Desapego

Sigo o viver esperando o que há de vir...
Meu coração é um livro velho todo enrustido
Retrato nos olhos o meu sentir...
Escrevo em versos o que tenho vivido.

Num labirinto de saudade e incerteza
Tentando todas mágoas esquecer...
Na solidão sou poeta com a certeza
Que se chorar poderei esmorecer.

Hoje, envelhecida vejo o amor,
Como uma dádiva linda...divina!
Sinto - me abraçada por um fervor
E nesse fervor está a luz que elimina
Toda caminhada tão cheia de dor.

Meus olhos estão secos pelo pranto.
Hoje me abraço com gratidão,
Pois, nessa estrada sofri tanto
Não sinto mais, por nada, ilusão!

Márcia A Mancebo

Sonhadora

Sem brida, sem freio, cativa não sou
Sou livre qual pássaro na natureza
Ninguém me pergunte se fico ou se vou.
Pois, sou sonhadora e sigo com certeza
Que a vida é feita de encantos e beleza.

Pode parecer utopia a alguém
Que carrega na alma somente a incerteza
Que não sonha e não acredita também
Que para ser livre tem que ter destreza.
Sonhar...transpor barreiras, ir longe... Além
Onde a liberdade sobrepõe a incerteza.

Onde a nuvem se chega com ligeireza
Num voo certeiro esquecendo - se das horas,
Pensando somente com muita nobreza
Que o tempo é feito do instante, do agora.

Eu deixo a cabeça seguir sem ter rumo.
Pois, meu coração sabe bem o que quer
Não é insolente, é maduro, tem prumo
Entende que sou sonhadora e mulher.

Márcia A Mancebo
03/10/2021

Ah, tempo!

Veloz é o tempo que ao passar me tortura
Trazendo pra mente lembranças felizes;
Dos anos que não conhecia a amargura
Somente o viver com cores e matizes.

Das horas infindas... idílio... carinho.
Do abraço apertado, do beijo no rosto;
Das noites de amor veladas no ninho,
Sem rusgas, ciúmes, sequer um desgosto!

Ah, tempo que passa, traz - me agora alento!
Careço viver aceitando o presente
Sem recordações sem ter no pensamento
Aquele viver de desejo tão quente.

Pois, hoje não sinto os anseios de outrora
Meus braços cansados não alcançam o abraço
Os olhos perderam o brilho da aurora
E de recordar já não sei mais que faço!

Márcia A Mancebo
14/10/2021

Sozinha

Silêncio assolando outra vez meu espaço
Sozinha caminho sem rumo...sem norte!
No céu uma estrelinha, um risco, um leve traço,
Embaça a visão e lastimo a sorte.

A lágrima desce e meu corpo, ah, me abraço!
O medo me toma e, como temo a morte!
Com força ao passado me prendo, me enlaço...
Ninguém a meu lado, preciso ser forte.

Ser forte, pois, a solidão me acompanha
Chibata sem dó todo corpo alquebrado
Eu choro ao sentir que meu ser só apanha...
Que sina tão triste ter que seguir só
Com restos das cinzas que vi virar pó.

Ausente estás nessa hora sublime
Que meus anseios procuram os teus
E meu ser saudoso e cansado redime
Se culpa entendendo, perdão, só de Deus!

Márcia A Mancebo
13/10/2021

Mundo encantado

E quando vem à mente aquela saudade
Da casa na serra enfeitada com flor,
Do aroma espalhado a trazer liberdade
Eu voo pra longe tal qual um condor!

Seguindo o impulso do vento, a esperança
É encontrar o amor... O sonho dourado,
Aquele sentir que sempre se alcança
Se com vontade mudar o traçado
Rumar para casa na serra com flor!

Somente ali encontrei segurança,
Aprendi que a alegria tem cor e som...
Que a fidelidade se faz co'a aliança
De almas unidas num só coração.
E foi lá na casa da serra que o amor
Me fez compreender do viver a lição.

E nessa lição com a vida aprendi
Que o sofrimento tem gosto de adeus.
Pois, quando deixei o lugar que nasci
A casa da serra tão cheia de flor,
E o ar respirado provinha de Deus,
Jamais encontrei o que um dia perdi:
O mundo encantado que por tempo vivi!

Márcia A Mancebo
14/10/2021

Meu universo

Meu universo é rodeado de poesia.
Nas árvores floridas… no anil do céu,
Nos raios do Sol espalhados no dia,
No pensamento que me remove ao léu…

No sussurro do riacho cristalino,
Na grama tão verde lá do jardim,
No pulsar do meu coração menino
Cheio de amor, traz tanto encanto a mim ...

No morro que ao longe esconde o sol;
No arco-íris iris depois da chuva intensa.
Na noite que adentra pós o arrebol;
Na lua prateada que me deixa tensa.

Na inspiração que verte nesta hora
Como se balbuciasse ao meu ouvido:
— Chegou o momento, minha senhora
Relata em versos os instantes vividos!

