Aventuras Com Azeitona 3a E Última Parte
Incontestavelmente, eu gostava muito do meu primeiro carro “Azeitona” e possivelmente, jamais esquecerei as aventuras vividas com ele. Entretanto, a estabilidade melhorava a cada dia. Sim. A cada dia que passava eu estava melhor, melhor, infinitamente melhor. O desejo era grande de ter um carro mais potente, visto que o Azeitona apesar de ser uma carro semi-novo era 1.200. Eu já sonhava com a troca por um 1.300.
Certo dia, eu não estava filosofando (como Fedegoso filosofava), eu estava contabilizando.
Bate o telefone.
Era Adamastor que quase me deixou surdo com o berro que deu.
Você se lembra do Adamastor?
Foi dele que comprei meu primeiro carro
— Azeitona —.
— Carreira bom dia, como anda a sua fortuna e os dólares?
Conversamos por alguns minutos e Adamastor começou a me enrolar no cobertor da lei de Gerson,
isto porque,
amava levar vantagem em tudo o que fazia.
— Carreira, sei que você é um cara sofisticado e que gosta de coisa boa,
e desta vez, tenho um filé mignon pra colocar em suas mãos novamente.
Estou vendendo o fusca da minha esposa e como é “mosca branca”,
ele tem que ser seu kkkkkkkk.
Adamastor sabia que eu acumulava dólares e também, sabia da queda que tinha pelo fusca 1968 que estava com
5.000 quilômetros.
Zero.
Fechamos o negócio,
eu fiquei com dois fuscas na garagem.
Mas, entretanto, havia um delicado problema:
O que fazer com o inestimável
“Azeitona”?
O tempo passou e eu com o Azeitona parado na garagem.
Certo dia eu estava no famoso bairro do Itatinga e vi um fuscão branco brilhando no sol, o carro chamava atenção por sua imponência,
pelas rodas e pára choques (que futuramente eu viria a saber serem falsos).
Tinha uma placa vende-se,
eu em pé olhava o carro quando de repente um senhor alto,
forte de cor escura e com cara de malandro chegou e disse: —
— Gostou? Se sim ele é todo seu. O motor é 1.300, ano 1967, está todo equipado, prontinho pra ser vendido.
Enquanto o malandro do negão falava do carro, eu ia ficando enrolado no cobertor da safadeza do vendedor. Ele olhou para o Azeitona e disse: —
— Eu pego teu carro no negócio e levo comigo três mil pratas.
Parece que fiquei hipnotizado pela lábia do safado quando percebi já estava voltando pra casa dirigindo um carro nunca visto, sem procedência alguma.
Eu não estava feliz com o negócio feito,
isto porque,
com a compra do Azeitona foi totalmente diferente, pois, tinha histórico, tinha origem, eu via ele todos dias.
De repente,
pra minha decepção o câmbio do fusca começou raspar, até chegar em casa raspou várias vezes.
Resumindo,
eu não dormi aquela noite pensando num péssimo negócio que eu poderia ter feito.
Na manhã seguinte,
cedinho, eu já estava no meu mecânico de confiança.
Pensa, nas piores coisas possíveis, na má compra feita de um carro.
Meu mecânico Jair além, de mecânico é funileiro também.
Jair, deu uma olhada no carro falando: —
— Carreira, você comprou esse carro?
Infelizmente, sim, respondi.
— Mas, por que infelizmente sim?
Sabe quando você sente que fez um mau negócio?
É assim, que estou me sentindo desde ontem (momento em que peguei este carro).
Jair deu uma volta no quarteirão com o fuscão,
quando chegou sua cara não era nada boa.
Resumindo,
ele disse em alto bom tom: —
— Carreira tu comprastes uma encrenca, pra começar o carro foi batido várias vezes, e reitero:
tenho quase certeza que este carro foi capotado definitivamente, ele não é pra você.
Passa pra frente urgente.
Decepcionado comigo mesmo, visto que, não culpava o malandro Jorge
(nome do vendedor),
culpava a minha inexperiência e com certeza eu teria uma nova noite de insônia,
pois,
naquele momento eu sentia uma característica de um mendigo emocional, que é fazer pouco do muito que tem.
O Azeitona (delicioso carro) havia custado sete mil pratas com mais três mil pratas que voltei pro malandro, o capotado ficava em dez mil pratas.
Sai da oficina já com uma placa de vende-se.
Eu não tinha a percepção, mas, naquele dia,
eu me tornava um vendedor de fuscas.
Dentro de quinze dias eu vendi a “encrenca” por dez mil e oitocentas pratas.
Lucro, oitocentas pratas.
Nada mal.
Isto porque, ainda ficou uma lição pro resto da vida
P.S. O azeitona só trouxe-me felicidades, hoje me mata de saudade.
#JoaoCarreiraPoeta. — 13/02/2024. — 6h
Comentários
Caro amigo Dr. Carreira
Uma intrigante crônica, onde o menos ruim toma de assalto o que padece na vida.
Pelo andar da carruagem (já dizia o antigo) conhece-se no outro o que não vemos e sentimos em nós mesmos.
Muito bem elaborada e inspirada.
Parabéns
Abraços
JC Bridon
Bridon, gratidão pelo inteligente e insinuante comentário.
Abraços.
#JoãoCarreiraPoeta.
Você também enganou outro.
A vida é dessa maneira.
Um dia enganamos. Outro dia somos enganados.
Só ganhar, é o que queremos, nem sempre é possível.
Pobre azeitona!
Pooo Filósofa e "Fessora",
tu não perdoas nada hein?
Na verdade não é bem assim (pelo menos comigo),
eu vendi mais de cincoenta fuscas,
porém,
eu pedia para o comprador virar o carro do avesso, pedia para dar uma volta e se quisesse poderia levar no mecânico.
Assim,
me isentava de qualquer problemas futuros kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!
Te peguei hein kkkkkkk?
#JoãoCarreiraPoeta.
Eu sei que você fez o seu melhor. O último que vendi foi dito ao comprador o problema que havia. Ele aceitou e pagou a vista.
É assim, João. Há quem consiga resolver um problema mais fácil que o outro.
E o que pode ser muito para mim, não é nada para o outro.
É de praxe passarmos por um mecânico antes da compra, mas não mecânico indicado.