No horizonte, um cacho de carinho,
Que linda a tarde sobre o mar,
Lá vai o sol seguindo como um raminho,
Sobre as vagas... seus raios a derramar.
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Diante delas, desenha asas que incendeiam,
As maçãs do rosto da areia molhada,
E, sobre mim, o oiro se esbraseia,
Deixando a minha visão encandeada.
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E eu, como uma frágil garça voando,
Vou dormitando sobre os céus abençoados,
Por ora, meus olhos vão lacrimejando,
Nascendo lagos nos meus lábios gretados.
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As suas mãos, delicadas, milagrosas,
Humedeceram minha boca ...pela metade,
E ali, nasceram cravos, nasceram rosas,
Ao fim da tarde, naquela praia, deu-se um milagre .
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Cristina Ivens Duarte-14/03/2017
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De vez quando, vem-me um verso ao pensamento,
Como uma brisa que sopra, leve, refrescante,
Mas, quando eu vou escrever, ele voa como o vento,
E em meu corpo, minhas mãos, uma dor penetrante.
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Quanto mais penso, não sei o que dizer,
E então, penso na dor que guardo no coração,
Num relance, sinto a morte a querer descer,
Escoando palavras, de luto, e de emoção.
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Um cheiro adocicado, imutável, a sangue,
Que enlouquece de prazer, o meu coração aberto,
Contraindo-me, pedindo que, nunca estanque,
Uma hemorragia mágica, talvez, não sei ao certo.
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E o véu dos meus sentimentos será preto,
Desvendando os meus tempos de solidão,
Escrever, será sempre com tormento,
Esvaindo-me em versos pelo chão.
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Cristina Ivens Duarte-12/03/2017
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Choro De Felicidade
Nos seus olhos vi duas lágrimas a rolar,
Como um extenso mar, calmo, sem fim,
E nas ondas havia algo a flutuar,
Tão valioso, tão branco, como o marfim.
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Era choro de felicidade de tanto amar,
Escorrendo cada uma, como pérolas lustrosas,
Descobrira um tesouro no fundo do mar,
Que brilhava, como finas pétalas rosas.
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Encontrara seu amor que estava perdido,
Aquele que talvez, agora a fizesse feliz,
Um tesouro há séculos escondido.
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E as lágrimas que eram de alegria,
Tornaram a sua face tão luzidia,
Depois de tanto tempo a viver infeliz.
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Cristina Ivens Duarte-07/03/2017
Eu não tinha este rosto de hoje,
Tão triste, tão vago, tão magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio tão amargo.
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Não consigo bradar o meu peito,
Que por frieza, engano e distancia,
Morre, mirra, putrefeito,
Por ausência, e tamanha inconstância.
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Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil,
Que no espelho ficou perdida,
A minha sombra táctil.
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Compreendi que muitos amigos que fiz,
Não me fizeram nada, além de inquietude,
Nem sequer saber o que é ser feliz,
Nos caminhos desta vida...eu soube.
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Antes que as mágoas me façam sangrar,
Nestes versos eu choro em palavras,
Em pranto me ponho a desabafar,
Lágrimas das minhas lavras.
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Cristina Ivens Duarte-03/03/2017
De tão longa que é a noite, ela me inunda,
De um rosa escuro, sentindo-me transportada,
Para uma cor tão linda, tão profunda,
Aonde a dor... não me dói nada.
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Minha alma alcança a leveza das penas,
E é tão pura a paixão...que me afundo,
Na sua graça e macieza ao vê-las,
Tocando na minha nudez por um segundo.
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A noite sossegada e infinita,
Segreda-me palavras excitantes,
Que as auréolas das minhas rosas tão bonitas,
Arrebitam os meus seios circundantes.
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Com sorrisos, com lágrimas de preces,
E a fé do meu amor ingénuo, a norte,
Para toda a vida se Deus assim o quisesse,
Amaria as penas, até ao fim da minha morte.
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Cristina Maria Ivens Duarte-14/02/2017
Entre os teus braços, este momento é da gente,
Tudo o que resta não importa , estamos sozinhos,
Chegou a hora de nos entregarmos docemente,
Momentos de pura paixão e, longos mimos.
*
Abraçados no nosso próprio mundo do eterno amar,
Ninguém entra, senão os nossos carinhos,
Arfando, deixando a nossa noite sem ar,
Matando a saudade aos pinguinhos.
*
Nosso momento é de intensa extasia e prazer,
O mar invade os nossos corpos velozmente,
Deixando os peixinhos a morrer,
De sede do amor que a gente sente.
*
Cristina Maria Ivens-11/02/2017
Creio que a vida é um imensurável desafio,
Dias em que nem sequer valeria a pena viver,
Não fossem as melodias entoadas pelas ondas de um rio,
Cantando no meu leito...o quanto é cedo para morrer.
