Posts de Francisco Raposo Ferreira (187)

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Grito de Liberdade

Grito de Liberdade

 

Hoje apetece-me dar um grito,

Mas um grito de liberdade

Para mostrar a todo o mundo

Que não há nada mais bonito

Que o valor de uma amizade

Que germina cá bem no fundo.

Hoje apetece-me dar um grito,

Mas um grito de riso e alegria

Para mostrar aos poderosos

Como é verdadeiramente infinito

O nosso desprezo pela hipocrisia

E nos bastam amigos maravilhosos.

Hoje apetece-me dar um grito,

Mas um grito saído cá do fundo

Para mostrar aos pessimistas

Que é na amizade que eu sinto

Que é possível mudar o mundo

e lançar as sementes humanistas.

Hoje apetece-me dar um grito,

Muito simplesmente para gritar

E mostrar a quem me quer prender

Que podem mandar apertar o cinto

Mas nunca nos conseguirão calar,

Pois este grito é ânsia de viver.

Hoje apetece-me dar um grito.

 

Francis Raposo Ferreira.

04/11/2019

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Passos de Liberdade

Passos de Liberdade

Nos degraus da minha solidão
Procuro passos de liberdade,
Numa luta entre a razão,
O medo, o desejo, a ansiedade.

Dou liberdade ao pensamento,
Sem lhe impor condição,
Deixando-o voar como o vento
Que não admite qualquer prisão.

Ninguém, nem nenhuma razão
Quebrará minha ansiedade,
Meu medo, desejo, minha solidão.

Subirei alto, no pensamento,
Voando nas asas da liberdade,
Livre, como livre só o vento.

Francis Raposo Ferreira
03/11/2019

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Calçada da Amizade

Calçada da Amizade

Um simples calceteiro
Constrói desde o nada,
Como nenhum engenheiro,
A mais linda calçada.

Com suaves marteladas
Sua obra vai revelando.
Constrói lindas calçadas
Que depois iremos pisando.

Nem apreciamos o valor
Daquele trabalho genial
Feito com dedicação e amor.

Que hoje, para a imortalidade,
Coloquemos pedra sem igual
Na calçada da nossa amizade.

Francis Raposo Ferreira
02/11/2019

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Naturalmente

Naturalmente

 

Correm os rios para o mar,

Vencendo dificuldades,

Como eu corro para te amar

Ao fim de todas as tardes.

 

Espera a noite o fim do dia

Sem nunca desesperar,

Como eu espero com alegria

A hora de te poder beijar.

 

Cantam livres os passarinhos

Sem medo de se enganar,

Como canto, eu, meus versinhos.

 

Desafia a presa, o caçador,

Num estranho e belo bailar,

Como desafio, eu, o teu amor.

 

Francis Raposo Ferreira

02/11/2019

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Ternura

Ternura

 

João Pedro, não por ser o responsável pela área de comunicação do gabinete de advogados onde trabalhava, mas sim por se tratar de um jovem educado, afável e, sobretudo isso, consciente e sensível para a rispidez da vida de muitos dos seus semelhantes, sempre que tinha de enviar um mail para alguma das repartições públicas com quem interagia, e na dúvida de quem seria o receptor/a dos mesmos, iniciava as suas mensagens, sempre, da mesma forma:

Exmos(as) Senhores (as):

Foi este seu modo, delicado, de se dirigir aos outros, que fez com que um sonho fosse ganhando força na cabeça de Amélia, a técnica administrativa de um dos tribunais com que João Pedro trocava correspondência digital diária.

Amélia, apesar de ainda ser bastante jovem, tinha um longo historial de sofrimento amoroso, não só tendo a consciência que se casara com um homem que além de não a amar, ainda a sujeitava a humilhações a que muito poucas mulheres se sujeitariam. Não fossem os dois filhos, menores, e as constantes ameaças de morte caso ousasse pensar em separar-se dele, talvez aquele casamento, há muito, já tivesse terminado.

Amélia não culpava ninguém, a não ser a si mesma, por toda aqueles anos de sofrimento, pois não fora à falta de avisos paternos que se deixara levar ao altar sem conhecimento da verdade, António era um mulherengo incorrigível. Nunca, nos quase doze anos de namoro e casamento, soubera o que era, verdadeiramente, um momento de carinho da parte do marido.

Foi esta sensação de falta e o jeito doce de João Pedro, a quem só conhecia através do mail institucional, que a levaram a idealizar como seria o seu interlocutor secreto.

Amélia parecia uma daquelas jovens adolescentes que se deixam apaixonar pelo mais bonito rapaz da sua escola ou do seu 1º emprego, deitava-se ansiosa pelo novo dia e pelos mails do rapaz, eram eles, mais os filhos, que lhe davam forças para continuar a enfrentar os, cada vez mais frequentes, maus modos do marido.

Amélia hesitava entre tentar uma aproximação ao seu amado platónico, sujeita a tudo, inclusive a desilusões, ou deixar que fosse o tempo, ou o destino, como ela tanto gostava de dizer, a resolverem as coisas. Guardado está o bocado para quem tiver de o comer, era uma das suas máximas.

O inevitável tinha de acontecer um dia. Amélia continuava a adormecer a sonhar com João Pedro, sonhava que ele, com umas mãos suaves e uns braços fortes, a abraçava e lhe acariciava os ombros enquanto ficava a vê-la adormecer. Quantas vezes se entregou aos desejos do marido, se é que aquilo eram desejos, a pensar que era a João Pedro que se entregava.

Amélia nunca chegou a conhecer, pessoalmente, João Pedro, visto o jovem ter mudado de emprego, mas foi a pensar nele e em toda a sua delicadeza, que continuou a adormecer envolta em ternura e um dia ganhou coragem para fazer frente ao marido e iniciar uma nova vida.

 

Moral: É na nossa sensibilidade que o outro pode descobrir a Felicidade.

 

Francis D’Homem Martinho

02/11/2019

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Sonho Luso

 Sonho Luso

Mil cento e vinte cinco, Afonso Henriques
É um jovem com catorze anos de idade,
Arma-se cavaleiro, gestos muito chiques,
Tornando-se guerreiro com liberdade,
Nobres Portugueses lhe apoiam os tiques,
Que pretendiam algo mais, era a verdade.
D. Teresa pouca importância lhes dava,
Preferia o Galego Fernão Peres de Trava.

