Posts de pedro antonio avellar (98)

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Lua de Jumirim

Lua, lua tão linda,

Lua de Jumirim,

Que sejas bem-vinda

Nesse entardecer carmim.

Hoje estou, lua amarela,

Numa tristeza sem fim,

Por uma mocinha tão bela

Que se foi, antes de mim...

Restou-me essa dor infinda:

Ai, lua, quanta saudade dela.

 

pedro avellar – 14 de julho de 2022

Em homenagem à afilhada Brenda Vitória

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Ousadia, em Soneto Decassílabo

Ousadia, em Soneto Decassílabo

 

Vivo a postar textos que, reconheço,  

Não são pérolas da literatura...   

E não tenho a eles todo esse apreço, 

Não exibem prestimosa cultura.

 

Ah, Deus do céu, por que não me recolho,

E fico cá, em meu canto calado?

Por que, atrevido, vaidoso, eu escolho

Importunar um amigo educado?

 

Creias-me – há tempos vivia confuso,

A discursar onde ninguém me ouvia,

E a me sentir, assim, um mero intruso.

 

Até que amigos que há tempos não via

Me acolheram... Me senti tão vaidoso,

E, por gratidão, lhes escrevo, eu ouso!

 

 

pedro avellar – 10.07.2022

Sentindo-se muito triste. E só.

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O inalador

O inalador

 

Quanta dor, num mero inalador

Que o Correio vem entregar:

Não houve tempo de utilizar.

Há de se restituir ao vendedor,

Que a criança, destinatária,

Partiu em nuvem planetária

Ao encontro do Deus Criador!

 

pedroavellar - junho 2022

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O anoitecer, às margens do Rio Formoso

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O anoitecer, às margens do Rio Formoso

Anoiteceu.

O ar úmido se fazia ainda mais tépido com as chuvas de janeiro. No entanto, a brisa leve e discreta que balançava as folhas das bananeiras arrefecia o calor.

Estava no Coribe, no sudoeste da Bahia. Muito distante das praias litorâneas e dos agitos de seus universais turistas. Estava sim numa residência rural humilde, mas, por força do progresso, já contemplada pela luz da energia elétrica. No entanto, bastou-me sair porta afora e caminhar algumas dezenas de metros para defrontar-me com a escuridão. Porque dei as costas às tênues lâmpadas da casinha de blocos do Tonho da Bastiana.

Voltei-me primeiro a leste, perscrutando em minha imaginação o Velho Chico – talvez a uns 50 quilômetros de distância – largo, sinuoso, profundo e certamente silencioso ao fim da tarde, na altura de Bom Jesus da Lapa. Predominavam montes escarpados e íngremes, com a vegetação da caatinga baiana e, mais acima, platôs de pedra esbranquiçados com o clarão do luar.

Voltei-me ao sul e sabia que lá adiante se encontravam as Minas Gerais, o passaporte de travessia necessária dos meus antepassados que, fugindo às agruras do sertão das espinhentas palmas mirradas pela seca do Caculé e Lagoa Real, migravam em busca do Eldorado paulista, cruzando as serras e despenhadeiros desde Montes Claros e por todo o chão mineiro.

Suspirei, mas então voltei-me a oeste. Duas centenas de metros adiante do caminho de relvas, ornado pelas sensitivas pétalas da maria-fecha-a-porta, estava o Rio Formoso. De correntezas caudalosas, ruidoso e festivo, fustigando as pedras nas corredeiras e formando lagos onde se refletia toda a luminosidade da noite do oeste baiano. Arrepiei-me e ergui os olhos, instintivamente.

Ah, pensei, não existe céu tão estrelado quanto esse do sertão baiano. Os cientistas falam em números exorbitantes de constelações, estrelas, cometas, planetas, meteoros e corpos celestes sem fim, mas o que estava ali diante de mim, tão pertinho, parecia bem mais que isso. Nunca vi tanta estrela, algumas cintilantes, a disputar-me a preferência, outras discretas, distantes, misteriosas.

O clarão das galáxias se fazia tão acentuado que, vez ou outra, e certamente de forma inadvertida, fazia esconder-se, tímida e recatada, muita estrela desprevenida. Nesse misto de contemplação e enlevo, ouvi notas maviosas do canto de algum sabiá-laranjeira, possivelmente no alto de uma Barriguda, a mística paineira branca que sobressalta o matuto baiano. Devia estar, talvez, treinando o canto madrugador de atração de sua parceira.

Suspirei de novo. Lá adiante, fumando placidamente, estava o meu amigo Tonho da Bastiana, o dono desse pedacinho de terra, regado com águas do Formoso e cultivado com bananeiras, mamão e palmas - o sustento da família. O cigarro de palha incandescia, às suas tragadas. Senti inveja, ainda que sadia, desse meu amigo que não migrou para São Paulo e se tornou dono desse céu tão lindo e iluminado.

 

 

pedro avellar – junho de 2022

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Obrigado, Santo Antonio

Obrigado, Santo Antonio!

 

 Eu dizia,

Sim, e repetia

(quem a tanto se atreveria?)

