Posts de Alexandre Montalvan (680)

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An(dor)inha



Uma andorinha em meu quintal
Voa tão só como ninguém.
Triste é seu voo e revela a quem
Que é o único voo que essa andorinha tem.

Chove, como se a chuva fosse culpada
Pela dor dessa ave sofrida.
Mas seu rastro no céu esculpia
Sombras da sua vida vazia.

No silêncio de suas sombras,
Que cruzavam a terra no final do dia,
Desenhavam cacos de vidro
Como nenhuma outra sombra faria.

Não julgue, se não vive: está dor
Ela não pode mais olhar para trás.
Devaneio? Perdição? Seja o que for...
Vive com seu voo triste e fugaz!

Alexandre


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Diversão dos Deuses

O divino em nosso inóspito meio,
enfeitando a noite e o dia,
brinca e ri deste torneio
e transforma quase tudo em poesia.

São belos versos feitos da paixão,
paixão desenfreada e aflita,
fazendo, de toda, a mais bonita:
a deste meu despedaçado coração.

A solidão que se desfaz em loucura
é a ferida aberta em meu peito;
um amor assim não tem mais jeito,
uma loucura assim já não tem cura.

Deuses brincam em um tabuleiro,
trazendo à m'alma tão só, agonia,
e, sem nenhuma piedade ou freio,
se regozijam na dor da m’poesia.

Alexandre Montalvan

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Soneto: Teu Dedo

13641109872?profile=RESIZE_710xEu não espero ser aquilo que escrevo,
palavras frias num pedaço de papel.
E não aponte contra mim o teu dedo,
pois até os demônios foram gerados no céu.

Este caos de minha alma é meu segredo,
escrevo nas entrelinhas com pincel
a maldição que me cerca — e sei, não devo
expô-la nas palavras sem algum véu.

Estar quebrado martiriza e dá medo,
traz para mim noite insone e sem sossego,
então, jogo minha alma a um amargo léu.

Nuvens escurecidas são o que eu vejo,
e a poesia é meu suporte, meu apego:
sou um cego que pede esmola sem chapéu.

Alexandre Montalvan

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Soneto:O Espinho da Rosa


A quem peço ajuda? Quem me orienta?
Por que este amor me traz tanta dor?
Assim, a me perder na tormenta,
O espinho é da flor seu protetor.

A flor da luz do sol se alimenta,
Mas o espinho somente causa dor;
É lança que a todos afugenta,
Na vida ele não sabe o que é amor.

Sob um céu de tristeza dolorosa,
A mais linda das flores é a rosa.
Eu, em estado indefeso, mas ferino,

Vou amando, de forma silenciosa,
Como fera cruel e criminosa,
Sofro por ter de viver este destino.

Alexandre Montalvan



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Decadência

Chegamos ao meio — entre o branco e o preto.
Houve infinitos amanheceres. Éramos um tubo de ensaio:
eu e você permeávamos o tédio entre abril e maio.

Havia doçura, mas já não havia prazer. Éramos jovens,
eu sabia, e a cada novo amanhecer faltava magia.
Nessa loucura tensa, inexistia o meio-dia para mim
ou para você.

Enganávamos o futuro, e o presente era só promessa.
Neste trânsito, o tédio invadia nosso romance —
conjuntura aflita, onde junho já estava fora de alcance.

Todas as palavras imagináveis foram ditas.
O pó que sobre a mesa restava era de um infinito banal,
e os espelhos refletiam a si mesmos em outros espelhos,
demonstrando apenas a pálida intenção
de um branco que desejava ser vermelho.

E assim os meios não significavam um fim,
nem se concatenavam entre o querer e o sentir.
Olhares vazios, olhos frios e sem vida;
o sentir não era sentido,
e o querer era apenas a negação do querido.

Por fim, junho resplandeceu.
E em seu bojo, a solidão da alma vislumbrou
a proximidade do inverno e um intenso azul no céu —
e também um mar de águas frias,
onde balançava, solitário,
um pequeno barco de papel.

