A morte ronda.
O tiro rompe a carne,
transpassa o espírito,
o grito e a dor.
E, a cada sete palmos,
encontra-se um corpo:
é onde termina toda ambição.
A terra sempre absorve o morto,
quando não há incineração,
e o transforma em tantas formas,
ambiguidades e fonemas.
O consolo? Apenas o silêncio.
As palavras são agora árias
sopradas pelos ventos,
entre as negras catacumbas
e a pálida capela. E, para elas,
por que tantos ornamentos assim,
se tudo se acaba no tempo?
Indecifrável tempo que, supremo,
perde-se ao longo do infinito
e faz da morte o mais bonito
fim.
Não, não espere pelo poente.
Prefira o sabor de um beijo ardente,
dado agora, pela manhã —
um beijo de língua, descarado e indecente,
com gosto de maçã.
Alexandre Montalvan