Posts de Paulo Sérgio Rosseto (362)

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TATEAR

Não se sabe se são os pensamentos

Que conduzem os dedos

Ou as mãos acostumadas sozinhas

Aos intensos dos carinhos caminheiras

 

Certo é que os tatos se desprendem

Despindo dos segredos

Por singelas ruas do corpo

Explorando seus caminhos

 

Olha as calejadas palmas desse peão

Tem a mesma ranhura do casco da boiada

A pele dura rude enrugada

Queimada no laço de sal

Do suor da tarde ensolarada

 

Essa mesma textura tem o coração

Cheio de saudade apertada

Compacta no peito

Enfurnada na alma

Feito bicho na toca dentro da agua

Rodeado de destino sem morada

 

Mas quando ama e trata o amor

Imaginando-me na penumbra enluarada

A minha mão meu bem cheia de viço

Tão nua e certa é a tua namorada

 

PSRosseto

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DESLUMBRE

Quando duas línguas se tocam

O mundo de quem deseja o beijo

Torna-se oração perfeita

 

Sabores ardem sedentos

Nesse encontro de saliva e espasmos

Extraindo dos lábios molhados

Aceites inaudíveis das vozes dos hálitos

 

Da ternura única e efervescente

Todo perfume tateia o momento

Assistindo espargir pela sala do anseio

A dissimulada fome engolindo as palavras

 

Dado ser afoito intenso e místico

O espírito aguarda que o corpo entreveja

Pelos olhos fechados em êxtase

O deslumbre da língua quando beija

 

PSRosseto

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A DOÇURA DA TUA VOZ

A doçura da tua voz
É feitiço colado em mim
Canção que tanto desejo
Tempestade em minha veia
Suor denso da libido
Vendaval de vermelha areia
Remoinho no deserto
Do coração em devaneio

Eu sou destemido andarilho
Incerto andejo sem eira
Sertanejo inseparável
Da seara do teu encanto
Matuto das velhas minas
Lavrador desse rochedo
Tangido na insistência
De colher esse teu beijo

A ternura fez de mim
Poliglota destas letras
Intérprete dos teus sonhos
Cancioneiro dos teus versos
Aprendi teu idioma
Falando em teus ouvidos
Decifrando teus anseios
E beijando a tua língua
Assim me tornei poeta

PSRosseto
***Do Livro EM ESTADO DE POESIA - 1ª Ed. - 2019

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FURTIVO

Olhos vivos amendoados

Delicadamente redondos assombreados

Prontos para o brilho e para o choro

De repente para a lástima do instante

Encharcados de fina lágrima

Lacrimejados de enciumada doçura

De repente para o riso delirante

Quando os lábios escancaram

Recolhem-se de extrema candura

Olhos soltos pelo rosto desenhados

Pousados sobre o fuso horizonteIntensos abertos despertos calmos

Olhos teus por onde meu olhar resvala

Furtivamente rio despretensioso

Ousadamente tímido e de soslaio

PSRosseto***Do Livro EM ESTADO DE POESIA - 1ª Ed. - 2019

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SOZINHA

Sou vizinho da praia sozinha
Onde desenho de manhazinha
Junto às desapegadas ondas
Meu caminho de areia molhada
Sentindo o vento inquieto sorrindo
Ziguezaguear em paralelo
Por entre as mechas do meu cabelo
E os pés  mansamente lambidos
Entre os lábios da água morninha

Quando esse mistério natural se acende
É tão fácil contemplar no instante
O desafio tamanho de cada sede

Ainda que o mundo esteja opaco
A vida torna-se transparente
E todo sorriso mais instigante

 

PSRosseto

***Do Livro EM ESTADO DE POESIA - 1ª Ed. - 2019

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CANTA

A poesia perde o encanto

Quando não há fantasia

Vira roupa suja num canto

Brinquedo arrebentado de parque

Plataforma de embarque

Sabendo que ninguém vem

Linhas sobre dormentes sem trem

Vento que não mais areja

Fruto que não se deseja

 

O encanto sem poesia

Não subsiste nem tem memória

Seria um falso desejo

Que o próprio fato ignora

Triste de inveja esquecido

Ferida adormecida sem lógica

 

Ah mas o meu poema é esse canto

Encantado de azul esperando

A melodia nascida na doçura da tua voz

Por isso canta canta incansável

Canta com infinita ternura

Todo encanto que verseja em nós

 

PSRosseto

***Do Livro EM ESTADO DE POESIA - 1ª Ed. - 2019***

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ENAMORADA

Qual porta incorpora a alma

Enquanto renasce o corpo

E quando fenece o físico

E o corpo se degringola

Para onde ela vai-se embora?

