Posts de Alexandre Montalvan (666)

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Entre Lençóis e Confissões

Quando o dia acaba e a noite chega,
você me tortura quando me empareda,
querendo que eu seja, inteiro e escravo,
das tuas taras com que me agravo.

Você me pega na cama — é uma loucura,
arranca minhas roupas, joga no chão,
trepa em meu corpo e diz: "Sou moça pura",
e eu, apavorado, magoo teu coração.

O que eu faço? Não sei, mas me entrego.
É amor? Talvez. Só sei que me apego
e curto essa doidura que balança o ego.
Peço perdão por ser tão sacrílego.

Quando a noite acaba e o sol clareia o dia,
todo meu corpo exausto se sente morto.
Olho você na cama, em calma e calmaria,
levanto e vou pro trampo... completamente torto.

Alexandre Montalvan

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Versos Sem Sentido

Faça apenas e somente
toda inconsequência inconscientemente
pegue toda a lágrima que rola pela face
e lace um colibri inconsistente.

Diga as palavras e as frases,
chore na ladeira dos amores,
enlace as tristezas e as alegrias,
cante internamente “Lá vai Maria.”

Veja o paraíso nestas flores,
elas são odores do universo.
Faça muitos versos sem sentido,
sinta todo amor neles contido.

Pense que o mundo, de repente,
deu a você pétalas de rosas —
rosas que são asas, simplesmente.
Voe com as pétalas formosas.

Pense em um lago de águas calmas
e supere-se com a força da tua alma
as dores do passado e do presente —
e tente ser feliz completamente.

Alexandre Montalvan

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Noites Sombrias 1

Nas noites sombrias, um uivo longo
Ele nas noites procura a lua,
Brilhante e nua!
Ao triste uivo eu não respondo

Nas curvas entre luzes e sombras,
a dor insepulta,
sinistra e inconsequente,
nem mesmo a lua o escuta

No ar uma tenebrosa indolência.
Cai no chão a leve pluma,
Apenas uma,
A coruja pia, na mais completa inocência

Reza a lenda toda a sua ferocidade,
Dos dentes que amarelos rangem,
Mas não restringem,
As luzes brancas vindas da cidade

Dorme, criança

Que cedo ou tarde noite sombria se evade,
E a história chega ao fim
Então assim,
Finalmente, chega a hora da verdade.

Alexandre Montalvan

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Eternamente Amor

És sublime, transparência cálida,
o que antes era tão concreto e real
agora são apenas nuvens brilhantes
que me envolvem como brisa vibrante
em um longo beijo de saudades.

Vejo-te agora, pálida claridade,
nosso amor atravessa a escuridão.
Morre a carne, material sem validade,
permanece a brisa envolvente,
essência doce de uma eterna paixão.

Permaneço neste êxtase absurdo,
ouço a voz doce do desejo e da emoção.
Ouço-te e permaneço mudo,
sinto teu hálito de flores,
sinfonia eloquente e fragrância,
bálsamo deste sonho e emoção.

Sinto-te viva e quente,
como sinto a brisa ardente
deste espantoso sonho de verão.
Pego tuas mãos puras e macias,
as coloco em minha face,
quentes como as lavas de um vulcão.

Desejo-te chama pura,
pois em mim perdura a eternidade deste amor.
Carrego comigo este devaneio insensato,
que da morte me traz à vida,
nesta amada quimera, convincente ilusão

Alexandre Montalvan

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Versos do Ser

Ser! Apenas um espaço físico intransponível,
sentimentos dizimados por adaga,
estar perdido num caminho invisível,
morrer em vida, ser uma luz que se apaga.

Nem tudo parece ser tão difícil,
mas a terrível dor não quer ir embora.
Meu caminhar parece um sacrifício,
portas se fecham incólumes — isso me apavora!

Abelhas perdem suas asas reluzentes,
flores secam em todo o universo,
o sol se ofusca em cada um dos seus poentes,
e minha alma está impregnada nestes versos.

Versos escritos que navegam sobre águas,
fazem-me lembrar das minhas feridas,
nestes sons que se desesperam em palavras,
permeando-se nestas letras mal lambidas.

Eu

"Nós, poetas, na nossa mocidade começamos com alegria,
mas daí passamos finalmente ao desalento e à loucura."
— William Wordsworth

alexandre montalvan

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Soneto das Flores

O tempo é remédio para as grandes dores,
e a palavra amiga é sempre um consolo.
A vida não é feita somente de flores,
nem segue um roteiro, qual receita de bolo.

Continuamente eu invento minhas verdades,
que, na essência, só me enchem de esperança.
E o sofrimento que guardo na lembrança,
com o tempo, se torna um véu de saudades.

Das minhas dores me ergo e me agiganto,
e meu consolo é descrevê-las em poesia.
Com as flores do meu jardim, eu me encanto.

