Eu procuro a rima
nas entranhas do meu ser
nas alegrias de sentir a vida
de te chamar... querida
de poder te amar, tocar, te ver.
Eu procuro a rima nas ambigüidades
no abismo do meu coração
na rouquidão doentia da minha voz
nas palmas das minhas mãos.
Mãos que tocam teu corpo quente
que se torce eloquentemente
e que geme de tão inocente
na loucura deste amar.
Se mil vidas eu viver
mil vezes quero morrer
te amando por todas as noites
e morrendo com você.
Alexandre Montalvan
A morte ronda os portões da cidade
E não há um ser vivo que a oprima
Por isto escrevo sem nenhuma rima
Que ninguém sabe da verdade a metade
Todos se escondem atrás de divindades
Nos becos a narrativa é só pantomimas
Quase tudo é profético ou é banalidade
Porem da realidade ninguém se aproxima
A fome dos homens antecede a fatalidade
Caçarão na noite feito aves de rapina
Se carne se desfaz no chão desta cidade
É porque todos se tornaram manada bovina
Mas esperança está vivendo seu funeral
Pois estamos descendo todos os degraus
Quando capitão recebe continência de general
Estamos criando loucos geradores do caos
Alexandre Montalvan
O Tempo
Em um eterno retorno
Vive na alma humana
Com efeito sonoro
Um Tic e TAC...Tic e TAC
Pingos em uma poça de água
Passos em uma calçada
Tiros de uma automática
A morte
A estática
A difícil arte de viver
Onde estão os mortos
Porcos postos em uma funerária
Corpos cheios de feridas
Fétidas e maduras
Como a luz que irradia e se medra
Como um raio cósmico que acalma
Como a carne apodrecida revela
Onde estão as rosas amarelas
As que brilhavam nos jardins como estrelas
Onde estão as que emitiam luzes sonoras
Como as rosas vermelhas de outrora
Onde se encontram os floreados breves
Que havia tresantontem
De casais dançando sobre folhas
Eras antes de antes de antes
Em quais destinos se encontram teus sorrisos
Que um dia iluminaram a minha vida
E que hoje é o que mais eu preciso
Para aplacar a minha solidão
Onde se encontra o horror profundo
Que por tanto o viver, ganhamos proteção
Sentimentos que aos poucos se enregelaram
E trouxeram o inverno ao meu coração.
Alexandre Montalvan
Entre o céu e o inferno
Onde se encontra a noite mais fria?
No clarear do dia é o sol enfim!
Enquanto brilha porque não te amar
No azul de tantos fonemas
No espanto da emoção extrema
Nas cores das flores do jardim
Entre mim e você é tanto o contraste
Como é entre um pé e uma mão
Mas é tanto sentimento
Que nos traz um morno vento como alento
Ao vazio da nossa união
E não temos mais morada
Nem podemos mais querer o que for
Encalhada na areia a caravela
Não é mais aquela
Que corria pelas agua do mar
Na contramão do amor
Logo no céu surge a lua
E o frio da noite
Traz a dor ao meu coração
Mas minha esperança persiste
E lentamente devora
Pedaços da minha solidão
Alexandre Montalvan
Em uma conjugação sublime
entre o concreto e o abstrato
pequena é a passagem do hímen
consentindo um ínfimo contato
A carne neste troar insincero
encontra muito pouco acalento
pois neste êxtase efêmero
sua fome é saciada pelo vento
A alma adversa refuta a disputa
a seu modo se torna absoluta
e existira por infinitas eras
E busca a sua perfeição enquanto
a carne segue sempre murchando
sendo restos das suas próprias guerras
Alexandre Montalvan
Não me diga que o amor é cego
Pois quero vê-la intensamente
Quero possui-la toda, não nego
E ama-la da alvorada ao poente
Eu quero tua boca inteiramente
É mar revolto em que eu navego
Um amor de gemidos eloquentes
E de corpo e alma eu me entrego
É este nosso mundo de delicias
E sons gemidos, quando se ama
Na eternidade as nossas caricias
Neste êxtase em forma de versos
Ruborizando as flores do universo
São nossos corpos na pura chama
Alexandre Montalvan
Quando dois corpos se encontram
num roçar de ondas eloquentes
em um oceano de toques ardentes
se elevam vertiginosamente.
É um arrepiar de um tesão infinito
de toques suaves e ternos
até os astros ressoam irrestritos
neste sentido de prazer eterno.
