Posts de Alexandre Montalvan (698)

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O Veneno da Serpente

A minha mão ávida em teu elemento mais puro,
Os teus olhos fechados procuram o céu.
Vivemos um profano momento imaturo;
Teus gemidos fazem parecer que sou cruel.

Na mansidão do teu olhar, os meus devaneios
Se perdem na brisa de uma manhã de outono.
Teu espírito exalta tudo o que é verdadeiro,
E eu, aqui, jogado aos teus pés, sem saber como.

Busco a noite para te amar amargamente;
Faço do gozo uma dor, um sofrimento.
Não sei viver sem você nem por um momento;
Quero, no êxtase da dor, buscar o prazer.

Bebo o sumo venenoso da serpente;
Persigo a morte que ressoa em meu caminho,
Porque, perto de você, sou um menino
E condenado a amar você até morrer.

Alexandre Montavan

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Flores ao Vento

Uma mistura imposta
feita na cor do sangue
era o meu corpo exposto e exangue
como uma planta inumana e quieta.

Havia mais de mim em cada poça de lama,
não há quem as possa descrever
ou diluir nos pequenos raios do sol,
que eram sementes nas feridas do meu rosto
e iluminavam o profundo dos meus olhos
com ferocidade e gosto.

Havia mais de mim espalhado pela terra,
que purgava neste marasmo irascível,
e no silêncio destas flores
o que espantava a minha alma,
confusa,
com todos os horrores
de uma espera.

Mas quando tudo, tudo
for apenas saudades,
eu jogarei flores ao vento
e olharei o firmamento
para poder vê-las voar.

Alexandre Montalvan

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O Fantasma do Amanhã

Em cada olhar cabem infinitas possibilidades
e a luz que o invoca é apenas mais uma.
As sombras do nada são as únicas verdades?
Até mesmo o vento dissolve uma duna.

Minhas escolhas são cacos de um vidro,
que hoje são reflexos de meu coração.
E o que eu creio ter como abrigo,
hoje é somente o encontro da solidão.

A melancolia traz apenas a noite escura,
me pego a pensar na inexistência oportuna.
Apesar do amor ser para mim rocha dura,
eu desabo do céu, flutuando como uma pluma.

De nada me vale toda uma imensa fortuna,
pois alegria e tristeza são um infinito tobogã.
Mas é o nada que me absorve e perfuma,
e mostra: sou apenas o fantasma do amanhã.

Alexandre Montalvan

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Entre o Vento e Teus Braços

Folha ao vento, em dança lenta, a folha cai.
Ao desprender-se da origem não sabe o destino — não importa aonde vai.
Seus temores são metáforas, sua dor é solidão;
em sua liberdade sem sentido, dança um sonho, uma canção.

Tanta força a castiga, tatuando-lhe carismas;
ela cria movimentos para transformá-los em sofismas.
O outono é a razão de sua misteriosa existência,
altera verbos para que se perca a eloquência.

Sua tristeza é a antítese das manhãs e dos jardins;
sempre sonha o mesmo sonho,
e o que é bom diz que é ruim.
Sabe ser apenas uma folha ao vento,
tão simples assim.

Vê rostos conhecidos, frios, sem sentimentos,
que mudam a todo momento,
transformando o ferro em aço.
E eu me laço...

Nos teus braços e abraços.
Beije-me.
Em teus lábios, me enlace.


Afaste-me deste inverno
que me afasta de você.

Deixe-me repousar em teu delírio,
renascer em tua aurora,
aquecer-me em tua luz, saborear tua doçura.
A cada amanhecer, estar agarrado ao teu ser,
pois, por mais que eu flutue ao sabor da brisa e do vento,
meu destino é você.

Alexandre Montalvan

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Carne e Alma

Mergulho em louco desespero amoroso
neste desejo de dissolver-me em ti,
anestesiando esta dor como um gozo,
um gosto de gozo que eu nunca senti.

Toda a angústia modula esta intensidade,
morro no amor como se eu o pudesse parir;
minha carne lateja por teu corpo amado,
e minha alma almeja despojar-me de ti.

Sou verme rastejante na carne putrefata,
procurando esta dor, a mulher amada,
esperando migalhas, ouvir que me ama,
sou a flor negra murcha sobre uma cama.

