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PRAIA SEM NOME

Caminhei na praia sem nome
Imerso em pensamentos íntimos
Tão íntimos que são só meus...
Jamais os partilhei
Vi com prazer as ondas beijarem a areia
As milhares de criaturinhas coleantes que o mar descobriu em seu movimento
Tão apegadas a uma vida tão breve
É breve a vida do homem também
Cem anos, oitenta, noventa, não importa...
E sempre breve
Ouvi ao longe a gaivota grasnar
É isto que fazem as gaivotas?
Elas grasnam?
O que sei e que não é um piado o som que ela faz
Na falta de conhecimento mais exato...
 Minhas gaivotas seguem grasnando
Observei o velho pescador puxando a rede
Peixes infelizes enredados nela
Dois cachorros três crianças seus três ajudantes e eu...
Únicas testemunhas
Um gesto secular no moderno século xxI
Um anacronismo?
Não creio...
A guerra lembra meu cérebro em voz distante...
Também é secular
E hoje mais do que nunca os homens fazem a guerra
No horizonte surgiu um navio
Corpo metálico e cinzento contra o céu cor de anil
Um feio petroleiro
Com feia, mas necessária carga.
O progresso acena para mim através dele
Triste por vezes
Surpreendente quase sempre
Mas implacável o progresso
Pequenas embarcações de pescadores dançam nas ondas furiosas
Um frágil equilíbrio do homem contra a natureza do mar
Um quadro de simples e magnífica beleza
Ainda é belo este mundo
Estranho mundo
As crianças nas dunas amarelentas
Gritando felizes em perseguições infindáveis
Idosos em lento caminhar
Parlamentando coisas de sua vida... talvez
Vi crustáceos medrosos fugindo pra água
O que teme você pequeno siri?
Teme a morte fora da água que respiras?
Ou só o homem que sempre traz a morte em si?
Caminhei na praia sem nome esta noite
Velho lugar de um tempo que já perdi
Acordei preso ao cheiro impossível da maresia
Atrelado à saudade imensa daquele lugar.

RODRIGO CABRAL

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MACIEIRA

A macieira negou-me seus frutos!
Não será agora tempo de maçãs é isto?
Podia jurar que as vi no mercado
Rotuladas separadas e etiquetadas
Demarcadas pesadas e arrumadas
Podia jurar que as vi no mercado sim!
Mas a macieira negou-me seu fruto
Logo a mim que a reguei dia após dia sem falhas
Cuidei do solo onde ela cresce
Afastei os pássaros tão danosos
E as lagartas?
Oh macieira não me diga que esqueceu as lagartas?
Bichinhos famintos e impiedosos a devorar tuas folhas
Eu as combati...
As afastei
Cansei achei que estava tudo perdido
Você viu não viu?
Mas no fim... triunfei!
Mas a macieira... ha esta macieira...
Não me deu seus frutos
Eu a vi La fora nas intempéries
Os ventos do sul salgados de mar a fustiga-la
A neblina baixa tomada de maresia a cobrir-lhe
Eu vi a tudo e me preocupei
Cuidei para que as folhas velhas e feias não toldassem o chão onde vive
Retirei os galhos mortos
Afugentei os cães que queriam demarca-la
Bem... afugentei na maioria das vezes ao menos
Bem sabes macieira que aqui ha cães demais
E eu tenho horas de menos
Algum gato vadio em teus galhos?
Eu o enxotava
Um único ninho de canário na primavera?
Confesso eu permiti
Pássaro belo quando livre o canário
Cantou pra você e lhe mostrou o milagre de sua vida nascendo
Fui zeloso macieira...
Mas a macieira negou-me seus frutos
E agora o que fazer com tanto tempo?
Todas as horas e dias e meses que entreguei a você?
Todo o meu pensamento positivo
Todos os planos e sonhos pra tuas frutas?
Sem Eva nem serpente no meu quintal
Sem madrasta má ou branca jovem por aqui
Guilherme Tell aqui jamais esteve
Éramos só você e eu macieira
E teus frutos
E os doces vindos deles
Quem sabe talvez algumas tortas
Issacc Newton teria amado tua sombra
Pra pensar em gravidade e quaisquer outras coisas em que ele pensava
Já eu sempre quis tão pouco macieira tão pouco
Só ler um pouco abrigado sob você
Colher em minhas mãos vez por outra uma maçã
Tanto te dei
Tão pouco pedi
Esperei...
Mas a macieira me negou seus frutos!
Na próxima certamente tentarei uma laranjeira.

