Posts de Francisco Raposo Ferreira (187)

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Povo Lusitano

Reis; Rainhas; Fidalgos, Navegadores,

Muitos deles já aqui os cantei,

Suas taras; paixões; intrigas e desamores,

Verdades ou mentiras, nem eu as sei,

Importa-me mais seus feitos maiores

Desta Lusa Pátria que herdei.

Longos e altos feitos de filhos Lusitanos,

Que os honrem, os ideais republicanos.

 

Que nunca se olvidem anos transactos,

São alicerces, sólidos, de nossa história,

Homens e mulheres que, com seus actos,

Conquistaram a unidade conciliatória

Que nos conduziram a novos estratos,

Trazendo à Lusa história, tão grande glória.

Que nunca, tais heróis já desparecidos,

Sejam, pelo ilustre povo Lusitano, esquecidos.

 

Que brilhem as luzes da glória

Perante tão valorosos guerreiros.

Portugueses de tão ilustre e boa memória

Não esquecem seus heróis pioneiros.

Içarão bandeira e cantarão o hino da vitória,

Abominando ignóbeis actos traiçoeiros.

Heróis, esses que tentarei cantar

Se Deus assim o quiser e me ajudar.

 

Francis Raposo Ferreira

16/10/2019

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O Pulsar da Cidade

Pulsar da Cidade

 

Do Camões até ao Chiado,

Bebi goles de liberdade,

Vi um povo revoltado

Senti o pulsar da cidade.

 

Do Chiado ao Terreiro do Paço

Vi rostos de ansiedade,

De incertezas e de cansaço,

Senti o pulsar da cidade.

 

No Terreiro do Paço vi,

Esplendorosas esplanadas,

O pulsar da cidade senti.

 

Turistas sorrindo à vontade,

Algumas faces amarguradas,

Senti o pulsar da cidade.

 

Francis Raposo Ferreira

16/10/2019

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Regresso a Casa

Regresso a Casa

Esta tarde, ao regressar a casa,
Ia em correria pela baixa,
Quando vi uma grande brasa
Que me fez abrandar a marcha.
Na esplanada, sentada à mesa,
Sem grandes preocupações,
Logo me nasceu uma incerteza,
Teria mini-saia ou calções.
Olhei sua perna cruzada,
Sua coxa estava à mostra,
Aquela sua pele bronzeada
Era tal qual um homem gosta.
Fui subindo meu olhar,
Até que no belo decote parou,
Sentia-me tentado a tentar,
Quando ela, seu olhar levantou.
Fui apanhado de surpresa,
Sem capacidade de reacção,
Nunca vira tanta beleza,
Tinha olhos cor de carvão.
Decidi-me e meti conversa,
Limitou-se a sorrir para mim.
Senti acabar-se toda a pressa,
Voltou a sorrir e também sorri.
Fez-me sinal para me sentar,
Sei que parecia um tonto,
Não conseguia suster o olhar,
Nem fixá-lo num só ponto.
Se descia, eram as pernas,
Se subia, o decote era fatal,
Suas palavras eram tão ternas,
E tinha um rosto angelical.
O que me disse, não percebi,
Não encaixava no meu Português,
Traduzir também não consegui,
Não sei patavina de Inglês.
Levei os dedos aos lábios,
Tentando dizer não a perceber,
Seus truques mais que sábios
Para que nos possamos entender.
Pouco me interessava a conversa,
Contentava-me só com o olhar.
Foi nisto que a minha Vanessa
Perguntou com quem estava a sonhar.

Francis Raposo Ferreira
16/10/2019

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Professor/Educador

Professor/educador

 

Chiquinho era professor há mais de vinte anos e nunca pensara que um dia daria uma bofetada a qualquer um dos seus alunos, e se já os tinha apanhado bem complicados. Naquele ano aceitara dar aulas a um novo tipo de alunos, jovens institucionalizados à guarda do estado. Aceitara o desafio por curiosidade e também porque uma colega lhe falara, positivamente, da sua própria experiência enquanto professora daqueles jovens.

Chiquinho acreditava que não fosse a insistência da colega, em o avisar:

- Se te decidires a aceitar o convite, vai-te preparando, aquilo não é fácil.