Afonso Henriques não hesita desafiar
O poder de sua mãe, sonho a emergir,
Mil cento vinte e oito, tudo vai mudar,
O jovem Afonso Henriques aceita dirigir
Forças que se mostram dispostas a lutar
Contra D. Teresa e quem a seguir.
Arredores de Guimarães, S. Mamede,
É aqui que o poder das forças se mede.

Dois exércitos preparam-se para a batalha,
Fernão Peres de Trava está confiante,
Sente a vitória garantida, aquilo não falha,
Tem os Barões Portucalenses por diante,
Considera-os pura e reles escumalha,
Acaba por sofrer pesada derrota, humilhante.
Exaltam os senhores de Sousa e Ribadouro,
Suas pretensões ganhavam ancoradouro.

Seu poder na região estava solidificado,
Portanto não admitiam ter de o perder,
Ansiavam por um poder subjugado,
Tal como no tempo, nunca o esquecer,
Em que Mumadona Dias tinha o condado,
Agora queriam obrigar o Galego a ceder.
Afonso Henriques era visto como o ideal,
Sonhavam manobrá-lo, pensaram mal.

Soeiro Mendes de Sousa “O Grosso”,
Gonçalo Mendes de Sousa “Sousão”
Combateram ao lado do jovem moço,
Tal como Egas Moniz, seu aio de eleição.
Quanto à data certa há um certo fosso,
Vinte quatro de Junho, talvez sim ou não.
Gonçalo Mendes da Maia “O Lidador”
Outro que lutou ao lado do rei fundador.

O jovem resolve assumir a autoridade,
Afonso sétimo de Leão, deveras ocupado,
Não atribui importância a tal novidade,
Bastava-lhe que ficasse salvaguardado,
Por Afonso Henriques, o preito de fidelidade,
Autorizando que conduzisse o condado.
Aumentar o prestigio era seu sonho maior,
Ambicionava vir a tornar-se imperador.

Afonso Henriques, tem ideais, nada o impede
De pela sua concretização batalhar,
Depois de vencer a mãe, batalha de S. Mamede,
Decide, seu primo Afonso sétimo, desafiar,
O Rei de Leão e Castela é forte, não cede
E vai obrigar Afonso Henriques a lutar.
Eram tempos de guerras sangrentas e brutais,
Onde os homens lutavam como ferozes animais.

Um dos primeiros obstáculos enfrentados
Originou outra grande lenda do país,
Fala dos valores morais que foram resgatados,
Junto do rei de Leão e Castela, por Egas Moniz,
Ele e todos os seus se terão feito apresentados
Para que o Rei os enforcasse, este assim não quis.
Começava a travar-se uma luta desigual
Cujo objectivo era a independência de Portugal.

Diz a lenda, é parte da história Portuguesa,
Que o príncipe, em Guimarães cercado,
Prometeu lealdade à Hispânica realeza,
Se aquele cerco fosse levantado,
Nestes tempos era comum esta fineza
Para ultrapassar o obstáculo encontrado.
Não importava o que se prometia,
Importante era salvar a pele, depois logo se via.

Queria tornar o condado independente,
Mas isso só, não era o bastante,
Envolveu-se noutra guerra, outra frente,
Os Mouros, por um território mais possante,
Era guerreiro temido e valente,
Não abdicava de levar seu sonho avante.
Os Deuses não elegiam apenas o militar,
As grandes vitórias nasciam no organizar.

Aproveitando uma trégua com o rei de Leão,
1135, funda o castelo de Leiria,
Mas ao envolver-se, com o primo, em discussão,
Para os Mouros, aquela cidade perderia,
Encontraria mais propícia ocasião
Para reconquistar o que por agora perdia.
Não se deixava abater por uma meia derrota,
A lenda continuava a crescer à sua volta.

O seu, grande, espírito de estratega militar
Leva-o, antes que tudo se complique,
A nova trégua com o primo consertar,
E vence os Mouros na batalha de Ourique,
A fama da sua espada não parava de brilhar,
Cinco Reis Mouros caíram a pique.
Cinco escudos no brasão de Portugal,
Perpetuam tão rude batalha triunfal.

Batalha coberta de dúvidas e incertezas,
Dando origem a lendas, anos mais tarde,
Invocadas quando as cores Portuguesas
Corressem o risco de perder a liberdade,
Atribuíram-lhe poderes de Deuses e Deusas,
Prometeram-lhe toda a sua lealdade.
Jovem guerreiro, bravo e destemido,
Tornar-se-ia, também, homem apetecido.

Foram batalhas longamente disputadas,
Só depois de vencida a de Arcos de Valdevez,
As condições de independência foram acertadas,
Só reconhecidas em mil, cento quarenta e três,
Existem algumas opiniões desencontradas
Na data de reconhecimento do Rei Português.
A concordância centra-se em torno da verdade
Do esforço da Santa Sé na defesa da Cristandade.

É verdade, com dois anos de demora
O rei de Leão e Castela dava-se por vencido,
E, numa conferência realizada em Zamora,
D. Afonso Henriques obtinha o pretendido.
Assentimento do Papa é o que falta agora,
Para que o jovem reino seja reconhecido.
Arrasta-se o tempo até mil cento setenta e nove,
O jovem Rei promete riquezas, o Papa resolve.

Prosseguira sua, triunfante, caminhada,
Mil cento quarenta e sete conquista Santarém,
Depois é a vez de Lisboa ser conquistada,
É Outubro de quarenta e sete também,
Todos se vergam à força da sua espada,
Nada nem ninguém o pára ou detém.
Apregoa a luta em nome do ideal Cristão,
Tudo valia para caminhada não ser em vão.

A conquista da cidade, hoje a Capital,
Sucedeu a um enorme cerco montado
Em seu redor. A mesquita vira Sé Catedral.
Pelos cruzados foi o nosso rei ajudado,
Erguia-se o sonho do reino de Portugal,
D. Afonso Henriques sentia-se encorajado.
A glória está reservada aos destemidos,
O jovem Rei era um dos mais temidos.

