CONTRASTE
Não sei quem és... Até pensei, não nego,
foste tu, meu poema nunca escrito,
a musa eterna que me foi predito,
por este dom que, sem querer, carrego!...
Mas, já nem sei se te amo ou te renego,
pois, sendo, às vezes, anjo do infinito,
e, n! outras tantas, rocha de granito,
confesso que o contraste me faz cego!...
Tu és, por certo, dúbia criatura;
trazes contigo o cheiro da amargura,
e, o perfume da eterna primavera!
Num só tempo és rigor e suavidade,
por isso, nunca sei se és claridade,
ou sombra que habita noutra esfera!
Nelson de Medeiros