RODRIGO CABRAL

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VORAGEM

 
 
Existe a voragem e existe a fome...
A longa espera não tem fim ...
Eu vi aqueles olhos espelhados nas vidraças
Chuva la fora...
Lagrimas aqui dentro
Densidade...
Fuga!
Solidão?
Não sei...
Existe a ideia de que você sabe...
O mais leve rumor de que você entende
Onde esteve tua força ?
Os dias nascem cansados agora
O sol não deslisa no céu ...ele se arrasta...
Existe a vontade e existe o desejo
Existe o tempo e existe o medo
Existe a dor...
Sempre existiu a dor...
Meus velhos ossos cansados sabem de tudo agora
Meus velhos maus hábitos mesquinhos sabem de tudo agora
Meu próprio desamor sabe de tudo
Existe o tudo e existe o nada...
Quero tudo o que houver entre eles.
RODRIGO CABRAL
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INESCRUTÁVEL


O inescrutável e teu lugar
Oh com que verdes e grandes assombros convives-te?
Tuas escolhas trouxeram de antes medos breves
Ainda mais breves se perderam teus sorrisos felizes
Neste estival engenho de palavras múltiplas
Céu azul de primavera anciã e esquecida
Quem te entende oh mistério dos mistérios?
Quem te entende?
Tudo que te rejeita o faz cego e sem rumo
Desejando ver o rubro do teu sangue
Desejando ver o lustro de tuas lagrimas
Desejando ser objeto do teu desejo
Desejando...
Você compreende que a estrada não tem fim?
Não leio nada nestes olhos quase velados
Alcateias, matilhas, bandos, manadas, com que andas afinal?
Em que andas?
O que ainda sacia tua fome assustadora?
O que ainda te assusta?
Havia um medo cercando o teu passado
Uma aura velha de perigo incompreensível
Você esqueceu?
Esqueceu o medo?
Esqueceu a dor?
Esqueceu os amigos?
Desdenhou os magos?
Riu dos profetas?
Como podes ter esquecido o medo?
Quem pode esquecer o medo?
Tantas perguntas emanando de você
Como um odor desprendendo-se do teu corpo
Duvidas... indagações que te cobrem inteira
Como tatuagens indeléveis em teu ser
E eu sinto que você não traz respostas
Não quer respostas...
Não trai respostas...
O mistério do mistério que te concebeu
E tão indefinível tão indizível e tão escuro...
Escuro como um fosso onde repousa a parada agua da eternidade
Negro como o buraco que engole astros no espaço
Sombrio... frio... E atraente...
Malditamente atraente...
Quem é você?
Maldita seja toda a aura toda a sedução que te cobre
Que te acalenta...
Quem é você?
Não ouso respostas...
Apenas trazida pela brisa em leve mantra repetido me chega à palavra...
INESCRUTÁVEL.

RODRIGO CABRAL

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FORA DE ALCANCE

Esta fora do alcance agora...
La... além de qualquer ajuda...
Esta tão quieta... tão assustada...
Há lugares em que você não pode ir
Há noites que não conhecem fim
O sol não voltara...
As estrelas não estão no céu
Para onde foi o firmamento?
Lagrimas são silêncio...
Tristezas são chagas...
Memorias...
Você não pode evita-las...
Ninguém pode
A montanha é sombria
A paisagem é gélida...
Do lugar que não era lugar...
Esperei a manhã que não viria.

RODRIGO CABRAL

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MEDO NA MINHA PORTA

Quando o que me cobre não é mais o simples céu do mundo eu tenho medo
Onde sobrevoam os aviões e suas bombas agora?
Quais são seus alvos?
Cidades?
Tudo é lúgubre expectativa
É quando não ouço mais o mar cantar que tenho medo
Navios singrando as ondas
Cortando distancias
Portam bombas?
Portam mísseis?
Trazem morte...
É quando não canta mais o pássaro que me assusto
O que o calou?
Quem ronda a floresta agora?
Quem se esquiva nas folhagens?
Não tem garras...
Tem fuzis...
E sabe usar
É quando nas casas ninguém mais fala alto que eu temo
Só sussurros...
Cochichos temerosos e olhares furtivos
Quem esta nas esquinas esta noite?
Quem esta marchando?
É quando sei que sabem de mim que tenho medo
De quem são os passos no quintal?
De quem é a sombra ameaçadora no alpendre
Batem a porta...
Fito o céu que me nega suas estrelas...
Tenho medo.