Devo calar esta sede, matar o carrasco,
que é o amor que me toma a consciência.
Quando o perfume está no menor frasco,
eu devo matar a carne, e alegar inocência.

Alexandre Montalvan

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Poesias

Minhas poesias nada valem,
e eu bem sei que nada elas devem valer;
afinal, são como as águas de um rio
que vão desaguar no mar
e no mar se perder.
 
Trago em mim esta consciência compassiva,
mesmo sem saber o que é o certo,
pois é como uma flor que permanece viva
no sol escaldante, nas areias de um deserto.
 
Como o vento que varre folhas no outono,
compondo para o inverno que há de vir,
ao final da noite, quando aperta o sono,
para se sonhar e ver poesias surgir.
 
Elas, apesar de quase nenhuma valia,
a nós, “poetas”, trazem felicidade;
e, ao observarmos nossa cria,
é quando nos sentimos humanos de verdade.
 
Alexandre Montalvan
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Chuva de Lágrimas

A cada palavra que escrevo,
é minha dor, meu desespero,
um sentimento que entristece,
um grande amor ou um tormento.

É a esperança que não morre,
enquanto vida florescer,
é a tristeza de uma vida
que se prepara para morrer.

Quero ficar aqui mais um pouco,
deixe-me olhar as estrelas do céu,
mesmo que pensem que eu sou louco,
gravarei partes do meu coração no papel.

Eu já não posso dizer com meus olhos,
pois as lágrimas são chuvas que parecem sufocar;
por toda a vida, e todos os meus instantes,
em ti guardarei meu eterno sonhar.


Alexandre


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O Brilho da tua Alma

Sinos que ressoam na imensidão,
sons agudos que ferem os tímpanos.
Sua cadência espanta a escuridão
e traz a lua que ilumina o meu destino;
mas são os sinos que me apontam a direção.

Eles rangem com martelos ao norte,
como poesias escritas por tantas mãos.
Gritos na noite espantam a própria morte,
e eu, docilmente, lhes dou suporte
ao ler teu poema solidão.

Assombro! Meus olhos estatelados no escuro
saltam das órbitas, e eu me desfiguro
como um ventre aberto, feito de ouro puro:
é teu brilho que ilumina o meu escuro,
és a verdade que aparece e mostra o futuro.

Assombro! Este horror que em meu rosto espalma,
deste poema corpo que me faz perder a calma.
Ele é puro branco com ares de fantasma;
carpir pedaços de minhas cicatrizes e traumas,
porque é o brilho que resplandece da tua alma.

Alexandre

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Almas sem Flores - soneto -

Não há jardim sem flores,
nem no seu florescer final.
Mas onde quer que tu fores,
vai como qualquer mortal.

Pisa leve no que te fere,
como as ondas, à areia do mar.
Não respondas o que não queres —
há momentos que se deve calar.

Um náufrago ao mar se lança,
ao perder toda sua esperança
de um dia poder se encontrar.

Seu corpo deriva e balança
agora em águas tão mansas,
como águas-vivas no mar.

Alexandre Montalvan

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Versos Dissonantes

Quando tudo em que acreditamos
se eleva como nuvem sem destino,
e, cegos, ainda consentimos,
as crenças nos tomam por reféns.

São maiores que a razão,
se fazem doença,
corroem a bondade do coração —
e assim multiplicamos dores,

que, como vírus famintos, se alastram
e nos devoram em gangrena,
despindo-nos de bons pensamentos,
despindo-nos de qualquer poema.

Um longo inverno, de falsa claridade,
parece-nos benevolente,
mas é máscara que nega a verdade
e grita em nós traições e deslealdades.

Quando colheremos frutos de liberdade?
Quanto veneno dorme na semente?
Quanto fel se entranha no produto?
Quando a esperança se fará presente?

Pobre de mim, coberto pelo véu que me cega,
pobre de mim, que penso como criança.
Como rajadas lançadas a esmo,
somos a farsa que sustentamos,
somos apenas espelhos de nós mesmos.

Mlexandre Aontalvan

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A Vida de Hoje!

