dava um beijo de boa noite e eu dormia.
Às vezes meu sono era tranquilo, em outras, tinha pesadêlos. Onças e cobras me atacavam e ele me tomava nos braços e me carregava na escuridão, eu me agarrava ao seu pescoço e me sentia protegidada. Ele me levava de volta pra casa, me deitava na cama, beijava a minha testa e saía pela janela. Eu acordava, a janela estava fechada, a cortina estava fechada, eu estava sozinha no quarto. Abria a cortina, o dia estava amanhecendo e uma névoa embaçava a minha visão. Quando o dia clareava, por mais sol que fizesse a névoa não se dissipava e uma parede branca separava ele de mim. Eu seguia a minha vida de criança, brincando, estudando, ajudando minha mãe e esperando a noite chegar.
O tempo foi passando, eu fui crescendo, não me contentava mais em ver somente o vulto daquele homem, a vontade de ver o seu rosto foi crescendo também. Eu queria vê-lo chegando, vê-lo de frente e mais que isso, queria que ele me visse, que soubesse da minha existência.
No dia do meu aniversário de quatorze anos, quando cheguei à janela , vi pequeninas luzes, pareciam pirilampos, que iam se acendendo uma a uma, se multiplicando a medida que a noite ia caindo. Fiquei perplexa com aquela visão, o vulto do homem apareceu, ali sentado, no mesmo lugar, só que não estava estático como das outras vezes, sua mão direita se movimentava e era dela que os pirilampos saiam e eram jogados aos punhados morro abaixo. Fiquei mais encantada ainda, com aquele homem que tinha o poder de iluminar o mundo e que iluminava as minhas noites e a minha vida.
Porém, quando o dia amanheceu, a tristeza tomou conta do meu coração, papai resolveu mudar para a cidade, arrumara um novo emprego e partimos na mesma semana.
Agora moramos aqui embaixo, não vejo mais o vulto do meu amigo, não tenho mais pesadelos com onças e nem cobras. Todas as noites olho para lá e não o vejo, somente os pirilampos caem todas as noites, durmo com a janela do meu quarto aberta esperando que ele entre de mansinho e fique comigo até o dia amanhecer.
Respostas
OFICINA DE PROSA ENCERRADA!!!
Contemplação
Parece ter todo o tempo do mundo. Melhor ainda, intrigantemente, e como se fosse possível, parece controlar o tempo... E assim observa sozinho, mas sem estar só, as luzes que dissimuladamente brilham, no propósito de lhe serem companhia.
Cúmplices, ouvintes, ou tão somente espectadores das vicissitudes do existir, inspiram contemplação.
E ele ali, sentado, insistentemente sozinho, mas nunca solitário, testemunhando a vida, no piscar do tempo que se esvai, absoluto, indiferente a qualquer criação, enquanto a noite reluzente sonha acordada...
Suzete Palitos
Oi Suzete, trouxe tua linda prosa para dentro da oficina.
A ausência nos fere a alma - Prosa poética - Veraiz Souza
A ausência nos fere a alma
Aprisionada pelos medos que me perseguem, sigo ainda os anseios que ás vezes me veem.
Percorro um caminho torpe que me leva ao mesmo lugar de outrora onde vivi momentos de terno amor.
As estrelas minhas cúmplices ficavam ali a festejar e a me fazer companhia até você chegar.
Brilhavam e brincavam á minha frente, as luzes da cidade, lá embaixo, fazendo graças até eu sorrir.
Seu brilho tantas vezes me ofuscava o olhar, que me confundia a visão e eu o chamava ...ao ouvir seus passos
Por mim já tão conhecidos.
Você respondia e logo se achegava me abraçando e beijando-me ardentemente.
Ali naquele banco ficávamos horas a conversar, fazendo planos e falando do futuro. Íamos para casa, nossa casa aconchegante e cheirosa de um perfume de um jantar aprimorado e bom. Lá acontecia de tudo, carinho, amor, conversa, risos, alegria...todos sabiam, a felicidade morava ali.
Lembranças, puras lembranças, ali no mesmo lugar, onde no banco hoje, somente eu.
As estrelas estão lá brilhando, fazendo as brincadeiras, desenhos de luzes que me retornam ao passado.
Vejo uma imagem que se aproxima....firmo o olhar.
Mas qual o quê, aquela imagem logo desaparece e fica somente a lembrança de você.
Essa ausência que fere a alma, me faz voltar para casa, onde reina o silêncio. Não há mais riso, nem alegria, nem amor, nem conversa.
O banco, as estrelas, as luzes, eu, somente o que restou.
Veraiz, trouxe tua prosa para dentro da oficina.
Ainda luz na cidade...
Ainda luz na cidade enquanto a noite
Dorme devagarinho, sonolenta deixando
Seus breus como pegadas indeléveis em
Cada suspiro adormecendo excepcional e inexorável
Ainda luz na cidade e nós afoitos acoitamo-nos em
Lençóis de cetim e desejamo-nos enfim acólitos…a preceito
Badalando cada suspiro que pernoita em silêncios
Quase perfeitos
Ainda luz na cidade e a madrugada por respeito retira
Seus véus à noite que ali trafega universal inquieta
Desarrumando os pensamentos mais súbtis que ferem
Nossos segredos apavorados analfabetos
Ainda luz e na cidade arrumo cada desejo semântico
Gritando na gramática do amor que agora pulsa fragrante
Deixando na olfactiva saudade o perfume de todos os
Lamentos implorando seduzidos dilectos exuberantes
Frederico de Castro
Frederico, coloquei sua prosa dentro da oficina.
