Posts de Paulo Sérgio Rosseto (362)

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PLENITUDE

O que deseja o ser senão a vida

Cotidiana

Em plenitude e soberana!

 

Por isso o universo movimenta-se

No entorno do perfeito

Respeitando os limites e ciclos de cada espaço

 

E tudo o que há disforme, sara

Cura senão pela mão do homem

Sob a luz do divino

 

Melhor vive quem acredita, renasce, revigora

Quem busca no sacrossanto tempo

O sonho lúdico da natureza humana

 

E aquele que apesar das agruras do mundo

Mantem-se conectado ao cosmos

E a ele se irmana

 

Sim somos física matéria

Mas sobretudo alma

 

 

 

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TODO TIPO DE CANTO

Eu me encanto quando ouço

Todo tipo de canto

 

Há momentos no entanto

Que simplesmente a voz embarga

Por não saber ouvir ou não poder cantar

Ou se solta entorpecida no acalanto dos tons

 

Talvez eu não me veja tão alegre cantarolando

Nem esteja triste quando ando emudecido pelos cantos

Acontece que os dias são assim um tanto diferentes

E a gente se põe mais intimamente sensibilizado

Entre estranhos sons de desencantos alegrias ou torpor

 

Ainda assim haverá sempre um suspiro

À espreita de qualquer enunciado de canção sendo ouvida

E uma cantiga ensaiando a própria melodia pronta

Demovida da garganta afinada de um cantor

 

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CIRURGICAMENTE IMPOSSÍVEL

Se Bianca ao meio partisse o meu peito

À procura de consertos nesse coração

Diagnosticaria saudades e segredos

De difíceis acessos e manuseios

 

Se Vitória auscultasse tomando meu pulso

Sentiria navegadas no interior da aorta

Chalanas repletas de alegrias ancoradas

Nessas vísceras arritmicamente quase mortas

 

Se Laís anotasse meus sinais vitais

Assustaria com esse íntimo transbordado

De diletos momentos e intensos amores

Misturados a prazeres e algumas dores

 

E se todas descontentes buscassem opinião

De alguém ponderado e bem mais experiente

Ouviriam: precisamos lhe nascer novamente

Dessa velha carcaça soçobraram defeitos

 

Mas o espírito, esse a gente bem poderia

Arquiva-lo translúcido no armário das almas

Onde nenhuma ilusão sequer tem acesso

Exceto a poesia, porque esta é completa

 

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ENTRE AMOR E AMANTES

Sempre ouvi dizer

Que a noite é dos amantes.

Mas posso amar antes?

  

Antes que a lua nasça

Amar seria pecado

Ou só sem graça?

  

E se estivermos amando

Ao chegar o sol e o dia

Continuaríamos?

 

Amar sem reservas

Preservaria os amantes

Dos não amores?

 

Quem sai e quem vem

Jura amor que renasce

Amando ou amante?

 

Ser toda forma

De amor permissível

Será possível?

 

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ORATÓRIA

A boca molha e clama ardentemente
Pela outra boca

Cobiça, profana
Deseja o absoluto
Declama o encanto, recita e canta

Cala enquanto a outra fala
Fala de si quando a outra cala
Passeia os lábios, ri da interlocutora
Sonha com o beijo arteiro que a quer beija-la
Saliva, anseia, pela ideia acesa
De tomá-la presa pela língua morna


Até faz caras ante um bocejo
Solta a voz se a garganta grita
Retém os sons quando sussurra
Por vezes urra e engole a borra
Do apregoado choro quando magoa

Ah, a boca sabe a exata hora
De rir sem graça ou gargalhar
Rasgar os dentes se necessita cuspir
Reter aflita o ar por alimento


Mas sobretudo ora e elogia mais que maldiz
Pois pela reza fomenta o fôlego
E todo o ser que a tem se curva
Nesse místico momento

 

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FEMININA

Tua idade desconhece que a tens.
Acha-te criança com olhos de mãe,
Deita-te adulta certas horas por dia,
Debela as tuas orelhas e menina te põe
Sempre que teus desejos
Rechaçam e tua consciência folia,
Rebobinando íntimas imagens
Dentro da tua retina.

