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A História do Xô

A História do Xô

 

Uma história quero contar

Mas não xê se xô capaz,

Tudo isto xe paxô em Tomar

Há já alguns anos atrás.

 

Num relato de memória

Eu ouvi esta beleza.

É uma pequena história

Do ensino à Portuguesa.

 

Um certo profexô

Quando fazia chamada,

Dizia logo ao aluno “O Xô,

E a Xora não sabem nada”

 

Isto ele confiante dizia,

E como os xôs não sabiam,

Ele, de imediato, respondia,

Os alunos, não o percebiam.

 

Os rapazes da linha da frente

Tinham de dar o lugar

Ás raparigas. Era ponto axente,

Ele tinha de as resguardar.

 

Era um profexô de outrora,

Daqueles à moda antiga,

Tomava esta medida protectora

Para ver as pernas da rapariga.

 

Enfim, um profexô castiço,

Mas que ficou na memória.

Não esqueçam lembrem-se dixo,

Xó destes profexôs reza a história.

 

Francis Raposo Ferreira

28/02/2020

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Pontes de Amor

Pontes de Amor

 

Luciano Pontes, temendo que a morte o apanhe de surpresa, decide fazer jus ao apelido e ser o arquitecto das pontes que as vicissitudes da vida nunca lhe permitiram construir.

Começa por falar da sua ideia a Eduarda, a esposa, a qual logo o apoia sem qualquer margem para dúvidas, prontificando-se para ser, ela mesma, a mensageira da vontade do marido.

Os filhos, respondendo ao desejo do pai, foram chegando um a um, até verificarem que o pai os tinha chamado a todos:

- Jorge, achas que o pai também mandou chamar o outro?

- Espero bem que não, pois se assim for, não ficarei por aqui muito tempo.

- Vá lá Jorge, não vês que o velhote está quase a bater a bota.

- É verdade Jorge, o Paulo tem toda a razão.

- Carlos, também achas que o velho já não dura muito?

- Claro que sim. A mãe disse-me que ele já nem se consegue sentar na cama. Aliás, foi só por isso que aceitei vir cá. Não sabia que ele nos tinha chamado aos três.

- Se calhar é para se despedir de nós.

- Jorge, tu como mais velho dos filhos, vais ficar como cabeça de herança, o que pensas fazer em relação ao outro?

- Oh Carlos, o que é que achas que vou fazer? Nada, como é lógico, ele não tem direito nem a um cêntimo do dinheiro do velho, portanto, não vou fazer nada.

- E se o velho decidir incluí-lo na herança?

- Isso depois logo se resolve.

Os três irmãos decidiram ser hora de entrar em casa e irem ver o pai. Ainda não tinham chegado ao quarto onde Luciano Pontes estava e já Lourenço, o outro, se fazia anunciado:

- Meus filhos, mandei-vos chamar aqui aos quatro porque…

- Pai, vai-me desculpar, mas, que eu saiba, o pai só tem três filhos e não quatro.

- Jorge, o Lourenço pode não ser meu filho de sangue, mas é tanto meu filho como tu ou qualquer um dos teus irmãos. Posto isto, quero dizer-vos que vos mandei chamar para vos dar conta daquilo que pretendo fazer quanto aos bens que eu e vossa mãe fomos conseguindo angariar e que constituem a herança que vos iremos deixar.

Luciano Pontes, acomodando-se melhor na cama, vai expondo as suas ideias, sem nunca deixar de tentar perceber o efeito que as suas palavras vão provocando nos filhos:

- Pai, vai-me desculpar, mas não acho justo. Ele não nos é nada, por isso não pode ter direito a uma parte igual à minha e de meus irmãos.

- Carlos! Proíbo-te de voltares a ser tão mal-educado para com o teu irmão.

- Pai, eu também não acho justo. Vocês acolheram-me no seio da família, deram-me o mesmo amor que deram aos vossos filhos legítimos, sem nunca fazerem qualquer discriminação entre mim e aqueles que eu considero como meus verdadeiros irmãos, pelo que acho que não posso, nem devo, desejar mais nada de vós, a não ser pedir-vos que me deixem continuar a amar-vos como sempre o tenho feito.

- Muito bem meu filho.  Jorge, Paulo, que tendes a dizer? Estais com o Carlos ou comigo, nesta minha vontade.

Nenhum dos dois consegue esconder a sua animosidade para com o irmão Lourenço, chegando mesmo a ameaçar o pai com a possibilidade de após a sua morte, recorrerem à justiça para deserdarem o filho adoptivo de seus próprios pais.

Luciano Pontes, surpreendendo os filhos, levanta-se da cama, mostrando-lhes que, ao contrário do que poderiam pensar, ainda não assinou contrato com a morte:

- Muito bem, meus filhos, vejo que fiz muito bem em vos testar a tempo de me poder precaver para que a minha vontade e de vossa mãe, não possa vir a ser pisada sob os vossos pés, acredito, mal um de nós feche os olhos.

Os filhos, não conseguindo esconder a surpresa, também não escondem o seu medo por tudo quanto seu pai possa fazer, pois, conhecendo-o como conhecem, sabem que não lhes irá dar a mínima possibilidade de cumprirem as ameaças ali proferidas.

Dias depois, Lourenço tenta convencer o pai a dividir os bens pelos seus três filhos legítimos:

- Lourenço, não me ofendas, nem à tua mãe, tu és tão nosso filho como qualquer um deles, somente com uma pequena diferença, nas tuas veias corre o sangue da tua mãe, enquanto nas deles corre o meu, ou seja, tu tens um coração de mel, ao passo que o deles é mais de chumbo.

Eduarda sorri-lhe, como que a agradecer-lhe tais palavras, pois a verdade é que, ao contrário do que muitos pensam, Lourenço é mesmo seu filho biológico, fruto de uma aventura que ela tivera antes de aceitar o pedido de casamento que Luciano já lhe endereçara tantas e tantas vezes.

Carlos, Jorge e Paulo, nunca viriam a descobrir que a história que os pais lhe contavam sobre a adopção de Lourenço, mais não era que a história da vida da sua própria mãe, pois nem na hora da sua morte, Lourenço quebrou a promessa de nunca lhes revelar a verdade.

 

Francis D’Homem Martinho

27/02/2020

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Carnaval

Carnaval

 

Mascarai-vos minhas gentes,

Mascarai-vos que é entrudo,

Mas não fiqueis indiferentes

A quem quer mascarar o mundo.

 

Mascarai-vos, brincai com alegria,

Esquecei toda a dificuldade,

Zombai de quem, com hipocrisia,

Vos mente com a maior facilidade.

 

Mascarai-vos de cabeçudo,

De linda e imaculada donzela,

Mascarai-vos de donos do mundo.

 

Mascara-te de alegre Arlequim,

Palhaço, ou galã de Novela.

Solta a criança que há em ti.

 

 

Francis D’Homem Martinho

25/02/2020

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Resposta

Resposta

 

Hoje decidi não chorar,

Vesti meu melhor sorriso,

Quem comigo se cruzar

Não verá meu olhar griso.

 

Não me enganarei a mim,

Tão-somente à puta da vida,

Serei eu quem rirá no fim,

Escondendo a alma ferida.

 

Rirei de toda a hipocrisia

Que me deram como pena,

Dando-lhes minha alegria.