Sempre adorara desafios que o fossem na verdadeira acepção da palavra, pelo que, rapidamente, decidiu aceitar o convite de Laura. Estava a iniciar o terceiro mês de aulas quando tudo sucedeu:

- Fernandes, porque continuas a portar-te dessa maneira? Quantas vezes terei de te repetir que não é com esse comportamento que conseguirás atingir os teus objectivos?

Fernandes, um dos mais revoltados jovens alunos daquele grupo, não pensou duas vezes e respondeu-lhe de forma bastante mal-educada. Chiquinho perdeu o controle, era a primeira vez que tal lhe sucedia e deu uma estalada no rapaz. Depressa se arrependeu, não por medo que o jovem pudesse apresentar queixa contra si, mas sim por entender que ultrapassara tudo quanto era o seu direito. Quem era ele para bater naquele, ou em qualquer outro, jovem?

Fernandes encarou-o, olhos nos olhos, e disse-lhe:

- Professor…

Não tinha qualquer dúvida, o jovem ia comunicar-lhe que iria apresentar queixa contra si, respondeu-lhe:

- Fernandes, faz o que tens a fazer.

O jovem continuava a encará-lo e disse-lhe:

- Professor, o senhor fez aquilo que o meu pai nunca fez.

- O teu pai nunca te bateu?

- Ai não que não bateu. Bateu e não foi pouco.

- Então o que é que eu fiz que o teu pai nunca fez?

- Educou-me. Tivesse o meu pai, sabido dar-me uma estalada no momento certo e, talvez, hoje eu não estivesse aqui fechado.

Chiquinho sentiu doer-lhe mais, aquela revelação do que se o jovem lhe tivesse comunicado que ia participar dele.

Infelizmente não foi o suficiente para reconduzir o jovem Fernandes ao bom caminho. Chiquinho reencontrá-lo-ia, anos mais tarde, já não num colégio para jovens à beira da delinquência, mas sim numa prisão. Fernandes reconheceu-o, dirigiu-se a ele e disse-lhe:

- Professor, porque não o conheci mais cedo?

 

“A verdadeira Educação, começa em casa.”

 

Francis Raposo Ferreira

15/10/2019

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Luso Povo

Luso Povo

 

Podes ter andado moribundo,

Mas ainda não morreste,

Tantas vezes foste lá ao fundo

Outras tantas, sempre, renasceste.

 

Desde a bravura de Viriato,

À lealdade de Egas Moniz,

Tudo vimos neste teatro

Onde se ergueu nobre país.

 

Leviandade de D. Sebastião,

Sonho do Infante Navegador,

Ou primórdios da revolução.

 

Sentimentos do Luso Povo,

Que pela liberdade e amor,

Soube construir um país novo.

 

Francis Raposo Ferreira

15/10/2019

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Hoje

Hoje

Não me apetece escrever,
Minha alma chora,
Sinto-me a morrer,
Por dentro, não por fora.

Grande é meu desgosto,
Aperta-se-me o coração,
Sinto rugas no rosto,
Dói-me tanto a traição.

Abro os olhos da memória,
Revejo lutas de liberdade
Deste povo com história.

Ensaio um sorriso feliz,
Afinal sempre é verdade,
Há futuro para o meu país.

Francis Raposo Ferreira
15/10/2019

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Sótão

Sótão

Hoje resolvi arrumar o sótão,
Mas o da minha memória,
Comecei por separar recordação
Da saudade e da história.

Na minha memória há felicidade,
Na saudade imensa dor,
No da história, aí sim, saudade,
De um Portugal com outro vigor.

Recordei tempos de criança,
Arrumei a saudade num recanto,
Reli a história da esperança.

Recordei um tempo feliz,
Vi a história virar desencanto,
Tive saudades do meu país.

Francis Raposo Ferreira
14/10/2019

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Sopros de Amor

Sopros de Amor

Lá fora, sopradas pelo vento,
Folhas andam numa correria,
Todos fogem, e nós, aqui dentro,
Sopros de amor, que melodia.

Imitando folhas agitadas,
Também nós nos vamos enrolando,
Para cá das janelas fechadas,
Sopra o vento, nos vamos amando.

