Posts de Alexandre Montalvan (735)

Classificar por

Não Encontrei a Tua Mão

Hoje eu acordei na beira da cama,
mas era um precipício na minha imaginação.
Minha mente, em mil pedaços, se desfazia;
desgraçadamente, não encontrei a tua mão.

A foda era que nada fazia sentido.
Desesperado, pensei em fazer uma oração:
“Deus! Não sou ateu, mas não sei de nenhuma.”
Infelizmente — ou felizmente — caí de cara no chão.

Porém, naquele instante, a realidade era falha,
e eu, desmoronado, sem atinar para a solução,
olhei para cima e vi uma mão com uma navalha.
Fiquei paralisado com uma dor no coração.

Como um cego, tateei no assoalho estagnado.
Senti a consolação das lágrimas — não minhas; estranhas.
A alma doente de um corpo condenado;
desgraçadamente, não encontrei a tua mão.

Alexandre

Saiba mais…

Amor Sem Fim

Entre gemidos e carícias,
o amor explode
como um raio de luz que nos colhe
ou ondas de um mar de delícias.

Em teus seios,
quero o toque majestoso,
como o colibri em uma flor,
explosão suave de um gozo
no mais puro amor.

E assim se cumpre o presente,
pois só ele existe, afinal:
um amor eterno, onipresente,
onde nunca haverá final.

E é no olhar… cumplicidade;
pétalas de rosas espalhadas pelo chão,
o gozo supremo e infinito
ao sentir, na pele, o toque da tua mão.

Alexandre Montalvan


Saiba mais…

O êxtase de Herodes 

O êxtase — de um mundo em movimento;
sêmen que corre pelas águas — do rio profundo;
e nas lascividades breves de um momento
escorre lento — do raso ao fundo.

Segura — o grito preso na garganta;
as lágrimas, sim, começam a rolar.
Roucos gemidos — que até espantam —
buscam prazer no eterno afundar.

Um só corpo em dois: vítima — e algoz;
neste espasmo que é contínuo — e lento,
contorce o ventre em um gozo feroz;
geme enlouquecido — louco alento.

E um mar enfurecido — explode;
estas ondas, no êxtase do prazer,
te lançam — nos braços poderosos de Herodes:
e a escolha cruel — matar… ou morrer.

Alexandre

Saiba mais…

Erupção Sensual

E, na confusão anacrônica do nosso enredo,
decerto o temido axioma eram só desejos,
onde os toques e carícias eram de medo.
Deitados, nós ficamos em fogo e nos beijos.

Semblantes dispersos em brasas na fogueira,
e os ossos rangiam onde as carnes abundam.
É no rigor imberbe em que línguas afundam,
no enlouquecido furor destas fronteiras.

Mal distensionada, a noite perdeu os sentidos;
somente o suor denunciava o que tinha havido,
e pétalas de flores cicatrizavam o colchão.

Mas nossa carne postulava por loucuras,
nossos semblantes tinham a palidez branca da lua,
enquanto lavas mornas escoavam do vulcão.

Alexandre

Saiba mais…

No Fundo do Poço

Faça de mim apenas um poço,
em qualquer deserto sem água,
neste infortúnio causal que ouço,
no qual a ternura pouca mirrava.

Faça-me tela de linho branco,
onde o amor se desmancha nas cores
e onde a dor é um mal natural,
linfa impura de tantos horrores,
que escorre por entre pedras de açores.

Faça de mim amor para quem não entendeu
que é para todos — as regras, as leis.
Faça-me o fogo em que me queimei,
sonorizando a dor que arrefeceu
na noite sem a lua, cor de breu.

Faça de mim o ator que nunca fui,
ou esta tristeza que coça e arde,
sem que eu possa dizer um “ui”,
nas entrevidas da sombra que polui,
ao ver morrer a minha finita tarde.