 

Quem me quiser crucificar,

Só terá uma alma serena

Que lhes dará que pensar.

 

Francis Raposo Ferreira

22/02/2020

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Um Café

Um café

 

Quente e fumegante café,

Adoçado com amizade,

Ajuda a manter-nos de pé

E esquecer toda a maldade.

 

Pode até ser café virtual,

Importante é seu efeito,

Algo singelo, sem igual,

Que nos aquece o peito.

 

Aroma que sai do monitor,

Numa chávena de carinho,

Traz-nos muito mais calor.

 

Simples desejar “Bom dia”,

Nos deixa mais quentinho,

E nos inspira à poesia.

 

Francis Raposo Ferreira

22/02/2020

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O Poder e o Tempo

O Poder e o Tempo

 

Os lugares em volta da grande mesa de reuniões, encontram-se todos ocupados, há muito que não se assistia a uma reunião tão concorrida.

No topo norte da mesa encontra-se o presidente da comissão de accionistas da empresa, foi ele mesmo quem mandou convocar aquela reunião, facto que muito contribuiu para tão vasta aderência. Ninguém sabe, ao certo, a razão de tão inesperada reunião, mas todos pressentem que só um motivo muito forte levaria o presidente a convocá-los.

Nos dois primeiros lugares de cada um dos lados, sentam-se os representantes dos quatro maiores grupos de accionistas, enquanto nos cinco imediatamente seguintes, três do lado esquerdo do presidente e dois do lado direito, estão sentados os directores de cada uma das sucursais da empresa.

Os restantes lugares de tão ilustre mesa, são ocupados por dez dos responsáveis dos onze departamentos e que integram a comissão administrativa da empresa desde que o anterior administrador executivo se retirou do cargo, o que não deixa de causar alguma surpresa. O porquê de um lugar vago?

O presidente da mesa dá indicações de que deseja tomar a palavra, o silêncio impõe-se na sala:

- Caríssimos representantes dos senhores accionistas da nossa empresa, senhores directores das nossas sucursais, senhores Drs. e Engs. Responsáveis pelos nossos mais diversos departamentos, como é do vosso conhecimento, sempre manifestei a minha vontade de que o substituto do muito ilustre Dr. Álvaro Mendes, pessoa que muito prezo, fosse encontrado o mais rapidamente possível, sendo também verdade que nunca vos escondi a minha preferência para que a escolha viesse a recair sobre alguém dos nossos quadros. Realmente, acho que seria muito injusto, com tão bons elementos como os nossos, procurar a solução além portas…

O silêncio volta a imperar na sala, só o barulho dos aparelhos de ar condicionado se faz ouvir.

…Pois bem, depois de muito analisar, e pensar, resolvi convidar, e propor a esta assembleia, o Dr. Lourenço do Carmo para administrador da nossa empresa.

A notícia é recebida por entre um misto de surpresa e manifestações de alegria:

- Como devem calcular, não tomei a iniciativa de dirigir tão importante convite sem, primeiro, ouvir a vossa opinião. No entanto, e porque gosto de transparência em tudo quanto faço, decidi, caso assim concordem, endereçar tal convite na vossa presença.

O presidente após obter o sim da maioria, telefona à sua secretária, pedindo-lhe que faça entrar o Dr. Lourenço do Carmo:

Alguns dos presentes ainda não conseguiram digerir a surpresa, e decepção, que tal revelação lhes provocou. Há muito que esses tais, sonhavam e desejavam, em segredo, tal cargo.

Lourenço do Carmo entra, é convidado a sentar-se e é surpreendido com tão honroso convite:

- Dr. Lourenço, embora a iniciativa de o convidar, tenha sido minha, quero dizer-lhe que a decisão final, foi tomada por unanimidade.

Lourenço do Carmo não ignora quanta hipocrisia existe em tal decisão unânime, pois, se há certeza que não lhe foge, é a do quanto aquele convite mexeu com os sonhos daqueles perante quem sempre se recusou a ajoelhar-se. Tem perfeita noção do quanto terá a perder, em termos de paz interior, se aceitar aquele convite, mas também sabe que não aceitar poderá ser visto como um acto de ingratidão:

- Exmo. Senhor Presidente, Exmos. Senhores representantes dos ilustres accionistas desta empresa, ilustres senhores directores das sucursais da mesma, caros colegas, sem o mínimo de hipocrisia, quero aqui manifestar o orgulho que sinto por ter sido alvo de tão distinto convite…

...não me é estranho que alguns dos meus colegas acreditavam, e desejavam, que o escolhido pelo nosso excelentíssimo Sr. Presidente viesse a ser outra pessoa que não eu, isto, não só, porque tenho a plena consciência de que nunca alimentei tal hipótese, tal como tenho igual consciência de que este convite reflecte toda a dedicação que, ao longo destes mais de vinte anos, tenho vindo a dar à nossa empresa.

Ao mesmo tempo que dirige tais palavras, Lourenço do Carmo vai tentando ler os olhares de todos os presentes:

 - Se essa dedicação tem sido, ou não, a mais indicada, não me cabe a mim analisar, mas sei que tenho dado o melhor de mim. Quando vos digo que nunca alimentei tal hipótese é porque de facto nunca a alimentei mesmo, quer perante os demais, quer perante mim mesmo, isto é, se tal convite me tivesse sido feito há alguns anos atrás, talvez o aceitasse sem necessitar de pedir tempo algum para reflectir em todas as alterações que tal poderia provocar na minha vida, quer laboral, quer pessoal. Não quero, com isto, dizer que esteja a pensar em pedir esse tempo de que falei para reflexão, pois presidir ao conselho de administração da empresa a que tenho dedicado grande parte da minha vida é, sem dúvida alguma a aspiração de quase todos quantos aqui estão, não vale a pena tentarem nega-lo. Penso que, facilmente se compreende porque não digo, mesmo todos, isto é, tirando eu e todos aqueles que desempenham funções superiores, mais nenhum de vós enjeitaria tal oportunidade.

Contudo, antes de vos comunicar a minha decisão, a qual, penso eu, já todos perceberam qual é, gostaria de vos dar a conhecer algumas das razões que, muito, contribuíram para esta minha imediata decisão, embora não me tivesse preparado antes, pois nem mesmo quando fui chamado aqui, alguma vez me passou pela cabeça que tal convite me iria ser dirigido.

Quando entrei para esta empresa, era um jovem, como a maioria de vós sois hoje, a rondar os trinta anos, vinha cheio de projectos, de ambições, de ilusões e de tudo o que é próprio de alguém que está a iniciar uma carreira profissional. Os anos foram passando, fui-me entregando a outros sonhos, fui descobrindo outros interesses, abrindo outras portas, sem no entanto deixar de dar o meu melhor a esta empresa, fui, enfim, descobrindo novos valores, ao mesmo tempo que, é com pena que vos digo isto, fui percebendo que a partir de certo momento, as pessoas mais velhas desta empresa deixaram de ver o seu trabalho devidamente reconhecido.

