9 semanas de ficção

Volume 2

         Parte V

                                  Desafronta.

          Era uma vez uma moça que perdeu o namorado por infidelidade. Ela resolveu desabafar suas mágoas em uma mesa de bebida. Procurou um canto sossegado do bar e pediu uma cerveja gelada.

          Naquele momento, era a única cliente, pois o dia tinha acabado de amanhecer. Uma cena triste, uma vez que uma jovem que começa o dia curtindo bebida alcoólica não é normal. O garçom teve que ouvir a sua história, pois ela queria desabafar. E, para completar a triste cena, ela começou a chorar, chamando a atenção dos curiosos que passavam naquele momento. Ela tentou enxugar as lágrimas com a alça de sua mini blusa. Foi aí que Lucinda chegou de repente usando um lenço para enxugar os olhos e, com calma, perguntou:                                                                                            

          - Por que você está bebendo tão cedo?

          - Fui abandonada, e não consigo viver sem ele. Você conhece o meu drama...

          - Vai ser difícil, pois Rodrigues não quer nem ouvir o teu nome.

          - Sei disso, mas estou sentindo muito a falta dele. Por favor, vá falar com ele. Seja a minha porta-voz. Eu te imploro. – Ela pediu quase caindo da cadeira.

          Lucinda teve que atender ao pedido da amiga e foi procurar o Rodrigues, mas antes conseguiu, com dificuldade, levá-la para casa.

          Rodrigues tinha um carinho especial por Lucinda, mas não gostou quando ela confessou que o assunto era sobre a ex-namorada dele. Ela insistiu e ele acabou concordando. Marcaram um encontro na beira da praia.

          Lucinda não foi preparada com traje de banho, pois só queria conversar, mas Rodrigues foi disposto a banhar-se. E antes de iniciarem a conversa, ele foi mergulhar enquanto ela ficou de longe apreciando-o. Depois que deu vários mergulhos, ele retornou e sentou-se ao lado dela, dizendo:

          - Pode começar.

          - Encontrei  a  tua  ex-namorada  jogada  numa   mesa                                                                                                          

de bar embriagada e chorando a tua falta. Uma cena ridícula.

          Rodrigues deu um discreto sorriso, como se estivesse gostando da notícia que acabara de receber. Depois resolveu falar:

          - Soube que alguns amigos falaram com ela, mas não conseguiu se explicar. Isso prova que ela teve culpa. Sei que não é de bom feitio falar dela, por isso estou evitando este assunto. Não dá para falar do que aconteceu sem lembrar-se do que ela fez.

          - Você ficou magoado?

          - Fiquei envergonhado, mas continuo quieto e confesso que gostei de saber que ela está sofrendo. Talvez o peso de consciência seja o culpado, pois ela deve estar consciente do que fez. Sinceramente, eu só quero viver em paz e esquecer tudo o que aconteceu, apesar de eu ter certeza que o destino dela é ficar sozinha. Principalmente se continuar assim, bebendo e chorando, nunca vai ter um companheiro.

          - Posso te fazer um pedido?

          - Claro!

          - Volte para ela...                                                                                                               

          - Não posso. Não confio mais nela, mas posso te fazer uma proposta decente.

          - Diga. – Falou Lucinda, curiosa.                                                                                                                                                 

          - Você fica comigo e nós juntos vamos esquecer tudo o que aconteceu de bom e de ruim. Atualmente, você é a garota que pode me completar.

          Uma proposta que Lucinda não esperava, pois, apesar de admirá-lo, sempre o considerou amigo. Respirou fundo e disse que era amiga dela.

          - Você já fez a sua parte, já tentou me convencer a voltar para ela. Agora é hora de cuidar de si própria. Você sabe que sempre te respeitei porque tinha um compromisso com ela. Agora tudo mudou... Não vejo motivo para olhar para trás. A vida continua.

          Rodrigues pegou a mão de Lucinda, como um convite para passear, e saíram caminhando na orla marítima. Ele, molhado, só de calção, e ela de vestido longo com um decote sensual que Rodrigues optou em ficar olhando de cima para baixo enquanto caminhavam, pois ele era bem mais alto que ela. Apesar das roupas diferentes, tornaram-se um casal bonito pela elegância como ela caminhava e pela simplicidade dele.                                                                                                                

          Lucinda não chegou a responder se aceitava a proposta dele ou não, mas estava se comportando como uma dama porque sabia que tinha que ter calma para não machucar a amiga e não sofrer também. No entanto, o seu coração estava dizendo sim, mas estava preocupada com a opinião alheia. Dizer sim era um direito dela, mas preferiu caminhar muito mais antes de tomar qualquer decisão porque a vida a dois depende, além de muita calma, de muito amor para poder superar todos os obstáculos e ter consciência de que o namoro serve para prepará-los para uma união perfeita, para não ter que passar vergonha, como a que Rodrigues passou, e para que não tenham decepções das atitudes praticadas precipitadamente. Viver bem e estar de bem com a vida depende de amor, comportamento, respeito e saber praticar o carinho como peça fundamental na relação a dois, assim como não ter pressa na hora da escolha. Lucinda sabia também que a proposta de Rodrigues tinha um pouco de vingança, mas também a culpa não foi dele. Ela, a sua ex-namorada, talvez tenha feito por merecer, mas ela, Lucinda, se não estava em condição de ajudar à amiga, também não podia julgá-la. Cada um sabe o que é melhor para si, mas fazer sabendo que pode arrepender-se é cometer erro grave, pois as falhas inconscientes são perdoadas e o pecador tem chance de uma nova oportunidade; mas os erros conscientes, por tentação, não são  dignos  de  perdão,  e  todos  precisam pagá-los e evitar cometer o mesmo erro duas vezes. Se ela não serve para você e ele não serve para ela, deve servir para alguém, mas isso não quer dizer que uma mulher, por ter todos os requisitos da beleza, um corpo perfeito, por ter classe, por saber se expressar corretamente, saber beber socialmente e por se apresentar sempre de forma elegante, não quer dizer que é a mulher ideal para todos. Vão-se os amores em busca de melhoras e fica a lembrança e a doída e triste saudade.

          Roger Dageerre.  

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Roger Dageerre

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Comentários

  • Muito bom seu conto, Poeta. Transmite uma bela mensagem também. Uma história muito bem narrada.

    Parabéns.

    Abraços

  • 71678188?profile=original

  • Bom relato. 

    Parabéns

  • Não se troca o certo pelo duvidoso. A consequência pode ser Fatal. Belo Texto. Parabéns!

  • Quando a confiança se quebra, é dificil resgastar. É que nem vidro quebrado, nunca fica igual depois de colado.

    Aplausos.

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