Que a Nina, em certo dia,

Quando a tarde se esvanecia

Minha existência notaria

E em meus olhos olharia,

Ainda confusa, a mim sorriria,

E então, enquanto enrubescia,

Num furtado beijo consentiria...

Assim eu a contemplaria

E  minha vida se irradiaria...

Ah, Santo Antonio. Quanta alegria!

 

 pedroavellar – 13.06.2022 – Dia de Santo Antonio

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Um conto romântico

                                                                     Um conto romântico

 

                                                                     Avaí era uma cidade deveras pequena. Todo mundo se conhecia. Inevitável, pois, que João Pedro e Talita cruzassem os mesmos caminhos e nalgum dia se conhecessem. Ainda assim, só se deram conta dessa proximidade na festa dos 15 anos de Talita, filha de um fazendeiro próspero da região.

                                                                     João Pedro era benquisto na cidadezinha. O pai, operário no frigorífico da vizinha cidade de Lins, sofrera acidente fatal na rodovia e João Pedro desde os 12 anos se viu ajudando a mãe no sustento da casa e de suas duas irmãs ainda crianças. Fora coroinha na Igreja Matriz de São Sebastião e Padre Damião, o pároco de Avai, o apresentou à comunidade indígena Ekeruá, da etnia dos Terenas. Em pouco tempo João Pedro se tornou guia turístico, incrementando os rendimentos da família.

                                                                     Talita estava a meio do ensino médio em escola particular em Bauru, quando se deu sua festa de debutante. João Pedro fazia parte dos garçons contratados para o serviço e naquela tarde se deu conta da graça e formosura de Talita, a qual, por sua vez, notou que aquele jovem  garçom lhe parecia familiar e nada mais que isso. Que até já se aborrecia porque ele se perdia a contemplá-la.

                                                                     Encontraram-se outras vezes depois disso. Muitas outras, mas Talita não dava importância ao rapaz ou a esses encontros casuais. Os anos se passaram e Talita se afastou de vez, agora para cursar Direito na Capital e muito raramente visitava a família na cidade natal. João Pedro concluiu o ensino médio ali mesmo e ainda um curso de aperfeiçoamento como guia turístico das aldeias indígenas de Avaí.

                                                                     Talita formou-se no Largo São Francisco e se preparava para concurso público na Defensoria Pública quando, certa feita, resolveu de surpresa rever os familiares. Ignorando a surpresa, estavam todos numa festa típica na Aldeia Araribá, que se realizava todos os anos em abril. A aldeia ficava a poucos quilômetros de distância e Talita para lá se dirigiu com seu carro. E o acaso, o imprevisto, o inesperado, que às vezes se nomina de “mão do destino”, fez com que, ao chegar à aldeia, quem a recepcionasse tenha sido justamente João Pedro. Que se estatelou boquiaberto ao reconhecer Talita. Ela fez um gesto de desagrado e exclamou:

                                                                     - Você me persegue?  João Pedro, perplexo, sorriu desconcertado, mas se encheu de coragem:

                                                                      - Não compreendo. Por que motivo eu te aborreço?

                                                                     -  Por existir, respondeu Talita. E por esse sorriso assim tão, tão....  E afastou-se afoitamente.

                                                                     Duas horas depois, ainda em meio às festividades do Dia do Índio, Talita rendeu-se ao sorriso de João Pedro. Padre Damião, poucos meses depois, celebrou o casamento de ambos na Matriz de São Sebastião.

 

pedro antonio de avellar

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Fazer poesia

Fazer poesia

 

Esse tema me desespera,

Razoável talento se exige

E, paciente, o poeta se esmera.

Isso, certamente, me aflige.

 

Mas esclareço, com aflição,

Vendo tanta regra, confuso,

- Não nasci para isso não!

Nesse meio eu sou um intruso.

 

Diérese, hiato, sinalefa,

Escandir sílabas – que é isso?

Sou jejuno nessa tarefa,

Não assumo esse compromisso.

 

Mas eis que uma amiga me diz:

- Ora, Pedro, não tens razão.

Que precisas, mesmo aprendiz,

Pra sussurrar ao coração?

 

 

Pedro Antonio de Avellar

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A visão

A visão

 

Sonho. Será isso uma visão? Sei lá!

O que procuro nesse Éden  florido?

Frutos ? Talvez um néctar sortido?

Toco aqui, confuso,  e remexo acolá.

Debalde. Nada me vem e nem se vai.

Recosto-me na macieira, e me cai...

O quê?... Será isso um mandruvá?...

Deliro mesmo - isso não tem sentido!

 

Eis que me queima uma dor pungente -

A maldade surgida já não tem reparo.

O fruto desse pomar se tornou amaro.

O céu escurece! Anuvia minha mente;

Eu me belisco e me desespero, em vão...

É nessa hora que Deus me estende a mão:

- Coragem, filho amado, siga em frente.

- Sou teu norte, teu Mestre, teu amparo!

 

pedro avellar - março de 2022

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A fuga

A fuga

 

Era noite, escura e fria, e dolorosa;

Era vento, era chuva, e lama e barro.