Lourenço do Carmo apressa-se a pedir desculpa ao presidente da comissão de acionista, a quem agradece por não se ter deixado cair nesse desprezo generalizado pelos colaboradores mais antigos:

- Hoje, felizmente, atingi uma estabilidade financeira que me permite viver sem a preocupação do vil metal, por outro lado atingi uma estabilidade familiar que me permite colher no meu próprio lar a realização pessoal que durante muitos anos procurei atingir através da minha actividade laboral, por fim descobri que o verdadeiro poder, esse mesmo poder pelo qual muitos de vós não hesitariam em abdicar de muito do que já conquistaram até hoje. O poder, como eu dizia, não está nos cargos que cada um possa ocupar, mas sim na capacidade que cada um terá para saber administrar o seu tempo, isto é, o verdadeiro poder é o podermos gerir o nosso tempo.

Indo ao concreto da questão, o que vos quis dizer com toda esta minha introdução é que cheguei a uma fase da minha vida onde trocar o tempo que dedico aos meus hobbies, às minhas coisas, o tempo que dedico a minha esposa, à minha família, aos meus amigos, isto é, o meu tempo e com ele todo o poder de que disponho, por mais alguma compensação monetária, algum poder ilusório, alguma visibilidade social, etc. não se me apresenta como racional e, conhecendo-me como me conheço, com todas as minhas limitações, com todos os meus defeitos e também com todas as minhas qualidades, sei muito bem que seria isso que acabaria por acontecer. Assim sendo, peço-lhe imensa desculpa Sr. Presidente, mas neste momento prefiro recusar tão ilustre convite e ficar somente com poder de poder ser dono do meu próprio tempo, continuar a ser quem sempre fui e, em vez de aceitar tão honroso convite, afastar-me do local onde acreditei que poderia vir a ser feliz mas para onde me arrasto com sacrifício no lugar da Felicidade de outrora.

 

Moral: “Quem faz o que gosta nunca trabalha, quem trabalha sem estímulos nunca poderá ser Feliz”

 

Francis D’Homem Martinho

19/02/2020

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Amar

Amar

 

Amar não é desejar

Um corpo perfeito,

Amar é só sonhar

Repousar no teu peito.

 

Amar não é querer

Um rosto belo,

Amar é ansiar viver

Uma vida em paralelo.

 

Amar é saber partilhar,

Alegrias e tristezas,

Amar é saber apoiar

Na hora de incertezas.

 

Amar também é ciúme,

Mas sempre controlado,

Amar é, sem queixume,

Saber-te a meu lado.

 

Amar não é sofrer

Por coisas sem valor

Amar é ter prazer

No acto de fazer amor.

 

Francis Raposo Ferreira

18/02/2020

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Sôfregos

Sôfregos

 

Apetece-me esventrar o mundo,

Desmascarar hipócritas e mentirosos,

Mas será descer demasiado fundo,

Que se afoguem em banquetes faustosos.

 

Não lhes perdoarei tamanha hipocrisia,

Tampouco lhes cobrarei nada,

Seria dar-lhes desmerecida alegria,

Que se engasguem na luxuria acumulada.

 

Não me ouvirão nem um esgar de dor,

Serei orgulhoso, mais que eles o são,

Não por atropelos, mas sim por amor.

 

Não lhes darei esse ansiado prazer,

Vê-los-ei morrer nessa sofreguidão,

De tentarem consagrar seu podre poder.

 

Francis Raposo Ferreira

18/02/2020

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Inocente

Inocente

 

Sandra, ao saber a sós com Carlos no escritório onde ambos trabalhavam, correu a trancar a porta, olhou-o bem nos olhos e, insinuando-se, disse-lhe daquele jeito que o deixava completamente dependente das suas vontades:

- Ama-me, possui-me. Hoje quero entregar-me toda a ti e sentir-te todo meu.

Carlos ainda pensou demovê-la de tal ideia, não porque não a desejasse tanto como ela o desejava a ele, mas sim por medo que algum dos colegas de trabalho pudesse voltar atrás e surpreende-los, mas a visão do corpo que já se começava a livrar das roupas que o cobriam, impediu-o de dizer fosse o que fosse.

Há muito que Sandra e Carlos se amavam em segredo, sem que conseguissem ganhar coragem para darem o passo decisivo e assumirem o sentimento que os unia e que nenhum dos dois sabia definir com precisão. Seria amor, pura atracção física ou simples desejo sexual?

Saciados os desejos, decidiram ir cada um ao seu destino, ele ao encontro dos amigos de copos e ela rumo a casa.

Carlos, mal chegou ao bar onde se costumava reunir com aquele velho grupo de amigos, não conseguiu esconder o brilho de felicidade que lhe ia nos olhos, o que motivou logo alguns comentários. “Pronto, lá tiveste de papar mais alguma coleguinha de trabalho, não é verdade?”

Enquanto isso, Sandra, ao entrar em casa, apercebeu-se que algo de estranho se passava com Jorge, o marido, mas não deu grande importância ao caso, pensando tratar-se do resultado de mais um dia em que bebera demais, o que até era prática corrente, pelo que desligou e foi preparar o jantar.

Foi quando ambos se deitavam, pura coincidência, Carlos com Lisete, sua companheira de vários anos, e Sandra com Jorge, que este lhe disse:

- Espero que o teu amante não te tenha deixado demasiado cansada, pois hoje tens de me dar tudo, tal qual como lhe deste a ele.

Sandra não queria acreditar no que ouvia. Então era isso, Jorge descobrira que ela e Carlos eram amantes:

- O que é que estás para aí a dizer? Amante, mas qual amante? Tu sim, tu é que deves ter montes de amantes, por isso não me satisfazes como é tua obrigação de marido. Fica sabendo que não tenho amante nenhum, mas mesmo que o tivesse, a culpa seria unicamente tua por não me satisfazeres os meus desejos próprios de uma mulher na força da sua sexualidade.

Jorge, sem lhe responder, levantou-se e foi buscar um pequeno gravador que logo colocou em funcionamento. Não havia margens para dúvidas, a voz de Sandra, tal como a de Carlos, era nítida.

Então era isso, o marido colocara-a, sem ela saber como, sob escuta:

- Será que ainda tens coragem de continuar a negar?

Sandra não lhe respondeu, nem valia a pena, limitando-se a baixar o olhar:

- Então, agora a escolha é tua. Ou vais fazer queixa dele, dizer que ele te violou, ou amanhã vou ao escritório contar tudo quanto sei e das duas uma, ou o teu patrão arrisca expor-se aos olhos de todos, talvez aproveitando para também te saltar para cima, se é que já não o anda a fazer, ou corre com vocês dois, mas de uma coisa te garanto, o teu querido amante é que tem os dias contados. Se quiseres aceitar a minha proposta, estou disposto a esquecer tudo, perdoar-te e continuar com a nossa vida como se nada se tivesse passado.

Sandra nem conseguia discernir o que é que lhe custava mais, sentir-se descoberta ou a proposta do marido. Jorge prometia-lhe esquecer toda a sua traição a troco de ela ir acusar Carlos. Deixou-se ficar, calada, de olhar cravado no vazio:

- Quero uma resposta aqui e agora. Ou telefonamos à polícia, ou já nem me deito a teu lado.

Sandra estava desorientada, por um lado não tinha o direito de destruir a vida de Carlos só para salvar a sua reputação, pois que o casamento pouco lhe interessava salvar, mas por lado temia o que Jorge pudesse vir a fazer, talvez conseguir que a despedissem e depois abandoná-la. Tentou jogar a última cartada:

- Jorge, se queres que eu o denuncie de me ter violado, não achas melhor que o faça com provas?