Dê-me, então, teu abraço, ó noite escura!
Já não há lei,
nem dos homens, nem de Deus.
Aos meus olhos, mostre o meu fim!
Só o negrume é o que não poderá negar
para mim.

Alexandre Montalvan

Saiba mais…

Melancolia

Cobres m’alma com enormes asas negras.
Coração navega em um mar de tristezas.
Tudo à minha volta se tornou vazio;
todas as cores são de um cinza frio.

Sonho, pois em sonho consigo reviver
momentos preciosos que eu passei com você.
No silêncio do ninho, doce chuva quente,
leviana, sensual e ardente.

Na música romântica dançamos lentamente,
em um ritmo erótico, envolvente.
A tempestade surge de repente:
raios, trovões, batidas fortes se repetindo.

As carnes quentes se abrindo,
sussurros densos,
como densas as nuvens extensas, tão úmidas,
e choram, desesperadas, urgentes, unidas.

Na alegria do sonho, a realidade vazia;
ao adormecer, sonhar; ao acordar, agonia.
Sem nenhum sentido, isolado,
somente encontro um caminho:
a melancolia.

Alexandre Montalvan

Saiba mais…

Maça

A morte ronda.
O tiro rompe a carne,
transpassa o espírito,
o grito e a dor.

E, a cada sete palmos,
encontra-se um corpo:
é onde termina toda ambição.
A terra sempre absorve o morto,

quando não há incineração,
e o transforma em tantas formas,
ambiguidades e fonemas.
O consolo? Apenas o silêncio.

As palavras são agora árias
sopradas pelos ventos,
entre as negras catacumbas
e a pálida capela. E, para elas,

por que tantos ornamentos assim,
se tudo se acaba no tempo?
Indecifrável tempo que, supremo,
perde-se ao longo do infinito
e faz da morte o mais bonito
fim.

Não, não espere pelo poente.
Prefira o sabor de um beijo ardente,
dado agora, pela manhã —
um beijo de língua, descarado e indecente,
com gosto de maçã.

Alexandre Montalvan

Saiba mais…

Meu Primeiro Amor

Era um olhar, uma emoção,
depois de um tempo era o beijo
e aquele suor nas mãos,
a alma incendiando de desejo.
Na inocência do amor primeiro,
o coração batia ligeiro,
um sentimento em explosão.

Dançávamos músicas lentas
ao som de Je t'aime… moi non plus,
na pureza rebelde dos anos setenta,
uma onda feliz e embriagante
que, como ouro, ainda reluz.

Íamos passear no parque,
sentar na roda-gigante,
ouvindo Chico Buarque
como dois pombinhos amantes.

Você, meu amor primeiro,
não estás mais perto de mim.
És um sonho em um nevoeiro,
rosa escondida em um jardim.
Quanta saudade tua,
quanto tempo faz…
Eu já nem lembro mais.

Mas eu ainda posso sentir,
meu caríssimo leitor,
a louca e imensa emoção
do meu primeiro amor
e a dor desta saudade
que invade meu coração.

Alexandre

Saiba mais…

Pombas Brancas

São como pombas brancas
e surgem à minha frente,
quando, de repente, desaparecem no ar;
cheias de mistérios, vão e vêm furtivamente,
pálidas, aladas, estão sempre a voar.

Um voo delicado e quase sempre indeciso,
quase um doce sorriso
de quem chega para ficar.
Eu estendo as mãos para tocar o paraíso,
mas, como as pombas brancas, elas desaparecem no ar.

Partem em uma ventania plena,
não é uma, são centenas,
cintilantes viajantes
a caminho do mar;
seguem rios adjacentes
e o sol no seu poente,
procurando a luz do luar.

São suaves e correm em névoas,
no sentir de uma pluma em vai-véns;
não têm peso em suas asas,
pombas brancas são como puras almas
que só quem ama tem.