Márcia A Mancebo

Cumplicidade

Que seja para sempre venturosa
A paixão que juramos para nós
E que tenha a beleza de uma rosa
Qual burburinho do rio na foz.

Que esse enlace nos leve ao infinito
E cada gesto só demonstre amor...
Juntos teçamos de um jeito bonito
Esse enlevo que é cheio de fervor.

Que a peregrina nuvem nos dê luz
Tão precisa pra benção de uma vida
Que a faceira atração que nos seduz
Faça que eu seja tua preferida.

E brando seja nosso idílio amor,
Qual onda quando a praia vem molhar
Que entre nós jamais exista furor
E sim, cumplicidade em nosso olhar!

Márcia A Mancebo
18/10/2021

De repente...

De repente os sonhos pelo ar voaram
Deixando um vazio em minha alma criança
Meus olhos de lágrimas inundaram
Senti que nublou toda minha lembrança.

Me vi tão sozinha vagando na vida
Por ruas e becos jamais percorridos.
Qual fantoche andando pelas avenidas
Co'a mente ofuscada, com tudo esquecido.

Parei pra pensar o que havia perdido
Ouvindo o cantar do vento ligeiro
Sem esperar aguçou meu sentido
E um medo chegou perturbando meu ser...
Ali tão perdida de andar dia inteiro
Que faço, pergunto, pra sobreviver?

A dúvida insana encheu - me de tédio
E sem coragem no passado voltar
Deixei que o choro fosse um remédio
Para cada passo da estrada apagar...

Márcia A Mancebo
13/10/2021

Desabafo

Se te amar é meu destino
Morrerei por ti meu amor
Seguiremos clandestinos
Com anseios, com fervor.

Em teus braços desalinho.
Perco o medo de sofrer
Vejo o mundo cristalino
Em teus braços vou morrer.

E transpondo mil barreiras,
Vou seguindo sempre em frente
Quero ser a companheira
Tua amada confidente.

Quero ter toda certeza
Teu segredo guardarei
Para não sentir tristeza
Dos momentos que te dei.

Márcia A Mancebo
08/10/2021

Elixir de alegria

As minhas crianças não crescem jamais!
São elas que levam - me viver nos dias
Lembrando - as sigo dando fim aos ais
Trazendo à face imensa alegria.

Então a memória vai longe buscar
Aquele calor que no abraço existia
Meu Deus como é bom dos netos recordar...
Parece elixir, uma poção...a alquimia!

A mágica nítida levando o tédio
Enchendo o espaço com luzes... com cores.
Curando as feridas é qual um remédio
Unguento abafando a vida com flores.

Assim envelheço repleta de anseios
Lembrando dos netos os frutos dos filhos
Navego no mar dos meus devaneios
Sentindo perfume na via que trilho!

Márcia A Mancebo
10/2021

Cálice sagrado

Desejo ardente que corrói a safena
Sufocando minha alma de tanto ensejo
Fazendo da vida harmoniosa arena.
Idílio interminável para nós, vejo.

Me perco a pensar em teu imenso calor!
Quisera que o mundo não tivesse fim
Que desde o amanhecer exalasse da flor
O perfume suave por todo o jardim...

Tudo que me entrega tem gosto e sabor.
Recebo qual cálice dos deuses sagrados.
Em troca ofereço todo o meu amor
Que é puro e tão cheio de beijo guardado.

Márcia A Mancebo
11/10/2021

Nascer da manhã

Flamejante o sol aparece no dia
Clareando o prado com multicores
Trazendo alívio pra alma que em agonia
De cansaço não sente o cheiro das flores.
Que abrolham tão belas trazendo estesia.

Assim é o nascer da manhã no momento
Diante de tanta beleza o bendigo
Meu ser divagando segue em pensamentos
Que a bailar consegue encontrar um abrigo.
Me abrigo na poesia...Pomposo alento!

E o dia segue infinito ao entardecer
Deixando no céu um arroxeado lindo
Tão belo que a noite ao resplandecer
Faz - me encantar com a natureza e a brindo!

Márcia A Mancebo
24/09/2021

Interrogações

Às vezes me pergunto onde irei chegar
Seguindo essa trilha deserta e sombria
Onde as pedras impedem meu caminhar
E o vento levanta um pó nas manhãs frias?

Um pó que encobre os meus olhos tristonhos
De falsa esperança numa curva vã,
Onde o sonho um dia lindo e tão risonho
Esvaiu - se ferindo minha alma sã!

Esse palmilhar tão sozinha, arrepia.
Machuca meus pés com cruel navalhada
Não vejo ninguém nessa rota vazia.
Nesse ermo caminho estou desamparada.

Ingrato destino sem margem e atalhos
Com interrogações sem serem decifradas
Com pouca beleza sem pássaros nos galhos
Me indica o percurso a seguir nessa estrada!

Márcia A Mancebo.
09/08/2021

Oh, ser errante!