 

Há quem diga que paire

Outros dizem que se esvai

Pelos rumos do nada

Em que o vazio a atrai

De onde idêntica veio

Cumprindo sua jornada

 

No entanto eu creio

Que antes dessa morada

A minha alma inquilina

Em outra plataforma de vida

Era tua enamorada

 

Desde então desmedia as ausências

Desde então persistia sensata

Desde ali entendeu de anuências

Desde lá me amou tão menina

Que hoje dorme tão pequenina

Nos meus braços de poeta

 

PSRosseto

***Do Livro EM ESTADO DE POESIA - 1ª Ed. - 2019***

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À TUA ESPERA

Sumiste igual ao temporal depois do alarde

Desmanchaste entre as cores delicadas

No meio do céu da boca da tarde

Então recolhi os pedaços de inverno

Que ainda restavam congelados

E fiz a minha própria primavera

 

Olha agora as pétalas viçosas como se espalham

Trazem elas a maciez da tua pele

O mesmo perfume que te enevoa

O mesmo sorriso que te revela

 

Florescem junto a esta saudade

Úmidas de encanto à tua espera

 

PSRosseto

***Do Libro EM ESTADO DE POESIA - 1ª Ed. - 2019***

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EVIDENCIA

Compartilha comigo
Tua experiência de Deus
Preciso conceber a humildade
Tanto quanto a enxergo em tuas mãos
A forma de entender a benevolência
Idêntica à magnanimidade
Que se derrama das tuas ações
A expressão da caridade
Tal qual a que se transpõe
No sumo das tuas transigências
E a sobriedade em discernir
Naquilo que tua complacência evidencia

Que se empreenda a providência divina
Em cada raio que teu sol me irradia

 

PSRosseto

***Do Livro EM ESTADO DE POESIA - 1ª Ed. - 2019***

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SUAVEMENTE

A maestria com que os teus dedos
Passeiam pelas teclas
Soa nos sons da alma
Uma grata sinfonia aberta
Interpretando a partitura da calma

As claves e as notas bailam nas pautas
Meu coração pulsa incerto
As tuas mãos me tocam e apertam
Com a precisão e suavidade de quem se deita
Em delírio sobre o peito de uma orquestra

Se saio sensível retorno preciso
E quando impreciso desnudo-te porque necessito

Ainda deve haver algum batom em teus lábios
Como há nos meus a vontade de um beijo
Mesmo lavados pelas impossibilidades

Escrevo este poema em teu corpo
Risco e rabisco com os dedos as linhas
Suavemente enquanto recito em teu ouvido
Porque sou sensato e não insensível
E a resposta reside nos teus sonhos

 

PSRosseto

***Do Livro EM ESTADO DE POESIA - 1ª Ed. - 2019***

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PELOS MARES

Evito as profundezas

Tenho medo dos mares

Mesmo assim toco meu barco

 

Nele embarcado

Surfando estranhas águas

Vivo a vida à flor da pele

 

Enquanto remo essa galé

Desbravo meu mediterrâneo

Ainda que por rumo errôneo

 

Mas o que é o certo senão

Um conceito mero e caro

E absolutamente leviano

 

O que seria a ancoragem

Uma vaga entre as ondas

Um risco a qualquer plano

 

Vêm os ventos ou se calam

Continuo velejando

Esses males não me abalam

 

PSRosseto

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ORGULHOSO

A moça quando menina
Acreditava que a pedra da marina
Todo dia emergia
E lhe vinha dizer bom dia

E depois de secar-se ao sol
Dourar seus musgos e arrefecer
Mergulhava de vez e se escondia
Até novo tempo acontecer

Essa mulher conta agora à filha
Que a pedra de Taperapuan continua
Brincando de se amoitar na maré
Em sua íntima baía

E eu pai e avô mentiroso
Para sempre rirei orgulhoso
Dessa nossa fantasia

 

PSRosseto

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ESPUMAS

Este poema que ao acaso chega

Diante dos olhos teus

Nada é senão mera espuma ilusória  

Embarcada em falsa onda em movimento

 

Espuma desnecessária que circunda

Os cascos das embarcações aos gritos

Espuma fictícia que explode da raia

Quando a agua lambe os pés ou a pedra

Espuma sem noção que se envereda

Por um segundo filtrada pela praia

 

E ainda assim de tão desprotegido

Vive insignificante sem se desmanchar

Existe incompleto perdura e persiste  

Porque o sentido da palavra é a densidade do infinito

E a ilusão do poeta desse tamanho do mar

 