RODRIGO CABRAL

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PREFIRO AS TRILHAS

E qual é a novidade?
Estou perdido de novo...
Posso vagar pelas rachaduras da parede
Posso descansar sob a sombra do pinheiro
Eu posso sei que posso!
Sentindo o cheiro da relva
Conhecendo as criaturinhas que habitam meu gramado
Qual a novidade?
Se já não recordo do gosto do vinho?
Nem do gosto da noite...
Nem do sabor da irresponsabilidade
Sim irresponsabilidade tem sabor você sabe!
Não sabe?
Algo assim entre acriangustiadoce e urgenciadesesperoapimentada
Pode arder
Vais chorar
Vou chorar
E o que se diz do que arde?
O que arde cura não é assim?
E qual a novidade?
Se eu não sei por que os poetas são poetas?
Se não leio mais Neruda?
Nem me atrai mais Rimbaud?
Eles têm versos eternos eu sei que tem
Quantos bêbados os conhecem?
Terá Bukoswki os lido em algum boteco?
Entre o vinho e o uísque?
Sem cerveja... nunca cerveja!
E qual a novidade?
Se hoje compro livros obscuros em lojinhas populares?
Entre artigos de 1,99...
Nas cidades a cultura agora escorre por encanamentos estranhos
Alguns poucos cafés onde se pode respirar a antiga atmosfera!
Qual a novidade?
Se a escola cita Machado de Assis em suas obras didáticas...
E finge que Ginsberg não existe?
Não reconhece Dylan Thomas a menos que seja obrigada!
Quem quer saber?
Quem vai ver a exposição de arte?
Vasos sanitários pintados de prata!
Rabiscos em molduras brancas que cães espertos também sabem fazer
Fotos de pontos de luz em lugares vazios!
Isto é arte agora!
Quem vai ver?
Qual a novidade se o museu ainda esta La?
A mascara mortuária de Vargas!
Espólios de pobres nações indígenas massacradas só por estar La!
Por estarem no caminho!
Vestígios egípcios!
Esculturas Maias? Toltecas?
Quem se importa?
E qual a novidade se eu não sei disto?
Perdido de novo!
Longe de tudo o que me faria moderno e plenamente social!
Perdido de novo
Querem me achar
Dizem que o caminho esta diante de mim
Desvio os olhos
Prefiro as trilhas.

RODRIGO CABRAL

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PONTAS SOLTAS

Na historia que te contei  muitos fatos inverídicos
No relato que me fizeste muitas verdades não provadas
La do fundo veio o grito...
De tua alma torturada
Se a verdade não é fato...
E se o fato não pode ser verdade...
Não tem sentido...
Não tem sentido...
Pra onde nos levou este debate?
Que rumo traça nossa caminhada?
Ah eu sei meu jovem e no fundo também sabes
Caminhamos para o bar...
Que fumaça e bebida afoguem a pontas soltas de  nossa alma.

RODRIGO CABRAL

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Entre paredes

Às vezes eu ouço seus pedidos de socorro
De todos aqueles afogados no mar
Submersos sem piedade
Às vezes parece que entendo
Que sei o que querem assim tão quietos
Estão procurando uma fuga das sombras
E como correr durante todo o dia tentando escapar da noite que chega
E como sentir as pernas pesadas
Nem imaginam o quanto estão distantes
Saindo tão doidos pras trevas das ruas
Tão altos
Tão ébrios
Como se isso fosse o bastante
E fácil sentir-se o dono do mundo
Iludir-se com as redias imaginarias da própria vida nas mãos
Eles cavalgam nas veias os ácidos alucinantes
Perdem o contato com a existência
E acham que são reais
Como se não fossem importantes
Todos mudaram não são mais o que eram
Agora descansam como múmias apodrecidas nas soleiras das arvores
Veteranos jovens de batalhas perdidas
Às vezes eu os ouso rindo
Tão histéricos
Sem rumo
Gritando nas avenidas iluminadas
Gritando em silencio como sombras furtivas
Como mártires sem esperança
Tão mortos e tão velhos
Ainda aos dezesseis
Como o tempo passa depressa e terrível pra eles
E para-nos
Trancados na sela com as chaves das grades nas mãos
Mas não sabemos como usalas
Permanecemos presos
Só nossas quedas e que são diferentes
E nos juramos livres
Iludidos chocando-se contra as paredes
Às vezes posso ouvilos quebrando
Não e um som agradável
Eu sei o que esta acontecendo
E sinto medo
Vem vamos esperar como eles esperam
O inevitável já vem
Ele sempre chega
Ousa seus passos pesados no corredor
Como loucos
Como monstros
Como doentes
Somos todos assim iguais
Estamos chegando pra você também.