Alexandre Montalvan

Saiba mais…

Fome

Rasgava a carne com barra de aço;
era uma obra de arte, um Picasso.
Outro berrava sem entender nada;
seu sangue jorrava, outro dava risada.

A barriga aberta — tripas, vísceras
vermelhas, rosadas —
parecia alegre e saudável.
Eu pensei: isto aqui está mais para Dalí.

Seria mais salutar e provável.
Sangue escorria pelas frestas da mesa,
quase uma cachoeira densa, caudalosa.
Se é, assim seja — não havia defesa.

Era algo sem noção, uma cena espantosa;
talvez a fome trouxesse alucinação.
Chamei: — Garçom!

Ele trouxe o cardápio.
Fiquei na dúvida entre o bife malpassado
e o grelhado de cação!

Alexandre Montalvan

Saiba mais…

Nas Pupilas do Sol

Nas pupilas do sol de novembro,
um brilho intenso
de um ano que envelhece —
já é quase dezembro,
e brilha o sol no céu cinzento.

Com a maturidade que lhe confere o tempo,
toda a fantasia lúdica,
seus cabelos brancos
e toda a ironia neste teu olhar,
em contraste com seu sorriso franco.

É um velho barco a navegar,
quase chegando no porto,
já cansado deste mar
em calmaria;
em teu rosto, lágrimas a rolar:
um misto de tristeza e alegria.

Mas, para outrem, uma dor incontrolável
nesta hora:
nas mãos, acenando com um lenço,
um adeus e um triste coração
que chora.

Alexandre Montalvan

Saiba mais…

Na Dimensão do Amor

Quando a morte chegar a mim
com seu hálito negro, sebento,
quero que as rosas do jardim
sejam todas lançadas ao vento.

Quero que o beijo da morte
leve-me para terras estranhas;
eu serei um viajante obscuro,
com tantas saudades tuas
a queimar as minhas entranhas.

E canta o vento, em complemento,
ele canta o início da jornada;
por ti, amor amado, meu corpo seria abençoado
na insensatez do que não é sagrado.

Molha o meu olhar mais uma vez,
que em água benta foi afogado;
e na minha boca, enquanto há lucidez,
ainda quero teus beijos apaixonados.

Não quero agora que digas nada,
quero ouvir apenas teu coração,
com meu rosto entre teus seios,
com teu corpo em minhas mãos.

Vou adentrar a fria madrugada;
posso sentir o frio no coração,
a palidez fazendo o seu traçado;
quero de ti um último beijo molhado,
que levarei comigo para outra dimensão.

Alexandre Montalvan

Saiba mais…

Soneto surrealista: Que Porre!!!

Fogo queima flores na chuva,
Os gatos entram no buraco;
Ladram os cães na estrada suja,
E a noite brilhante eu destaco.

Papai Noel surge em meu quarto.
Será mesmo que voltei à infância?
Não! É um ladrão que rouba uma criança,
E eu que quase tive um infarto!

Veja, os meninos vestem rosa,
As meninas usam bigodes,
É quase overdose de eubiose.

Expulsam a sala do bode,
Mas quem não se sacode, pode.
Eu vou tomar mais uma dose.

Alexandre Montalvan

Saiba mais…

Minha Alegria

Não peças a mim que sorria,
não me peças alegria:
minh’alma, já tão doentia,

alegra-se na ausência,
ou no som da ventania
que principia a tempestade,
ou na dor de uma saudade
que judia...

Não peças que me encontre:
deleito-me na procura.

Meu andar na noite escura
inebri­-a-me e encanta.
Se eu fosse uma planta,

eu apenas
murcharia...
para olhar
o chão.