- Como assim?

Sandra, numa tentativa de conseguir ganhar algum tempo, não hesitou em se rebaixar e lhe propor esperarem que ela e Carlos se voltassem a encontrar para então sim, recolher provas e denunciá-lo. Jorge, ao contrário do que ela temia, concordou em que ela se voltasse a entregar a Carlos e não houvesse hipóteses dele poder negar:

- Ok, até acho boa ideia, afinal de contas, de cabrão já não passo e, assim, ele não se fica a rir de mim.. Mas atenção, se me tentares enganar, nem sabes o que os espera aos dois.

Sandra conhecia bem os maus fígados do marido, pelo que enganá-lo era algo que nem lhe passava pela cabeça, talvez a solução fosse fugir para longe dele. Mas para onde iria?

No dia seguinte chamou Carlos à parte e disse-lhe que tinha estado a pensar e que se ele assim o quisesse, estava na disposição de largar tudo e fugir com ele:

- Calma. Não podemos fazer as coisas assim.

Sandra sentiu cair-lhe o resto mundo em cima. Nessa mesma tarde conseguiu reter Carlos e levá-lo a cair na armadilha preparada por Jorge e de que ela era cúmplice.

Carlos ficou atónito ao ouvir a condenação que lhe acabava de ser atribuída, sete anos de cadeia.

Quase seis anos depois, Carlos é chamado à presença da sua técnica no Estabelecimento Prisional onde cumpre pena. Se em todos estes anos, nunca lhe conseguiu obter uma única autorização para ir a casa, sempre com o argumento, “Risco de voltar a cometer o mesmo crime”, que seria que ela lhe queria agora?

A referida técnica encontra-se acompanhada do responsável jurídico do Estabelecimento Prisional. A notícia apanha-o tanto de surpresa como a notificação de que era arguido num processo de violação:

- É como lhe digo, a sua amante confessou que o acusou por pressão do marido, agora que ele morreu e ela deixou de viver sob as ameaças dele, resolveu contar toda a verdade. Pode ir arrumar as suas coisas, irá em liberdade ainda hoje.

Sandra, quando, à porta do Estabelecimento Prisional, vê Carlos e Lisete beijarem-se apaixonadamente, não consegue evitar que as lágrimas lhe escorram rosto abaixo, embora consiga interpretar o gesto que ele lhe faz com a mão atrás das costas. “Perdoo-te tudo o que me fizeste passar se aceitares voltar a ser minha amante.”

Sandra, além de não conseguir identificar a verdadeira razão das suas próprias lágrimas, se arrependimento por o ter acusado, ou dor provocada por isso mesmo, preterida em favor de Lisete, mas de uma coisa tem a certeza, ele nunca será só daquela sonsa que sempre acreditou nele, terá de repartir com ela.

Inocente no meio de todo aquele jogo, só, mesmo, Lisete.

 

Moral: “Quando a farinha é toda igual, basta estragar-se só um saco.”

 

Francis D’Homem Martinho

18/02/2020

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Abutre disfarçado de Passarinho

Abutre disfarçado de Passarinho

 

Patrícia era uma mulher bastante alegre e extrovertida, a seu lado ninguém conseguia ficar triste. Este seu modo de viver a vida, além de lhe prolongar a juventude, ninguém diria que já passara os quarenta, também já lhe trouxera alguns dissabores, principalmente de índole sentimental. Os seus namorados não aceitavam o seu espírito extrovertido, acusando-a de ser uma frívola e irresponsável.

Lourenço fora o único com quem vivera maritalmente e de quem se sentia como uma verdadeira viúva. Havia já quatro anos que Lourenço falecera. Nem a morte, prematura, do seu único companheiro, não tiveram tempo de oficializar a sua relação, lhe tirara a alegria de viver, até porque esse fora um dos últimos pedidos que ele lhe fizera, nunca se deixar vencer pelas agruras da vida, nem permitir que alguém a magoasse.

Jorge surgiu de repente, rondava os cinquenta anos e ninguém sabia quem era, pelo menos ali no departamento financeiro, onde Patrícia desempenhava funções. Aos poucos, foi-se integrando no seio dos seus novos colegas de trabalho, entre os quais se integrava Patrícia, e foi-se sabendo que se tratava de um gestor, com créditos firmados, que viera da concorrência, além de que era divorciado.

Rapidamente conseguiu conquistar a admiração e simpatia dos colegas, entre as quais as dela.

Os colegas, principalmente o sexo feminino, não se cansavam de a incentivar a ir em frente e dar-lhe uma possibilidade de a fazer feliz, como se ela fosse infeliz, dizendo-lhe que já era tempo de ela refazer a sua vida sentimental e que não poderia ter encontrado melhor partido que Jorge.

Foi assim que, após quase um ano de namoro, resolveram unir as suas vidas através dos laços do casamento, mas teria de ser somente pelo civil, visto o divórcio de Jorge ter resultado de um casamento pela igreja, o que impedia nova celebração religiosa. Patrícia não deu grande importância ao caso, embora soubesse que esse era um velho sonho de seus pais.

A cerimónia, onde todos os grandes amigos de Patrícia estiveram presentes, bem como alguns amigos de Jorge que Patrícia nunca antes tinha visto, revelou-se de uma beleza digna de ser recordada por muitos e bons anos. Ela estava deslumbrante, era de facto uma mulher muito bonita, e Jorge não precisou de caprichar muito para se sentir à altura da noiva. Faziam um par perfeito.

A cerimónia decorreu na própria quinta escolhida para o tradicional copo de água. E foi mesmo aí que esta começou a transbordar do copo.

Servido o repasto, seguiu-se o tradicional baile, o qual, como é tradição, foi aberto, pelos noivos, aos quais se foram juntando os familiares e amigos.

Assim que entregou a noiva nos braços do pai, Jorge desapareceu da sala, conjuntamente com alguns dos tais amigos que Patrícia não conhecia. A noiva não deu grande importância ao facto, pensando que iriam combinar alguma brincadeira, mas a demora em regressarem, despertou-lhe a curiosidade e foi em busca do, então, já marido. Ouviu vozes e foi-se aproximando, pé ante pé. Estava prestes a denunciar a sua presença, quando ouviu algo que a deixou petrificada. Um dos amigos de Jorge, dizia-lhe que agora tinha de mudar de vida, era um homem casado:

- Acreditas mesmo nisso? Durante este tempo desde que a conheci que a tenho comido como a um verdadeiro passarinho. Agora, daqui em diante, é como com as anteriores, ou voa baixinho ou tenho de lhe mostrar quem é o homem da casa. Sabes como é, temos de lhe mostrar como é, logo desde o princípio, e nada melhor que um bom par de estalos para não as deixar levantar voo.

Patrícia não só descobria que o marido já fora casado mais que uma vez, ao contrário do que sempre lhe contara, como também descobria que toda a sua doçura, não mais era que pura fachada para a enganar. Afastou-se sem se dar a ver.

O resto da festa decorreu em pleno clima de harmonia, não só porque não queria fazer sofrer seus pais, como também não lhe queria dar a perceber que descobrira toda a verdade sobre ele. Rumaram até ao hotel onde planeavam dormir para partir, no dia seguinte, em lua-de-mel.