 Alexandre Montalvan

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Voo do Mal

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Pombas selvagens vão para a guerra.
Não é isto que se espera
que ocorra neste mundo,
mas vão em bandos,
em um céu da cor de chumbo
elas vão voando.

São pombas selvagens e severas,
matarão os seus inimigos
sem nenhum pudor;
em atos demoníacos,
os deixarão desnudos
neste sangrento campo de horror.

Na ira absurda, elas gritarão
com seus bicos enormemente abertos,
por onde fluidos de dor vão escorrendo,
despejando nos tetos
das catedrais do tempo,
onde há negras flores,
com suas hastes cobertas de espinhos.

A singularidade do mal é única,
da mesma maneira que também é a bondade.
Mas, na guerra, a maldade é a singular túnica.
Junte-se a mim nesta dualidade tirânica
e entregue-se à insanidade da alma
humana.

Alexandre Montalvan

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Lua

Lua... faça nascer em mim o calor do pecado,
faça-me sentir o furor da paixão.
Meta-me os cornos, que eu me sinta culpado —
quero desfrutar o sabor da desilusão.

Tire minha alma deste triste mar gelado,
todos os meus sentidos imploram por sonhar,
pois todos os sonhos são fugazes e alados,
e eu nunca, na vida, aprendi a voar.

Da vidraça eu te vejo — sou apenas um vidro,
evitando sonhar, temendo se instintivo,
estático e parado, apenas olhando a vida,
e na ausência de emoção, buscar uma saída.

Lua, faça de mim uma pedra a rolar,
por um desfiladeiro áspero e infinito.
Transforme as minhas lágrimas de chorar,
em puro som — do meu último grito.

Alexandre Montalvan

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Não Deixem

Não deixem que me tirem a liberdade
de reinventar um novo coração,
uma perene história de amor,
de escrever sobre ardente paixão.

Ou a embriagante tensão do desejo,
escrever um verso como se fosse um beijo,
dado no canto da boca — na boca todinha,
um beijo de língua, escancarado no verso,
linha a linha.

Não deixem que me tirem o pranto,
a tristeza que evoca minha alma,
a dor da perda, do desencanto,
dos amores perdidos de outrora.

Sei que vou morrer a morte dos esquecidos,
sem ninguém... parentes ou amigos.
Sou ave errante e sem ninho,
e neste mundo indiferente e cruel,
resta-me apenas memórias, um lápis e um pedaço de papel.

Alexandre


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Alma minha Alma

Alma, minha alma
que fazes aí, contida neste corpo
impuro, que nas linhas
da palma da minha mão se abre
tal qual um leque de luzes e trevas
nas ondas das verdes relvas

Alma, minha alma
perdida nesta lúgubre prisão
sem asas, sem ar
no céu, na mais completa escuridão
tristes horas que olho com meus olhos de vidro
alguém apagou as estrelas do céu
aperto minhas mãos neste frio entorpecido

Alma, minha alma
neste finito silencioso tudo é passado
exceto o instante presente
que, de tão efêmero,
é um sopro alado
que, puxado pelas pernas rumo ao passado,
evapora-se no ar

Alma, minha alma,
em um salto no escuro
e meu corpo desaparecendo
como a fumaça de algo impuro
eu me vejo correndo
neste anoitecer esquisito
alma, minha alma,
uma estrela pulsando no infinito

alexandre montalvan
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Leito da Agonia

Carmim é o véu que cobre meu olho,
sangue espúrio de caminhos malditos.
É vida, a dor da morte que eu escolho;
a morte é luz da vida dos teus escritos.

A árvore da morte no palco do mundo,
olhos que me olham, um olhar profundo.
Chuva de sangue, eu mergulho nas trevas.
Deus, mostre-me a luz — eu caminho às cegas.

Quero deitar-me na luz deste ninho lascivo,
ver no universo o lar com meu dom sensitivo,
onde serpentes invocam com a voz da loucura
desejos de olhos vermelhos que a luz procura.