Segue cabisbaixo a clamar piedade
E nas noites apressa o passo, vai adiante
Não se esconde mesmo, não tendo liberdade.
Segue co' a face rubra, co' a alma errante

Vive a se perguntar: que será
doravante?
Se perde a pensar na sua idoneidade
Segue cabisbaixo a clamar piedade
E nas noites apressa o passo, vai adiante.

Enfrenta o viver mesmo sem ter vontade
Carece coragem de agora em diante
E do passado não ter sequer saudade
A vida cobra alto preço, é humilhante.
Segue cabisbaixo a clamar piedade.

Márcia A Mancebo
07/10/2021

( Itapeva, São Paulo)

Terra Querida

Lugar  tão bonito, repleto de cores
Exalam perfume de rosas pelo ar
Aqui tem um prado verdinho com flores
Nas tardes bem quentes costumo deitar.

Me deito no chão e me ponho a pensar:
Cidade tão bela me oferta lazer
Há tantos lugares pra se passear
Há ruas e praças, despertam prazer.

A velha paineira presente de Deus!
Beleza estampada na mata florida
Inspira o poeta, mostrando que o adeus
Parece uma tela com cores tingida.

Cortejo-a. É meu lar, o lugar que nasci.
Com pássaros livres no ar a voar
Imagem na mente retenho daqui.
Bendigo esse torrão que orgulho me traz
Como não amar essa terra querida
Tão cheia de vida que me satisfaz?

Márcia A Mancebo
Setembro de 2021

Mulher sem saudade

O toque do interfone insistentemente
Causa uma surpresa te ver outra vez,
Depois de tantos anos vens novamente
Procurar nos meus braços o que desfez.

Volto ao passado sem minha vontade
Lembrança daquele dia me assedia
Vejo aquela menina na flor da idade
Cativa do acalanto e da fantasia

Depois a partida sem necessidade
Fiquei sozinha sem norte e sem luz.
Com os anos tornei - me mulher sem saudade
Co' a vida a meus pés que agora reluz.

Hoje vejo o mundo não co' o coração
Sou livre de caprichos e falsidade,
Sou qual um barco solto na imensidão
A maré que aporto é mansa sem ansiedade.

O que vivemos ontem tudo acabou
Desejo nenhum me assola no momento
Nosso tempo não tem volta... Passou.
Pretendo envelhecer em paz, sem tormento!

Márcia A Mancebo
06/10/2021

Bela estação

Primavera chegou tåo radiante
Chamando a atenção para as belas flores
Trazendo o sol tão lindo e tão brilhante
Que até minh'alma se curou das dores.

Banhei- me na água doce dos candores,
Fitei na noite estrelas cintilantes.
Na lua prateada revi amores,
Sonhos irrealizados... Não frustrantes.

Senti no ar o olor da bela estação,
Senti estesia, tão grande emoção
Que fui tomada por paz abundante!

Paz, de estar de bem com a natureza
De poder vislumbrar com a beleza
E do caminho seguir adiante.

Márcia A Mancebo

Sensibilidade

Versos que vertem duma inspiração
D' uma folha verdinha delicado caída.
Caída de um pé de rosa em botão
Tão linda, colorida, imaculada!

Olhar que ao ascender à sensibilidade
Em tudo que vejo traz o encantamento,
Aguça, de escrever a minha vontade
Contar com detalhes os meus momentos.

Dizer da beleza do meu viver,
Da felicidade que há em meu ser,
Da fé que não deixa - me esmorecer,
Ter na mente a esperança, hei de vencer!

São versos que não me deixam mentir.
Que o encontro por onde eu caminhar
Transponho - os para o papel sem sequer fingir
Me faz cada dia mais a vida amar!

Márcia A Mancebo

Nesse instante

Nesse instante silente da saudade
Me embriago ao lembrar do nosso amor
Me abraço pra sentir o teu calor
Voo alto e sonho ser realidade.

Mas, aos poucos vem à tona a verdade
Um frio me apavora com fervor
E tremendo de medo vem pavor
Me açoitar, me tirar a idoneidade.

A esse triste silêncio me ofereço
Como se me ofertasse seu regaço
Como se me enlaçasse com teu braço.

Então penso: que pago um alto preço,
Abandonar quem me quis. Que maldade!
Pra hoje viver de culpa sem piedade.

Márcia A Mancebo
03/10/2021

Labirinto da saudade.

Às vezes sínto-me um barco... perdida.
Com a mente a construir versos,
Imagino-me em diferentes universos
Abandonada, calada e esquecida...

As nuvens cobrem -me durante o día,
Agasalham-me do frío e do vento
E eu, adentro em meus pensamentos
Vejo ao redor águas mansas... calmarías...

Esse sentimento triste aborrecido
É por faltar-me o amor, que partiu,
Velejando tal barco, o mar o engoliu
Mas, a mente o retém como querido.

Quando esse sentir chega e me invade
Ouço a canção que compôs para mim
Olho distante sem direção e sem fim,
E mergulho no labirinto da saudade...

Márcia A Mancebo. (23/07/18)