Eu empunhei uma loucura serena,
uma automática apontada pra minha cabeça;
a bala na agulha, na nuvem espessa,
trazia ao meu reflexo uma atitude obscena.

Meus olhos no espelho eram desertos,
eu não esperava esta contradição;
por não estar onde é certo, desperto,
eu apenas procurava um pouco de emoção.

Salta-me aos dentes um sorriso disforme,
quando palavras nadam num mar imaginário;
a dor acende neste caminho de calvário,
pois é do teu amor esta terrível fome.

A vida em nosso tempo é coisa estranha;
aprendi a viver de forma ficcional.
Abraço a emoção e expulso o racional:
será que a vida foi sempre um perde e ganha?

Alexandre Montalvan


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Eu Pecador

Iluminado por uma luz artificial,
um vulto se ergue como uma assombração;
situação absurda, aflitiva e anormal,
por ele eu sinto uma benévola afeição.

Muitos milhões de anos se passaram nesta casa,
a lua, com seu olho brilhante, procurava em vão o amor;
fria, tão fria, a cada era que extravasa,
alternadas em vão por eras de calor.

Estou tão só, e este vulto é a única companhia;
tenho em mim sua alma, e a de outros tantos,
que me vejo ensopado pelo espanto,
que nenhum outro pensamento ou vontade me valia.

Sou uma alma lançada a um fosso profundo,
como um verme preso à língua do satanás;
corro da morte desde o início do mundo,
e a fome de amor me transforma em um ente voraz.

Enquanto espero este sentimento supremo,
vivo em desespero nesta existência de horror;
eu como o pó da terra e, por isto, eu blasfemo,
e este ser, saído da luz, é meu eu pecador.

Alexandre Montalvan

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Soneto da Arte

É imponderável definir sentimento,
tanto quanto o descrever em palavras;
porém, está em nossa essência fazê-lo,
assim como o é o desenvolver de uma larva.

Muitos, porém, o escreve na sua palma
para que o tempo não o desvaneça,
até porque vivem de likes ou palmas,
e isto dá um nó na minha cabeça.

As convenções são conceitos humanos,
inclusive no ato da arte poética escrever,
mas sem melodia os considero profanos.

Mas o que é verdade em tudo isto?
Sei! Eu gosto mesmo é de música e lirismo,
porém nada contra a visão do dadaísmo!

Alexandre Montalvan

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Vazio

Que palavras me bastariam
para que eu não tome o meu próprio veneno?
Viver é sempre amar — isto nunca será pequeno,
porque o amor nos faz muito mais inteiros.

Talvez assim eu possa suportar o peso de ser,
como uma ave que não tem asas para voar
e nunca irá voar no firmamento,
ou como um cego que não pode sua face conhecer.

Pinto-me de cores negras
em uma sala cheia de lâmpadas acesas,
paredes sem janelas de vidro,
no peito, a tempestade que nunca
deveria ter existido.

Nem tudo é eternidade.
Eu colho cravos em uma sombra desnuda,
percorro caminhos sem necessidade
e uma existência que em nada muda,
entre flores negras e um corpo sagrado.

alexandre
 




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Faço Versos

Estou sozinho
entre corpos e rostos,
estou sozinho em meio a estes enroscos,
num ritmo confiável de nada fazer.

Triste como um pássaro sem ninho,
estou sozinho neste
meio de inverno,
perdido em palavras imprecisas,
sem som ou beijos,
a algum sentir terno,
ou flores, ou toques de dedos.

Encolha-me em nudez, numa longa noite de sonhos,
e me faça virar pedra,
um ser visível e bisonho;
e me faça virar pão,
venenosa comida de deuses,
um ser morto, jogado ao chão.

Quero o toque de um milagre humano,
o divino está fora de moda,
não existe paraíso — tudo é profano,
e hoje o amor é somente uma foda.

Eu vejo a noite fria, angustiante e escura,
e o vento carrega fantasmas do passado,
que são meus, em minha vida impura,
da vastidão do tempo e do imenso universo,
que vejo — e eu faço versos
para cada vez mais destruir
a minha armadura.

Alexandre Montalvan

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O Vaso

O que há dentro deste vaso,
além de plantas floridas?
Porém, na verdade, não há saída,
e, no mais, apenas prolifera o acaso.