Foi já no quarto de hotel, que Jorge a agarrou e a tentou beijar, ao que ela resistiu:

- Que se passa? Esqueces-te que és minha mulher?

- Não. Estou exausta.

- Quero lá saber se estás exausta. Quero-te, agora mesmo.

Ao lançar-se para a frente, na tentativa de a agarrar, Jorge tropeçou no pé dela e estatelou-se no chão do quarto:

- Quando andavas lá a dançar com os teus amigos e a esfregar-te neles, já não estavas exausta.

Patrícia ficou atónita, mas não se admirou com a acusação. Jorge nunca fora de ciúmes, mas também nunca fora homem de copos, ou pelo menos, ela, assim o pensara durante todo aquele tempo, quanto mais de insinuações como aquela que lhe estava a fazer. Encarou-o e disse-lhe que só o desculpava por ele estar bêbado. Ocultando-lhe tudo quanto escutara.

Enquanto se ia apercebendo que o marido não tardaria a adormecer, ali mesmo no chão, Patrícia tomou uma decisão, o último pedido de Lourenço assim lho exigia. Ainda ouviu Jorge proferir uma série de ameaças, até que caiu num profundo sono.

Aguardou um pouco, certificou-se que ele adormecera mesmo, agarrou na sua mala de viagem, tivera a lucidez de só levar o essencial para não levantar suspeitas, saiu do quarto, passou pela recepção do hotel e pediu papel onde pudesse deixar-lhe um recado, reforçando o pedido para não se esquecerem de lho entregar. O recepcionista, estranhou, mas nada disse.

Jorge só acordou passadas algumas horas. Não só se apercebeu que dormira no chão, como também que estava sozinho no quarto e que Patrícia nem dormira lá, pois a cama estava intacta. Levantou-se, viu que a esposa lhe deixara o seu bilhete de avião, tomou um banho, vestiu-se e desceu até à recepção, onde lhe entregaram o recado deixado pela mulher. Leu-o. Patrícia dizia-lhe que ele a ofendera bastante, mas que como atribuía tudo ao seu anormal estado de embriaguez, fora dormir a casa dos pais e apanharia o primeiro avião com destino ao local da lua-de-mel, pois não queria discussões em público e que logo falariam quando ele lá chegasse.

Jorge, qual abutre a que nenhum passarinho escapa, nem parou para pensar em tudo aquilo. Só ao chegar ao hotel onde tinham marcado a lua-de-mel é que verificou que ela ainda não chegara. Se fosse ia, se não fosse, melhor, pois mulheres e bebida era coisa que não faltava por ali.

Os dias foram-se passando e de Patrícia nem sinal, sem que Jorge se incomodasse muito com o facto, a única coisa que o preocupava era que Patrícia pudesse andar envolvida com algum dos convidados. Sim, que toda aquela intimidade dela com alguns deles, lhe cheirara a qualquer coisa mais forte que simples amizade.

Jorge regressou a Portugal, rumou ao apartamento que tinham alugado para viver e…o seu estado era de desespero, Patrícia, só podia ter sido ela, só lhe deixara aquilo que realmente lhe pertencia a ele, praticamente nada. Foi ao chegar à cozinha que viu uma série de envelopes, eram os envelopes dados pelos seus convidados, intactos. Um outro envelope despertou a sua atenção. Abriu-o. Não, não podia ser. Patrícia conseguira a anulação do casamento, uma simples frase fê-lo perceber tudo, ela ouvira a sua conversa com os amigos:

“Podes considerar-te um abutre muito esperto, mas a este passarinho, nem com uns bons pares de bofetadas conseguirás domar”

 

Moral: “Quem colhe as ervas daninhas logo pela raiz, tem o direito a ser feliz.”

 

Francis D’Homem Martinho

17/02/2020

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Amor em Viagem

Amor em Viagem

 

Aquele amanhecer de vendaval, mais não era do que o prolongar de uma noite de verdadeira tempestade que impedira Francisco de dormir. A tempestade que o impedira de dormir não fora, na realidade, a provocada pela mãe natureza, mas sim aquela em que, desde há algum tempo, se transformara a sua vida. Efectivamente, desde que tomara conhecimento da traição de que vinha sendo alvo, por parte daquela que jurara amá-lo, que a sua vida se tornara numa verdadeira tempestade. Nunca lhe passara pela cabeça que Paula lhe conseguisse fazer tal coisa, e logo com aquele a quem tinha por grande amigo.

Francisco viu o convite, do seu amigo Avelino, para se deslocar ao Porto, como um modo de sair do estado vegetativo em que vivia desde então. Havia perto de seis meses que descobrira toda a farsa em que o seu casamento se tornara e não via maneira de refazer a sua vida, não fora a poesia e os amigos, talvez já tivesse cometido alguma loucura. Era a poesia quem o ajudava a superar aquela grande dor e fora a poesia que o levara a aceitar o convite do mano Avelino, modo carinhoso como ele tratava o amigo. Era hora de voltar ao mundo dos vivos.

Francisco apanhou o comboio das oito horas, em Santa Apolónia, sem saber que aquele era o comboio que lhe iria mudar a vida. Entrou, procurou o seu lugar e sentou-se, a carruagem estava praticamente vazia, recostou-se no assento e desejou que o comboio arrancasse rápido, como se pressentisse a importância daquela viagem, para o seu futuro.

Chovia bastante, Francisco recordou-se que, com essas condições atmosféricas, era normal registarem-se perturbações na circulação ferroviária, principalmente na zona de Santarém, “Os tempos são outros”, pensou. Mas não, parecia que o tempo não avançara, ao chegarem a Mato de Miranda, o comboio começou a abrandar a marcha, estiveram parados durante algum tempo e arrancaram. Voltaram a parar no Entroncamento, não estava no plano de viagem, e viu entrar alguns passageiros, saberia depois que se tratava de passageiros de um outro comboio que avariara. Retomaram a viagem.

Estação de Caxarias, depois de bastante tempo de paragem, são informados da queda de uma árvore na linha e, por isso, terão de aguardar. Retomam a marcha, depois de mais de uma hora à espera. Francisco espera que os contratempos tenham terminado, já não lhe bastava a chuva para lhe estragar os planos, agora também tinha de se debater com tão prolongado atraso. De repente, uma forte pancada, o comboio começa a abrandar, apagam-se as luzes, parece-lhe ver algumas faíscas na carruagem atrás da sua. Não quer acreditar, uma árvore caiu mesmo sobre o comboio e danificou o pantógrafo. Não se avizinham horas fáceis, estão num local ermo, no meio do campo, sem qualquer possibilidade de ali chegar viatura alguma para os retirar. Só lhes resta esperar. Outra vez.

Alguns passageiros começam a dar sinais de alguma intranquilidade, uma senhora de meia idade quer um “Expresso”, logo ali no meio do mato, o revisor diz-lhe para não se preocupar que aquele comboio tem tecnologia do melhor que há, pelo que em breve sairão dali.

Francisco vagueia pelas diversas carruagens, vai até à máquina e obtém a localização correcta, “marco 140-10 entre Caxarias e Albergaria dos doze”. Volta para o seu lugar, certo que tão cedo não sairão dali.

