Urge eu partir, pra esquecer meu queixume, pois que frear tua lembrança é preciso! Na praia, as ondas bordam teu sorriso, e a brisa, leve, evola o teu perfume!
Olhando o céu azul te realizo, e, no poente, contemplo teu lume! Ando sem rumo, a dor Minh ‘alma assume, e a saudade, no horizonte, eu diviso!
Porém, na calma da noite, ao luar, revivo aquele tempo, singular, e me pergunto, aflito, entre dilemas:
Sossego a dor, que na mi! Alma estua, ou, então, crio, da lembrança tua, versos sublimes para meus poemas?
A tarde morre e triste a noite se avizinha... De novo estou só e na minh ‘alma se aninha a saudade imensa de teu rosto lindo, de teu corpo esguio... Busco escrever o que pediste; tento fugir do estilo pessimista e triste, mas meu peito só reflete d’alma intenso frio!
Olho o relógio que avança, caprichosamente, insensível, em compasso lento, cadenciadamente, a consumir, impiedoso, os sonhos da vida... E meu pensamento retorna ao momento, em que o destino me colheu em tormento a te olhar como velha conhecida!
Quiseste sempre ter meus versos. São teus... Pois se deles és a Musa, como dizer que são meus? Em todos, porém, te digo: -Ficou meu coração... Certamente tu dirás: -Que lindos! Quanta magia, sem saber que entre tanta poesia, és a única que eu queria ter na mão!
A vida é um baita quadro-negro onde o estudante, pra escrever seu hoje, com letras de nobreza, necessita esquecer a maldade e a torpeza que outrora lhe marcaram a vivência aviltante!
Se não lhe fosse dado esquecer a rudeza do ontem, sua escrita do hoje, inobstante qualquer esforço, seria desconcertante, qual um hieroglifo grafado na incerteza!
Por isso Deus lhe concedeu o olvido das vidas passadas, só ao mal circunscritas, e cujas lembranças nos seriam um tormento!
Então, pela Lei do Retorno, é atraído, em nova vida, a velhas peças reescritas, até cena final do aperfeiçoamento!
Perguntei nesta manhã à natureza que amanheceu coberta de tristeza, vertendo lágrimas de uma dor quase incontida...
De onde vem tanta dor?
Ela me respondeu num sussurro entristecido: - Vem de longe, de um mundo atrás já vivido, e que ousaste buscar nesta vida...
Mas, que estranho amor é este, sem fim?
Perguntei à tarde silente e serena que morria no fim do céu, lânguida e amena, matizando de vermelho o horizonte.
Desde quando habita em mim?
-Desde o primeiro entardecer no mundo quando juntos, em êxtase profundo, dois corações se separaram num instante...
E por que a tudo resiste?
Indaguei da noite resplendente que derramava seu luar resplandecente Sobre Minh ‘alma presa em desventura.
De onde vem esta saudade triste?
Disse-me a noite, de prata engalanada: -Almas gêmeas que se perdem na estrada, ficam escravas deste amor, belo e profundo. Pra se encontrarem um dia novamente, hão que nascer e renascer diuturnamente com muita renúncia no mundo!
Quis te buscar... Desvendar teu segredo... Por isso naveguei nos sete mares! Voei pela imensidão, idealizei-te noutros olhares e, nos caminhos da vida, te esperei sem medo!
Busquei novos credos, nova fé, renovei confianças, cri no amor de romances milenares! Quis te buscar... Desvendar teu segredo... Por isso naveguei nos sete mares!
Procurei-te em minhas andanças pelas cidades, pelos campos, pelas ruas, mas, apenas encontrei esperanças que morreram vazias de ti, nuas! Quis te buscar... Desvendar teu segredo...
Sou poeta, e como tal, sou louco... Reconheço, sou louco pela chuva pouco a pouco tamborilando na vidraça alegremente... Sou louco pelo sol no entardecer, quando nostálgico anuncia o anoitecer, fechando o dia a retirar-se displicente...
Sou louco sim, pela brisa sussurrando nostalgias, enchendo a alma num concerto em fantasias, qual sinfonia de uma orquestra angelical... Sou louco sim, por isso sou poeta... Sou como os magos que Deus poder empresta, pra suportar tanta amargura infernal...
Sou louco pela vida de outro mundo, pelas montanhas, pelo azul do mar profundo... Sim, é certo que sou louco, pois que vivo em solidão, a buscar tranquilos rios que desabam nas cascatas, caminhando pelos montes, no silencio destas matas, vendo o céu e a imensidão...
Sou poeta. Sou poeta de outrora, das serestas, da aurora, das ilusões, das quimeras... Sou louco sim, pois que tenho a paciência de sonhar com a inocência, renascida em primaveras...
Sou poeta, e como tal sou louco... Sou louco, pois que morro pouco a pouco, sem conseguir no meu peito te aninhar... Sou louco sim, é como dizes, Musa amada, sem saber que nesta insana jornada, a loucura foi te amar!
São seis horas... Aperta-me o coração... A chuva, lá fora, indiferente à solidão cai dolentemente... Ela é como a solidão. Na tarde que declina ela sai aos poucos do mar e ganha as alturas num espetáculo que fascina
. Depois, no silêncio da noite, despeja suas águas sobre a cidade... Nas horas tristes quando a nostalgia o peito invade e os amantes perdidos se abandonam ansiando pela aurora, ela vai juntando, pouco a pouco, os pingos das lembranças para no ápice do desespero despejar o dilúvio das desesperanças sobre a alma que, pungente, geme e chora...
Rezo... Olho a negra imensidão... Quisera abrir o céu com minha mão e libertar uma estrela linda...
Entre tantas escondidas no sidéreo manto, eu saberia qual delas faz do meu pranto a chuva desta dor infinda!