Pingos de chuva, sopros de vento,
Noite de inverno, nostalgia,
Amamo-nos, vivemos o momento.

Quantos amantes, melhor ou pior,
Sentirão tão brusca ventania,
como divinos sopros de amor.

Francis Raposo Ferreira
14/10/2019

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D. Carlos - O diplomata

  1. Carlos - o Diplomata

 

Morto D. Luís cognominado “O Popular”

Sucedeu-lhe seu filho “O Diplomata”

Cujo grande amor consistia em caçar,

Mesmo que fosse caça de uma outra nata,

Preferia prazeres carnais a ter de governar,

Levando, de amantes falando, vida farta.

Desde novo recebeu esmerada educação,

Onde aprender diversas línguas era obrigação.

 

Jovem viajado, cortes europeias visitou,

Numa dessas viagens de aprendizagem,

A princesa Amélia de Orleães, o conquistou,

Ainda o trono Português era miragem,

Mil oitocentos oitenta e seis se consumou

O casamento, não significava a viragem.

Terá sonhado acalmar o ímpeto de D. Luís,

A jovem filha de Luís Filipe, conde de Paris.

 

Se assim o tiver pensado, logo viu que não,

O jovem só contava vinte e três anos.

Inicia seu reinado enfrentado conturbação,

Levantavam-se os ventos Republicanos,

Maçonaria fomentava forte agitação,

Não olhando nem a meios, nem aos danos.

Nem só a politica interna o emperra,

Também uma velha aliada, a Inglaterra.

 

Mil oitocentos noventa, “Ultimato Britânico”,

Territórios Africanos temos de abandonar,

D. Luís revela-se pouco ágil e dinâmico,

Republicanos aproveitam para contestar,

Politica Portuguesa entra em espiral vulcânico,

A monarquia começava-se a desmoronar.

Portugal temia perder Moçambique e Angola,

Junto de França e Alemanha, como que esmola.

 

D.Carlos parece alheio às dificuldades,

O reino navega em águas revoltas,

Tumultos rebentam em várias cidades,

El-rei vai deixando muitas pontas soltas,

As obras no Palácio das Necessidades,

Ajuda e Belém são contas de outras voltas.

Erário público tem seu grande devedor

Na Família Real, D. Carlos era um gastador.

 

Outubro de mil oitocentos oitenta e nove,

Não satisfeito com tudo que recebia,

D. Carlos, seu próprio aumento promove,

Passando para um conto de réis por dia,

Afinal não há politico que não inove,

Principalmente em termos de mais-valia.

Das que mais recebia, a Família real

Mostrava ao mundo o que seria Portugal.

 

Povo passando necessidades de primeira,

Monarcas precisando de adiantamentos,

Aqueles por não conseguirem maneira

De poder aumentar seus rendimentos,

Estes, fruto de muita luxúria e asneira,

Do estado recebiam mais de quinhentos.

Mais de quinhentos e vinte contos anuais,

Superior ao que recebiam outras casas reais.

 

D. Carlos até começou bem seu reinado,

Transmitiu, ao reino, alguma estabilidade,

Muita, em épocas anteriores, havia faltado,

Depois começaram a surgir dificuldades,

Erário, por crises financeiras, devastado,

O reino apresentava profundas necessidades.

Fontes Pereira de Melo muito investira,

Obras Públicas como nunca antes se vira.

 

D.Carlos demonstrava ser activo,

Apreciador da vida fora do gabinete,

Palácio das Necessidades é atractivo,

Courts de ténis fazem o seu deleite,

Seus seis Peugeots dão-lhe motivo

Para competições com a Lusa gente.

Investigação oceanográfica é estimulada

Sua cultura, digna de ficar registada.

 

Mil oitocentos noventa e um, Janeiro,

No último dia deste primeiro mês,

Porto, incidente republicano, o primeiro,

Nunca o soube o povo Português,

Estava lançado o ataque, era o pioneiro,

Que se viria a repetir mais de uma vez.

D. Carlos não terá sabido ler os dados,

Insistindo em gastos pouco controlados.

 

África exigia investimento militar,

Determinado pela Conferência de Berlim,

Portugal tinha de sua presença efectivar,

D.Carlos não via a crise chegar ao fim,

Republicanos aproveitam para atacar,

João Franco atinge posição de galarim.