PSRosseto

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PEÇO UM ABRAÇO

Peço um abraço

E se concordar não disfarce

Abrace

 

O abraço pode ser o alvoroço do pecado

Porém inefável é a versão mais plural de Deus

Ele alcança dois corações em estado de graça

E os molda e zela como se a sorte os selasse

 

Mas se houver ausência

Deixa que o silêncio replique

Pense como se fosse e sentisse

 

Pode ser ao deitar-se

Ou se acordar e lembrar-se do desejo meu

Que lhe abraçasse antes que dormisse

Deixa que esse sonho nos enlace e embale nos braços

Como se a um passeio levasse

 

Abraçar faz a saudade cingir um só espaço

Porque cada abraço é uma prece

Onde amar acontece

 

PSRosseto

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O QUE É SER POETA

Esquece o layout da página

Deixa fluir sem formatar

As palavras virão desesperadas

Pedindo licença para entrar

E se acomodarem em cada verso

Desse universo de poesia

Amanhã sozinhas se ajeitam

 

Mas depois essas mesmas palavras

Exigirão que as declame

Com precisão poética e perfeita pronúncia

Deixarão de ser humildes

E se revoltarão contra ti

Caso as exclua ou deixe fora das linhas

 

E quando as sentir exigentes e astutas

Saberá o que elas em ti representam

Então se sentirá responsável

Por antes tê-las escondido

 

Nesse dia entenderá

O que é ser poeta

 

PSRosseto

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APAVORADO

Tolo quem acredita
Que deixando o livro fechado
A Tv desligada, o jornal dobrado e mudo o rádio
Cala a aquecida voz na madrugada

Ainda que dure somente a ingerência
De um pensamento ligeiro mal expandido
Rápida no querer de amar será essa parceira
Voraz em continuados movimentos
 
Prazerosa e audaz sempre estará a experiência
Que nos toma por companheiros de viagem

Quanta bobagem há debaixo das plumas
Desse pavão apavorado
Tomado de vertigem e medo
Porque logo mais o dia nasce
E deixará de ser cedo e pardo

 

PSRosseto

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VISITA

Hoje fui revê-la
Novamente me tomou pelas asas
Descansei em seu indicador em riste

Foi diferente porque não mais estava triste
Continuei fitando os olhos dela me observando
Seu riso claro continuava ainda mais brando
Quando em estado de graça
Levou-me até a sala contígua
E ambos a mim fizeram vivas

E como da primeira vez matei minha sede
Repus energias
Novamente certa de que tornei mais feliz
Nosso dia

Rocei as antenas num furtivo até breve
E voei ganhando os céus
Sob olhares e beijos de adeus

 

PSRosseto

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GANA

Tenho sentimentos urgentes

Alguns já chorados

Tantos aguardando sorrisos

Nos diversos momentos

Interpessoais

 

Sentimentos confortavelmente acolchoados

Estendidos sobre o tapume do coração

Travando lutas incríveis no meu ringue

 

Mas o que mais me deixa zonzo

É a saudade sentada num canto do octógono

Se rindo das minhas luvas desamarradas

Surradas de calçar

 

Não fossem os hematomas

Não haveria tanta gana

Esqueceríamos fácil da necessidade em lutar

 

PSRosseto

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INOCÊNCIA

Que importa amor ter ou não malícia

Se as bocas que em outras bocas deliciam-se

A tua e a minha imaginam-se juntas

 

Se as mãos ausentes não se tocam

Acalmam-se porque se entendem íntimas

Se os olhos somem na volúpia dos passos

Encontram-se nos olhares radiantes

 

Importante amor quando amar significa

Suprimir qualquer distância oculta

 

Inocente seria acreditar ser esta busca

Um derradeiro poema destes escritos

 

Continuam feitos entre verdades absolutas

Atrevidos, perfeitos e intimamente nossos

 

PSRosseto

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DISPERSO

Quero o bom da vida sem importar a cor
O rumo que me toma independente da escolha
A forma que abraça desde que abençoe e acolha
O que trago de caule mas também do fruto
Que se molha da mesma chuva que escorre do galho
Que encharca a raiz após ter lavado a folha

E se a semente seguir o destino da enxurrada
Em algum momento tenha abrigo no colo da terra
Podendo ser planta e também florir e frutificar
E alimentar uma nação ou somente um pássaro

Mas que ao matar a fome cumpra-se essa missão
De ser simples ao ser intensa mesmo que dispersa

 

PSRosseto

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CPP