Era uma floresta então assombrosa,

E os sulcos dos pneus de um carro.

 

E faróis trepidantes, num labirinto;

Era o ranger das molas na estrada,

Era o choro do pálido bebê faminto,

Eram as preces da mãe desesperada.

 

Amanheceu. A última barreira

Se viu transposta, em segurança,

Um novo porvir após a fronteira:

Muitos sonhos, e fé, e esperança!

 

pedro avellar

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Antes que janeiro se finde

Antes que janeiro se finde

 

Vou abrir janelas, todas elas, do meu mundo,

Para a brisa noturna adentrar ao meu lar.

Vou respirar bem fundo e num segundo

Verei vagalumes, com ciúmes do luar.

 

E avistarei no céu, ao léu, uma constelação

Rubra e amarela, que bela, um brinde

E paz interna, tão terna, ao meu coração:

Imploro, e oro, antes que janeiro se finde!

 

 

pedro avellar – como agradecimento pelas congratulações de aniversário

31.01.2022

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O Santo Casamenteiro

O Santo Casamenteiro

 

                                                                            Milagre? Isso é lá com Santo Antonio. O santo casamenteiro foi de fato mestre inigualável na arte dos milagres. Até mesmo esse de estar em dois lugares distantes ao mesmo tempo. Mas, não sei por que cargas d’água se diz por aí que é o santo que desencalha mocinhas que suspiram pelo seu parceiro no altar e na vida a dois, até que a morte venha a separar a dupla. E nem vamos falar do divórcio, que seria até pecado, num escrito tão bem-intencionado como este. Somente as mocinhas? O socorro milagreiro não vale para os rapazinhos ou mesmo os rapazotes? É aí que entra a minha história com a Nina.

                                                                            Acreditem, se ainda é bela, imaginem a Nina aos 17 anos, tida como a mais linda menina do Bairro Rural São Luiz. E não tinha namorado, quando a vi naquele dia, passeando no “footing” da praça da Matriz.

                                                                            Deus meu, como era linda! Tremi todo, inteirinho, e repeti o que dizia em momentos como esse: - Fica na sua. Ela nem vai te notar, bobão.

                                                                            Mas não é que notou? Alguém me deu o serviço e, como já residia na Capital, enfrentei mais de 500 km em carona de caminhão para, como quem não quer nada, apresentar-me no São Luiz, na esperança de me declarar para a Nina. Ao pai e avô, que me receberam, falei bem de mim... que era trabalhador e moço de boa família, tanto que já fora até seminarista em Aparecida do Norte, que é assim que conhecem a capital da Padroeira.

                                                                            A Nina me deu uma canseira, mas afinal, insuflada pela avó, veio me ver. Bem, não vou contar a história toda, mas o resumo da ópera é que namoramos por 22 dias, noivamos no Natal daquele ano e nos casamos exatos 9 meses depois. E estamos juntos até hoje – 48 anos passados, com sucessos e insucessos, choros e alegrias. E filhos e netos, claro. Ah, me dirão... Como foi possível tudo isso, justamente com a Nina?  E lhes responderei: Foi Santo Antonio, o santo casamenteiro, dessa vez trabalhando por mim!

 

pedroavellar - 29 janeiro - 2022

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Cena trivial num barzinho de Birigui

 

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Cena trivial num barzinho de Birigui

 

Dia desses fui a um boteco com meu amigo Vavá. Pedi à atendente um chope e ele uma dose “daquilo que o passarinho não bebe”. Fomos servidos e de brinde veio um potinho bem suspeito de amendoins. Suspirei e tentei fazer de conta que o chopinho era o do Bar Pinguim, de Ribeirão, ou o do Bar Leo, da Rua Aurora. O amendoim, matutei, bem que poderia ser o rococó do Bar Leo ou o do Ponto Chic. Vi-me a filosofar, em silêncio: O que importa é a gente se sentir bem e ser feliz e exemplo disso se via no meu amigo. Que sorveu de uma vez a sua “branquinha”, fazendo uma careta medonha. - Se é bom assim, indaguei, - por que você faz essa careta? Vavá riu jocosamente e, com um punhado de amendoins na mão, respondeu rimando: - Você preferia que eu fizesse a cara da Maria Antonieta?

 

pedroavellar – janeiro 2022 – imagem da internet

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A barquinha da vida

A barquinha da vida

 

Vá barquinha, vá. Desça esse rio sinuoso...

Sem temor, deixa que te leve a correnteza;

Contempla, lá em cima, esse céu nebuloso

E o sol, a noite, a chuva, toda a natureza...

 

Fuja de águas calmas, evita as marginais;

Mas cuidado - fica atenta aos redemoinhos:

Se ocultam, invisíveis, com ardis, fatais.

Desvia-te, confiante, e busca outros caminhos.

 

E longe, em meio à mata, à noite, à escuridão,

Sem estrelas que te guiem, sem o luar,

Sentindo medo, ante tamanha vastidão,

 

Não entendendo onde esse rio vai desaguar:

Confia em Deus, que te ampara na solidão

O Altíssimo não te deixará naufragar!

 

 

pedro avellar – 14.01.2022

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