Surge o Partido Regenerador Liberal,

Altera.se o pano partidário em Portugal.

 

Ano de mil novecentos e um a decorrer,

São ex-deputados do Partido Regenerador.

Mil novecentos e cinco, vai ocorrer

Nova dissidência, agora dá-se no interior

Do Partido Progressista, vindo a nascer

A Dissidência Progressista, perigo maior.

José Maria Alpoim luta por ambição,

Aliando-se a movimentos de conspiração.

 

Partido Republicano, ou Maçónico,

Encontra-se em grande actividade,

D. Carlos sente-se perdido, algo atónito,

Assumindo a grande responsabilidade

De convidar João Franco, algo cómico,

A substituir Hintze Ribeiro. Fatalidade.

Revela-se um governo ditatorial,

Levará ao fim da monarquia em Portugal.

 

Mil oitocentos e oito, um de Fevereiro,

Regressa, de Vila Viçosa, a família real,

Terreiro do Paço, tiros, um primeiro,

Logo outro, outro e outros mais, fatal,

Morreram El-rei e o príncipe herdeiro,

Assim assassinados, de forma brutal.

Manuel José dos Reis da Silva Buíça

Entrava na história de forma espicha.

 

Transmontano de trinta e dois anos,

Professor num colégio privado,

Antigo sargento nos militares Lusitanos,

Natural de Bouçais, fora contratado

Para matar El-rei, não há enganos,

Era membro na Carbonária filiado.

Morto no local da cobarde cilada,

Nunca sua morte foi bem explicada.

 

Alfredo Luís da Costa, caixeiro,

Trabalhou nos grandes Armazéns do Chiado,

Foi dado como seu companheiro,

Sendo igualmente, logo ali, assassinado,

Parecia que o objectivo derradeiro

Seria manter algum segredo bem guardado.

Mortes que causam profunda consternação,

Eduardo sétimo não esconde sua indignação.

 

Ninguém se vê acusado de nada,

Assassinos mortos como bem convinha,

Carbonária era organização bem recheada,

Gente muito poderosa, na frente, tinha,

Ministro, políticos e juízes, não faltava nada,

Estavam lá todos, na primeira linha.

A monarquia ainda não morrera, vegetava,

Republica, não o escondia, rejubilava.

 

D.Carlos viveu momentos preocupantes,

Compensando-os com calmas tardes,

Sempre rodeado das mais belas amantes,

Em dois prédios na calçada das Necessidades,

Comprados sem olhar a dificuldades,

Suas necessidades eram mais importantes.

D. Carlos andava num vai e vem febril,

Amantes em Cascais e no Monte Estoril.

 

Boca do Inferno, ali se deixava ficar,

Bastando que fosse boa a companhia,

Condessa de Paraty o ia acompanhar,

Também a condessa da Guarda ali ia,

A viúva de Viana de Lima o ia animar.

D. Amélia, não se importava, mas sabia.

Fossem serviçais ou simples camponesas,

Todas lhe serviam, eram fáceis presas.

 

D.Amélia foi educada em Inglaterra,

Sua família, Orleães, foi expulsa de França,

Posteriormente voltariam à sua terra,

Demonstrava ser inteligente criança,

Pelo que um promissor futuro a espera,

Sua família alimentava tal esperança.

Mil oitocentos oitenta e seis, Paris,

Palácio Galliera, é uma noiva feliz.

 

Quinze de Maio, baile de despedida,

D. Amélia é jovem gentil e formosa,

D. Carlos anda radiante com a nova vida,

Parte na véspera, dorme na Pampilhosa,

Aí espera pela noiva prometida,

Vem com família e companhia numerosa.

Noivos deslocam-se carros descobertos,

O Povo distribui-lhe carinhos e afectos.

 

Palácio das Necessidades, condes de Paris

Ali ficam acomodados, à real Lusa custa,

Vinte e dois de Maio, cerimónia feliz,

Casamento na Igreja de Santa Justa.

Portugal já sonha ouvir um novo petiz,

Mesmo quando Espanha já não assusta.

D. Amélia era dedicada às belas-artes,

Não descurando interesse noutras partes.