Rosas, rubras rosas, envolvem-me em magia,
minha carne estremece e se entrega ao pranto,
mas para meu espírito a vida é apenas alegria.

Alexandre Montalvan

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Alma Cigana

Nos porta-retratos do mundo
aqui, ali, aonde for,
ciganos são povos nômades,
como as abelhas de flor em flor.

A sua pátria é a luz da lua,
a sua bandeira é o brilho do sol,
e a livre alma cigana flutua
no horizonte como um vasto farol.

Suas festas, ardentes e alegres,
que nascem da alma liberta,
são mistérios que envolvem essa gente
e invadem a noite deserta.

A doçura, o feitiço e a magia
inundam este povo da terra,
por isso, fiz esta poesia,
que em minha alma se eterna.

Alexandre Montalvan

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Ideologia

Há um mundo novo nos olhando,
sedento para que o sirvamos
em seus luxuosos aposentos,
como sombras mortas e raras,
escravos e escombros humanos.

Na velocidade cruel e insana,
dociliza a alma e o coração,
extenua corpos e mentes;
a etiologia da dominação humana
é a tecnologia da escravidão.

Oh, Deus! que proveu nossa centelha,
destrua este ninho cruel
de zangões e de abelhas.

De tudo o que é humano, o assombro
é a raiz deste mundo
moderno e desumano.

Mil línguas de fogo queimam na lareira,
fogo que consome, crepita,
e somente o silêncio nos habita.
Deus, salve o homem
desta ideologia moderna
e maldita.

Alexandre Montalvan

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Meus Versos

Eu sou nada,
face ao universo,
nem ao menos um grão de areia perdido,
exceto quando, livre, faço versos—
isto só faz aquele a quem o universo
tenha parido.

No meu derradeiro porto,
encontrarei você à minha espera
e ouvirei o som do teu sorriso
quando o amor do meu eu se apropriar.
Lembrarei de cada palavra,
de cada emoção das minhas poesias.

De resto, tudo
ficará infinitamente disperso,
a ouvidos surdos por tão fracos ruídos.
E, ao fim dos tempos, oh! destino perverso,
até mesmo os versos serão
finalmente esquecidos.

Alexandre Montalvan

 

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Sonhando Acordado

Eu não tenho um minuto de vida,
mas ela, derradeira, me cerca,
tentando encontrar uma saída.
Não quero em minha face teu beijo,
apenas acenos da janela.

Todas as portas se fecharam.
Na loucura, a lucidez eu vejo.
No silêncio, é o grito que sela.
Na rua, o que me espera é um cortejo.
Eu deixei meu coração para ela.

Eu não estou na luz ou na penumbra,
o amar é apenas um verbo velho.
Eu, que acendi o cordão de uma vela,
vou expressar meu último desejo:
respirar longe da minha cela.

Eu já não devo amar mais do que amo,
e no meu peito eu cultuo a espera,
o inverno que antecede a primavera.
Quem sou eu, nesta vida bandida,
senão um ator transformado em fera?

Alexandre Montalvan

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Rei de Lata

Incertos movimentos
na alegria do meu sofrimento,
olhando o próprio tempo
como se o tempo
fosse o momento reflexivo desta dor.

E lá estava a dor,
e a todo momento
refletia o tempo, e o tempo era a dor.

São águas escurecidas com seus espelhos,
onde todo o absurdo se refletia.
O que se via não era o que havia,
até o amarelo parecia vermelho!

Nos mares azuis floresciam teus seios,
onde se ouvia o canto das baleias,
viajava teu corpo, desenhado nas areias,
ao quebrares lacivos e as ondas ao meio.

Era apenas uma fria manhã de outono,
em que minha vida, para trás, eu deixei.
Dolorida vida, que em sonho eu sonhei...
Nas águas escurecidas, o mal era a lei,
mas, apesar de tudo,
eu era o rei.

Alexandre


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O Poema que Virou Pó

Poema que, na beira da estrada,
pede carona para qualquer lugar.
Para onde quer que vá, não dará em nada,
porque este poema não sabe falar.

Enquanto o dedo apontado espera
e a primavera passa lenta,
o poema se espanta e se apimenta
na tonalidade das gérberas amarelas.

E na doce magia azul
de um céu que se incendeia em paixão,
há o brilho da noite de lua,
olho que flutua no céu e no coração.
A brisa suave que vem da rua,
e o poema se enche de emoção.

E assim, o poema que nada pode dizer,
no esplendor da utopia,
vive, mesmo sem falar, para ver.
Mas quando chegar o dia,
logo após o outono,
e ao fechar-se o paletó,
o inverno estará às bordas do seu sono
e restará do poema apenas o pó.

Alexandre Montalan

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Mãos na Escuridão

Mãos que, na escuridão, te afagam,
são as da mãe que embala o filho morto.
O brilho fugaz nos olhos de fogo,
lume cortante, o aço de uma adaga.