Sublimação (Munduri*)
Não vejo o carro, o esgoto, o alicerce...
Não daqui, desta abstração real!
A cidade embevecida adormece.
E eu, acima do bem e do mal.
Não há lua, sol! O céu, escurece.
Bem longe um paciente está mal!
A cidade embevecida adormece.
*) Munduri é uma criação deste autor. Aqui um pouco fora das normas... "Estrambótico", talvez.
Prosa poética de mi hijo mayor, Manuel Merino.
Sin darme cuenta...
Sin darme cuenta, me había cansado de hablar en singular.
Creí por un momento que de esa manera estaría protegido, por así decirlo, de esas guerras sin argumentos, sin sentido, que se libraban en mí.
Después de un rato con los ojos abiertos, parece que la luz ya no me ciega tanto. Comienzo a definir -todavía entre lágrimas, no lágrimas tristes sino de alegría o emoción-, una silueta.
¡Y resulta que esa silueta no es como la imaginaba!
Es aún más intrigante, misteriosa y atractiva, aunque ya de oídas sea conocida y uno se haga una pequeña idea.
Espero poder conseguirlo sin confundirme a mí mismo.
No sé por qué querría hacer éso, poder llegar a verla, al completo, con sus luces y sus sombras, sus colores, sus errores.
Deseo también que no todo sea una vez más producto de mi mente (¿inconciente?) traicionera.
Manolo Merino, 19 abril 2017
--- Mi hijo mayor---
Esperando
Passei noites e noites seguidas da minha infância, dependurada na janela do meu quarto, espiando aquele homem misterioso que só eu via, sentado num banco de madeira, de costas para mim.
Minha mãe, meu pai e meus irmãos diziam que além da minha janela havia só uma mata fechada, e papai recomendava que eu nunca me atrevesse a ir até lá, pois poderia ser atacada por algum animal feroz ou picada por uma cobra. Reafirmava que não havia homem nenhum sentado ali, e que se alguém quisesse passar uma noite lá teria que fazer uma fogueira para espantar os animais e também se aquecer do frio que fazia ali no topo daquele morro.
Eu não me conformava, aquele homem já fazia parte da minha vida, esperava anciosa a chegada da noite e assim que escurecia, me enrolava nas cobertas, subia numa cadeira e ficava lá dependurada, observando-o e esperando que pelo menos ele virasse o rosto e me visse, e quem sabe até acenasse para mim, até que mamãe entrava no quarto, me dava uma boa bronca, me colocava em minha cama, acariciava meus cabelos, me ensinava a rezar, me dava um beijo de boa noite e eu dormia.
Às vezes meu sono era tranquilo, em outras, tinha pesadêlos. Onças e cobras me atacavam e ele me tomava nos braços e me carregava na escuridão, eu me agarrava ao seu pescoço e me sentia protegidada. Ele me levava de volta pra casa, me deitava na cama, beijava a minha testa e saía pela janela. Eu acordava, a janela estava fechada, a cortina estava fechada, eu estava sozinha no quarto. Abria a cortina, o dia estava amanhecendo e uma névoa embaçava a minha visão. Quando o dia clareava, por mais sol que fizesse a névoa não se dissipava e uma parede branca separava ele de mim. Eu seguia a minha vida de criança, brincando, estudando, ajudando minha mãe e esperando a noite chegar.
O tempo foi passando, eu fui crescendo, não me contentava mais em ver somente o vulto daquele homem, a vontade de ver o seu rosto foi crescendo também. Eu queria vê-lo chegando, vê-lo de frente e mais que isso, queria que ele me visse, que soubesse da minha existência.
No dia do meu aniversário de quatorze anos, quando cheguei à janela , vi pequeninas luzes, pareciam pirilampos, que iam se acendendo uma a uma, se multiplicando a medida que a noite ia caindo. Fiquei perplexa com aquela visão, o vulto do homem apareceu, ali sentado, no mesmo lugar, só que não estava estático como das outras vezes, sua mão direita se movimentava e era dela que os pirilampos saiam e eram jogados aos punhados morro abaixo. Fiquei mais encantada ainda, com aquele homem que tinha o poder de iluminar o mundo e que iluminava as minhas noites e a minha vida.
Porém, quando o dia amanheceu, a tristeza tomou conta do meu coração, papai resolveu mudar para a cidade, arrumara um novo emprego e partimos na mesma semana.
Agora moramos aqui embaixo, não vejo mais o vulto do meu amigo, não tenho mais pesadelos com onças e nem cobras. Todas as noites olho para lá e não o vejo, somente os pirilampos caem todas as noites, durmo com a janela do meu quarto aberta esperando que ele entre de mansinho e fique comigo até o dia amanhecer.
Dolores Fender
26/04/2017