Assim te fazes feminina mulher
Com mais fases sequer que as da lua ariana:
Tão exposta e ímpar que a si própria encanta,
Mesmo oculta vive santa e insana
Intensa e absoluta em sua resoluta rotina.

 

 

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A SENSAÇÃO DE TOCAR ESTRELAS

Estou tão desacostumado de olhar horizontes
Que é como se estivesse desaprendendo de navegar

Nenhuma direção de vento me demove
Nenhum balanço de embarcação me faz assustar
Não sinto mais o salgado sabor dos respingos
Estou sem rumo, vou para onde o barco apontar
As correntes guiarem o casco
A vela distorcer e inflar
Levar para qualquer ilha
Parar em qualquer ilhéu
Rodopiar entre as ondas
Afastar-me do cais tanto faz

Amor, dá-me outra vez a sensação de tocar estrelas

 

 

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REAPRENDIZ

Eu passaria novamente pelos mesmos caminhos
Inclusive repetindo todas as curvas que dobrei
Revendo quedas e descidas de esguias ladeiras
E também por elas voltando aos topos que já pude alçar

Tomaria ainda os mesmos atalhos das estradas vicinais
Talvez até conseguisse ainda encontrar destrancadas  
Cancelas que larguei abertas para você passar
Ou que alguém deixara livres a quem optasse ao regresso

E caso retomasse tais caminhos e não conseguisse
Novamente reencontrar todos os que comigo vieram
Duas certezas de pronto me caberiam: ou seguiram
Em frente e o promissor destino os tomou de abraços
Ou desgarraram por outros rumos dos quais desconheço

Eu passaria ainda que tardio e sobre destroços
Novamente pelos caminhos repetindo as margens que vaguei
Mas desta vez evitaria ao menos parte dos tombos e tropeços

Reaprendendo as chances, colando pedaços

Com as gomas que o próprio tempo me ensinou fazer

 

 

 

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AMOR E AMIZADE

Todos os amores me foram dados:

O de mãe sem qualquer mensura;

Esse permanente que nos escolhemos amantes;

Filial, imerso na evidente cumplicidade;

Entre irmãos, pela conjuntura rara;

Do meu pai, insigne e justo de eternidade

Sempre intensos, límpidos, vorazes

Transparentes de mil formas

 

Possível seja, claro, que não tenha eu tanto amado a todos

O quanto amaram-me sem cobrar reciprocidade em nada;

Pouco desarmara o espirito quando necessitara

Enxergar no derredor a generosidade que se exige

De qualquer amante para que o amor se faça

 

De todos os amores que me foram dados

O que nos sustentara, vivifica e não passa

Dignifica-se a alicerçar-nos na fraterna amizade

Que a seu tempo jamais finda, se replica

E recomeça, por ser ela o elemento principal da alma

 

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MOMENTOS

Distintos momentos
Dou-me ao prazer de busca-los nesse labirinto
Em algum lugar entre tardes e auroras

Quando ainda que equidistantes
Os construo num mínimo horizonte
Tantos em meu passado
Estes por agora
E quiçá outros à minha frente
Entendo que viver é não importar-se com o quanto
Mas sim que possivelmente se fizer por onde

Sei não sou eu o centro do universo
Mas cada gesto meu é portanto o que interessa
E qualquer préstimo que me tenha por resposta
Do pouco que faço pelo que talvez ainda assombre
Velar gratuito o sono dos meus entes
É sempre o mesmo que enquanto também durmo
Renascer contínuo de um ser tão puro que me apresta
A melhor ser todo o tempo que acordado
Puder enobrecer o amor que nos sustenta

 

