A um sopro do vento,
levas de folhas secas valsam estilosas,
mal comparando – airosas -,
como se fossem borboletas volteando a espavento.
Despem-se de suas árvores frondosas
- quais páginas de velho calendário pregado à parede,
sacudidas, deixam suas bases fibrosas
e jazem no meio fio dos canteiros em rede.
Mais uma rajada,
outro punhado de lâminas se desprega da galharia
e flutua em forma espiralada,
projetando piruetas aéreas, à revelia,
juntando-se aos montículos já deslocados no chão,
na palma da mão.
Dois olhinhos miram a trajetória das folhas,
- que se despedem com realeza -
e contemplam como se fossem bolhas,
o maravilhoso baile da natureza.
O menino, na pequenez de sua idade,
pensa grande, igual à gente adulta:
tudo ao nosso redor se transmuta,
as mudanças acontecem com velocidade,
o tempo cuida desse processo de novidade.
Percebe a presença de pássaros errantes;
bicam sutilmente flores em forma de cálices coloridos,
uma nuvem de abelhas acirrantes
rente aos cachos dos frutos amadurecidos.
Do banquinho da praça,
o garoto dá conta de um grupo de meninos
que pratica brincadeira, arruaça,
casais inúmeros gesticulam e trocam mimos.
O pequeno espectador
retira da mochila sua flauta de taquara
e com ares de tocador
seus lábios produzem notas de beleza rara.
O vento continua desprendendo a folhagem...
o menino propaga com suavidade a cantiga dos anjos...
o sopro de ambos transforma tudo... e os arranjos
do tempo modificam toda a paisagem...
Rui Paiva