A tomada desta importante cidade do país
Está associada a uma história por confirmar,
Diz-se que um nobre, de nome Martin Moniz,
Se entalou na porta, para o exército entrar,
Nascia um herói, terá morrido feliz
A Lusa história o haveria de perpetuar.
Cidade de Lisboa, finalmente, conquistada
E crescia a lenda da sua temida espada.

Ano este, de quarenta e sete, glorioso,
Tomaria ainda mais dois Castelos,
Almada e Palmela, avançava vitorioso,
Erguendo história sem paralelos,
Conquistar Alcácer do Sal lhe dá gozo
Mil cento cinquenta e oito tão belos.
As conquistas não deixam de o acompanhar,
Novo ano, toma Castelo de Cera, Tomar.

Antes mesmo de este ano terminar,
Novas terras para seu reino deseja,
Évoramonte consegue conquistar,
E logo se lhe segue a cidade de Beja.
Perde-a, três longos anos deixa passar
E reconquistá-la é algo que almeja.
De três em três batalhadores anos
Traz novas gentes à gente dos Lusitanos.

Évora sente que sua hora é chegada,
Mil cento sessenta e cinco, ano corrente,
Serpa e Moura conquista de uma assentada,
Apenas um ano lhe passara pela frente.
A vida vai longa e deveras cansada,
derrota em Badajoz o deixa ferido e doente.
Guerreiro destemido, só no fim da sua vida
Sentiu a dor de uma batalha perdida.

Após todas estas conquistas efectuar,
O rei preocupa-se com o povoamento,
A igreja Portuguesa prontifica-se a ajudar
Para a Santa Sé lhe dar o reconhecimento,
Entretanto tivera tempo para pensar
Em tratar do seu próprio casamento.
O reino de Portugal tornara-se realidade,
Agora era preciso tratar da continuidade.

Mafalda de Sabóia foi a escolhida
Para concretizar dois objectivos concretos,
Reaproximação à linhagem perdida,
Como naquele tempo já eram tão espertos,
E a legitimação, Santa Sé, pretendida,
D. Afonso Henriques deu os passos certos.
As batalhas não lhe tiravam outro vigor,
Foi o jovem Rei, também Rei no amor.

Terão sido inúmeras suas amantes,
Chamoa Gomes terá sido a pioneira,
Amores extra-conjugais eram constantes,
Filhos bastardos era prática corriqueira,
Contam-se outras histórias picantes,
Até Condessas terão entrado na brincadeira.
Sua espada ganhara fama de vitória
Todas queriam o seu momento de glória.

Filhos saídos de todas estas relações,
Terão sido uns três ou quatro,
Nada que lhe causasse preocupações,
Limitando-se a assumir o seu acto,
Nestes tempos não constituíam traições,
Como que se aceitava tal facto.
Os casamentos não implicavam amor,
A grande preocupação era deixar sucessor.

Dona Mafalda, Condessa de Sabóia,
Também não seria muito boa de aturar,
Na hora de parir não era nenhuma jóia,
Ai de quem a ousasse enfrentar,
O Bispo de Coimbra provou veneno da Jibóia
Por no claustro não a deixar entrar.
Seu marido combatia o inimigo Mouro,
Ela estabeleceu o serviço de barcos no Douro.

Pode ter sido infeliz em alguns momentos,
Ter horas difíceis no acto de parir,
Mas cumpriu a finalidade destes casamentos
E sete filhos, a este mundo deixou vir,
D. Sancho foi um dos numerosos rebentos,
O sucessor do pai quando este partir.
D. Mafalda tinha nos partos seu pavor,
Ao morrer num, entrou no claustro interior.

Sepultada no Mosteiro de Santa Cruz,
Deixou albergaria para os peregrinos,
A uma igreja em Canaveses deu a luz,
Enquanto ia cuidando de seus meninos
Ainda arranjava tempo para dedicar a Jesus,
Fazia parte dos deveres reais e femininos.
Não terá vivido dias de felicidade,
Nossa primeira Rainha, que Deus a guarde.

Morre Afonso sétimo, Fernando a reinar,
Hesita mas reconhece o reino de Portugal.
D. Afonso Henriques não desiste de lutar
Pelo desejo de alargar o território nacional,
Está invencível, não o conseguem derrotar,
Acredita-se numa protecção Divinal.
Muito mais que um guerreiro valente,
Demonstra ser governante competente.

A fronteira meridional de território é o Tejo,
Mas o rei de Leão mostra-se preocupado,
Um guerreiro Luso conquista no Alentejo
Terras onde ele sempre tinha reinado,
D. Afonso Henriques agradece o gracejo,
Évora, o pedaço de terra conquistado.
Geraldo, conhecido como o Sem Pavor,
Conquista simpatia e bens a seu favor.

El-Rei de Portugal, o temido guerreiro,
Sofre a única derrota aos sessenta anos,
Em Badajoz, acabou por ficar prisioneiro,
Além de fracturar a perna, fortes danos,
Mais uma vez demonstra ser homem matreiro,
Não comprometendo os bens Lusitanos.
Ninguém esperasse vê-lo desistir,
Há que procurar a estratégia que convir.

Encetam-se negociações com o rei de Leão,
Tudo vale, até que consiga ser libertado.
As condições para a sua libertação
Impõem devolver território conquistado,
Não lhe importam pormenores da negociação,
O mais importante continuar o reinado.
A paz não era estado de grande rigor,
Em breve se voltará a falar do conquistador.

Aproveitando esta Ibérica confrontação
Os Mouros, em Santarém o cercaram,
Vale a D. Afonso Henriques o Rei de Leão,
Tréguas com os Muçulmanos assinaram,
Voltava a unir-se o mundo Cristão,
Contra aqueles que enfrentá-los, ousavam.
Os Deuses impunham Santas alianças,
Os homens viam nelas novas esperanças.

Mil cento setenta e nove, Portugal
É reconhecido como território independente,
E D. Afonso Henriques, através de bula papal,
Alexandre III, torna-se rei da Lusa gente,
Adivinhavam-se dificuldades sem igual,
Agora era tempo de se olhar em frente.
D. Afonso Henriques permitiu-se sonhar,
Os Deuses lhe deram forças para avançar.