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INSPIRAÇÃO

Deveria não vê-la todos os dias

Até perder o medo da saudade

Deixar de imaginar possibilidades

Excluir da rotina toda mania

Desvincular a ousadia de acreditar

Que tu ou dormes junto às estrelas

Ou vives entre todas para incandesce-las

Apagando a máscara azul do firmamento

Para que na densa negritude eu possa vê-las

 

Para o momento um bocejo

E mais tarde um banho de sereno

Tornará suave esse fardo de exageros

Enquanto rezo benfazejo

Os sacros ofícios das vésperas

Mastigando as contas de um rosário

Aguardo-te peregrina e eu romeiro

 

Eu sou a guia que se serve da cegueira fria

Dentre vocábulos antológicos de um dicionário

E tu meus dedos que te reescrevem candeeiros

 

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CONCRETAS

CERTEZAS

 

Durmo estirado no chão

Fora desse colchão sem graça

Prefiro a pedra fria que me acolhe

Do que a macia espuma que finge que forra meus ossos

Que até aquece mas não me envolve e nem abraça

 

Descanso num banco de granito

Exposto ao relento na praça

Colado à calçada onde apressado você passa e nem nota

E se apercebe finge que não vê e se olha ainda faz troça

Ou desvia por temor a minha provável ameaça

 

Balanço na rede dependurada entre o piso o teto e a parede

Por ganchos de anzóis presos ao nada

Parafusados em buchas espremidas em concretas certezas

De que entre o pó do cimento a agua e a areia calcada

Existe apenas a vontade e o cuidado

Em não me soltarem no vazio da palavra

 

Assim vou ensaiando meu jeito tardio de entender

Que tudo o que faço além e batalho acima da contínua lavra

Permanecerá à flor da terra mesmo que virtualizado

Enquanto esse corpo que já mal ouve e quase nem fala

Cessará sob a lápide somado a qualquer punhado de terra

Mas não diferente do que o amanhã também te espera

 

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POR DENTRO DE CADA UM

Anda tanta gente por dentro de cada um
Imprimindo sensações lubricas, absolutas

Há em cada íntimo uma pessoa oculta
Intrépida, intrigante, esnobe, insana, incomum
Digitando regras, regendo normas
Tardiamente desperta para o bem
Secretamente agindo incubada em ócio
E que a qualquer momento
Aflora em lugar nenhum transparente
Por Infantis atitudes levemente adultas

Dorme tanta gente no interior poeta de onde vim
Que desaprumo irresoluto, mas asseguro:
Quando me acho único, máximo e adulto
Ajo expondo meu lamentável lado imaturo
E se recolhido percorro meu deserto árduo
Completo minhas buscas justamente por ser puro
O anjo menino que ainda se recolhe em mim

 

 

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DESMANCHE

Meu coração tem teto de glace martelado

Paredes de geléia acartonada

Porta e janela de gelatina caulim

Chão de papel machê encorpado

Escada em espiral e caracol de caramelo

Forro de anilina adocicada de anil

 

Quando choro tudo se desprende e derrete

Menos o telhado que flutua lerdo

Num rio placebo amarelo que viaja em mim

E se precipita aos pedaços rumo ao cerebelo

E se arrebenta no precipício da alma deserta

Zunindo um grito forte ferindo os tímpanos

 

Tua ausência me propõe alerta à espreita

Mas quando convenço que você não vem

Alicerce nenhum me sustenta

 

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CURA

Já não envelheço tanto a cada dia

Aliás percebo horas sem envelhecer

Acontece quando determinadamente

Consigo poupar a língua

De inefáveis momentos de desdéns

 

Sinto indo embora a irremediável pressa do dia

Deixando de vomitar vontades por desatar enjoos

Mesmo o espelho agora me enxerga pequenino

Pois me apreende a entender o que ficou aquém

 

Paro enfim zombando de uma ou outra desventura

Acho que a nostalgia valoriza sinuosidades

E a idade cura onde nem mesmo a imagem

Atreveu-se a ferir ao colocar a mão e não estancou

Diminuindo tensões sem pressa de reduzir voltagens

Sem machucar por bobagens ao perder de vistas

Sem descontar na poesia o que não se desvendou

 