RODRIGO CABRAL

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QUE JEITO BOBO VOCÊ TEM!

Mas que jeito bobo você tem!
Assim menina
Assim mulher
Indecifrável como ninguém
Mas que força imensa tem teu olhar
Verde Amazonas?
Esmeralda?
Impossível escapar
Mas que tolice é esta que você faz?
Abre seu coração
Acolhe o meu
Engole o meu!
Acalenta
Amamenta
Apaixona
Mas que selvagem e intempestivo é teu desejo
Faminto e urgente
Forte e único
Mas que maliciosa covinha tem teu sorriso
Segredos escondidos ali?
Mistérios só seus!
Mas que malvada e tua atitude
Sabedora de mim
Atiçadora de minhas vontades
Faz-me esperar...
Manda-me esperar
Não tem pressa
Menina!
Ah menina!
Que jeito bobo você tem
Adorável
Não sei mais viver sem

RODRIGO CABRAL

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TROUXE UM POEMA

Tenho medo das perguntas que li em teus olhos
Tens tanta sede de saber...
Tão poucas respostas eu tenho
Senta aqui comigo vamos olhar o mundo
Diante de nos estende-se o bairro
As ruas denunciam vultos que se movem
Quem será?
Trabalhadores, crianças, velhos, poetas?
Eu sei que você quer tocar tudo o que puder
Também já fui assim um dia
Irrequieto...
Quase fugaz...
Risível...
Eu queria ter belas lições para compartilhar contigo
Mostrar-me sábio a meia luz destes postes de rua
Desfiar verdades como um ancião oriental de filme antigo
Mas não tenho isto aqui comigo criança
A verdade que esta em mim é a mesma que esta em ti
E a verdade você sabe é um fardo pesado, mas necessário.
Chega aqui mais perto e divida comigo estas tuas ideias loucas
Nada e absurdo o bastante sob a luz difusa do crepúsculo
É esta a hora que acreditar em fadas
Em duendes
Em  fantasmas
Eu não te trouxe as respostas para os medos que a vida te reserva  pequenina
Mas tenho tempo
Tenho paciência
E se quiseres ouvir...
Trouxe um poema.

RODRIGO CABRAL

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QUEM BATE?

Um baque surdo em minha porta...
Meia noite e faz frio...
Não é agosto !
Parece agosto...
Faz frio...
Mas agosto não é...
Se ha estrelas neste céu noturno eu não sei
Temeroso e lento
Com vagar me aproximo
Alguém la fora me espera
Na sombra incerta da noite
Quem precisa de alguém a esta hora?
Quem me quer?
A porta abre...
E la esta...
Olhar faminto...sorriso gelado...
É meu destino...
Me alcançou.
RODRIGO CABRAL
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OREU

Oreu veio ver a manhã que nascia
Quem te contou Oreu?
Como você sabia?
Oreu esperou na colina mais alta
Paisagem oriental...
Foi o que você viu Oreu?
Só na tua cabeça...
Oreu quer compartilhar seu coração na aurora
As lagrimas de Oreu nas rochas do novo dia
Ninguém testemunhou Oreu
Ninguém...
Oreu trouxe biscoitos de aveia
Tem chá na garrafa de Oreu...
Oreu armou seu sorriso definitivo
Pra quem Oreu?
Pra quem?
Oreu sabe que há vida no cosmo
O cosmo de Oreu
O lar de Oreu entre as estrelas
Oreu ficou preocupado com as sondas em Marte
Tens vizinhos lá Oreu?
Tens segredos?
Não vais contar...
Oreu partiu no começo daquele dia
Se foi o Oreu...
Sumiu Oreu
Inefável e silencioso
Ninguém te viu ir Oreu...
Oh Oreu... ninguém lembra.





Para descontrair uma pequena brincadeira que quem conhece Ajax o marciano logo vai notar.