A igreja de Santa Cruz manda construir,
Tem uma obra-prima da renascença,
O pequeno púlpito, onde podemos distinguir
Figuras de sibilas; profetas e doutores da igreja,
D. Afonso Henriques sabia bem como agir,
Era preciso cimentar a nossa independência.
Combater contra os invasores Muçulmanos,
E ir conquistando terras aos Castelhanos.

D. Afonso Henriques teve reinado de esplendor,
Cinquenta e sete anos de conquistas preciosas,
Mil cento e oitenta e cinco, morre o Conquistador.
Ficou, eternamente grato às ordens religiosas,
Teve nelas um auxilio de grande valor,
Juntos festejaram conquistas das mais valorosas.
Deixava instaladas as bases do reino de Portugal,
Agora era tempo de uma vida imortal.

O seu sucessor estava, há muito, encontrado,
Era seu filho legitimo, D. Sancho primeiro,
Um outro, Fernando Afonso, era filho bastardo,
Não sendo, por isso, seu legítimo herdeiro,
Pedro Afonso também deve ter sonhado,
Tornar-se sucessor de tão nobre guerreiro.
Filhos bastardos, tal as inúmeras amantes,
Seriam realidade comum de futuros governantes.

Morria D. Afonso Henriques, “O Fundador”,
Deixando-nos importante legado,
Voltasse hoje e grande seria sua dor,
Ver Portugal, ao mundo, assim subjugado,
Libertou-nos do jugo do antigo senhor,
Sonhando o que já seu pai havia sonhado.
Homens de tamanha bravura e firmeza
Estiveram na génese da nação Portuguesa.

Francis Raposo Ferreira

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Palavra de Poeta

Palavra de Poeta

 

A vida é como um circo,

Tantas são as palhaçadas,

Ora me vou, ora me fico,

Nas desertas e frias bancadas.

 

Rimos com o azar alheio,

Apreciamos os trapezistas,

Ilusionista acerta em cheio,

Nos engana sob nossas vistas.

 

Cavalos; macacos e leões,

Todos bem amestrados,

Tal como as nossas ilusões.

 

Apreciamos mortais, piruetas,

E adormecemos, embalados

Nas belas palavras dos Poetas.

 

Francis Raposo Ferreira

31/10/2019

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Milagre, não, Humanismo

Milagre, não. Humanismo, sim.

 

Aquela era a primeira vez, em quase vinte anos da sua carreira como professor, que Luís Carlos se via a dar aulas numa escola dita pública. O facto de sempre ter andado por colégios particulares, primeiro nos da própria família e depois nos de famílias amigas, dera-lhe uma noção distorcida da realidade social das escolas públicas, principalmente as que serviam comunidades de graves carências sociais, como era o caso daquela onde fora colocado.

Foi logo nos primeiros dias que Luís Carlos se apercebeu que uma grande maioria dos seus alunos, jovens na casa dos 7/8 anos, era oriunda de famílias com grandes dificuldades no seu dia-a-dia, geralmente famílias onde o elevado número de filhos era uma realidade, além de tudo o mais que está subjacente a este tipo de guetos da era moderna.

De entre todos os que lhe pareciam mais necessitados, Luís Carlos, foi-se apercebendo que Artur era o que dava mostras de mais precisar de satisfazer as suas necessidades básicas, como a alimentação.

Certo dia, Luís Carlos, observou como Artur mirava, com verdadeiros olhos de desejo, o pão que um seu colega mastigava com elevado prazer. Aproximou-se do garoto e perguntou-lhe:

- Artur, gostavas de comer um pão como aquele?

- Gostava. Nunca provei um pão daqueles com sementes. Aliás, muitas vezes nem daqueles nem de nenhum. Sabe Professor, lá em casa somos dez pessoas, os meus pais, sete filhos e mais o meu avô. O pouco dinheiro que o meu irmão mais velho, ele tem nove anos, consegue arranjar na mendicidade não chega para nada. Eu sou o único que anda na escola.

- Os teus pais não trabalham?

- Não. O meu pai, não só não trabalha, como ainda exige que o meu irmão lhe dê parte do dinheiro que consegue arranjar. Depois vai gastá-lo em vinho.

- Mas os teus irmãos não andam na escola porquê?

- Ora, cinco são ainda pequeninos, dois são gémeos, e o outro, desde muito novo que o meu pai o obriga a ir pedir para ele.

- Então e tu?

- Eu, apesar de tudo tive sorte, uma vizinha minha, ameaçou o meu pai que se me pusesse a pedir, como fez com o meu irmão, o denunciava e a segurança social ia lá e tirava-lhe os filhos todos. Acho que ele teve medo e mandou-me para a escola.

Luís Carlos estava espantado, não tanto com a história de vida de Artur, mas sim com a sua clareza de espírito, quem o ouvisse falar, de certo pensaria que se tratava de um adulto e não de uma criança de 7/8 anos.

Luís Carlos retirou-se, enxugou uma lágrima e só voltou já o recreio estava quase a terminar, trazia um saco de papel na mão. Entregou-o a Artur e disse-lhe:

- Toma, é pouco porque a padaria só já tinha esses quatro.

Eram quatro daqueles suculentos pãezinhos com sementes. Artur tirou um, partiu-o ao meio e comeu metade, guardando o resto:

- Então, só comes isso?

- Sim, vou guardar o resto para os meus irmãos. Eu sempre como alguma fruta que consigo apanhar no caminho de casa até aqui, agora eles é que nem isso.

Luís Carlos ficou impressionado com a atitude do garoto:

- Artur, tu acreditas em milagres?

- Senhor Professor, desculpe o que lhe vou dizer. Não, não acredito.

- Pois olha que acho que devias acreditar.

Artur não percebeu o que o professor lhe queria dizer. Só no dia seguinte, ao ouvir a sua mãe a gritar é que compreendeu tudo. A progenitora fora encontrar, no prego que servia de puxador à porta da barraca onde viviam, um saco com pães de sementes.

 

Nesse mesmo dia, após as aulas, Luís Carlos apresentou-se em casa de Artur e, sem medo das ameaças do pai do garoto, informou que apresentaria uma queixa na comissão de protecção de menores, caso ele persistisse em continuar a não assegurar as condições mínimas de dignidade humana, aos filhos. Ao sair, afagou a cabeça do petiz e disse-lhe:

- Podes não acreditar em milagres, mas acredita na boa vontade dos homens.