No banco à sua frente viaja uma jovem, Francisco ainda nem dera por ela, só agora, que a jovem parece estar em dificuldades para comunicar com a família é que repara nela:

- Sabe dizer-me onde estamos?

- Um pouco antes de Albergaria.

- Vamos demorar muito?

- Suspeito que sim.

- Oh meu Deus, a minha família está em cuidados, recebo mensagens deles mas não consigo comunicar.

Lourenço oferece o seu telemóvel à jovem:

- O meu ainda consegue apanhar um pouco de rede, tente daqui.

A jovem lá consegue comunicar com os seus familiares e agradece-lhe:

- Muito obrigado, o meu nome é Isabel. Vai para o Porto?

- Vou. Desculpe, sou o Francisco. Quero dizer, ia. Por este andar nem vou arranjar onde dormir.

- Não se preocupe, eu sou do Porto e arranjo-lhe onde dormir. Vai em trabalho?

- Não, eu sou poeta e vou participar num encontro de gente das letras…

- …No Orfeão do Porto!

- Sim.

- Boa, eu também conto lá ir, sou amiga da Ana.

- Oh. Que coincidência…

- Desculpem, vocês são poetas? Eu também ia para o encontro no Porto.

Francisco já reparara no individuo que se lhes dirigia, principalmente pelo seu singelo toque de alerta do telemóvel, o som de água a cair numa cascata, algo que vinha mesmo a calhar naquela altura.

Após bastante tempo de espera, o comboio lá retomou a sua marcha. Francisco mudara-se para o assento ao lado de Isabel, não era só o comboio que retomava a marcha, era também a sua vida que voltava a entrar nos carris da vida.

Chegaram ao Porto a horas de irem jantar, na companhia do mano Avelino. Este sorriu ao ver o modo como Francisco olhava para Isabel. O serão decorreu de forma agradável e Francisco, talvez inspirado pelo amor que despontava, brilhou na escrita, apressada, de dois ou três poemas.

Daí em diante começaram a escrever poesia a quatro mãos e um só sentimento, o amor.

 

Francis Raposo Ferreira

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Strip

Strip

 

Envolvi-te daquele jeito

Com que sempre te envolvia,

Tua cabeça em meu peito,

Como tantas vezes sucedia.

 

No meu olhar, fixaste o teu,

Li esses teus olhos sábios,

Todo meu ser estremeceu

Ao sabor de tão belos lábios.

 

Respondi a delicioso beijo,

Que, nunca to irei negar,

Despertou em mim, o desejo.

 

Pedi-te algo de muito especial,

Aceitaste, sem sequer hesitar,

Despir-te num strip sensual.

 

Francis Raposo Ferreira

16/02/2020

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Volte Face

Volte face

Minha caneta foi a enxada,
Que lindo aparo, ela tinha,
Meus cadernos a terra lavrada
Donde a inspiração me vinha.

Tua enxada foi a caneta,
Com seu lindo aparo dourado,
Na terra te fizeste poeta,
Nasceste menino abençoado.

Conheci-te numa tarde perdida,
Escrevemos um lindo poema,
Tendo como musa, a nossa vida.

Falaste das tuas dificuldades,
Colocaste-me um problema,
Eu que pensava ter debilidades.

Francis Raposo Ferreira
16/02/2020

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Dois Corpos

Dois corpos

 

Um encontro a quatro mãos

É lindo; belo; maravilhoso,

É algo que preenche todos os vãos,

É algo indescritível, delicioso.

 

Dois corpos se amando,

Numa entrega total

E, assim, madrugada entrando

É poesia, é algo imortal.

 

Dois corpos despidos,

De roupas e preconceitos,

Sobre a cama estendidos.

 

Dois corpos entrelaçados

Suados mas satisfeitos.

Dois amantes apaixonados.

 

Francis Raposo Ferreira

15/02/2020

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Vencidos da Vida

Vencidos da Vida

 

Eram três seres cujas expressões, faciais e corporais, não deixavam margem para dúvida alguma, eram três vencidos pela vida. Aliás, era por isso mesmo que ali estavam, na condição convidados e testemunhas de como a vida pode dar a volta e derrubar até mesmo aquele que se julgue a salvo de qualquer contratempo.

Miguel, Tomaz e Susana, já tinham vivido momentos de grande fulgor, quer financeiro, quer familiar e social, o que, no entanto, não fora suficiente para os proteger das vicissitudes da vida. Todos eles tinham vários pontos em comum, sendo que um deles era o facto de todos terem sido professores daquela escola.

O psicólogo que dirigia o painel de convidados, após fazer uma breve apresentação de cada um deles, convidou a plateia a colocar-lhes algumas questões:

- Dr. Miguel, recordo-me perfeitamente dos seus tempos de abastado homem de negócios, precisamente numa altura em que eu andava por maus caminhos, assim como me recordo de como me criticava e me ia dando alguns conselhos. Pergunto-lhe, como foi possível cair até onde se encontra agora.

Miguel, tal como prometera ao aceitar o convite, não se inibiu de explicar como a ilusão de que conseguiria ser mais forte que todos os vícios e tentações, o levara a deixar-se enrolar de tal maneira que jamais conseguira escapar de tal armadilha:

- Aquilo que mais dor me provoca, não é o ponto onde caí, mas sim, tudo quanto fiz até aqui chegar, nomeadamente todo o sofrimento que provoquei naqueles que tudo fizeram para me ajudar, chegando, inclusive, a prejudicar as suas próprias vidas, em prol de mim. Claro que me refiro, principalmente, aos meus filhos e à minha ex-esposa.

O silêncio que se instalou na sala, até porque a grande maioria dos presentes conhecia, bem, toda a história de Miguel, fez com que o Psicólogo desse a palavra a Susana:

- O meu caso, como muitos de vocês sabem, até porque, tal como os meus dois colegas, cheguei a ser professora desta escola, foi um pouco diferente do Miguel. Eu tinha um bom casamento, dois filhos que eram a razão da minha vida, mas nunca consegui ver o meu marido como o homem com que sempre sonhara, isto é, alguém que me mimasse no dia-a-dia. Deixei-me levar nas ilusões e nas palavras de alguém a quem tive a infelicidade de falar dessa minha tristeza. Ao ver-me acusada pelos meus próprios filhos por ter traído o pai deles, não fui capaz de dar a volta à situação, voltei a acreditar em quem não devia e fui caindo degrau após degrau. O fundo chegou quando o desgosto me empurrou para o último refúgio, a bebida.

Novo silêncio assustador se instalou no auditório, pelo que o psicólogo logo tratou de passar a palavra a Tomaz, de todos três o que parecia mais marcado pelas agruras da vida:

- O meu caso, além de não ter nada a ver com o que aconteceu ao Miguel, também não se pode comparar ao que sucedeu à Susana. Eu sempre me habituei, desde criança, a ter tudo o que desejava, não precisando preocupar-me de onde vinha o dinheiro, meus pais davam-me tudo de mão beijada. Assim cresci, assim casei, assim construí uma família, tenho 4 filhos, e assim continuei a viver, sem responsabilidades. Se assim, sempre vivi, também assim me fui enterrando nesse grande lamaçal que são os vícios próprios de quem não aprendeu a governar a vida. Nunca me apercebi de como a minha vida desregrada de álcool, mulheres, jogo e tudo o que a esse mundo está ligado, fazia sofrer aqueles que mais me amavam, minha ex-esposa e meus filhos, pelo que quando me abandonaram à minha sorte, os condenei por não me ajudarem, algo que tinham feito durante todo o tempo que vivemos lado a lado. Cai no fundo, hoje, não só já não tenho pais, como não tenho dinheiro nem família, e nem sequer o emprego, tal como sucedeu com os meus companheiros, consegui manter.