Sua concretude é ilusória,
um toque imaginário na sua criação;
ser ou não ser, é um pensamento são,
mas nada há — dentro ou fora.

A luz é transitória em sua figura,
uma sensação de abandono,
como o inverno que sucede o outono,
mas não há como aceitar ou negar.

Que, nas chamas do seu espírito,
se é que ele, o possa possuir,
a existência da dor é seu conflito,
e longe de mim compreender ou inferir.

Alexandre

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Amor Perdido

Não era um olhar de amor — não havia
o brilho ofuscante que aquecesse o coração;
era frio, indiferente,
como um fraco aperto de mão.

Um triste fim, uma triste canção,
e apenas uma única dor —
sem partilha, sem crença,
pela indiferença daquele olhar sem cor.

Restava — e apenas isso —
cinzas, destroços, incertezas, desencanto,
num final que não estava previsto.

Entretanto, no início, era mágico:
um carrossel de emoções,
e a felicidade, por tão intensamente sentida,
ignorava este final trágico.

Não percebia, por seu pequeno tamanho,
a nuvem que pairava,
encobrindo parte do céu —
o que, para mim, não era estranho.

Agora, como um animal, eu me desentranho:
vomito em meu jardim
pedaços do meu coração.

Lágrimas escorrem como cascatas,
e, sem sangue, meu corpo exangue
compreende por que, por amor,
se morre ou se mata.

Mas nada aplaca a dor desta perda.
Nada me importa — eu não nego.
Fecharei meus olhos
e, para sempre, meu coração,
pois sofrer por amor é pior
do que morrer cego.

Alexamdre Montalvan

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Sombras Líquidas


Há sombras líquidas em cada canto da rua,
no desordenar de nuvens imprecisas.
Mas as lágrimas são minhas — não são tuas —,
desenhadas pelas tuas mãos, poetisa.

Eu me depuro em marasmo elusivo,
perdido a olhar um ponto no espaço,
sem encontrar sequer um objetivo,
pois apenas amo — e não sei o que faço.

Esta é a tristeza de uma longa espera,
um abandono cruel e perene.
Se já amaste, então não me condenes:
o amor abranda até o coração da fera.

Minha insensatez é amar na loucura
e reinventar meu triste coração partido.
Tão cego, não me importo com a desventura
ao ouvir tua poesia em meus ouvidos.

Não sou sombra líquida na escuridão:
sou o crepitar de uma grande fogueira —
mas que, na verdade, apenas permeia
as cinzas do meu pobre coração.

Alexandre Montalvan

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As Cores da noite

 

As cores da noite passam
sobre a fria neve, ao alvorecer,
mas no horizonte o amor floresce
quando a tarde há de morrer.
No entanto, ela
renasce quando voltar o amanhecer.

Porém, de tão triste e sofrida,
ela morre nesta poesia — ruptura —,
mas vive neste acaso curioso
do nascer desta aventura,
com toda a sua confluência,
ou quando houver uma noite
plenamente escura.

Os odores da noite
são das pétalas das flores da sala,
que ultrapassam a existência
e nos fazem perder a fala,
na desilusão de viver
sem ela. Talvez, logo, seja melhor
morrer.

Mas que a angústia seja breve
a cada passo mais perto da sepultura,
e no peito, lágrimas de ingênuas flores
neste vendaval de candura —
e o fim da noite e suas cores,
e o desfazer lento da tua figura.

Alexandre Montalvan

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An(dor)inha



Uma andorinha em meu quintal
Voa tão só como ninguém.
Triste é seu voo e revela a quem
Que é o único voo que essa andorinha tem.

Chove, como se a chuva fosse culpada
Pela dor dessa ave sofrida.
Mas seu rastro no céu esculpia
Sombras da sua vida vazia.

No silêncio de suas sombras,
Que cruzavam a terra no final do dia,
Desenhavam cacos de vidro
Como nenhuma outra sombra faria.

Não julgue, se não vive: está dor
Ela não pode mais olhar para trás.
Devaneio? Perdição? Seja o que for...
Vive com seu voo triste e fugaz!

Alexandre


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CPP