O pai de Artur, temendo as ameaças do professor, e tudo o que elas podiam significar, isto é, ficar sem quem lhe angariasse o dinheiro suficiente para se continuar a embriagar dia após dia, lá se foi deixando vencer pelo medo, permitindo que todos os outros filhos frequentassem a escola.

 

 

Francis Raposo Ferreira

31/10/2019

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Dia das Bruxas

Dia das Bruxas

 

Hoje é o dia das bruxas,

Sejam feias ou bonitas,

De peles secas ou murchas

E unhas de dar nas vistas.

 

Com seu nariz comprido

Em vassouras montadas.

Abóboras, um vidro partido,

Um gato preto ou sob escadas.

 

Tudo serve para assustar,

Embora nisto não acredite

É melhor nunca facilitar.

 

Pode até nem ser bruxa má,

Mas tenho cá um palpite

Que haver bruxas, lá isso há.

 

Francis Raposo Ferreira

31/10/2019

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Persianas de Mim

Persianas de mim

 

Fechei as persianas de mim,

Alheando-me de tudo,

Custou-me terminar assim,

Mas detestava este mundo.

 

Mundo desumano e falso,

Que nos fala de esperança,

Mas, depois, a cada passo,

Nega esperanças a uma criança.

 

Mundo hipócrita e sacana,

Que deixa velhos abandonados,

E proclama igualdade humana.

 

Mundo mordaz, duro e rude,

Onde os mais ovacionados

São os que não têm atitude.

 

Francis Raposo Ferreira

30/10/2019

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A Loja da Felicidade

A loja da Felicidade

 

Tiago sentiu-se desiludido ao ver chegar Luísa, então ele caprichara para receber a nova chefe do departamento de pessoal com a máxima das elegâncias e, ela dava-se ao desplante de se apresentar naquele estado. Como se já não lhe bastassem aqueles óculos grossos e o cabelo meio desgrenhado, ainda se permitia vestir aquele conjunto cheio de cornucópias que, juntamente com as horríveis alpercatas que lhe serviam de calçado, lhe transmitiam um verdadeiro ar de parola.

Tiago não acreditava que ninguém tivesse avisado a nova colega, que naquela empresa havia um chefe de divisão, ele mesmo, que não só era um dos homens mais charmosos, como também um dos mais cobiçados pelo sexo feminino. Nunca lhe iria perdoar tamanha afronta.

Tiago bem o pensou e melhor o fez, pois nos tempos que se seguiram, tudo fez no sentido de dificultar o trabalho de Luísa. Não só sendo um dos primeiros a zombar do seu companheiro, e amigo, Norberto, quando o namoro deste, com Luísa, foi tornado público, como também tentando colocar pequenos grãos de areia na engrenagem de tal namoro. A verdade é que se sentia despeitado pela preferência dada por Luísa ao colega.

Certo dia, Norberto, dirigiu-se a Tiago e entregou-lhe um envelope, era o convite para o seu casamento com Luísa. Tiago leu o convite, releu-o e não conseguiu conter o riso, afinal o seu companheiro era tão parolo quanto Luísa se queria fazer de sonsa, ele não via que aquilo não era mulher para ele, pelo que só podia haver por ali algo escondido.

O dia do casamento chegou e foi já após o copo de água que veio a grande surpresa. O pai da noiva pediu a atenção dos convidados, tomou a palavra e disse as palavras que deixaram Tiago sem capacidade de reação, o que na realidade já acontecera quando vira chegar Luísa à igreja:

- Caros convidados, é com imensa alegria que vos quero comunicar que a partir do próximo mês, entregarei a gerência da empresa “Modveste” à minha filha, pelo que terei de encontrar quem a substitua na chefia do departamento de pessoal.

Tiago não queria acreditar no que os seus ouvidos escutavam, Luísa não só era uma mulher linda, como ainda por cima era filha do seu patrão e iria passar a ser, ela mesma, a sua patroa.

Enquanto Tiago se arrependia de ter julgado Luisa pelo seu aspecto exterior, e não só, esta confidenciava a uma amiga:

- Sabes, é que enquanto algumas tentam comprar a felicidade com a sua beleza ou o seu dinheiro, a loja da minha Felicidade só vende aquilo que eu própria consegue produzir de genuíno.

 

Moral: “Felicidade não é aquilo que podemos comprar, mas sim aquilo que conseguimos conquistar.”

 

Francis Raposo Ferreira

30/10/2019

Saiba mais…

Amor; Desejo; Paixão

Amor; Desejo, Paixão

Desposo-te de roupas,
Puxo-te para mim,
Sussurro palavras loucas,
Beijo tua pele de cetim,
Sinto teu corpo tremer,
Numa entrega total,
Puros espasmos de prazer,
Rumo ao ponto final.
Arranhas-me o peito,
Beijas-me os ouvidos,
Dominas-me sob efeito
De teus lânguidos gemidos,
Levas-me no teu jogo,
Dominas a situação.
Em nós, tudo é fogo,
Amor, desejo, paixão.

Francis Raposo Ferreira
29/10/2019

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Nova História da Carochinha

A Nova História da Carochinha

 

Andava uma carochinha

A varrer o chão

Da sua modesta cozinha

Quando achou um tostão.

Ela pôs-se logo a sonhar

Com uma nova vida,

Primeiro queria casar

E ir de viagem seguida,

Procurou o melhor vestido

E pôs a cantar à janela:

“Quem quer ser meu marido,

Sou jovem, rica e bela.?”

Muitos se candidataram,

Mas por qualquer motivo

Todos eles reprovaram

No principal objectivo,

Até que surgiu João Ratão,

Que logo a convenceu,

Ela logo lhe deu a mão

E ele contente a recebeu.

No dia do casamento

Ele pediu para se ausentar

Por um breve momento,

Ela não ousou recusar.

Ele correu até casa dela,

Foi direito à cozinha

E deu-lhe o cheiro da panela,

Tanta fome que ele tinha.