Tomaz não conseguiu continuar a falar, sendo Susana quem pegou na palavra e terminou:

- Como podeis ver, apesar de a maioria de vós já conhecer as nossas histórias, pois é nesta casa que ainda vamos conseguindo arranjar algum apoio e carinho, qualquer um de nós três já teve de tudo na vida e hoje…hoje não temos nada a não ser a compaixão de quem um dia partilhou a sala de professores connosco. Podeis pensar que somos uns vencidos pela vida, mas não é verdade, somos é uns vencidos pelas ilusões.

 

 

Moral: Saber ser grato ao que nos é dado, é um grande passo para a Felicidade.

 

Francis D’Homem Martinho

15/02/2020

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Sentimentos Distintos

Sentimentos distintos
 
Quando se apresentou no gabinete de Fiscalidade do Dr. Vítor Laranjeira, para iniciar o seu estágio como fiscalista recém-licenciada, Inês estava longe de poder imaginar no que a esperava.
O chefe do gabinete e homem de confiança do conceituado Fiscalista, era um homem de seu nome jovem e cujo semblante não agradou muito à jovem:
- Espero que venha para ajudar, que seja uma mais valia para este gabinete e não somente mais uma para fazer número, pois para isso, já cá temos muita gente, quase todos quantos aqui trabalham. Sempre gostava de ver como é que o Dr. Laranjeira se desenrascava se não fosse eu.
Inês, na ingenuidade dos seus vinte e dois anos, nem sequer se apercebeu do verdadeiro sentido das palavras do chefe de gabinete, isto é, ele tinha-se como o mais importante de todos e o único indispensável ao funcionamento do gabinete, assim como também não se apercebeu de como as feições do homem se alteraram quando a ouviu pronunciar o seu apelido: Inês Castelo Novo.
É verdade, Jorge, ao ouvir o apelido da jovem, sentiu como que um aperto no coração. Não, não era possível que a sorte estivesse assim toda do seu lado:
- Desculpe, por acaso é familiar do Dr. Fernando Castelo Novo?
- Sou pois, sou filha. Conhece o meu pai?
Jorge negou conhecer, pessoalmente, o pai da jovem, argumentando só o conhecer através das notícias, visto tratar-se de um conhecido médico ao mesmo tempo que usava de toda a hipocrisia que lhe era, sobejamente, conhecida para conseguir controlar todo o azedume que aquele apelido lhe provocava.
Assim que se conseguiu livrar de tudo quanto o Dr. Jorge lhe dera para fazer, Inês, ignorando o que se passava nas suas costas, correu para casa a dar a boa nova à mãe, o gabinete do Dr. Laranjeira era mesmo aquilo que ela desejava.
Quem também se apressou, mais do que o costume, a ir para casa, foi o jovem Dr. Jorge:
- Lourenço, não vais acreditar no que tenho para te contar. Imagina só quem começou, hoje mesmo, a estagiar lá no gabinete.
- Quem foi? Alguma vedeta do jet-set nacional?
- Não. É a menina Inês Castelo Novo.
- Quem!
-Sim, é isso mesmo que estás a pensar, a filha do canalha do Fernando Castelo Novo. Vê só como o mundo é pequeno, eu que tenho andado a jurar vingar-me do que aquele canalha te fez e que não via como o fazer sentir todo o ódio que sinto poer ele, vejo, agora, assim sem mais nem menos, entregarem-me a filhinha dele nas minhas mãos.
Lourenço, conhecendo, muito bem, o irmão, assim como o seu mau temperamento, assustou-se com o que ele pudesse vir a fazer à jovem:
- Jorge, a filha não tem culpa alguma do que o pai dela me fez.
- Não tem culpa o quê, aquilo é tudo da mesma gente. Ele que se vá cuidando, pois a vingança não tardará a chegar.
- Jorge, peço-te que não faças sofrer uma inocente.
- Qual inocente, qual quê!
- Jorge, ou me prometes que não vais fazer nada contra a miúda, ou, eu mesmo, vou falar com o Dr. Laranjeira e contar-lhe tudo.
- Tu eras capaz de fazer isso? Depois de tudo o que o pai dela te fez, ainda eras capaz de a ir defender?
- Sim. Só eu sei o que sofri por ter sido despedido assim como fui, por isso não quero que mais ninguém, ainda por cima uma inocente, sofra da mesma forma que eu sofri. Promete-me que não vais fazer nada contra essa rapariga. Como disseste que se chama?
- Que importa como ela se chama? O que realmente importa é que é filha daquele canalha.
- Diz-me, diz-me o nome dela.
- Inês…Inês Castelo Novo.
- Agora promete-me que não a vais machucar.
Jorge, conhecendo o irmão como conhecia, lá prometeu que não iria fazer nada contra Inês, apesar de pensar fazer precisamente o contrário.
Os dias foram passando, Jorge comportava-se como se Inês não existisse e a sua presença no gabinete não lhe fizesse despertar incontroláveis desejos de vingança:
- Mãe, não sei que mal fiz ao chefe do gabinete do Dr. Laranjeira, tem-me feito, desde o primeiro dia, a vida num inferno.
- Queres que peça ao pai para dar uma palavrinha ao Dr. Laranjeira?
- Não. Ou supero o desafio por mim mesma, ou abandono o estágio.
Havia quase um mês que Inês estagiava no gabinete do Dr. Laranjeira, quando um dia, quase ao sair do gabinete, uma sua colega lhe disse que alguém lhe desejava falar. Apesar do adiantado da hora, pensando tratar-se de algum cliente, resolveu prolongar o horário de trabalho e receber o jovem que lhe desejava falar:
- Dra. Inês, quero pedir-lhe desculpa por a vir incomodar à hora que deveria estar a sair daqui, mas só agora consegui apanhar uma oportunidade de lhe falar sem correr o risco de poder vir a ser visto pelo seu chefe.
- Desculpe, não estou a entender. Conhece o Dr. Jorge?
- Sim. Conheço-o até muito bem, é por isso que lhe quero falar. Eu tenho vindo a acompanhar a sua presença aqui.
- - Desculpe…
- Não precisa ter medo. Não sou nenhum tarado que se apaixonou por si e a tem seguido dia após dia, embora tenha de reconhecer que a Dra. É uma mulher muito bonita. Eu sou irmão do Dr. Jorge, o seu chefe.
- Que me diz…?
Lourenço convidou-a para tomarem um café, pois temia que o irmão pudesse chegar a qualquer momento e apanhá-lo ali. Inês, mesmo sem saber porquê, confiou nele e aceitou o convite.
Lourenço ia contando tudo quanto se passara entre ele mesmo e o pai dela, ao mesmo tempo que lhe ia admirando toda a beleza do seu rosto e graciosidade do seu perfeito corpo, enquanto ela, sem compreender porquê, se começava a sentir atraída por aquele jovem a quem seu pai estragara a vida, mas que mesmo assim não hesitara em impedir que o irmão a pudesse magoar, somente por a considerar inocente de tudo quanto se passara:
- Pai, mãe, este é o Lourenço, o meu namorado.
- Jorge, como já sabes, esta é a Inês, a namorada de que te falei aqui há dias atrás.
- Não Dr. Fernando, não diga nada. O meu amor pela Inês, é superior a tudo quanto se passou.
- Não Dr. Jorge, o meu amor pelo Lourenço é muito maior que toda a sua sede de vingança.
 