RODRIGO CABRAL

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ALGUEM FEZ A ESCOLHA


Quem fez a escolha disse a verdade?
Quem fez a escolha?
Quem iniciou a jornada sabia o caminho?
Estradas vicinais, trilhas pontes...
Quem fez a escolha?
Quem pode esconder no fundo do olhar o não dito?
Na morada da serpente os frutos amargos
Nem céu nem terra
Turíbulos de fogo
 E medo?
Quem fez a escolha?
Quem sepultou os mortos leu a lapide?
Despedidas no baixo hemisfério do mundo
Algumas lagrimas
Nenhum uivo
Mas muitas matilhas
Quem fez a escolha?
Quem a acolheu o inocente tem bom coração?
Nenhum véu negro sobre o rosto?
Nenhum segredo?
Quem fez chover na segunda sabe o que é certo?
Observa nos altares das igrejas?
Quem viu o culto?
A noite é diáfana e triste
A foice que derruba o trigal já travou outras batalhas?
Coberta hoje de orvalho outrora de sangue
Quem fez a escolha?
Quem escreveu os livros importava-se com as mensagens?
Passava noites insones?
Universo infinito na mente
Estórias tormentos e sonhos
Quem leu Ginsberg sabe do que falo?
Quem entendeu Corso também...
Até Quintana...
Quem sabe?
Quem fez a escolha?
Quem escapou para a noite?
Quem conheceu as tardes silenciosas do sul?
O mar lançando melodias na praia
Canto de mil serias e mil marujos
Velhos e tristes lamentos
Caranguejo bêbado?
Quem fez a escolha?
Quem encontrou o poema no velho caderno?
Garranchos inescrutáveis em celulose amarelada
Tão efêmero em sua breve vida
Indelével nas marcas que deixa
Eu olho o céu nublado de junho
O vento litorâneo me cerca e açoita
É esta a vida que levo
Pergunto...
Quem fez a escolha?

RODRIGO CABRAL

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ELA DANÇA NA LUA ESCARLATE

Ela dança na lua escarlate
A serpente hoje sabe seu lugar
Suas curvas rubras vibrando na cadência da melodia profana
Toda pecado na noite mundana
Magos decrépitos a desejam
Gingados sensuais em suas ancas
Guerreiros ferozes também a querem
O oceano não pôde de tela
Também não o fizeram os desertos e as montanhas
Na cidade sem nome hoje nasce o indizível
A feiticeira das trevas cativa os incautos
Surgem as hordas da noite sem fim
De quantos escravos ela precisa?
Oh senhora o tempo estremece ante tua vontade
Nas terras do norte surgiram rumores
Lendas agora são contadas ao redor do fogo
Os nórdicos também já sabem dela
A dama impiedosa não quer mais esconder-se
Ela quer exércitos...
Quer bárbaros  ferozes...
Quer marinheiros bêbados...
Quer desejo fogo e morte...
Nas terras de Odin todos sabem o que esperar
As tumbas se abrem em terra crestada...
Estará loki em êxtase esta noite?
Haaa eu creio que sim senhora
O velho deus sabe o que tens...
O que trazes no ventre e nos seios
Ele aguarda...
No distante Egito não dorme esta noite o faraó
O pesadelo desperto sorri pra ele na janela
Nem  sete pragas cristãs nem profetas podem assusta-lo agora
Lemuria e Atlântida são só velhas memórias
Uma lembrança que a feiticeira não precisa mais temer
Ela dança na lua escarlate esta noite
Protejam seus filhos escondam suas mulheres e cerrem as portas
Nas asas do medo cavalgam os emissários da bruxa
Ninguém esta a salvo...
Ela dança na lua escarlate

RODRIGO CABRAL

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UMA FLOR NA MANHÃ

Quando a manhã chegou não trouxe presentes
Nas brumas da aurora só silencio
Só vestígios da noite que foi...
Matizes de cinza num céu inamistoso
Tempestade a caminho?
Pranto dos céus?
A manhã trouxe suas lagrimas
A manhã flagrou a desilusão
Garrafas vazias sobre a mesa
Velhas cartas testemunhando outros dias...
Outros tempos...
Antigos sorrisos que não vão voltar
Poemas inacabados num bloco manchado
Paginas de tristeza rabiscada
A manhã chegou e veio espiar sua dor
Veio ver o véu que cobre seus olhos
Testemunhar teu trôpego andar
Patético...
Nos cantos dos lábios vestígios ressecados de velhos sorrisos
Sorrisos mortos...
No jardim ainda aquela flor
Teimosa em vicejar
Descuidada, negligenciada...
Abandonada...
E ainda viva
No jardim ainda a flor que ele agora odeia
A manhã veio beija-la
Veio saudá-la
Maldita seja a manhã
Maldita seja a flor
Da janela pode vela no jardim
Tao pequena tão frágil
E ainda assim tão forte...
Oh flor ela cuidou de você
Oh flor ela te regou
Oh flor ela te amou
Oh flor diga, por favor, que mundo é este que a manhã teima em trazer de volta?
Que mundo é este que a jardineira morre e a flor permanece?
Visões de seu semblante no jardim
A delicadeza dos gestos...
O negro dos cabelos...
A vivacidade do olhar...
A manhã veio lembrar que ela se foi
E não vai voltar...
Ninguém volta
A manhã chegou e não trouxe presentes
Só certezas
Só dores
A flor viceja no jardim
Um homem morto de alma a observa
E espera.