Beije meus olhos, que na luz irradias.
Vista-me de prata, sonhos transparentes.
Lava-me o corpo em mar de agonias.
Deixe-me ao sol… para que eu morra lentamente.

Alexandre Montalvan

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Sombras

Débil é a névoa na noite de outono,
a brisa suave esvoaça os cabelos,
um olhar distante para o abandono,
lúdico momento, mar de pesadelos.

Fecham-se as portas deste teu castelo,
cerram as cortinas deste palco triste.
Só então se entende que já não existe
nas dores eternas deste teu flagelo.

Morreu de amor, nada pôde ser feito,
agonizou no leito e sobre o teu peito,
aquela foto suja, desbotada e feia,
comida pelo tempo, pelo suor das mãos,
e um pobre coração que jaz sem jeito.

Morreu de amor, uma morte abismada,
como estrela que com o tempo perecia.
Morreu de dor, em constante agonia —
um amor, uma dor, uma morte anunciada.

E nas vezes que voava sobre as águas,
e sobre estas mesmas águas, criatura!
perturbas este céu cheio de fogo.
E eu terei de viver sem você,
mas parece que é como morrer
no silêncio das sombras escuras.

Alexandre Nontalvan

 

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Encantamento

E tão abstrata é tua figura,
criada em devaneio inocente,
talvez numa solidez obscura,
insensato ato de um repente.

Misteriosa sombra do oceano,
delicados e harmoniosos véus
cobrem a vastidão do insano,
ave singela voando nos céus.

Porém, era somente uma sombra
que negra nadava sobre o mar;
mas, nos céus, era branca pomba
que arrulhava nos céus a voar.

Sombras no mar são criaturas
que a m’alma vê como momentos,
e poetizar suas sombras escuras
faz do mar este terno encantamento.

Alexandre Montalvan

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Despertar Abusivo

Veja! Isto é o que sou
Diante do tempo que vivo,
Marcas que ele deixou
Neste despertar abusivo.

E tudo o que havia, morreu.
Restam expressões do mundo —
Tantas, que a verdade se perdeu,
E elas mudam a cada segundo.

Maldito mundo podre e imundo,
Que roubou minha unidade,
Destruindo todas as verdades.

Agora, a verdade nasce morta,
Como tudo em mim morreu. Oh, Deus!
Piedade: pois o assassino sou eu.

Alexandre Montalvan

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O Sol é Quase Eterno?

Estamos no fim de uma era?
Ou é apenas uma batalha?
São rugidos ferozes de uma fera,
Ou é a palha seca que no chão farfalha?

Neste hospício que é propício para a guerra,
Num tempo em que a mentira impera
E o ódio prolifera.
Claro que tudo é fugaz,
E, quando o sol se pôr no horizonte,
O capitalismo voraz
Já não será o mesmo que ontem —
Estará agonizando
Nos becos, nas bocas, em pleno desmonte.

O sol brilha quase eterno,
Intenso, denso e inflamante.
Teu grito só será ouvido no inferno,
Quando o tempo não for mais importante.

Pois o tempo é um cavalo veloz e sorrateiro.
Tua face é hoje rosada e cristalina,
Não está ensopada por lágrimas,
O sal do mar não resseca teus cabelos —
És toda pura, dentro, fora, por inteiro.

Contudo esta é apenas uma batalha,
E o sangue que corre por toda a terra
É apenas, na verdade, uma falha
Deste início de era.

Quando todas as luzes se apagarem,
O nada será imperante.
Quando o cravo secar em tua lapela,
O tudo estará distante,
E o motor não baterá mais a sua biela.

Alexandre Montalvan

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Eterno Retorno

O mundo agora flutua,
contingente e não observável,
iludido pela realidade da lua,
que ilumina na noite a tua rua
e tua elucubração instável.

Recordo-me de ti, meu amigo,
da tua vasta cabeleira encaracolada,
teus olhos gordos de suíno,
teu sorriso fino,
teus pensares agudos na madrugada.