*
Mas a minha vida escoa como os dias,
E eu vou definhando como o sol poente,
Até chegar ao fim das minhas alegrias,
Uma a uma, em contagem decrescente,
*
Tudo por causa desta minha inquietação,
De viver a vida descontente,
De infortúnios e desilusão.
*
Eu sei que um dia hei-de partir,
Ainda que seja lentamente,
Vou continuando a viver a fingir.
*
Cristina Maria Ivens Duarte 9/02/2017
Em tempos alguém me amou,
Tornei-me cúmplice do amor,
Um sentimento que brotou,
Com o aroma de uma flor.
*
O dia era lindo e sereno,
Tal e qual um paraíso,
O meu coração de tão pequeno,
Badalou que nem um guizo.
*
Os pássaros debandaram,
Alertando as cotovias,
As árvores abanaram,
Como lindas melodias.
*
O sol ficou expectante,
Com o bailar das folhas,
Pareciam diamantes,
Como os olhos de uma rola.
*
Cristina Maria Ivens Duarte-1/02/2017
A vida por vezes prega partidas,
Tem atitudes de muito mau gosto,
Bate à porta de forma repetida,
Deixando-nos cair em desgostos.
*
Acredito que o faça sem pensar,
Afinal a vida é uma criança,
Gosta muito de brincar,
De nos tirar a esperança.
*
Também gosta de dar rasteiras,
Rir-se dos nossos trambolhões,
Diz que é a única maneira,
De aprendermos as lições.
*
Embora as suas atitudes,
Nos façam sofrer bastante,
Vê-mo-la com outra magnitude,
Sem ser de uma forma ignorante.
*
Faz de nós seres mais cautelosos,
Pensando muito antes de agir,
E os nossos corações desgostosos,
Durante a noite conseguem dormir.
*
Depois de a face cheia de estalos,
Que vida nos dá, para nos acordar,
Ficamos com alma com tantos calos,
Que os nossos sonhos, têm aonde se deitar.
*
Cristina Maria Ivens Duarte-1/02/2017
Quando o dia finda, o infinito se levanta,
A luz do sol descai sobre as searas,
Tricotando nelas uma graciosa manta,
Com o joio do dia, da tarde, e das aparas.
*
Com as mãos, afasto, invado os meus credos,
Auscultando o universo com toda a plenitude,
Laminando as searas pelos meus dedos,
Recordando a vida que me fora tão rude.
*
O meu corpo que era tão lindo, tão majestoso,
Se encosta ao sol também todo choroso,
Submerso agora na infinita solidão,
*
E o céu que ainda nem sequer mostra a lua,
Faz parecer que a minha alma está crua,
Me transportando para outra dimensão.
*
Cristina Ivens Duarte-13-01-2017
Caía uma chuva leve e miudinha,
Ocultando nós os dois, o sol e a lua,
Eram gotículas de uma cor purpurina,
Despindo o nosso amor...ali na rua.
*
Ninguém viu, nem soube o que aconteceu,
Quando tuas mãos no meu corpo deslizaram,
Vi milhões de bolinhas coloridas no céu,
Que no êxtase descontrolado arrebentaram.
*
Eram explosões de choques dentro do meu ser,
Abriu-se no meu corpo um leque de prazer,
Nada igual na libido sentida.
*
Meu coração pulou ouvindo o teu chamado,
Declamando versos ao teu corpo adorado,
Eternizando uma magia única na vida.
*
Cristina Ivens Duarte-17/01/2017
Nos seus passos, ela mostra fragilidade,
Seu chão parece ser de textura fina,
Com leveza, e uma grande suavidade,
Ela caminha sobre a densa neblina.
*
Tudo é vazio, insípido, e incolor,
Seu coração está desgastado de saudade,
Ela penetra, ausculta, agarra, invade,
O espaço com o átomo do amor.
*
A dor que a contorce é tanta, tanta,
Parece a noite quando se levanta,
Deixando os olhos a estagnar.
*
E o cosmos sentindo compaixão,
Presenteia-a com uma linda visão,
Da sua imagem no chão a brilhar.
*
Cristina Ivens Duarte-5/01/2017
A cabana situava-se entre um arvoredo,
Vivíamos como duas pombas num pombal,
Unidos pela aliança que tínhamos no dedo,
E pelos lençóis da nossa cama de casal.
*
De manhã, erguia-mo-nos muito cedo,
Com o cantar de um lindo pardal,
Para cuidar da casa, e do nosso enxoval,
E ele lavrar a terra, e podar o vinhedo.
*
Éramos só nós dois, vai dai um belo dia,
Passou a primavera com muita alegria,
Como quem passa pela primeira vez.
*
Bateu à porta, entrou, ah! não me lembro bem!
Recordo-me que apenas ouvi a palavra Mãe,
Éramos só nós dois, e passámos a ser três.
*
Cristina Maria Ivens-29/12/2016