 

“O Paço de Cintra” foi por si ilustrado,

Escrito a pedido da própria soberana,

Pelo conde de Sabugosa, e lucro destinado

A ajudar ilustre e louvável luta Lusitana,

Contra a Tuberculose, outro seu lado,

O de grande alma, sensível e humana.

D. Amélia não escapou aos boatos,

Seriam romances extraconjugais, os actos.

 

António de Albuquerque no seu romance

“ O Marquês da Bacalhoa” assim o insinua,

Oportunismo é retratado como uma chance,

D. Amélia usaria da sedução sua,

Para garantir que o governo avance,

O grande escândalo ainda não estava na rua.

Apontava D. Amélia, rainha de Portugal,

Como amante de D.Josefa do Sandoval.

 

Tal como hoje, ontem era igual,

Não se olhava a meios para atar o nó,

Procurava-se atingir a família real,

Aqui usava-se a condessa de Figueiró,

Sem importar toda a repercussão final

Importante era fazer o rei sentir-se só.

D. Amélia teve de ser mulher forte,

Ajudar o filho ainda na dor da morte.

 

Francis Raposo Ferreira.

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Pedido

Pedido

 

Pedi-te um beijo

Não disseste nada,

Revelei-te meu desejo,

Ficaste corada.

 

Mãos sobre a mesa,

Olhar pousado no chão,

Senti, em ti, a surpresa

Da minha revelação.

 

Não havia como negar,

Estava mesmo apaixonado,

E ali me estava a declarar.

 

Olhaste em redor,

Qual espião desconfiado,

Deste-me um beijo de amor.

 

Francis Raposo Ferreira

12/10/2019

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No País dos Sonhos

No País dos Sonhos

 

Dinis esfregou os olhos, como que a querer certificar-se que tudo lhe estava a suceder, era mesmo real e não fruto de um qualquer sonho. Voltou a ler a notificação que lhe acabara de ser entregue pelo carteiro, por sinal um carteiro bem esquisito, quase a fazer-lhe lembrar as histórias que lera dos tempos da mala-posta. Efectivamente não se lembrava de alguma vez ter visto um carteiro vestido daquela maneira, e montado num belo cavalo.

Não, não estava a sonhar, o papel enviado desde o longínquo tribunal de um país situado no outro extremo do planeta, não deixava margens para qualquer dúvida, seu pai falecera e, ele, era o legitimo herdeiro de toda a enorme, fortuna que o progenitor acumulara nos anos que ali vivera como emigrante de sucesso.

A notificação, escrita em perfeito Português, o que aliado à estranha figura do carteiro, só serviu para o confundir, ainda mais, era bem clara, o testamento de seu pai só produziria efeitos se ele, Dinis, se apresentasse perante as autoridades de tão distante país no prazo máximo de um mês, caso contrário, tudo reverteria para os cofres do estado daquele distante país.

Dinis não sabia o que fazer à sua vida. Não sabia que língua se falaria nesse estranho país, apesar de a notificação estar escrita num Português perfeito. Não ignorava que tal como seu pai, muitos outros Portugueses tinham emigrado para tão desconhecidas terras, mas duvidava que fossem assim tantos a ponto de o Português ser uma das línguas faladas naquelas terras lá tão longe.

Tinha de arranjar uma solução, não podia perder a oportunidade de, finalmente, poder ter uma vida desafogada, sem ter de andar a contar os tostões todos os dias. Já que seu pai não se importara de o abandonar e ir para tão longe, ao menos que agora tirasse algum proveito do abandono a que se viu sujeito.

Pensou, pensou, pensou e encontrou a solução. Iria convidar a sua prima Renata, a mesma a quem, em crianças, teimava em chamar de Nata, numa alusão ao facto da prima ser bem redondinha de formas., o que deixava a rapariga fora de si. Ah, mas isso era nessa altura, porque depois, ah depois, Renata começara a controlar-se e tornara-se numa esbelta moça, passando a ignorá-lo, o que o deixava enciumado.

Iria acenar-lhe com a fortuna que o pai lhe deixara, sempre queria ver se continuava a não lhe dar a merecida atenção. Ah, isso é que não, pois sabia muito bem como a prima gostava de dinheiro para se poder adornar com tudo o que era do melhor. Talvez até conseguisse que aceitasse namorar com ele. Podia ser um rapaz humilde, mas sabia, muito bem, como o dinheiro transforma as pessoas feias, nas mais bonitas.