O frescor da romã partida nos dentes
nos lábios rosados da agua nascente
o sumo doce e morno do baixo ventre
ilumina os sentidos simplesmente
Tanto é o fogo que irrompem nos olhos
pois ao procurar o prazer furtivo
no ronronar de murmúrios dúbios
a alma é liberta e o corpo é pra sempre cativo
Alexandre Montalvan
Não há nenhum conforto na solidão
apenas os demônios nos consomem
a dor acompanha gemidos sem sons
lagrimas não rolam no rosto do homem
Insaciáveis as fagulhas do coração
o abandono somente nos traz a fome
é fogo que queima os braços, as mãos
a beira de intransponível abismo enorme
Corvos famintos crocitam poesia
em meio ao silencio da noite escura
nas esquinas se ouve palavras sombrias
Que no além do tempo resiste à loucura
por não ser o único ser em agonia
apesar de sozinho na noite das ruas
Alexandre Montalvan
Nada que se escreve é pleno
as letras esculpidas são feitas de medo
mas o rosto que me fala
é o que me mostra o espelho
e fala como a dizer um segredo
O vento não faz dançar a areia
na praia branca dos teus olhos negros
onde ondas estraçalham rochedos
onde a dor do amor permeia
Amo-te... Oh Deus! no limite das
minhas fronteiras
doí-me a perda do entardecer
a agonia que viria com a lua cheia
que desaba alvissareira no estertor da manha
Amo-te... Oh Deus! fere-me quando te leio
no tremor das aguas turvas
tecidas na roca de fiar
como um sol que se dilui e se curva
no contorno dos teus lábios vermelhos
assoprando o ar
Alexandre Montalvan
Bate na porta da morte
a inocente flor que nem bem nascia
na dor da guerra mais sombria
puro anjo inconsequente
Busca o leite seco a flor, mas nem o ar
é-lhe vertente e ela apenas sofria
faltava tudo mesmo neste dia
ela então procura a morte impaciente
E nos ais dos céus surge uma porta
parece sorrir a inocente, mesmo ela morta,
mas em seu sorriso esta o segredo
Pois a vida em desacordo é preterida
ela não pode ser plenamente vivida
pelo menos este é o enredo...
Alexandre Montalvan
Sinais
Estenda o teu olhar pela
paisagem morta,
sobre sonhos de planícies
e seus contornos.
Mesmo se tiver sorte você não
verá o mar,
apenas sentira o vento que balança
a relva e abre tantas portas. Com
um sopro morno o rastro
de seu corpo não importa,
mas sim o vento, este que roça teu rosto bem devagar.
Estenda o teu pensar para ver se
recorda das esplendidas
linhas tortas de um poema
ou de um sentir que não tem mais volta,
a alegria que eriçava a tua alma pequena.
Deixe que teu pensar de piruetas no ar
e talvez se lembre da mão
que a confortava tocando no violão
uma música lenta com uma voz rouca que
cantava a canção, apenas por cantar.
Entenda que todo este teu sentir
já não suporta
a dor da indiferença que como
uma faca a penetra
com a rudeza de o seu sibilar
São sinais incandescentes
que saltam pelo chão
a se apagar
e do som retumbante deste coração que
não sabe mais o que é amar
Alexandre Montalvan
Voo da Borboleta, Branca, Azul e Preta
Tenho em mim a chama que te cala
a que te faz tropeçar
nas palavras
tu salta as ondas do mar, ondulando
a sua afogueada cara
região abissal alongada e clara.
Brilha o sol a aquecer o poema,
iridescente ao vomitar suas palavras
e esta chama que te abala
ressoa pelo amor que se esparrama
e te faz perder a fala.
Faça de mim
pecado, dor e prazer
faça do meu corpo movimento
a cada anoitecer
neste amor compulsivo
no afã deste fogo amigo
que em ti dispara.
O amor enreda-se ao motivar a vida
e pelo delgado filete
de areia da ampulheta desmaia,
então querida,
Minha doce awis rara! O tempo
o berço embala no suave
bater das asas do voo da leve
borboleta
branca azul e preta.
Alexandre Montalvan
Resmunga o louco na sua demência
Para, olha, ri e finge que escuta
No olhar brilha uma alegria imensa
É tão livre e nada o imputa
Bate o louco o pé pura cadência
É maestro com sua batuta
Quem o vê assim, logo pensa
Pobre homem parece biruta!
Como assim? É isto que se pensa!
Não se percebe a diferença
Vidro não é uma porcelana
Onde será que esta o hospício
No louco pensamento fictício
Ou na fria realidade humana?
Alexandre Montalvan
Voltar a Ser Criança
Da rede em que me balanço
De tudo já vi um pouco
Tantos e tantos imbróglios
Que já não os tenho mais na lembrança.
Eu sei, os escondi. Aqueles
Que me espantavam, negrumes
Pardos, enquadres e damas
Que o diabo me leve, mas não preso
numa cama.
E ai! Talvez eu me perca enfim
E sem ficar sem fala
Por me perder de mim
Que já passei da andropausa,
Mas estou aqui
E ainda não cai na vala.
E muito eu já vivi,
Mas agora só e pensando
Em tantos seios moles
Em gravuras multicores
Sempre a procura de amores
Mas não sei onde eu os escondi.
No alvor deste inverno
Negras me são as distâncias
Entre o que quero e o que posso
E em meio à ignorância
Fecho os olhos em uma prece
Se Deus me ouvisse eu pediria
Para voltar a ser criança.
Alexandre Montalvan