Foste cego de um todo permanente,
dissolvido em líquido pastoso,
amarrado por poderosa corrente,
enterrado em suado chão rochoso,
libertado deste eu consciente.

O mundo agora flutua
no mais completo abandono,
e nada do que possuas, em breve,
poderás levar para teu eterno retorno —
apenas a alma, que é leve.

Flutua o mundo, flutua... mas em seu entorno,
é a alma que agora flutua,
numa luz que ilumina o mundo,
em sonhos durante o teu sono.

Alexandre Montalvan

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Entre Lençóis e Confissões

Quando o dia acaba e a noite chega,
você me tortura quando me empareda,
querendo que eu seja, inteiro e escravo,
das tuas taras com que me agravo.

Você me pega na cama — é uma loucura,
arranca minhas roupas, joga no chão,
trepa em meu corpo e diz: "Sou moça pura",
e eu, apavorado, magoo teu coração.

O que eu faço? Não sei, mas me entrego.
É amor? Talvez. Só sei que me apego
e curto essa doidura que balança o ego.
Peço perdão por ser tão sacrílego.

Quando a noite acaba e o sol clareia o dia,
todo meu corpo exausto se sente morto.
Olho você na cama, em calma e calmaria,
levanto e vou pro trampo... completamente torto.

Alexandre Montalvan

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Versos Sem Sentido

Faça apenas e somente
toda inconsequência inconscientemente
pegue toda a lágrima que rola pela face
e lace um colibri inconsistente.

Diga as palavras e as frases,
chore na ladeira dos amores,
enlace as tristezas e as alegrias,
cante internamente “Lá vai Maria.”

Veja o paraíso nestas flores,
elas são odores do universo.
Faça muitos versos sem sentido,
sinta todo amor neles contido.

Pense que o mundo, de repente,
deu a você pétalas de rosas —
rosas que são asas, simplesmente.
Voe com as pétalas formosas.

Pense em um lago de águas calmas
e supere-se com a força da tua alma
as dores do passado e do presente —
e tente ser feliz completamente.

Alexandre Montalvan

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Noites Sombrias 1

Nas noites sombrias, um uivo longo
Ele nas noites procura a lua,
Brilhante e nua!
Ao triste uivo eu não respondo

Nas curvas entre luzes e sombras,
a dor insepulta,
sinistra e inconsequente,
nem mesmo a lua o escuta

No ar uma tenebrosa indolência.
Cai no chão a leve pluma,
Apenas uma,
A coruja pia, na mais completa inocência

Reza a lenda toda a sua ferocidade,
Dos dentes que amarelos rangem,
Mas não restringem,
As luzes brancas vindas da cidade

Dorme, criança

Que cedo ou tarde noite sombria se evade,
E a história chega ao fim
Então assim,
Finalmente, chega a hora da verdade.

Alexandre Montalvan

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Eternamente Amor

És sublime, transparência cálida,
o que antes era tão concreto e real
agora são apenas nuvens brilhantes
que me envolvem como brisa vibrante
em um longo beijo de saudades.

Vejo-te agora, pálida claridade,
nosso amor atravessa a escuridão.
Morre a carne, material sem validade,
permanece a brisa envolvente,
essência doce de uma eterna paixão.

Permaneço neste êxtase absurdo,
ouço a voz doce do desejo e da emoção.
Ouço-te e permaneço mudo,
sinto teu hálito de flores,
sinfonia eloquente e fragrância,
bálsamo deste sonho e emoção.

Sinto-te viva e quente,
como sinto a brisa ardente
deste espantoso sonho de verão.
Pego tuas mãos puras e macias,
as coloco em minha face,
quentes como as lavas de um vulcão.

Desejo-te chama pura,
pois em mim perdura a eternidade deste amor.
Carrego comigo este devaneio insensato,
que da morte me traz à vida,
nesta amada quimera, convincente ilusão

Alexandre Montalvan

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CPP