Se bem o pensou, melhor o fez. Foi falar com a prima Renata, contou-lhe tudo quanto se estava a passar e viu-a a sorrir-lhe. Tal qual como imaginara, só com o cheiro do dinheiro, até já lhe sorria. Impôs-lhe como condição para a levar com ele, que viajassem como namorados. Estava prestes a ouvir o sim da prima Renata, quando ouviu uma voz a gritar-lhe:

- Oh meu mandrião, estás a pensar ficar o resto do dia na cama e o rebanho a berrar com fome?

Era sempre assim, o pai tinha de o acordar no melhor dos seus sonhos.

 

Francis Raposo Ferreira

12/10/2019

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Peito em Flor

Peito em flor

 

Meu peito é esta terra lavrada

Onde nasce tão linda flor,

Nem sei por quem semeada,

Só sei que é flor de amor.

 

Não sei se por mão de meu pai,

Se por pura obra de minha mãe,

Só sei que se abre e dela sai,

Este querer de tanto te querer bem.

 

Nem sei se tem cor forte, viva,

Ou aroma digno de encantar,

Só sei que é de amor e nos cativa.

 

Que importa quem a plantou,

Se alguém, dela vai cuidar,

No peito em que o amor a semeou.

 

 

Francis Rapposo Ferreira

12/10/2019

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Sonhos

Sonhos

 

Sonhos, quem os não tem,

Nunca soube que era sonhar,

Que tal não diga ninguém,

Algum sonho estará a olvidar.

 

Sonhei quando era criança,

Protegido na minha ingenuidade,

Meu pai alimentava a esperança,

Escondendo-me a verdade.

 

Eram tempos de dureza,

Eu sonhava ser um campino,

Meu pai, com firmeza,

Alimentava meu sonho de menino.

 

A idade foi avançando,

Agora sonhava ser campeão,

Meu pai continuou apoiando

Toda aquela minha ilusão.

 

Surgiu então a escola,

Sonhava-me ilustre orador,

Pegava na minha sacola,

Soletrava poemas de amor.

 

Nessa altura surge o primeiro,

De alguns de meus amores,

Sonhei-me ilustre cavalheiro,

Rodeado de afamados doutores.

 

Sonhei com a menina bonita,

Perdi-me tão apaixonadamente,

O amor fez-me uma finta,

Sonhei e sofri em adolescente.

 

O amor revelava-se traiçoeiro,

Deixei-me cair em sono profundo,

Sonhei ser valente marinheiro

Viajar, correr todo o mundo.

 

Sonhei ter uma namorada

Em cada porto visitado,

Conquistei pouco, ou nada,

Ficava logo apaixonado.

 

Sonhei uma boa vida,

Ao lado de uma bela mulher,

Sonhei-me até de partida

Para outro lado qualquer.

 

Fiz as malas e parti,

Por outros mundos andei,

Sonhei voltar aqui,

Nunca desisti e voltei.

 

Sonhei lindo casamento,

Sonhei filhos de encantar,

Deus me deu tal contentamento,

Porque nunca deixei de sonhar.

 

Francis Raposo Ferreira.

11/10/2019

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Traidora

Traidora

Vi-a passar, provocante,
Com outro, de braço dado,
Num desejo desesperante
De me poder ver magoado.

Olhei-a, mesmo de frente,
Não lhe iria fazer a vontade,
Tudo se tornaria diferente,
Desde aquele fim de tarde.

Não, desta vez, seria não,
Ela não mais me iria magoar,
Expulsei-a do meu coração.

Sei que a tornaria a ver,
Talvez com outro, a passar,
De braço em braço, é seu viver.

Francis Rapposo Ferreira
11/10/2019

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Três Anjinhos

Três Anjinhos

 

Eu tenho três anjinhos

Que olham por mim,

Dou-lhes amor e carinhos

E vivo feliz assim.

 

Nenhum é superior ou inferior,

Estão todos em igualdade,

É um mundo de paz e amor,

Coberto de carinho e amizade.

