Toiling at his final resting place
J. A. Medeiros da Luz
— “Richard Spruce (1817–1893): Distinguished botanist,
fearless explorer, humble man, lived here”
(Placa memorial em Coneysthorpe, Inglaterra).
Asseveram fidedignas fontes
E testemunhos desapaixonados
Que, nas noites enluaradas de verão
— Quando o vento expele as brumas —
Naquele velhusco cemitério cristão
Da igreja de Todos os Santos, em Terrington,
Desde o finalzinho de 1893
Faz-se possível vislumbrar o vulto fino
Do resiliente Richard Spruce,
A catalogar as suas ervas, exsicatas,
A rabiscar, sem candeia ou lampareta,
Obras residuárias e outros escritos.
E a relembrar, com ímpeto de viajor,
O calor molhado e tórrido
Do Rio Trombetas, do Rio Negro, dos igapós,
E das canoagens mui perigosas
Nos rápidos, resvaladiços e mortais.
E em tais noites, garantem as tais fontes
(A quem possua fleugma para ouvir),
Os musgos e hepáticas, incrustados
Nas lápides rugosas e na mureta
Que as separa (até quando?)
Deste mundo dos vivos-por-enquanto,
Lançam seus esporos pelo orvalho,
Numa celebração noturna à vida.
E, mesmo estando o transeunte nessa ilha
(Longe quantas milhas?),
Nessas noites de luarejo mágico,
Se ouvem assaz distantes, distantes,
Os graves sons do estrugir
De mimbyaparas, as derradeiras trombetas
Dos barés, dos tucanos, dos piratapuias,
Entre goladas de cauim e dança,
Percutindo pés munidos de chocalhos,
Em cantos rústicos, em dáctilos...
Ouro Preto, 30 de janeiro de 2022.
[Do livro Seixos ao sol, a sair pela Jornada Lúcida Editora, em 2022]
[Comentos também podem ser dirigidos a: jaurelio@ufop.edu.br ou jaurelioluz@gmail.com © J. A. M. Luz]