Poema para quem partiu sem olhar para trás
Eu vi um lar nos teus olhos cansados,
uma luz de promessas a que dei nome.
Plantei no teu peito o meu mais fundo abraço,
e mesmo assim, partiste.
Falei de filhos —
com as mãos limpas, com a alma erguida.
Quis ser o que o mundo tem de mais terno:
um pai, um homem, um abrigo.
Mas ouviste os meus anos como se fossem ruído,
como se a idade pudesse medir o amor.
Comprámos silêncio, depois de tanto sonho.
Fiz da tua sombra uma casa,
e da minha vontade um alicerce.
Tu disseste "tempo",
mas já eras ausência.
E mesmo assim,
nos salões de música e de dança,
teu olhar busca o que perdeu:
não é ciúme, é espelho partido.
Vês em mim aquilo que deixaste —
e já não sabes porquê.
Eu sigo, com a poeira dos dias,
com a memória de um beijo que não volta.
Mas também sigo com a certeza
de que o amor,
o verdadeiro amor —
nunca foi medo.
Foi meu
Bruno Alves