Levantou a tampa e espreitou,

Agarrou no garfo e, já está,

Um belo chouriço espetou

E foi comê-lo para o sofá,

Não se podia demorar

Por isso comeu à pressa,

Correu até onde iam almoçar

E não se perdeu com conversa,

Foi muito linda a festa

Com muito comer e beber.

A outra história não presta,

Nesta, o noivo não vai morrer.

 

Francis Raposo Ferreira

29/10/2019

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Não se explica

Não se explica

 

Lourenço, ao ver-se sozinho na casa que idealizara para dar vida ao seu amor por Teresa, e na qual foram felizes durante quase quatro anos, sentiu-se desorientado, desencantado, desiludido, atraiçoado e sem vontade de nada, nem mesmo de continuar a viver.

Eram tantas as dúvidas que bailavam em sua cabeça que até já duvidava que Teresa se tivesse sentido feliz naquela casa, pois se o fosse, porque o trocaria por Leopoldo, logo Leopoldo, somente o seu melhor amigo, o mesmo Leopoldo a quem dera todo o apoio no seu processo de divórcio de Laura.

Lourenço não se sentia com forças para continuar a tocar naqueles móveis que comprara com tanto amor, por saber que eram os preferidos de Teresa, pelo que, nessa mesma noite, tomou uma decisão radical, apresentaria a carta de despedimento e quando estivesse livre de tal compromisso, rumaria à velha casa de família, situada nas encostas da serra de Montemuro.

Se assim o pensou, melhor o fez. Os seus patrões, tendo em atenção os argumentos apresentados e toda a consideração que sentiam por ele, dispensaram-no da obrigação de cumprir os prazos legalmente estabelecidos e permitiram-lhe que se fosse logo que tivesse passado o trabalho a outro colega.

Lourenço não perdeu tempo, na mesma tarde em que se despediu dos colegas de trabalho, correu para casa, arrumou algumas roupas na mala de viagem que tantas vezes o acompanhara nos seus passeios com Teresa, encheu a mala térmica, pois sabia que em redor da casa para onde ia, nada havia onde se abastecer. Após cerrar todos os estores, desligou água e luz, trancou a porta e colocou-se a caminho do seu novo mundo, nem sequer o portátil quis levar consigo, pois o que mais desejava, era mesmo isolar-se do resto do mundo, somente o telemóvel e por uma questão de prevenção para alguma urgência.

Os primeiros dias no seu novo paraíso, passou-os a saborear a paz, a tranquilidade, o sossego e o silêncio, sobretudo o silêncio. Aquilo que há pouco tempo lhe parecia um desperdício ali perdido no meio da serra, tornava-se no seu bem mais precioso, agradecendo a seu pai por nunca lhe ter dado ouvidos nos seus inúmeros argumentos para que vendesse aquela velha casa.

Foi já depois de passados bastantes dias de isolamento, e de completa inércia, que se sentiu com vontade de transformar o abandonado terreno que circundava a casa, num jardim. Ia no seu 2º dia de volta ao trabalho, ao seu ritmo e de acordo com o projecto por si idealizado, já não por amor a qualquer outra pessoa que não ele próprio, mas que sabia sempre fora um sonho de seus falecidos pais, transformar aquela casa num cantinho onde pudessem passar o resto das suas vidas, sonho esse que uma curva da morte, havia pouco mais de um ano, impedira de concretizar, que se começou a sentir acompanhado.

A princípio pensou que talvez fosse uma simples invenção de sua cabeça, talvez provocada pela sensação de liberdade que todo aquele isolamento lhe proporcionava, mas não. Dia após dia, mal abria a porta de casa, lá estava o melro à sua espera. A ave começara por ali ir em busca de água, depois habituou-se a debicar a terra que Lourenço ia remexendo e com isso foi-se começando a aproximar do rapaz. O facto de nunca se ter sentido ameaçado, deve ter-lhe transmitido confiança, pelo que não espantou que passasse a deixar-se ficar a observar Lourenço no seu dia-a-dia.

Passados alguns meses, Lourenço entendeu que não fazia qualquer sentido continuar a manter o apartamento de Lisboa, o seu futuro nunca mais passaria pela capital, pelo que decidiu deixar o seu refúgio e ir providenciar a venda do mesmo.

A estadia foi muito mais curta do que esperava, visto que não faltaram interessados em o ajudar a cortar os laços com a grande cidade, pelo que ainda não tinham passado quinze dias e já ele estava de regresso à sua nova casa.

Foi ao dirigir-se para a porta de entrada, que sentiu o coração a apertar-se no interior do seu peito, ali caído em pleno chão, mesmo junto ao banco onde costumava sentar-se ao fim do dia, estava o seu amigo melro. Parou o carro, saiu do mesmo e correu até junto da pobre ave, vendo que esta ainda vivia, embora estivesse prestes a despedir-se da vida. Agarrou o amigo com todo o cuidado, levou-o até junto do lago que construíra no centro do novo jardim e começou a molhá-lo com todo o carinho, reparando como a ave ia reagindo aos estímulos provocados pelos pingos de água sobre as suas penas. A reacção do melro incentivou-o a não desistir e não demorou muito até que a ave começasse a tentar pôr-se de pé. Assim que o sentiu já em condições de se manter de pé, foi ao carro, retirou um pão que comprara na viagem, partiu-o ao meio, retirou algum miolo, esfarelou o mesmo na palma da mão e ofereceu-o ao seu fiel amigo.

Quem se deixar perder pelos encantos da serra de Montemuro e for dar à casa de Lourenço, não se admire por ver um robusto rapaz a tratar de um belo jardim e, pousado num poleiro construído de propósito para si, um lindo melro a apreciar todo o carinho com que ele o faz.

 

Francis Raposo Ferreira

29/10/2019

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Inicio de Portugal

Toda a história, de qualquer nação,

É também a história de seus governantes,

É construída de lendas, verdades ou não,

Das suas vidas, sonhos, medos, amantes,

De vitórias e derrotas, do poder de decisão

Que muda o destino de outros figurantes.

Cantar o sonho Lusitano é sonho meu,

Sonhando imortalizar o que a Pátria me deu.

 

Mil cento e vinte cinco, Afonso Henriques

É um jovem com catorze anos de idade,

Arma-se cavaleiro, gestos muito chiques,

Tornando-se guerreiro com liberdade,

Nobres Portugueses lhe apoiam os tiques,

Eles pretendiam algo mais, era a verdade.