RODRIGO CABRAL

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E VOCÊ?

E VOCÊ?
 
Eu nasci pra ver as coisas terminarem
Não construo começos
Eu protagonizo finais
Sou a chuva no fim do dia
A brisa que não veio
Sou a escolha que você não fez
Tão lucido,tão tolo e tão ardente
Sou o ultimo beijo na noite
Sou o ultimo verso no poema
O epílogo no fim do livro
O ultimo estrofe da canção
E você não sabe...
Não quer saber!
Eu nasci pra ser definitivo
Pra ver o ocaso de tudo
Pra ser o ponto de onde a frase não pode seguir
Sou a barreira,o abismo a parede...
O lugar que ninguém alcança
A lagrima que ninguém vê
A dadiva que ninguém conquista
Sou o fim...
Quem é você?
RODRIGO CABRAL
(primeiro texto inédito postado só no CPP...feliz por isto)
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Crussificados

A cada segundo uma dose
Eles dessem sempre ao fundo do poço
Eu queria saber para onde foram todos?
Por onde andarão suas escolhas?
Algumas garotas de olhares assustados
Não há mais nenhum navio ancorado nos seus portos
Muitas seringas... eles as trazem escondidas nas roupas
Espalhando pelas praças seus cheiros de loucos
Sempre chove em suas mentes
São eles inominados chovendo sobre a cidade
Os doidos gotejando nas casas de família
Seu filhinho será um deles ainda
Mendigos ajoelhados não esperam mais
Os rotos e imundos operando preces
O lixo falando profecias aos despossuídos
Os gritos ensurdecendo os becos
Acido de bateria correndo nas veias
Estão perdidos e não precisam ser encontrados
Cristos sem importância crucificados sem audiência
Eu os esqueço
Eu os esqueço.

RODRIGO CABRAL

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NA HORA DO CREPÚSCULO

Volto pra casa na hora do crepúsculo
O dia morre devagar a minha volta
Nenhum vestígio nenhum rastro sequer da luz do sol
O que me cobre é o céu noturno
O que me observa é a lua tão intima de Armstrong
Eu caminho... nem só de poeira automóveis e pessoas se faz minha caminhada
Eu posso senti-lo...
Posso vê-lo...
Quase posso cheira-lo...
A cada quadra vencida La no fundo eu vejo o mar
E o mar me vê
E o mar sabe... ah...ele sabe
Oh mar eu não me esqueci de você tenha certeza
Eu lembro de todas aqueles dias...
Sei que deves estar se perguntando é esta toda aquela saudade?
Ao longe na linha do horizonte eu vejo tuas ondas e sinto...
O vento me traz coisas marinhas
Ares de Mob Dick...
Mistérios de Berlitz...
Atlântida mística e teimosa...
Eu não esqueci...
Eu sei
Eu sei...
Oh mar não posso ir ate você agora
Simplesmente não posso...
O que a distancia não separa o cotidiano aparta
Você pode entender isto?
Se puderes me conta como...
Por que nem eu entendo...
Certa noite entre lagrimas eu te contei uma estória
Sei que ela ainda esta ai vagando no rugido de tuas ondas durante as tempestades
Quando em terras mais distantes sabes quantas noites passei acordado pensando em você?
Só a insônia por traz de meus olhos...
E nem um caderno pra mim...
Nenhum poema...
Eu voltei... eu voltei velho amigo
Gigantesco e tolo  oceano...
Eu tenho inúmeras novas estórias pra você
Vejo a vida em ângulos novos
Tenho agora pupilas verdes...
Eu voltei... acredite...
Apenas largue meu coração mais esta noite
E aguarde...
Na próxima tempestade...
No próximo nascer da noite...
Eu posso estar ai...
Vou voltar pra você.

RODRIGO CABRAL

Saiba mais…
CPP