Moral: “Nem a Injustiça e o desejo de Vingança conseguem vencer o amor.”
 
Francis Raposo Ferreira
14/02/2020
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Bolo de Mim

Bolo de mim

Tudo aquilo que aqui vês,
Não é, só, fruto da idade,
Antes, mistura de porquês,
Amor e alguma saudade.

Amálgama de sentimentos,
Imperfeita, que nos molda,
Mesmo que, por momentos,
Uma força contrária se mova.

Não são pedaços isolados,
Tudo aquilo que aqui vês,
Antes, ingredientes amassados.

Não sei como será no fim,
Ainda restam tantos porquês,
Mas, este é o bolo de mim.

Francis Raposo Ferreira
12/02/2019

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Silêncio...

Silêncio…

 

De repente fez-se silêncio. Um silêncio absoluto, assustador. Não se ouvia nada, absolutamente nada. Nem o barulho do motor de algum carro, nem uma única voz que fosse, era como se a rua se situasse em pleno deserto. Nada se ouvia. Talvez fosse possível ouvir-se o bater de asas das moscas, se as houvesse. Mas nem moscas havia.

Lourenço foi-se embrenhando nesse silêncio absoluto, à sua frente só um universo vazio, completamente vazio. Arriscou ir em frente e avançou um pouco mais, parecendo-lhe que o mundo, todo o mundo, se envolvera num profundo e denso manto branco, como um enorme fardo de algodão que se ia abrindo à medida da sua passada.

Parou, de repente, ao descortinar, por entre ligeiros traços menos brancos que o espesso manto branco de algodão, um local que não lhe era totalmente desconhecido, uma espécie de passagem superior sobre uma estrada. Sim, era verdade, recordava-se de já ali ter passado, tudo aquilo lhe fazia lembrar um sítio do qual não conseguia localizar com precisão, mas que sabia não lhe ser completamente, nada mesmo, estranho. Fixou o olhar, lá estava, tal como suspeitava, aquela ponte pedonal em forma de meia-lua. Nada daquilo, de tudo aquilo, lhe era estranho.

Lourenço bem se esforçava para se tentar recordar de onde aqueles pormenores lhe eram familiares, mas quanto mais se esforçava, mais se apercebia de como a envolvência lhe era completamente estranha. Era isso, o que lhe era, de facto, estranho, era toda a envolvência, pois além de não conseguir vislumbrar os pilares de sustentação de tal ponte, também nem não conseguia vislumbrar as grades de protecção, encostado às quais, tinha a certeza disso, desfrutara de uma vista maravilhosa, apesar de continuar sem se conseguir situar. Reparou então que nem sequer vislumbrava estrada alguma que justificasse a existência de tão familiar ponte, tudo era um vazio completo.

A única coisa que conseguia distinguir no meio de todo aquela brancura, era mesmo, e só, o caminho que o convidava a avançar e atravessar aquela ponte erguida no meio do silêncio, sustentada por enormes fardos de algodão branco. Era como se estivesse a entrar num mundo onde todas as cores, além do branco, fossem proibidas. Assustou-se. Seria aquilo o Paraíso? E se fosse, isso significaria que estava morto?

Hesitou, pela primeira vez hesitou, prosseguir. Foi então que lhe pareceu ouvir uma voz. Não era impressão, ouvia mesmo uma voz, mas, curiosamente, era uma voz que lhe falava em silêncio e lhe dizia:

“Vem. Não tenhas medo, vem daí.”

Lourenço, sem assim o decidir, decidiu seguir aquela voz que lhe mostrava o caminho e foi vendo como os fardos de algodão, sim agora tinha a certeza, eram mesmo fardos de algodão, se abriam para o deixar passar.

Sonho ou não, loucura ou talvez também não, o certo é que no outro lado da ponte, ela o aguardava.

Lourenço, com medo de quebrar tão sensual silêncio, caminhou ao seu encontro, docemente, podia dizer-se estranhamente, pois  se lhe parecia que quase nem levantava os pés do macio algodão que lhe atapetava o caminho, ao mesmo tempo era como se voasse sem sequer pisar esse mesmo algodão.

 No outro extremo da ponte, o qual lhe parecia que se afastava à medida que ele avançava, como se a dita ponte se afastasse na proporcionalidade directa dos seus passos, pelo que ela, tão tranquila como o silêncio que o envolvia, tão doce e meiga como os fardos de algodão que o vinham acompanhando ao longo da sua caminhada, tão pura e verdadeira como o branco de todo aquele universo, se mantinha à mesma distancia a que a vira pela primeira vez, limitando-se a repetir, ao mesmo tempo que lhe abria os braços:

“Vem. Não tenhas medo, vem daí. Vem a mim”

 

Francis Raposo Ferreira

12/02/2020

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Novas Fábulas

Nova Fábula

 

La Fontaine nos encantou

Com histórias maravilhosas,

As personagens que inventou

Tornaram-se estrelas famosas.

 

Ele soube-nos encantar

E dar-nos lições para a vida,

Imaginou animais a falar

E construiu uma obra divertida.

 

Como La Fontaine cantava,

Através dessas suas criaturas

Havia sempre quem andava

A viver à custa de falsas posturas.

 

A fábula do Leão e do Rato

Mostra o valor da gratidão,

Hoje, é um verdadeiro facto,

Há poucos homens como o Leão.

 

Outra da Lebre adormecida

Que da Tartaruga quis escarnecer,

Só quando se viu vencida

É que a Lebre conseguiu perceber.

 

Há muita gente assim,

Julga-se num patamar superior,

Mas quando vê vir o fim

Começa a falar de amor.

 

A Tartaruga na sua passada

Lá caminhou até à meta,

Toda a gente que é amada

Terá a sua vitória certa.

 

Se La Fontaine ainda vivesse,

Fábulas, não escreveria mais.

Acredito que ele até tivesse

Medo de ofender os animais.

 

A vida uma fábula virou,

Onde há muitos animais a falar,

Só que a moral não entrou

Nesta maneira, deles, de estar.

 

Francis Raposo Ferreira

22/01/2020

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Linhas

Linhas

 

Por mais que seja seu prolongar

Nunca haverá contacto entre elas,

Principio que se deverá observar

Para duas linhas serem paralelas.

 

Se alguma vez se ousarem tocar,

Paralelas, não se lhes chamará.

Talvez obliqua, ou perpendicular,

Uma em relação à outra, será.

 

Perpendiculares, se no encontro

Um ângulo recto se formar,

Noventa graus mesmo no ponto.

 

Qualquer outro ângulo formado,

Não há como duvidar,

Oblíquas, o termo apropriado.

 

Francis Raposo Ferreira

22/01/2020

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CPP