 

Matilde; Inês, Isabel, elas são,

Tudo mulheres, é verdade,

Quem vive no meu coração.

 

São estes três Anjinhos

Que me dão a felicidade

De viver rodeado de carinhos.

 

Francis Raposo Ferreira

11/10//2019

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Eu e o Mar

Eu e o Mar

 

Senti vontade de largar tudo,

Deixar o sossego do lar,

Esquecer o emprego certo,

Não para percorrer o mundo,

Nem queria ir pra nenhum lugar,

Somente fugir, pra lugar incerto,

Esconder-me, ficar mudo,

Gritar, se me apetecer gritar

correr na areia, ficar quieto,

Sentindo-me o maior sortudo,

sem ter ninguém por perto.

Simplesmente, eu e o mar.

 

Francis Raposo Ferreira

10/10/2019

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Abade de Castro

Abade de Castro – Historiador e Ensaísta

 

N:1804 – F:1876

 

António Dâmaso de Castro e Sousa

Nasceu na cidade de Lisboa,

Mil oitocentos e quatro, cedo ousa

Aventurar-se por uma causa boa,

A história será uma sua cousa,

Enquanto pela religião sua vida voa.

Abade titular em Rio de Moinhos,

Arcos de Valdevez, belos caminhos.

 

Homem de gostos multifacetados,

Viu-se como sócio honorário

De vários grupos às Artes dedicados,

Academia de Belas-Artes, literário,

Conservatório de Música, situados

Na sua Lisboa. Vulto extraordinário.

Homem amante da criatividade

Nunca abdicou da sua, mental, liberdade.

 

Historiador e ensaísta reconhecido,

Deixou-nos memórias históricas,

Descritivas e criticas, nunca antes lido,

Sobre valorosas obras patrióticas,

Mosteiros de Belém, o mote escolhido,

Tal como o da Pena, escritas exóticas.

Mil oitocentos trinta e sete, o primeiro,

Quatro anos depois, o outro parceiro.

 

Ano de trinta e oito, Palácio Real

É o visado. E logo no ano seguinte,

A Bíblia dos Jerónimos tem sorte igual,

Trata-se de uma obra de requinte,

Oferenda ao futuro rei de Portugal,

  1. Manuel, tanta dúvida ainda persiste.

Quem a ofereceu é questão permanente,

Desde esses tempos até ao presente.

 

Bíblia, em Florença, manuscrita,

Muito terá custado ao público erário.

Mil oitocentos quarenta e três, nova escrita,

Agora, que homem extraordinário,

O tema da memória é o castelo de Sintra.

Engrandecendo seu espólio literário.

Ano de mil oitocentos quarenta e três,

Se publicou tal obra deste abade Português.

 

Nem só as grandes obras o encantaram,

Ano de mil oitocentos quarenta e quatro,

Suas ideias, Francisco de Holanda, avistaram,

Não hesitou em escrever-lhe o retrato.

Antigos coches da casa real não escaparam,

Ano seguinte, foram mote de novo acto.

Também escreveu, lógico, sobre religião,

Origem do processo de uma certa procissão.

 

Nossa senhora com a invocação da saúde,

Ano de mil oitocentos cinquenta e sete.

Aqui fica o alerta para que se cuide,

Quem contra as gentes das artes acomete.

Nunca haverá Abade que sempre o ajude,

Mesmo quando a sorte muito lhe promete.

Abade de Castro, grande vulto e alma boa,

Morreu em setenta e seis na sua Lisboa.

 

Francis Raposo Ferreira.

10/10/2019

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Sublime

Sublime

Sentir uma brisa na cara,
Ouvir o bater da água,
Tranquilidade, tão rara,
Que afaga qualquer mágoa.

Sentir o fresco da relva
Ouvindo singelo chilrear,
E fuga, pura, da selva
Em que nos deixamos cimentar.

Observar as andorinhas
No construir do seu ninho
É eliminar ervas daninhas.

Olhar-vos, ouvir vosso sorriso,
Saborear do vosso carinho,
É, só, tudo o que preciso.