Alexandre Montalvan

Saiba mais…

Despertar Abusivo (soneto)

Veja! Isto é o que sou
Face o tempo que vivo
Marcas que ele deixou
Neste despertar abusivo

E tudo que havia morreu
Restam expressões do mundo
Tantas, que a verdade se perdeu.
E elas mudam a cada segundo

Maldito mundo podre e imundo
Que roubou minha unidade
Destruindo todas as verdades

Agora a verdade nasce morta
Como tudo em mim morreu. Oh Deus!
Piedade, pois o assassino sou eu

Alexandre Montalvan

Saiba mais…

Sou um Mar

Não há sons entre as palavras,
mas somente um ser perdido;
nem no caminhar de uma larva,
somente algo há muito esquecido.

E sofro os piores arrepios do mundo,
entre meus medos, desejos e sons;
eu não respondo e ainda pergunto:
serão estes arrepios ruins ou bons?

Mas não existe nenhuma resposta, e o
mar continua lá, ora calmo, ora bravio;
e eu continuo neste imenso vazio,
triste por viver esta vida de bosta.

Mas sei que a tempestade é apenas vento
que despenteia meus cabelos descoloridos;
meu engano é viver no mundo esquecendo
que eu sou o mar que pensa o pensamento
e não um ser pelo mundo...destorcido..

Alexandre Montalvan

Saiba mais…

Entre o Silêncio e o Vento

Há um eco que me chama
no fundo do tempo,
um murmúrio de estrelas cansadas,
um soluço do vento.

Trago nos olhos o brilho
de uma saudade sem nome,
e nas mãos o pó dos dias
que o esquecimento consome.

Sou feito de sombras e auroras,
de anjos que perderam o rumo,
de versos que nascem aflitos
entre o amor e o prumo.

Mas ainda creio na ternura,
mesmo que o mundo desabe,
pois há em mim — na loucura —
um fio de luz que não cabe.

Alexandre Montalvan

Saiba mais…

Insanidade

Pelas frestas desta frase desconexa,
vejo sonhos... vejo tombos... vejo flores,
em um tempo lento — lento como o vento —,
e uma noite escura e vazia.

Encobria toda a magia da vida,
seus encantos e alegrias;
e era apenas o que fazia,
como se o hoje fosse apenas fantasia.

E assim ia, sem eira nem beira,
como um livro velho, de qualquer maneira,
apenas uma sombra escura.

Mas havia — havia em seu olhar certa candura —,
como fossem raios de insanidade
na alma pura.

alexandre Montalvan

Saiba mais…

Pobre Menina Pobre

Pobre menina pobre, que de seu leve sono acorda.
É uma brisa que lhe toca as orelhas,
o sussurrar do vento nas telhas,
é o leve bater da porta.

Vejo em seu rosto um assombro esvaído,
no toque do travesseiro de espuma,
e seu sono, que era só uma pluma,
à procura de um sonho
vivido.

Já não lhe fere o seu desencanto;
ela não quer contar ovelhas,
talvez apenas queira
ouvir o vento entoar o seu canto.

Vejo nos seus olhos uma noite desfigurada,
em um sono que não mais importa.
Será o zunir dos vendavais
em sua porta;
a verdade é que nada a conforta.

Pois seu azul virou cinza
na refração da água estagnada.
Não há nem o sono da madrugada —
é só mais um sonho
que nem começa e já finda.

Alexandre Montalvan

Saiba mais…

Amo a Loucura

Te vejo na realidade do vento,
do cheiro de coento,
nos contornos suaves como a seda,
no caminho de floridas veredas.

À noite, serei a sombra que a persegue,
estar tão perto para sentir tua emoção;
tocarei na tua verdade macia e entregue,
com o fogo doentio da minha mão.

Te quero em carne e em tudo que fluir de ti,
na chama luminosa como a vida;
ilumina a minha noite, cintilante rubi,
és esperança que transcende minha alma dolorida.

No meu eu, ao ser eu e ao ser sonho,
trago a poesia no amor que desconheço;
talvez, para muitos, sou apenas bisonho,
amo a loucura entre seu final e seu começo.

Alexandre Montalvan


Saiba mais…
CPP