QUANDO A LEMBRANÇA COM VOCÊ FOR MORAR

 

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QUANDO A LEMBRANÇA COM VOCÊ FOR MORAR

Incólume juventude
Dos dias sem luz de espelhos,
Até que um poente ameno
Trouxe uma noite que viu
Meu rosto em outra face,
À feição do meu feitio.

Na madrugada, sozinho,
Num quarto estranho, fiquei
Deitado, a varar paredes
Com olhos largos e estáticos,
Para vencer labirintos
Sem barbante salvador
Marcando trilhas nos mapas
De dois esquivos amantes.

Ainda que o tempo apague
O brilho de algum setembro,
Fazendo escuro o jardim,
Não se apagarão meus rastros
Indo ao seu encontro em mim.

Lembro que adiantei os passos
Buscando o mítico lago,
Nascente do meu narciso
Abotoado em seus olhos,
Paixão na qual indiviso
Sensível de Inteligível,
O que é forma ou ideia.

Sonho? Fascínio? Destino?
Quimera.

Foi assim naquela tarde
Quando meu olhar espreitou
Por duas fendas douradas
As águas em que viria,
Mal chegando, já partindo,
O Amor envolto em luto.

Em tão breve travessia,
Pagou óbolo de prantos
– Passageiro de Caronte*,
Contou poucas alegrias
E dobrados desencantos.

(E.Rofatto)

(*Caronte: ente mitológico que transpunha a alma dos mortos para o mundo subterrâneo do deus Hades/Plutão)

 

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E. Rofatto

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Comentários

  • Meus sinceros aplausos pelo exemplar poema. Lindo!! Abraços.

    • Grato, Jennifer! Sua apreciação positiva me envaidece, pois admiro muito a sua produção também!

  • Quantas vezes ficamos a varar paredes em noite tranbordada de pensamentos sobre a exitência.
    Tantas vezes olha-se em volta e não se vê salvação, ou solução para a dureza da vida, mas se continua a jornada diante de sonhos
    que podem germinar jardins, às vezes o preço é alto sobre tudo o que desejamos. Fico me perguntado algumas vezes, será realmente destino? Será?

    Achei lindo e hermético.

    É, sempre, um grande prazer ler-te.

    Poema destacado!

    • Grato, Edith! Visita, comentário e destaque me lisonjeiam muito!

      Realmente a noite passada em claro só nos apresenta, com nitidez, o volume das perguntas que nos assolam - e as respostas tornam-se mais interrogações ("Será?").Entre os osnhos podem mesmo germinar jardins, como também podem crescer espinhos. Mas é assim a vida - e nessa hora lembro-me do "Eclesiastes": há um tempo para rir,há um tepmpo para chorar; há um tempo de plantar; há um tempo de colher..." Não haverá coonclusão (não deve haver!) - mas uma certeza deve nos acompanhar: tudo é ensinamento para quem se sabe aprendiz.

      Houve um tempo de amar, há um tempo para chorar, haverá um tempo, "quando a saudade com você for morar", para depurar. O que ficar é o aprendizado para nosso aprimoramento.

      Conversar com você é sempre um prazer imenso também!

       

  • Venho aqui para brindar com você esse poema produtivo. Um tesouro grande que a gente tem que guardar na memória e no coração.

    • Grato, Sam! Fico muito feliz que tenha gostado do meu texto e comentado-o sentimentalmente - inegável jeito de poeta!!! Bebamos, também, às muitas preciosidades que você nos oferece aqui na Casa!

  • This reply was deleted.
    • Grato, Rui! Sua leitura criteriosa é motivo de grande contentamento para mim! É um estimulo imenso ser lido e comentado por você, que se deteve em minúcias! Um forte abraço, meu amigo!

       

  • Manifeto aqui minha gratidão à Safira, que teve o carinho de ilustrar meu texto com a sua arte que sempre se encaixa na justa medida do que escrevo e quero transmitir! Obrigado, de coração, por mais esse belo presente!

  • Coração que grita as essências dos sentimentos, uma saudade que chora junto aos verdadeiros sentido de uma bela paixão

    • Grato, José Carlos! Seu comentário, expresso com fortes imagens, vem com alta dose poética e alegra-me!

       

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CPP