Ando envelhecendo menos a cada estendido dia

Pela expectativa obvia de ainda não ter vivido

 

 

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LÁ FORA

Bem sei que lá fora há riscos evidentes
Porem a ânsia do noturno fascina e clama

Entretanto não voo por temor mas razão frágil  
Permaneço quieto enquanto escuro
Ainda que as asas esgueiram-se ágeis
Entre galhos, lençóis e travesseiros
Às vezes passados, outras em frangalhos
Dobrados justapostos pela casa

Camuflado ninho de penas e folhas

Contenho ao ímpeto que me chama
Tão insone como tantas vezes faço
Equilibro imóvel como toda ave
Até que o sol em consideração
Volte dúbio num pio um raio à forra
Nesta vasta e ampla liberdade de sonho
Que não me tolhe e sim acolhe e ampara

São assim os limites de quem ama
Soturnas as amarras ainda que pense
Por não ser recíproco a quem lhe possa

 

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MANGA MADURA

A secreta procura está no tato
No passear leve dos dedos
Sobre a forma e a textura da fruta
E no sentir arrepiar-se pelo cheiro

Na ronda da língua entre os dentes
E na espera da pele pelo lábio
No entreabrir da boca provando a casca
Âmago lambendo desejo e êxtase
Hiato de ruído e silêncio - polpa e amêndoa

A candura verte evidente
Mel e bálsamo escorrendo a esmo
Minando a fonte
Banhando a face da semente
Umedecendo o dorso
Contraponto catarse
Em contato ao frescor olhar
Como suave brisa que alivia

Mormente quem sente esse íntimo desejo
Da cobiça a uma bela manga madura
Degusta a avidez da fome como se beijasse
Padecendo dessa doce sedução mística loucura

Que somente sara e sacia

Ante ao gesto ávido de mordê-la

 

 

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CERTAMENTE MORREREI

Certamente morrerei mais tantas vezes

Pois meu orgulho poderá não desaparecer

E exigirá que me repita nesse ato final

O quanto necessário precise padecer

 

Já morri de amores, de imediato contentamento

Saudade, alegria, felicidade plena, frio e de rir

De inveja, medo, prazeres, desconfiança e sono

Na prescrição das dores que me fazem reviver

 

De repente a morte continue seu laboratório

E se experimente mais em minha espiritualidade

Aprimorando seu oficio em me matar por onde for

 

Apenas não gostaria de viver no abandono

De quem não sentirá pesar algum estando ausente

Ao recobrir na terra aberta meu ultimo momento

 

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MIGALHAS

Voei do alpendre
Ao curto braço da cadeira

Cobicei pingos de pão
Que rolaram do teu lanche
Involuntários farelos
Das amarras da gravidade

Fartei-me pelo chão
Com o que em tua blusa
Tornara-se sujeira
Enquanto te alimentavas
Das invejadas migalhas
Dada minha liberdade

O mundo pode ser perverso
Mas o acaso da comunhão
Torna a vida mais perfeita

Por isso compensa

 

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BAGUNÇA

Houve fina garoa sobre a poça

Que até então já aquietada

Sossegara brincando após

O primeiro chuvisco na praça

 

E assim enchendo-se novamente de chuva

Dessa vez na calmaria da rua

Transbordou vagarosa pelo declive

Ensopando as falhas entre as pedras

Cantante e desperta como toda água

Mansa, esguia, boa, límpida e fria

 

E lá embaixo depois de alguma andança

Espalhando-se feito enxurrada

Na lama do paralelo ao pé da calçada

De novo em descanso deu de cara com a lua

Espelhando-se em si de felicidade

Toda melada e dando risadas descontraída

 

Entra o vento apressado afeito criança

Nessa profusão de imagens fazendo bagunça

Rodopia e sacode lambendo a paisagem

Tremulando áspero entre ondas

As surpresas amigas que entredizem

 

- A que ponto chegamos, querida!

 

PSRosseto

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CPP