D.Teresa pouca importância lhes dava,

Preferia o Galego Fernão Peres de Trava.

 

Decorre o ano de mil cento vinte sete,

Afonso VII, rei de Castela e Leão,

Cerco a cidade de Guimarães mete,

Cerco que dará azo a muita confusão.

Porquê cercar Guimarães, se repete,

D.Teresa não estava ali, porquê então?

Se era vassalagem que pretendia,

Deveria ter ido ao encontro de sua tia.

 

D.Teresa era regente do Condado,

Seu filho, apenas jovem infante.

Aquela em Coimbra se havia refugiado,

Numa estratégia de seu amante,

D.Afonso VII pode ter sido enganado,

Nunca admitindo algo tão humilhante.

O cerco, tal como as lutas, foi real,

Egas Moniz terá tido papel essencial.

 

Não terá sido na lenda do laço,

Que nunca terá acontecido na verdade,

Ele terá servido para acertar o passo

Rumo ao fim do cerco à cidade,

Pode até ter comparecido no paço,

Acompanhando o infante, jurando lealdade.

Afonso VII desejava isolar D. Teresa,

Chamando a si o apoio da nobreza.

 

Terá o Infante jogado em duas frentes,

Jurando lealdade ao seu primo,

Enquanto agrupava as Lusas gentes?

Puras hipóteses o que aqui exprimo,

Não há fontes consideradas suficientes,

Hipóteses, ideias, somente o que afirmo.

D.Afonso Henriques não tinha legalidade

Para prestar vassalagem, essa é a verdade.

 

Francis Raposo Ferreira

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Ti Chico

 

Ti Chico

 

Ti Chico estava prestes a dar por terminada a tarefa que tinha entre mãos, quando ouviu a sua Ana, a única rapariga dos quatro filhos:

- Pai, pai!

- Que foi minha filha?

- Venha cá depressa.

- Calma, minha filha. Acalme-se e conte lá a seu pai o que se passa.

- Pai, está ali à porta um homem com muito mau aspecto e a mãe está cheia de medo.

Ti Chico compreendeu que algo de estranho se passava, pois além de não ser habitual que alguém aparecesse por ali, visto viverem num local ermo e longe, bastante longe, da aldeia mais próxima. Sem nunca o confessar à filha, Ti Chico ia pensando na melhor maneira de lidar com a situação. Se por um lado sabia que tinha de agir de acordo com o que sempre ensinara aos filhos, isto é, nunca julgar os outros só pelas aparências, por outro lado também não queria agir de modo a poder colocar os seus em risco, caso se tratasse mesmo de alguém com más intenções.

Após pensar por alguns segundos no modo que lhe parecia mais correcto de agir, disse à filha:

- A minha filha vai ficar aqui a tomar conta do trabalho que o pai estava a fazer, enquanto eu vou lá falar com o homem e ver o que é que ele quer daqui.

A menina, sentindo-se importante por o pai lhe confiar a guarda do seu próprio trabalho, nem sequer se apercebeu de como ele pretendia ficar a sós para poder agir de acordo com o seu bom senso, mas sem ir, ainda que pouco, contra aquilo que sempre lhe ensinara, a ela e aos irmãos. Assim que se furtou ao olhar da filha, Ti Chico agarrou na forquilha com que costumava juntar a palha da cama dos animais e lá foi ao encontro do inesperado visitante. Reparou logo que se tratava de um homem ainda bastante novo, sem o dar a perceber, olhou em redor, na tentativa de avaliar a situação, ou seja, a possibilidade de haver mais alguém escondido, ao mesmo tempo que verificava como a esposa se encontrava no interior de casa, certamente de porta trancada:

- Bom dia. Posso ajudá-lo nalguma coisa?

- Bom dia. Peço desculpa por aparecer assim sem mais nem menos. Agradeço a sua boa vontade, mas a única coisa que precisava, já tenho, água para matar a maldita sede que este calor abrasador me fez sentir.

- Que faz por aqui? Anda perdido ou quê? Isto é o fim do mundo, passam-se meses e meses sem ninguém aparecer por cá.

- Calculo. Antes de mais quero pedir-lhe desculpa por ter assustado os miúdos, o que até acho normal, pois devo estar cá com um aspecto.

- Não se preocupe. Afinal o que o trouxe até aqui?

- Eu sou ourives. Saí ontem de manhã da Vidigueira, a caminho de Beja, e, quando estava aqui já bem perto, um dos pneus furou. Como deve saber, ontem estava um sol ainda mais danado que hoje, mas mesmo assim ainda pensei em substituir o malvado do pneu, só que o suplente também estava vazio. Descuido meu, tenho de o reconhecer. Fiquei completamente desorientado, por um lado tinha medo de abandonar o carro com toda a minha vida lá dentro, por outro lado tinha medo que a noite chegasse e eu me visse ali perdido naquela maldita estrada onde nem um carro passa.

- Então e como resolveu as coisas?

Ti Chico, embora não o demonstrasse, mantinha-se em estado de alerta:

- Olhe, assim que começou a escurecer, fui empurrando o carro até que o consegui esconder atrás de umas moitas que por ali há. Estava tão cansado, que decidi descansar um pouco, tranquei-me dentro do carro e lá passei a noite. Esta manhã, ao acordar, vi o fumo a sair da chaminé da sua casa e decidi vir pedir-lhe que me ajude.

Ti Chico, acreditando nas palavras do homem, mas sempre vigilante, convidou-o a entrar em casa, não só para comer alguma coisa, como também para analisarem o assunto e tentarem encontrar uma solução para o mesmo.

A esposa de Ti Chico, após ouvir os argumentos do marido, lá se decidiu a destrancar a porta.

Foi depois de o homem saciar o apetite e lavar o rosto é que se sentaram a estudar a melhor maneira de Ti Chico poder ajudar o ourives. Iriam no tractor do anfitrião, rebocavam o carro até ali ao monte, reparavam um dos pneus e o homem poderia seguir viagem. Acabariam por reparar os dois pneus, não fosse ele ter mais algum furo até chegar a Beja e só então o ourives se foi de partida, prometendo-lhes que, sempre que voltasse à Vidigueira, os iria visitar.