Francis Raposo Ferreira
10/10/2019

Saiba mais…

Rainha D. Estefânia

Rainha D. Estefânia

 

Recordada foi D. Estefânia também,

  1. Pedro Quinto a teve como eterna amada,

Como se conheceram não se sabe bem,

Ficando para a história, a impressão causada,

  1. Pedro não poderia amar a mais ninguém,
  2. Estefânia completamente apaixonada.

Amante do desenho, falava Francês, Italiano

E Inglês, além de conhecer o idioma Lusitano.

 

Castelo de Sigmaringen, solo Prussiano,

Actualmente constitui território alemão,

Aqui viveu muito durante muito ano,

O pai, militar, vivia em autêntica excursão,

Nada que lhe causasse qualquer dano,

Tampouco lhe prejudicaria sua educação.

Julho de mil oitocentos cinquenta e sete,

Sabe que foi a escolhida, se compromete.

 

Quem poderia ser o enviado de Portugal,

Senão o já conhecido conde do Lavradio,

Será ele a apresentar o pedido real,

Trata das negociações com todo o brio,

Garantindo os intentos do rei de Portugal,

Que se revelaria ser sentimento sadio.

Igreja católica de Santa Hedwiges, Dresden,

Primeira parte do casamento, é o Éden.

 

Vinte e nove de Abril, por procuração,

Mil oitocentos cinquenta e oito, o ano,

  1. Estefânia não hesita dar seu coração

Ao ilustre e amado monarca Lusitano,

Mês seguinte será o da confirmação,

Lisboa, para encanto do Luso soberano.

  1. Estefânia e D. Pedro, entre amigos,

Casam-se na igreja de S. Domingos.

 

  1. Pedro quinto, Luso rei amado,

Encontrara sua verdadeira cara-metade,

Sai o casal à rua, é logo aclamado,

Lisboa fervilha de vida e felicidade,

Constituirão casal jovem e apaixonado,

Dando longos passeios pela cidade.

“Nós somos dois verdadeiros adolescentes”

Diria D. Estefânia em ocasiões diferentes.

 

Não faltaram boatos de índole sexual,

Rotulavam D. Pedro quinto de impotente,

Nada parecia incomodar o casal,

Continuando a amar-se a tudo indiferente,

Dr. Ricardo Jorge daria contributo brutal

Divulgando dados de que era confidente.

A verdade nunca viria a ser reposta,

  1. Pedro, não liga, pouco se importa.

 

  1. Estefânia encorajou seu marido

A fundar hospitais e instituições de caridade,

O monarca não hesita atender o pedido,

Fazendo-o com todo o prazer e felicidade.

Hospital de D. Estefânia será construído,

Por expresso desejo de sua real majestade.

  1. Estefânia certamente ficaria feliz,

Seria inaugurado já no reinado de D. Luís.

 

  1. Estefânia e el-rei D. Pedro quinto,

Constituíram exemplo de amor e felicidade,

Muito do que aqui canto é o que sinto

Pela conquista da Lusa nacionalidade,

Lutas nas quais pouco vejo e pressinto

Do que o Luso povo vive na actualidade.

Nesses tempos de outrora havia ideais,

Hoje, tais sentimentos não existem mais.

 

Tanta luta por construir Portugal,

Tantos anos a escrever a Lusa história,

Hoje, conseguiram matar o ideal,

Não pensem matar também a memória

Deste povo, nobre, fiel e sem igual

Que não teme a luta até à vitória.

Morreu D. Pedro quinto, ficou D. Luís,

Morreram reis e rainhas, ficou o país.

 

Francis Raposo Ferreira

09/10/2019

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Os Ponteiros da Vida

Ponteiros da vida

 

O rodar dos ponteiros não me interessa,

Tal qual o avolumar das horas, dos dias,

Agora, só quero viver a vida sem pressa,

Sem ódios, intrigas, raivas ou correrias.

 

Ao meu relógio, deixei de dar corda,

Que o cuco não saia mais para cantar,

Despertador não é mais quem me acorda,

Acordo só quando me apetece acordar.

 

Deito-me quando o mundo ainda desperta,

Levanto-me somente quando me apetecer,

Dormirei de janela fechada, ou aberta.

 

Os ponteiros do relógio sobem e descem.

Eu, limito-me, simplesmente, a viver.

Esperando por amigos que não se esquecem.

 

Francis Rapposo Ferreira

09/10/2019

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