Na terra estará teu espelho,
não ficarão nos lábios teus beijos,
nem tua morada ou albergue,
mas serás sempre a sombra que a persegue.

Tua agonia se eternizará no espaço,
é a dor da perda, é o cansaço,
é a alma minguando aos pedaços,
é o que resta de amor em teus braços.

Não há lágrima última que rola,
nem semente que se lança ao vento,
nem caridade ou esmola,
apenas a lacerante dor do pensamento.

Alexandre Montalvan

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Obra Divina

Encontro no simples o ato divino,
No sorriso inocente
Da menina ou do menino.

No amor pela vida
De cada ser vivo,
Na magia, no encanto
De um bebê adormecido.

Na terra, no ar, nas plantas, no mar,
Tudo é divino, tudo é emoção,
No jeito que olhas, no teu coração.

No frio ou calor,
Na paz ou na guerra,
Se quiseres, encontrarás um ato de amor.

É a chama divina que age em tua alma,
É o sopro de Deus, de paz e de calma.
E mesmo a morte é obra de Deus,
Pois quando Ele te chama,
É a hora do adeus.

Alexandre Montalvan

 

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Pássaros

Há nos céus pássaros que voam,
como se voar não fosse
uma esperança louca.

E, se soubessem usar a boca
para falar de amor,
falariam das nuvens
e diriam, quase sempre,
palavras de carinho.

Porque voar é poesia,
e, com certeza, no céu se faria
um lindo arco-íris de mil cores,
desenhado em aquarela.

Talvez, na verdade,
neste céu haveria a mais bela
pintura da liberdade.

Mas tudo que começa termina,
e sempre a noite vem e domina,
sorrateira, este sonho.

Talvez você não se importe,
afinal, voamos na vida,
sem rumo, ao sabor do vento,
de mãos dadas com a morte.

Alexandre Montalvan

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Dor Dolorida

Fiz da dor algo tão atroz
que a transformei em algo distante,
do passado ou futuro,
mas nunca deste instante.
Eu a fiz encolhida, emparedada, feroz.

Eu a fiz doída,
eu a fiz como o grito vindo das ruas,
rompendo barreiras, engolindo o asfalto,
explodindo em becos lamacentos,
nas esquinas suadas, nos teatros,
eclodindo no chão de cimento.

Fiz com os pés molhados pela chuva fina,
no rugir da sussurrante tormenta,
com a boca enfastiada pela forte neblina.
E esta dor, eu transformei,
que ela, em mim, já não se aguenta.

Lepra negra em minha carne tão sofrida,
dor doída que preenche meus espaços,
suja-me com tua dor mais dolorida.
Venha a mim...
Embalar-me-ei nos teus braços.

Alexandre Montalvan

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Reencontrando o Paraíso

Quero que me digas
onde está teu coração,
numa canção de amor antiga,
no teu olhar, doce bandida,
a pulsar na contramão.

Vagueando, te procuro
pelas noites enluaradas,
transpondo mares,
em todos os lugares,
e no meu coração.

E te percebo tão frágil
neste amor vigoroso de inocência.
O doce aroma é um presságio
e me traz a confluência
nestas noites de abril.

E quando nasce o sol,
encontro teu sorriso,
que ilumina meu presente
e me faz reencontrar o paraíso...

Alexandre Montalvan

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Assoprando o Ar

O nada que se escreve é pleno,
as letras esculpidas são feitas de medo,
mas o rosto que me fala
é o que me mostra o espelho,
sussurrando um segredo.

O vento não faz dançar a areia
na praia branca dos teus olhos negros,
onde as ondas estraçalham rochedos,
onde a dor do amor permeia.

Amo-te... oh Deus! no limite das
minhas fronteiras.
Dói-me a perda no entardecer,
a agonia que viria com a lua cheia,
desabando alvissareira no estertor da manhã.

Amo-te... oh Deus! fere-me quando te leio
no tremor das águas turvas,
tecidas na roca de fiar,
como um sol que se dilui e se curva
no contorno dos teus lábios vermelhos,
assoprando o ar.

Alexandre Montalvan

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Coração Vagabundo

Quando os olhos se voltam
para a lua, cresce
o tesão dos enamorados.
Ouve-se um beijo estalado
e um suspiro de quem se sente
apaixonado.

A lua é a mesma que, no passado,
iluminava a escuridão.
Ora ilumina o estar apaixonado,
é a mesma lua
a iluminar uma paixão.

Mas a lua imponente
na noite viaja indiferente,
não se importa com os amores
e carícias
que sua luz ilumina.

Nunca soube dos suspiros,
nem dos beijos eloquentes,
dos abraços e delícias
que emanam desta
gente.

Essa lua,
que tão linda flutua no firmamento,
como os meus amores neste mundo,
ilumina todos os sentimentos
que fluem do meu coração vagabundo.

Alexandre Montalvan

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CPP