Assim que viram o carro perder-se para lá da curva do eucalipto grande, a esposa virou-se para Ti Chico:

- Bem, ele quase que nem agradeceu. Se calhar nem é ourives nenhum. Vais ver que nunca mais cá aparece.

- Claro que é ourives. O homem tinha alguma necessidade de mentir?

- Por acaso viste-lhe o ouro?

Ti Chico virou-lhe as costas e foi acabar o trabalho que deixara por concluir na véspera. Para a esposa era o sinal de que não vira ouro algum.

Os meses foram-se passando e do ourives nunca mais tiveram sinal algum de vida, o que levava a esposa a dizer ao marido:

- És sempre o mesmo, acreditas em tudo o que te dizem.

- Oh mãe, o pai pensa que são todos como ele. Que mal tem isso?

Certo dia, quando a história da visita do ourives já se esfumara no tempo, viram chegar um bonito carro, ainda a brilhar de novo, o qual parou a escassos metros da porta de casa:

- Bom dia. Procuro o Ti Chico. Desculpe trata-lo assim, mas foi como o meu pai sempre falou do senhor. Ah, desculpem, nem me apresentei. Eu sou o filho do ourives que aqui veio à procura de ajuda.

Ti Chico olhou para a esposa e perguntou ao bem vestido visitante:

- E seu pai, que é feito dele?

- Infelizmente, aquela foi a última viagem de meu pai. Teve um ataque de coração e não conseguiu resistir. Mas ainda teve tempo para me pedir que lhe entregasse esta caixa que, segundo ele me disse, é sua por direito.

Nessa noite, após se despedirem do filho do malogrado ourives, Ti Chico, esposa e filhos, nem queriam acreditar no que viam. A caixa continha um fio de grossa malha de ouro para cada um deles, bem como um valioso relógio para todos eles.

Ti Chico, sem pronunciar palavra, limitou-se a olhar para a esposa e dirigir-lhe um sorriso, cujo significado as crianças logo decifraram:

 

“Nunca te arrependas de ajudar o próximo, mesmo sem saberes quem ele é.”

Francis D’Homem Martinho

27/10/2019

 

 

Francis Raposo Ferreira

2013

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A Hora do Amor

A Hora do Amor

 

Dá-me a tua mão, criança,

Vem estrada fora, não temas nada,

Lá, onde a vista não alcança,

Há uma vida para ser gozada.

 

Vida de um mundo melhor,

Do que aquele que temos aqui,

Mundo onde reina o amor,

Onde uma criança sorri, sorri.

 

Sim, lá, tal como devia ser

Aqui, a criança não merece sofrer,

Espalha sorrisos pelo mundo fora.

 

Um dia quando fores velhinho,

Tais palavras dirás a teu netinho:

“Sorri, o Amor não tem hora.”

 

Francis Raposo Ferreira

27/10/2019

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Sedutora

Sedutora

A camisa de dormir, de cetim,
Deixava-lhe as formas visíveis,
Ele, gostava de a ver assim,
E sonhar todos os impossíveis.

Ombros a descoberto, esbeltos,
Braços longos, de pele branca,
Dois mamilos rosados, erectos,
Cintura fina, provocante anca.

Mãos esguias, finos dedos,
Púbis qual musa inspiradora
De tantos sonhos e segredos.

Cais de amor esperando por si,
Coxas suaves. Mulher sedutora.
E ele, gostava de a ver assim.

Francis Raposo Ferreira
27/10/2019

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Vou-te Amar

Vou-te Amar

Quanto a raparigas
Não há terra que seja vil
Quando falo a uma
Aparecem mais de mil.

Eu ainda cá estou,
E vos posso afiançar
Quem quis casar
Sempre se casou.

Adeus querido amor,
Eu terei o labor
E outro te irá lograr.

Serei alma perdida,
Mas direi todo resto da vida
“Infeliz, mas vou-te amar”

Francis Raposo Ferreira
26/10/2019

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Francisquinho

Francisquinho

O meu nome é Francisco,
Francisquinho me podem chamar,
E corro grande risco,
Por esta história vir contar.

Conheci em tempos uma casada,
Que tinha cá um descaramento
Que não lhe escapava nada de nada,
Era um verdadeiro monumento.

Certo dia veio ter comigo, a rir,
Era uma alegria medonha,
Começou-se logo a despir,
Sem qualquer pudor ou vergonha.

Depois daquela primeira vez
Ficou-lhe a vontade toda,
Nem sei bem o que ela me fez,
até parecia que era dia de boda.

Tinha um pavor de estar vestida
Que parecia não ter fim,
Dizia-me que se sentia atraída
De uma forma irracional por mim.

Ali se deixava ficar deitada,
Sem qualquer tipo de atrapalho,
Declarava querer ser amada
E que isso não me daria trabalho.

Para junto dela me ia puxando,
Parecia andar sempre esfomeada,
Eu, como podia, lá me ia amanhando
Para não a deixar contrariada.

Ai que eu morro, ai, ai, ai,
Ai que triste vida a minha,
Ai meu querido e rico pai,
Ai minha querida maezinha.

Deixava-me todo a tremer,
Com esta sua cantilhena habitual,
Eu nem sabia o que fazer
Para não a deixar ficar mal.

Eu não sei o que sentia,
Se era alguma quebra de tensão,
Queria fugir mas não podia,
Oh meu Deus que aflição.

Eu já estava aflito
Ela começou-me a apalpar,
Foi aí que dei um grito
Pareceu-me que ia desmaiar.

Ela de novo se deitou,
Novamente me senti apalpado,
Tudo de novo recomeçou
E eu já me sentia esgotado.

Ai. Ai. Ai. Isso é demais,
Pára aí Francisquinho,
Ai. Ai. Ai. Não podes mais
Queres descansar um bocadinho.

Eu era um homem honrado,
Mas não volto a pedir clemência,
Mas ainda hoje estou pasmado
Com toda a sua potência.

E agora, para terminar,
Olha-me com ar inocente,
Diz-me que comigo vai sonhar
E que amanhã, volta novamente.

Francis Raposo Ferreira
26/10/2019

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CPP